Diabetes [ 28 ] maio/junho 2004 diga lá nº 37
uma amarga docura A Organização Mundial de Saúde adverte: o diabetes é uma epidemia em crescimento já atinge mais de 110 milhões de pessoas em todo o mundo. A Federação Internacional e a Sociedade Brasileira de Diabetes apontam: mais de 7 milhões de diabéticos vivem no Brasil. E, o mais preocupante: esses números podem dobrar até 2010 se a sociedade não for esclarecida sobre a doença e insistir no estilo de vida ocidental moderno, marcado pela alimentação rápida e improvisada e pelo sedentarismo incentivado pela RICARDO ALVAREZ automação tecnológica. Uma boa parte dos portadores de diabetes nem sabe que tem a doença. diga lá nº 37 maio/junho 2004 [ 29 ]
Boca seca, muita sede, muita fome, vontade freqüente de urinar, comprometimento da visão mais rápido do que o normal, dores nas pernas, infecções repetidas, cansaço e sonolência são os sintomas mais aparentes. Insuficiência renal, cegueira e problemas circulatórios (que podem causar do infarto ao AVC, ou levar à amputação de pés ou pernas) são as conseqüências mais drásticas, que podem levar à morte. O diabetes mellitus, nome científico da doença, é causado pela deficiência na produção de insulina pelo pâncreas, ou pela incapacidade das células de absorver essa insulina. A insulina é o hormônio responsável pelo controle do nível de glicose (açúcar) no sangue e pela sua transformação em energia, para que as células realizem as atividades necessárias ao bom funcionamento do organismo. Diabetes do tipo 1 : nao da para prevenir, tem que remediar Existem dois tipos de diabetes. O tipo 1, hereditário, acomete crianças e adolescentes. Atinge apenas 10% do total dos portadores da doença, também chamados de insulino-dependentes por causa da dificuldade ou impossibilidade de produção da insulina pelo pâncreas. Por enquanto, o tratamento mais utilizado nesse caso é a injeção subcutânea de insulina (usa-se também uma caneta, que aplica a substância por pressão sobre a pele), acompanhada de uma dieta apropriada e de exercícios físicos regulares. A possibilidade de produção de um medicamento ministrado por via oral vem sendo estudada, mas esbarra na degradação da insulina pelo estômago, e por isso já existem estudos voltados para a utilização de medicamentos via nasal. Alguns remédios, como o Lantus (lançado no Brasil no ano passado), com insulina agindo por 24 horas, têm sido adotados com sucesso. Mas são alternativas de preços muito altos. Mesmo o tratamento mais simples custa caro, diz o mineiro Guilherme Dantas, de 33 anos, 31 dos quais convivendo com o diabetes. A insulina custa R$ 60 por mês (dois vidros), enquanto medir a glicose três vezes ao dia custa mensalmente R$ 200. O tratamento mais moderno é feito com um aparelho digital que injeta doses mínimas e controladas de insulina o dia inteiro, quase como um pâncreas artificial. Mas a bomba custa R$ 15.000 e a manutenção, R$ 700 por mês. A grande maioria dos diabéticos brasileiros tem dificuldade até mesmo para custear o tratamento \\ [ 30 ] maio/junho 2004 diga lá nº 37
ILUSTRAÇÕES ALIEDO mais simples, e para eles a única alternativa é a rede de saúde pública. Desde março de 2002, com a publicação da Portaria GM 371 pelo Ministério da Saúde, todo portador de diabetes tem direito a tratamento médico e a medicamentos gratuitos junto aos postos do SUS - Sistema Único de Saúde. O futuro pode oferecer perspectivas animadoras, além do transplante de pâncreas, ou de células do pâncreas soluções extremas. Pesquisadores americanos e espanhóis têm tido sucesso nos estudos genéticos visando à cura do diabetes tipo 1. As pesquisas estão longe de ter uma aplicação clínica, mas sugerem que as células-tronco apresentam uma flexibilidade maior do que se imaginava anteriormente. Paralelamente a isso, cientistas da Universidade de Calgary, em