A VALORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS 1

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Transcrição:

49 A VALORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS 1 Viviane dos Santos Pedroso* Manuel Antonio Munguia Payés** *Aluna de Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: vivi_would@hotmail.com ** Dr. em Economia, Docente e Coordenador do curso de Economia da Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E- mail: manuel.payes@prof.uniso.br Recebido em: 25 de fevereiro de 2013 Avaliado em: 03 de outubro de 2013 RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar três dos principais métodos de valoração dos recursos naturais (método de valoração contingente, método do custo de viagem e método de preços hedônicos) e também, alguns analisar estudos de caso para elucidar melhor o emprego desses métodos e a sua a importância na preservação ambiental. O estudo caracteriza-se como bibliográfico e explicativo. Concluise que a valoração econômica dos recursos naturais é imprescindível na tomada de decisão, particularmente para possibilitar a implantação de políticas de conservação. Palavras-chave: Valoração dos Recursos Naturais. Métodos de valoração dos Recursos Naturais. Meio- Ambiente. THE VALUATION OF NATURAL RESOURCES ABSTRACT: This paper aims to examine three of the main methods of natural resources valuation (method of contingent valuation, travel cost method and hedonic price method) as well as some case studies analyzes to better elucidate the use of these methods and its importance for the environmental preservation. The study is characterized as bibliographic and explanatory. It was concluded that the economic valuation of natural resources is essential in the decision-making process, particularly in order to enable the implementation of conservation policies. Keywords: Natural Resources Valuation. Methods of Natural Resources Valuation. Environment. INTRODUÇÃO No passado, não havia preocupação da sociedade em geral com os recursos ambientais, pois as suas quantidades eram abundantes comparadas à necessidade e ao uso dos mesmos. A sociedade não tinha estudado e ponderado com precisão a possibilidade de sua escassez. Com o crescimento da população, da mecanização agrícola e a evolução das grandes indústrias, o meio ambiente sofreu, e esse quadro foi completamente alterado, sendo assim, a limitação dos recursos ficou cada vez mais visível (CAVALCANTI, 1995, p.128-138). 1 Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

50 Existe ainda uma grande dificuldade em criar critérios claros e abrangentes que permitam mensurar e valorar a degradação ambiental como estratégia para impor aos agentes responsáveis pela degradação os ônus decorrentes de suas ações. Busca-se, assim, uma alternativa mais operacional e eficaz que o controle e/ou a inibição de ações degradantes. Trata-se da cobrança pelos danos ambientais causados. Porém, os instrumentos para esta mudança de posição ainda são precários. Azqueta Oyarsun e Ferreiro (1994, p. 67) afirmam que: [...] a economia em geral, e não só a neoclássica, construiu seus modelos como se a Terra fosse um sistema aberto, no qual não existissem limitações exteriores ao crescimento do mesmo. Progressivamente, entretanto, foi-se tomando consciência das limitações que um sistema desta natureza apresenta e os perigos de se continuar trabalhando como se os problemas não existissem. Para May e Lustosa (2003, p. 61-78), a necessidade de valoração, independentemente da técnica utilizada, tende a garantir os recursos ambientais para as próximas gerações. Portanto, do ponto de vista econômico, o crescimento das economias deve ser definido proporcionalmente, com a capacidade dos recursos ambientais, e para que o desenvolvimento sustentável aconteça, é preciso valorar economicamente o meio ambiente (FERREIRA, 2003, p.59). Young e Fausto (1997, p. 136) enfatizam: [...] a valoração econômica dos recursos naturais e à forma como os recursos naturais são utilizados, trará benefícios para um grupo de pessoas, e até mesmo para aquelas que não possuem autonomia sobre a utilização destes recursos. Valorar um recurso ambiental passa a ser importante na necessidade de buscar um valor de referência que estimulará, com isso, o uso racional dos recursos, possibilitando aos agentes públicos e privados uma base para avaliação econômica nas tomadas de decisões, sobre como utilizar e gerenciar os recursos de forma eficiente. A valoração dos recursos ambientais pode ser justificada como uma ferramenta de auxílio no controle da exploração excessiva dos recursos ambientais, ajudando para a determinação do valor de taxas e multas por danos ambientais (REIS; MOTTA, 1994, p.44).

