A Fundação Dr. António Agostinho Neto traz à reflexão, em virtude da efeméride que marca o dia de África, o 25 de Maio, os progressos e retrocessos que o continente berço vem enfrentado nas últimas décadas pelo facto de, no universo de muitas, ter sido esta uma das questões que muito preocupava o seu Patrono. A condição existencial de África não raro é, e sempre foi, notável, carregada de uma expressividade lírica pura nas obras poéticas de Agostinho Neto. Muitas vezes, o primeiro Presidente da República fazia questão de manifestá-la durante as suas intervenções políticas. Hoje a África é como um corpo inerte, onde cada abutre vem debicar o seu pedaço, disse Agostinho Neto. Mas vale antes começar pelas razões que estiveram na base para que o 25 de Maio fosse elevado como o dia d África. Fazendo história, esta data marca o aniversário da fundação da Organização de Unidade Africana, OUA. Foi em 1963 que chefes de estados reunidos em Adis Abeba, Etiópia, proclamaram a Organização de Unidade Africana (OUA). O objectivo principal desta instituição era libertar o continente africano das garras do colonialismo e do Apartheid, bem como promover a emancipação dos povos africanos. Já numa fase ulterior, a OUA, isto no ano 2002, deu lugar à actual União Africana. Há quase meio século desde a criação deste órgão, e com a conquista da independência do continente em todas as esferas de actividade, o desenvolvimento de África, apesar de algum progresso, ainda é encarado com muitas reservas. O continente africano é o segundo mais populoso do Mundo, superado pela Ásia, com aproximadamente 800 milhões de habitantes. Todavia, a pobreza revela-se como principal ditador de quase 70 porcento da população africana. No seu relatório de 2011 sobre a concretização dos objectivos do milénio, a ONU aludiu que o progresso do continente africano para erradicar a extrema pobreza e acelerar o desenvolvimento social é insuficiente para atingir até 2015, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. No entanto, o mesmo relatório sobre Avaliação do Progresso em África rumo aos 1 / 5
Objectivos do Milénio ressalta que houve melhoria de alguns índices. O desempenho de África na educação primária, na participação das mulheres nas decisões políticas e na imunização de crianças contra a SIDA e tuberculose foram considerados bons. Esses progressos, principalmente, analisou o Relatório, nos países em situação de pós-conflito, sugerem que com vontade política, recursos adequados e estruturas do governo sustentáveis, as metas do milénio podem ser cumpridas mesmo em difíceis circunstâncias. A redução da pobreza, da desnutrição e do desemprego foram afectadas pelo choque da economia global. Portanto, avança ainda o Relatório, são as mulheres que sofrem as maiores consequências no continente. A disparidade de oportunidades do género no ensino e no mercado de trabalho entre as jovens é preocupante. À guisa deste facto, recentemente Angola reflectiu com a realização do seminário realizado na Assembleia Nacional, subordinado ao tema, Menina Adolescente pilar da sociedade, sobre a discriminação cultural, ética, racial, social, educativa e económica no género e por idade, que enfrentam as jovens mulheres no país. Segundo a ONU, ainda são poucas as melhorias no tocante aos índices de mortalidade infantil e materna em partos. A demora na assistência, o alto nível de gravidez na adolescência e a falta de planeamento familiar são apontadas como principais causas. Porém, o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento, PNUD, diz que há avanços no atendimento às mulheres no pré-natal. No Norte da África, por exemplo, a percentagem de mães atendidas por profissionais subiu de 46%, em 1990-1999, para 80% em 2000-2009. O acesso a água potável não apresentou grandes mudanças e o saneamento básico ainda é um desafio, especialmente para populações rurais. Do ponto de vista económico, o continente berço é, nestes últimos dez anos, a menina dos olhos da Ásia e do ocidente. O Produto Interno Bruto de África corresponde ainda a apenas 1% do produto mundial dado que grande parte dos países possuem parques industriais poucos desenvolvidos, enquanto outros nem sequer são industrializados. O principal bloco económico é a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, formada por 14 países: Angola, África do Sul, Botswana, República Democrática do Congo, 2 / 5
Lesoto, Madagáscar, Malawi, Ilhas Maurícias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Neste bloco, Angola destaca-se pelo crescimento que tem registado no sector económico há dez anos. Em 2007, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revelou que Angola foi o país com o maior crescimento económico do planeta. Segundo o FMI, com o fim da guerra civil, o país arrancou para um novo ciclo marcado por um forte crescimento económico, sustentado principalmente pelo aumento das receitas associadas ao petróleo, reconstrução de infra-estruturas e realojamento de cerca de 4 milhões de deslocados internos. O Fundo notou que, na estrutura da economia angolana, assumem especial relevância os recursos naturais Petróleo e Gás (49%) e Diamantes (5%) que representam 54% do PIB. Do ponto de vista estratégico, diz o Analista Sénior da ONG, PINR (Power and Interest News Report) para Ásia, Chietigj Bajpaee, Angola hoje é vista pela China como trampolim para que este colosso asiático, que já é a segunda economia do mundo, tenha acesso a recursos naturais e energéticos de modo a manter o seu ritmo de crescimento nas próximas décadas, facto que, reforça o analista, remete o continente berço no meio de uma competição sino-americana. Contudo, com estes notáveis progressos no panorama económico de alguns países que fazem África, a actual realidade social do continente acontece de forma lenta. O crescimento não gera desenvolvimento, nem impacto social considerável. Problemas de cariz político têm grande influência no rumo certo que o continente deve seguir de modo que pare o pranto secular, tal como lamentou o Poeta. O continente assiste ao rompimento das relações entre o Tchad e o Sudão. Pois o primeiro país, na pessoa do presidente Idriss Deby Itno, acusa o seu vizinho de apoiar a rebelião. No Zimbabwe, o governo enfrenta uma grave crise para obter recursos financeiros e alertou a comunidade internacional que precisa mais de 8,5 biliões de dólares, em três anos, para reconstruir infra-estruturas e relançar o sistema económico em ruína. Já no Madagáscar, o presidente Andry Rajoelina, que recentemente esteve em Angola, 3 / 5
segundo analistas políticos governa de forma inconstitucional. A chegada de Rajoelina ao poder foi mesmo considerada, por alguns países, golpe de Estado. A SADC sancionou o seu governo. Ainda tivemos o recente golpe militar, no dia 12 de Abril, ao governo da Guiné-Bissau, depondo o seu Presidente e Primeiro-ministro, Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, respectivamente. Estes acontecimentos pintam com tinta negra um continente que, claramente, possui todas as potencialidades para seguir a direcção certa. Afinal, pouca coisa, em África, disse Martin Luther King, é necessária para transformar inteiramente a vida de um africano: amor no coração e sorriso nos lábios. Mas na actual realidade secular, até mesmo nos seus sorrisos, o choro dos africanos é um sintoma, notou Agostinho Neto. O choro durante séculos nos seus olhos traidores pela servidão dos homens no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas nos batuques choro de África nos sorrisos choro de África 4 / 5
nas fogueiras choro de África nos sarcasmos no trabalho na vida choro de África "O Choro de África" de Agostinho Neto 5 / 5