Ottawa, Canadá, descobriram recentemente uma proteína denominada GAD, encontrada no organismo de 80% dos insulino-dependentes, e caminham para a produção de uma vacina. Diabetes do tipo 2: prevenir e o melhor remedio Nos primeiros anos de vida, o pâncreas dos portadores de diabetes do tipo 2 (90% dos doentes) produz insulina, mas as células não conseguem absorvê-la plenamente uma ação chamada de resistência insulínica, e com isso os níveis de glicose no sangue permanecem sempre altos. Com o passar dos anos, o pâncreas, tentando manter o equilíbrio, produz cada vez mais o hormônio, até sua capacidade de funcionamento se esgotar. Este é o motivo pelo qual os portadores de diabetes do tipo 2 normalmente só começam a apresentar os primeiros sintomas na idade adulta, depois dos 30 anos. Com importantes componentes hereditários, o desenvolvimento do tipo 2 da doença é fortemente influenciado pelo estilo de vida obesidade, excesso de açúcares e gorduras na alimentação e sedentarismo. Esses fatores, somados ao aumento da expectativa de vida, são responsáveis pelos números que alarmam a Organização Mundial de Saúde. Conhecido há pelo menos 3.500 anos, o diabetes só começou a ser entendido pelos cientistas em 1922, com a identificação da insulina. Nos últimos 80 anos, enquanto a ciência avança no sentido de encontrar as causas e controlar os efeitos da doença, o estilo de vida moderno empurra o ser humano para o sedentarismo e a alimentação rápida, atraente e fácil. E, na avaliação da Federação Internacional de Diabetes, a assustadora expansão do diabetes do tipo 2 por todo o planeta deve-se exatamente a isso: por mais que os cientistas acelerem seus programas laboratoriais de combate e controle da doença, é difícil alcançar a corrida do ser humano na sua busca desenfreada do prazer consumista. diga lá nº 37 maio/junho 2004 [ 31 ]
A prevencao depende da consciencia de cada um Dois anos atrás, uma pesquisadora da Universidade Estadual de Louisiana, EUA, apresentou o resultado de uma pesquisa feita entre esquimós, revelando que um ácido graxo ômega-3 (DHA) encontrado no óleo de peixe comida básica daqueles gorduchos habitantes da Groenlândia parece melhorar a função da insulina em pessoas com biotipos propensos ao diabetes do tipo 2. Uma luz a mais na estrada da prevenção. Mas o caminho só estará satisfatoriamente iluminado quando cada cidadão e a sociedade como um todo tiver consciência de que, para enfrentar um problema dessa dimensão, é preciso agir. E agir de forma preventiva, sem esperar que médicos e cientistas achem todas as soluções. A equação é simples: 1. Faça uma pesquisa em casa para saber se há casos de diabetes na família. 2. Some à observação de ocorrência de alguns dos sintomas apontados acima. 3. Multiplique pela quantidade de exercícios diários. 4. Subtraia então os excessos de gorduras e açúcares na alimentação. 5. Em caso de dúvida, divida suas preocupações com um médico. 6. O resultado será, com certeza, a fórmula de uma boa prevenção. \\ Cada caso e um caso diferente Numa epidemia de gripe, dengue ou Aids, a doença se alastra por contágio, de fora para dentro do organismo de cada indivíduo. Já a assustadora expansão do diabetes do tipo 2 pelo mundo deve-se, principalmente, aos hábitos de vida, ao desequilíbrio entre a alimentação e a atividade física de cada doente potencial. E é aí que entra a homeopatia como arma importante nessa guerra declarada pela Organização Mundial de Saúde para conter os avanços da doença. A homeopatia não trata de doenças, mas sim de doentes, define o homeopata Cláudio Carvalho Araújo, formado pela Faculty of Homeopathy de Londres e professor da Escola Kentiana do Rio de Janeiro, com 29 anos de experiência clínica. Consideramos que cada caso de diabetes é um caso individual, diferente de todos os outros. As pessoas são