51 Este artigo tem como objetivo analisar três dos principais métodos de valoração dos recursos naturais e também alguns estudos de caso para elucidar melhor o emprego dos métodos de valoração e a sua a importância na preservação ambiental. A metodologia empregada se baseou na pesquisa descritiva, explicativa, bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa descritiva mostra as características do tema em estudo; já a explicativa justifica os motivos, esclarece os fatores e as razões que contribuem para a ocorrência dos fatos, utilizando a pesquisa descritiva como base; a bibliográfica é baseada em informações publicadas em livros, jornais, revistas e sites da Internet; e a pesquisa de estudo de caso é baseada em detalhamentos e profundidade, utiliza métodos diferenciados de coleta de dados (VERGARA, 2011, p.40-49). Além desta introdução, o artigo inclui um referencial histórico que relata o início da preocupação mundial com a utilização adequada dos recursos naturais, uma breve descrição dos principais métodos de valoração, quatro estudos de caso, e finaliza com as considerações finais. REFERENCIAL TEÓRICO Um dos principais problemas da atualidade é perceber até onde o planeta Terra terá condições de suportar a reprodução humana no ritmo de hoje. A grande preocupação é possibilitar que a geração presente supra suas necessidades sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Valorar um recurso ambiental não se trata de uma técnica de caráter simples. Como lembram Aguilera Klink e Alcántara (1994, p. 21): A grande dificuldade, quando se trata de economia e meio ambiente é a valoração, pois quantificar o uso ou a perda de um determinado recurso natural requer que se considere um número muito grande de variáveis. Além disso, outro aspecto que não pode deixar de ser considerado é que na maioria dos casos não é possível saber qual vai ser a demanda futura por um determinado recurso. Sabendo que os processos tecnológicos agem de forma devastadora, surge a urgente necessidade de encontrar alternativas que diminuam esse ritmo acelerado de degradação aos recursos naturais.

52 Para May (1994, p.135-153), o crescimento econômico e a preservação ambiental são considerados por muitos como aspectos opostos. Entretanto, na opinião dele, esta contradição não deve existir. Os instrumentos econômicos, que estão sendo cada vez mais utilizados, têm como objetivo distribuir de forma justa os custos ambientais, criando procedimentos que mantenham o equilíbrio entre a preservação dos recursos ambientais e o crescimento econômico. De acordo com Randall, (1987, p. 434): A principal complexidade em valorar monetariamente um recurso ambiental, surge do fato deles serem considerados bens públicos e apresentarem algumas características como o de serem recursos comuns, de livre acesso e de direitos de propriedade não definidos. Mensurar, impor custos e preços não parece ser assim uma solução econômica e neutra entre usos mais ou menos intensos, ou entre usos presentes e futuros, ou mesmo entre aumento de produção com aumento de poluição. De acordo com Turner, Pearce e Bateman, (1994, p.77): O uso de recursos ambientais e a poluição do ambiente podem ser incorretamente ressarcidos pela empresa considerada. Entretanto, elas impõem custos para o resto da sociedade. Consequentemente, o mercado falha quando surgem situações em que uma firma produz unidades de produto que criam lucros/benefícios privados, mas impõem altos custos externos para a sociedade. A preocupação com a escassez dos recursos e a importância com todas as questões socioambientais tornam-se fortemente significativas em meados da década de 70. Para Costa Lima (p. 135-153), o assunto mobilizou as sociedades, mudando seus hábitos e gerando ações de conscientização nacional e internacionalmente, movimentos sociais que cresceram na mídia, nas organizações, criando iniciativas ecológicas nas empresas públicas e privadas, ampliando o número de organizações e leis de proteção aos recursos naturais, aumentando o número de denuncias às explorações e maus-tratos ao meio ambiente.

