SANTA art magazine #07 ALEX GROSS CRISTINA SALGADO DEBORAH ENGEL DOZE GREEN ESTELA SOKOL FABIO CARVALHO FILIPE BERNDT HELENA TRINDADE HILTON RIBEIRO JAMES KUDO JORGE RODRÍGUEZ AGUILAR LEONARDO RAMADINHA LUCIANO SCHERER LUIZA BALDAN RICARDO COELHO RIZOMA
66 Sem título (da série Tugúrios), 2009, impressão a jato de tinta em papel de algodão, 100x125cm
L U I Z A B A L D A N 67
QUALQUER LUGAR Felipe Scovino A obra de Luiza Baldan parece nos empurrar para uma zona difícil de ser localizada. Arrisco-me a dizer que ela pretensamente se situa entre o silêncio e o (largo) intervalo entre a espera e o esquecimento. Um território preenchido pelo indício de que algo acabou de acontecer por ali ou há muito é preenchido apenas por memórias. São situações imprecisas assim como é incerto chamar de fotografia, o trabalho de Baldan. São imagens de qualquer lugar. Em alguns momentos aproximam-se de pinturas, seja pela presença de uma janela alegórica, seja pela dualidade entre figura e fundo posicionando-se numa estabilidade provisória. Ampliando essa discussão, a luz não é adereço mas personagem central nas narrativas de Baldan. Ela adentra o espaço e por ali permanece. É como se a imagem quisesse assegurar a permanência do elemento mais transitório e pontual da natureza (a luz). Existe algo tão próprio de nós (um lar, uma barbearia, um estacionamento) que em suas obras sofre uma suspensão de tempo e espaço; tornam-se estranhos, silenciosos, isolados. Silêncio aqui não está diretamente ligado à ausência humana (até porque ele acabou de passar por ali) nem a economia de gestos mas ao caráter ambíguo de presença e solidão que Baldan emprega nas imagens. Silêncio como possibilidade do espectador decifrar aquela cena tão cheia de vestígios em um aparente vazio, e cabe aqui ressaltar, propositadamente natural, sem efeitos cênicos. Em imagens permeadas de trânsitos, suas obras são lugares provisórios. Seja pela espera de alguém que acabou de sair ou nunca virá ou pela tentativa de anular, a todo o momento, os vestígios do que acabaram de ser. Há uma espécie de mistério a ser decifrado. A imagem ou lugar escolhido por Baldan não oferece a mínima possibilidade de ser ocupado ou habitado, simplesmente pelo fato de que ele é um qualquer lugar; um território nostálgico que se faz presente apenas como depositário de signos e memórias. Como obra aberta, seus lugares situam-se entre tempos e territórios, preenchidos por silêncios e vazios que se oferecem para serem desvendados pelo espectador, agora na figura de um hóspede, detetive ou intruso. É nessa intersecção, com ausência de fronteiras claras, entre desconforto, estranhamento e reconhecimento que nos colocamos diante das imagens de Baldan. Faz-se presente uma espécie de arqueologia do habitar mas que ambiguamente nunca é ou pode ser um exercício ou um lugar para essa função, porque assim ele não deseja ser. Luiza Baldan, nascida no Rio de Janeiro em 1980, é mestre e bacharel em Artes Visuais pela UFRJ e Florida International University. Desde 2009 realiza residências artísticas em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, como no edifício Rapozo Lopes (Santa Teresa), na Península (Barra da Tijuca) e no Pedregulho (Benfica). Do seu currículo destacam-se as individuais no Centro Universitário MariAntonia (SP), Plataforma Revólver (Lisboa, Portugal) e Galeria Olido (SP), as coletivas O Lugar da Linha, Nova Arte Nova e BAC!, a menção da Fundação Iberê Camargo, e os prêmios Marc Ferrez de Fotografia da Funarte, 1ª Mostra de Fotografia do Centro Cultural São Paulo, 37º Salão de Santo André, Color Express Award e Brown L. & Marion Whately Scholarship. Atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro e é representada pelas galerias Mercedes Viegas e Oscar Cruz. www.luizabaldan.com Felipe Scovino é professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. É autor dos livros Arquivo Contemporâneo (7Letras, 2009), Cildo Meireles (Azougue Editorial, 2009) e Carlos Zilio (Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2010). É coautor de Coletivos (Circuito, 2010). Foi ganhador da Bolsa de Estímulo à Produção Crítica (Minc/Funarte) em 2008. 68
Sem título (série Tugúrios), 2009, impressão a jato de tinta em papel algodão, 100x125cm Sem título (série Inóspitas), 2009, impressão a jato de tinta em papel algodão, 150x215cm 69