diferentes e os caminhos que levam o paciente à sua patologia também são diversos. Podemos citar algumas variantes mais comuns, como a faixa etária da época do acometimento, o histórico familiar, ou o fato de o paciente se tornar diabético por ser alcoólatra, ou por estar obeso mas cada caso é único, e o tratamento deve levar em conta o equilíbrio geral, físico e emocional do indivíduo. É impossível concebermos uma melhora de um indivíduo como um todo sem que essa melhora se reflita nas suas taxas de glicose. Se esse paciente se submeter, além do tratamento homeopático, à dieta preconizada e a exercícios, o resultado será um melhor estado geral, com melhores taxas de glicose. Existem obstáculos intransponíveis, reconhece Cláudio. No caso de um paciente diabético há muitos anos, cujo organismo já vem apresentando os sintomas extremos da doença, a homeopatia (assim como a medicina tradicional) pouco pode fazer além de indicar alguns medicamentos episódicos ou [ 32 ] maio/junho 2004 diga lá nº 37
O mais dificil e aceitar Reflexoes de Guilherme Dantas, 33 anos, diabetico desde os 2 anos de idade. \ Nunca dormi em casa de amigo até os 6 anos de idade. Nas festas de aniversário, não comia o bolo, nem doce. Na Páscoa, enquanto os primos procuravam pelos ovos de Páscoa, eu tentava encontrar a minha barra de chocolate diet. Durante a infância, eu tinha hipoglicemia enquanto dormia. Era falta de açúcar causada pela insulina desregulada. E, como não conseguia acordar para comer açúcar, tinha convulsões. Depois de alguns anos de tratamento, passei a controlar esse processo hoje, consigo acordar a tempo de comer açúcar. Aprendi a me tratar sozinho com 6 anos de idade: media a glicose, aplicava injeção de insulina e controlava minha alimentação. O mais difícil no diabetes é a aceitação, tanto para uma criança quanto para o adulto que a adquire mais tarde. Além das frustrações numa festa cheia de doces, tinha sonhos irrealizáveis, como ser piloto de avião ou escalar o Everest. Sempre soube que jamais iria realizá-los. Controlando o diabetes, hoje levo uma vida normal. Trabalho, namoro, estudo. Só não posso é relaxar com a alimentação e os exercícios. paliativos para o quadro geral. Mas muitos pacientes diabéticos apresentam formas mais suaves da doença e podem controlar suas taxas de glicose por meio de dieta, ou com o uso de substâncias hipoglicemiantes, medicamentos que reduzem as taxas de glicose, mas que não são hormonais. Cláudio ressalta que para um mesmo diagnóstico clínico existem diversos prognósticos, diferenciados por muitas variáveis. Essas variáveis podem ser determinadas tanto pelo estado da doença clínica quanto pelo estado geral do doente. E são também bastante relacionadas à sua força de vontade em resistir aos doces e à sua disposição para fazer exercícios. Com certeza a medicina irá afirmar que são todos diabéticos. Mas a lógica e o bom senso nos permitem verificar que são pacientes diferentes, por possuírem estados clínicos que, embora tomados pela mesma patologia, apresentam níveis de gravidade e intensidade individuais. Poderíamos ter dez pacientes portadores de diabetes e prescrever para cada um deles dez medicamentos homeopáticos completamente diferentes. Respondendo à pergunta crucial Um paciente pode ser beneficiado pela homeopatia até alcançar a cura?, Cláudio é enfático: Com certeza isso é possível, guardadas as condições que citamos anteriormente. E em vários outros níveis, a homeopatia pode ajudar. Pode impedir o avanço da doença, evitando o aparecimento das complicações mais graves. Pode ajudar cada paciente na sua totalidade, fazendo com que ele se sinta melhor consigo mesmo e fique livre dos sintomas. E pode ajudar o paciente nas esferas mental e emocional, onde muitas vezes se origina, ou se complica, o diabetes. diga lá nº 37 maio/junho 2004 [ 33 ]