53 Quando ocorreu a crise ambiental 2, a ONU - Organização das Nações Unidas e seus países membros tomaram iniciativa formando encontros para discutir as tomadas de decisões, criando objetivos, normas e diretrizes para solucionar o problema. Em 1972, na Suécia, Estocolmo, aconteceu o primeiro encontro, com o tema educação ambiental, na Conferência das Nações Unidas. Desde então, periodicamente, encontros vêm sendo realizados em diversos países do mundo com o tema educação ambiental, com a proposta do desenvolvimento sustentável, mudando e transformando o comportamento e as atitudes das sociedades no mundo todo. Na década de 80, aconteceu outra conferência, essa em Moscou, que tinha como objetivo avaliar os resultados obtidos e criar metas de ação em educação ambiental. No mesmo período foi criado pela ONU o Relatório Nosso Futuro Comum, colocando a questão ambiental como um problema planetário e indispensável para o novo conceito de crescimento econômico (REIGOTA, 1995, p. 87). Uma das atitudes que visa proteger os recursos naturais é a aceitação e consolidação dos métodos de valoração ambiental. Com efeito, o método de valoração vem ajudando a coibir a destruição dos recursos naturais, por meio de multas e taxas aplicadas aqueles que direta ou indiretamente colaboram com a degradação dos recursos naturais. Para escolher o método de valoração, deve-se considerar o objetivo da valoração, o que dependerá das hipóteses assumidas e da quantidade de dados disponíveis. Consideramos neste artigo os seguintes métodos de valoração: Método da Valoração Contingente Método da Valoração Contingente (MVC), de acordo com Motta (1998, p. 32), simula cenário a partir de questionários e pesquisas que revelam as preferências das pessoas sobre o ambiente, que vão refletir nas tomadas de decisões que os responsáveis tomariam se acaso existisse esse mercado para o bem ambiental do cenário hipotético. É usado quando se quer descobrir o valor percebido pela visitação a um sítio natural, um parque, uma bela vista, ar puro, entre outros. Os valores percebidos devem ser expressos em valores monetários. Os indivíduos respondem a questionários a respeito de sua disposição a pagar, para evitar ou corrigir danos aos recursos ambientais, garantindo 2 A dinâmica de urbanização predatória gera os problemas ambientais, o crescimento da população, da mecanização agrícola e a evolução das grandes indústrias, afeta o meio ambiente, intensificando a preocupação com a limitação dos recursos, ocasionando as crises ambientais.

54 melhorias de bem-estar, ou receber para aceitar a alteração de um recurso ambiental, que compensaria a perda de bem-estar, mesmo que o indivíduo nunca o tenha utilizado antes. De acordo com Faria e Nogueira (1998, p.17), a ideia central do MVC é que indivíduos possuem diferentes graus de preferência por um bem ou serviço ambiental. Para Motta, essa preferência torna-se visível quando os consumidores vão ao mercado e pagam valores por tais ativos. Se os indivíduos que participarem da pesquisa, respondendo os questionários, apresentarem capacidade necessária para entender claramente a variação ambiental que está sendo apresentada na pesquisa, revelando suas verdadeiras disposições a pagar (DAP) ou disposição a aceitar (DAA), o método de valoração contingente (MVC) pode ser considerado o mais indicado. Método do Custo de Viagem Método do Custo de Viagem (MCV) representa o custo de visitação de um sítio natural. O seu objetivo é avaliar a demanda por áreas naturais ou não, a partir da observação direta do comportamento dos usuários do local analisado, sendo usualmente aplicado na avaliação de valores relacionados à atividade de recreação (CAMPOS 2003, p. 34). É um dos métodos mais antigos de valoração econômica, utilizado para a valoração de sítios naturais de visitação pública (MAIA, 2002, p. 87). O valor do recurso ambiental será estimado a partir dos custos dos visitantes para chegar até o sítio, incluindo a taxa de entrada. À distância do sítio natural e sua taxa de visitação tendem a ser inversamente correlacionadas, ou seja, quanto maior a distância, menor o número de visitas (WILLIS; GARROD, 1991, p. 33-42). De acordo com A. Gori Maia e Ademar R. Romeiro (2008, p. 6): A partir de uma função que relaciona a taxa de visitação ao custo de viagem, aplica-se a teoria econômica do excedente do consumidor para estimar a disposição adicional a pagar da população pelas visitas, uma estimativa dos benefícios econômicos líquidos proporcionados pelo patrimônio natural à população. O excedente do consumidor é uma medida do bem-estar da população, obtido a partir da diferença entre a disposição a pagar da população por um bem ou serviço e seu custo efetivo de apropriação. Pode ser facilmente calculado quando se conhece a função demanda pelo bem ou serviço que, no caso do MCV, relacionaria a variável dependente número de visitantes (taxa de visitação) à variável independente custo de viagem ao patrimônio natural.

55 De acordo com Motta (1998, p. 27), por meio de uma pesquisa realizada no sítio natural, podem-se levantar informações com uma quantidade de visitantes. Os entrevistados respondem a um questionário informando o número de visitas ao local, o custo de viagem, o endereço de residência, renda, idade, grau de escolaridade, etc. Ao aumentar o custo de viagem, o número de visitas diminui, sendo possível assim estimar uma curva de demanda pela visitação ao sítio. Método de Preços Hedônicos Método de Preços Hedônicos 3 identifica os atributos e as características de um bem privado, onde esses atributos sejam complementares a bens ou serviços ambientais, sendo assim possível estimar o preço implícito do atributo ambiental no preço de mercado. O preço de propriedade é um bom exemplo, de forma que o indivíduo pode esclarecer sua disposição a pagar, de acordo com atributos ambientais existentes na propriedade. Com a aplicação deste método torna-se possível avaliar o preço de um atributo ambiental na formação de um preço observável de um bem composto (MOTTA, 1997, p. 23). As informações sobre os atributos que influenciam o preço da propriedade são indispensáveis para a aplicação do MPH, características como a qualidade do ar, proximidade de um sítio natural, grau de conservação, transporte, a qualidade do local, vizinhança, e também informações socioeconômicas dos proprietários. Os preços de propriedade também podem ser estimados por razões fiscais, como, por exemplo, reduzir o valor do imposto de transmissão da propriedade (MOTTA, 1997, p. 26).Segundo Motta (1997, p. 27): A utilização do método dos preços de propriedade é recomendável somente em alguns casos, onde existe alta correlação entre a variável ambiental e o preço da propriedade. Em que é possível avaliar se todos os atributos que influenciam o preço de equilíbrio no mercado de propriedades, em análise, podem ser captados. 3 Ou também, o método do preço implícito.

56 A utilização do MPH, juntamente com a aplicação do método do preço de propriedade, possibilita estimar a disposição a pagar por valores de uso do meio ambiente. Como em todos os métodos de valoração econômica dos recursos naturais, a qualidade de informações e dados interfere consideravelmente à qualidade das estimativas. Por esta grande exigência de levantamento de dados e informações, o uso do método do preço de propriedade é utilizado em casos raros, e quando utilizado se faz com muita ponderação.

57 ESTUDOS DE CASO Valoração Contingente do Parque Chico Mendes Chico Mendes é um parque ambiental localizado no Rio Branco Acre. É o único parque ambiental existente no município, ele é um bem público, possui uma biodiversidade elevada, com espécies de alto valor econômico, biológico e medicinal (SEMEIA, 1996). O objetivo da pesquisa realizada por Silva e Lima (2003, p. 1-24) foi verificar a percepção da sociedade rio-branquense sobre o quanto a manutenção e conservação do parque aumentam o seu nível de bem-estar. Foi formulada a seguinte pergunta: Sabendo que o Parque Ambiental Chico Mendes (PACM) é o único parque ambiental de Rio Branco, você estaria disposto a pagar um determinado preço para possibilitar a manutenção e a conservação do parque para você e para seus familiares atuais e futuros? De acordo com Silva (2003, p. 8-11): [...] as entrevistas seriam analisadas as repostas dos entrevistados. Se o entrevistado respondia SIM, para o preço oferecido era apresentado um lance superior ao anterior; caso respondesse SIM novamente, outro lance superior seria ofertado, e assim sucessivamente, até o indivíduo responder NÃO. Caso os lances ficassem abaixo da máxima DAP, seria considerado pago; caso, os lances ficassem acima da DAP máxima, não. As respostas afirmativas iguais a 1, serão consideradas. Quando o indivíduo respondesse NÃO, seria oferecido um valor inferior e assim sucessivamente, até determinar um valor que ela aceitasse pagar. Nesse caso, considerou-se a resposta negativa igual a 0. Vários valores foram negociados com o intuito de captar a verdadeira disposição a pagar, os onze valores determinados foram negociados nas entrevistas. Com a coleta de dados foi determinada uma amostra de 256 indivíduos, mais uma margem de segurança de 10%, ficando 282 entrevistados. Os questionários foram aplicados nos dias de sábado e domingo, no período de 29 de junho a 21 de julho de 2002, totalizando quatro semanas. Da amostra, 68,80% proviam do 1º distrito de Rio Branco, 29% do 2º distrito, e apenas 2,2%, de outros locais (zona urbana, municípios vizinhos, etc.). Foram manifestadas as seguintes disposições: a) De acordo com o nível de renda: indicou que no segundo estrato concentrava a maior proporção de contribuintes; nesta classe, 77,27% dos entrevistados se dispunham a contribuir com o PACM. O terceiro e o primeiro nível de renda

58 apresentaram, respectivamente, 70% e 67,10%; os demais níveis possuíam taxas inferiores a 62,5%. b) De acordo como nível de escolaridade: entrevistados que possuíam o segundo grau apresentavam a maior capacidade para contribuir com a manutenção e conservação do PACM, levando em consideração que 75% dos entrevistados com este nível de escolaridade aceitaram contribuir; dos entrevistados com nível superior 61,4%, sem instrução ou apenas com o ensino fundamental, constatou-se 60% e 67%. Dos entrevistados constatou-se que 32% não se dispuseram a contribuir com a manutenção e preservação do PACM. Vários motivos podem explicar o não pagamento da contribuição, como o desemprego ou renda familiar muito baixa. Alguns dos entrevistados que não aceitaram os lances oferecidos se justificaram dizendo que seria melhor que uma taxa apropriada fosse cobrada na entrada do parque. Outras justificativas foram enumeradas no questionário: a falta de confiança em acreditar que, ao pagar, o parque terá melhor manutenção e será conservado; não acreditar que exista a necessidade de pagar essa taxa; já pagam muitos impostos; e outros motivos. A maior justificativa para uma DAP nula foi alegarem ser uma função da prefeitura. Nesse contexto, o indivíduo deixa bem claro sua opinião de que a responsabilidade de manter um ativo ambiental é do poder público. Mantendo essa postura, a sociedade se coloca fora das tomadas de decisão e do gerenciamento dos recursos naturais. No estudo foi verificado que quanto maior fosse o lance, menor seria a probabilidade de o indivíduo aceitar a contribuir. Verificou-se que o lance de R$ 1,00 possui uma probabilidade estimada de ocorrência de 90%, enquanto o de R$ 25, 00, apenas de 1%. O valor que determina a verdadeira disposição a pagar para manutenção e conservação foi estimado em R$ 7,60, valor que indica o preço que o indivíduo está disposto a pagar mensalmente pela conservação e manutenção do PACM (SILVA, R.G., 2003, p. 13-19). O Valor Econômico Total (VET) do parque foi estimado em R$ 23.946.380,00, preço de dezembro de 2004 (R$ 35.278.614,66, preço de junho de 2012). O VET do PACM pode ser uma ótima ferramenta para dar suporte às decisões de políticas públicas voltadas para o gerenciamento desse recurso. A simulação de Monte Carlo, que é uma análise de risco, foi efetuada com o objetivo de determinar a probabilidade de ocorrência da DAP e do VET. Determinou-se com 100% de probabilidade que o valor

59 econômico total da PACM é inferior a R$ 25.894.920,00 e superior a R$ 21.886.840,00; o valor médio de R$ 23.946.380,00, preços de dezembro de 2004 (R$38.149.269,50, 32.244.430,87, 35.278.614,66, respectivamente em preços de junho de 2012); representa o ponto de indiferença entre os valores extremos. A análise de risco é importante, pois possibilita a conclusão probabilística na ocorrência da DAP e VET, minimizando possíveis problemas. Projetos florestais na Grã-Bretanha. Este segundo estudo de caso, de autoria Garrod G. E. e Willis, K., foi analisado por Motta (1998), e trata da aplicação do Método de Preços Hedônicos (MPH). A seguir faremos uma síntese do uso desse método. Este estudo apresenta um dos poucos casos de aplicação desse método com preços de propriedade para valorar benefícios ambientais associados às florestas. O principal objetivo desta valoração foi o de gerar indicadores de benefícios de amenidades das florestas britânicas, derivados do prazer estético e recreação. Um dos objetivos centrais desse estudo é dar ferramentas para que a Comissão Florestal do Reino Unido (CF), no seu planejamento florestal, possa elevar a combinação dos benefícios madeireiros e de amenidades das florestas (MOTTA, 1997, p. 100). Ainda segundo Motta (1997) Apud Garrod G. E. e Willis, K., as estimativas utilizadas destes benefícios de amenidades adotaram o método do custo de viagem, realizadas pelos mesmos autores para 15 distritos florestais no país. Mas esta avaliação foi restrita aos benefícios recreacionais e não concretizou uma análise das espécies e da idade das árvores, nas medidas de disposição a pagar. Ao utilizarem o MPH, eles esperam gerar indicadores de benefícios que possibilitem orientar o planejamento da composição florestal voltada para a captura dos benefícios de amenidades. Os autores apresentaram a função hedônica de preços de residência (FHPr), da qual o preço implícito da amenidade será determinado como: Psr = Psr (FCi, Qi, Si, SEi, Ri), onde FCi é o vetor de características de bens e serviços da área da propriedade i; Qi é o trimestre do ano em que a propriedade foi comprada; Si é o vetor de características da propriedade i; SEi é o vetor de variáveis socioeconômicas do distrito onde a propriedade i se localiza; Ri é a região onde a propriedade i se localiza. Motta (1997, p. 101) afirma:

60 As variáveis socioeconômicas SEi das regiões da amostra foram obtidas de informações censitárias de 1981, as descritivas FCi das área florestais da Comissão apresentam dados de cobertura vegetal por idade para os seguintes grupos: a) folhosas que oferecem maior nível de amenidades; b) pinus e c) outras coníferas que permitem maior produção madeireira. Os autores salientam que muitas variáveis importantes não foram incluídas por estarem indisponíveis, como a proximidade das propriedades em relação à área florestal, informações sobre a propriedade, data e área de construção, acesso a serviços como telefone e gás. Contataram que devido à restrição de dados sobre outras florestas, não foi possível analisar os casos de propriedades localizadas em áreas sem qualquer atributo florestal. Assim, a análise se concentrou em avaliar as variações dos preços implícitos de variações de cobertura vegetal (MOTTA, 1997, p. 101). Identificaram que, mesmo assim, a relação entre diversos tipos de árvores na cobertura florestal, restringiu a análise às seguintes categorias de árvores: a) todas as folhosas; b) pinus plantados antes de 1920 e c) todas as outras coníferas plantadas após 1940. Consequentemente, eles admitem que os resultados obtidos não podem ser aplicados a todas as áreas florestais da CF. Os autores lembram que as melhorias de transporte e o crescente mercado de casas de fim de semana ampliam a preferência do comprador para um mercado nacional (MOTTA, 1997, p. 102). Motta, 1997 apud Garrod G. E. e Willis, K., afirma que a função de oportunidade de preços adotada apresentou, como resultados, um aumento em 1% na área de folhosas. Mantendo as outras variáveis nos seus valores médios, aumenta o preço esperado da residência em quase US$ 69,00; já para o mesmo aumento relativo das coníferas, haveria uma redução de, aproximadamente, US$ 226,00. Os autores constatam ainda que inúmeras variáveis apresentam relação direta, portanto, problemas de multicolinearidade 4, comuns no MHP, não podem ser descartados neste estudo. Indicam que os possíveis vieses não foram, contudo, considerados muito sérios e os resultados foram utilizados na estimativa da função de demanda por residências próximas a áreas florestais. 4 Multicolinearidade consiste em um problema comum em regressões, onde as variáveis independentes possuem relações lineares exatas ou aproximadamente exatas. O indício mais claro da existência da multicolinearidade é quando o coeficiente de determinação é bastante alto, mas nenhum dos coeficientes da regressão é estatisticamente significativo segundo a estatística convencional. As consequências da multicolinearidade em uma regressão são a de erros-padrão elevados no caso de multicolinearidade moderada ou severa e até mesmo a impossibilidade de qualquer estimação se a multicolinearidade for perfeita.

61 Os autores criaram três cenários para analisar as implicações das estimativas geradas do MPH. 1) Plantar folhosas em campos abertos; 2) Plantar pinus ao invés de coníferas; 3) Plantar folhosas ao invés de coníferas. Segundo eles, para avaliar os resultados, em termos de viabilidade econômica que considere os benefícios madeireiros e de amenidades, mostra-se necessário calcular a taxa interna de retorno e o valor presente de cada cenário, para distintos horizontes de tempo nos quais os benefícios seriam apropriados de acordo com o crescimento da cobertura vegetal. Os autores tiram como principal conclusão que a rentabilidade social das florestas cresce quando folhosas substituem coníferas. Para eles, os benefícios das amenidades mais que superam as perdas de produção madeireira. Resultado que se torna importante, na medida em que existe atualmente pouco incentivo na expansão desta cobertura vegetal devido ao seu baixo valor comercial. Dessa forma, os autores procuram mostrar que o exercício de valoração realizado permite que a atuação da Comissão Florestal seja revista e considere outros benefícios das florestas como o de amenidades que foram estimadas. Indicam que este estudo é bastante elucidativo do potencial de aplicação do método de preços hedônicos na valoração de benefícios florestais. A construção da base de dados é meticulosa e suas imperfeições sempre reconhecidas e apontadas pelos autores (MOTTA, 1998, p. 104). Parque Público De Lumpinee Em Bangkok, Tailândia. Este terceiro estudo de caso, de autoria de Dixon e Hufshmidt (1986), foi analisado por Motta (1998), que analisou o valor econômico do Parque Público de Lumpinee situado em Bangkok, a capital da Tailândia. Os autores perceberam que a área do parque sofre certa pressão para que a mesma deixe de ser um parque público e passe a realizar outros tipos de atividades com fins comerciais, que não obtiveram sucesso, devido a toda beleza do parque e do mesmo representar grande valor histórico para a sociedade da Tailândia. Por este motivo, os autores enfatizam a grande importância que a valoração econômica dos recursos naturais apresenta, contribuindo com a formação de valores, estimados pelos usuários dos recursos naturais, que são atribuídos pelo seu nível de utilização ou simplesmente pela sua existência; contribuindo assim para a tomada de decisão sobre qual a melhor forma de se utilizar à área do parque. No estudo foi aplicado o Método do Custo de Viagem (MCV) para

62 estimar a curva da demanda pelo uso do parque e valorar o parque em US$ 13,2 milhões (MOTTA, 1997, p. 106). O modelo utilizado para o MCV utiliza as seguintes variáveis: V0i = f (TCi, STCi, Yi ), onde: TCi = (Ti + Ii ) = custo total de viagem; Ti = custo de viagem monetário; Ii = custo monetário do tempo de viagem; STCi = disponibilidade de lugares substitutos; Yi = renda média per capita na zona i (MOTTA, 1997, p. 107). O primeiro passo para se utilizar o modelo foi a realização de duas pesquisas sobre a frequência das visitas ao parque por semana, com um intervalo de três meses entre elas, resultando numa média de 40.417 visitas por semana. Da amostra dos entrevistados, 37% correspondiam a visitas em dias de semana e 63% no final de semana, constatando assim que as visitas no parque acontecem de forma muito mais intensa nos finais de semana. Motta (1997, p.108) afirma que esta taxa de visitação refere-se ao número de visitas e não ao número de visitantes por cada 1.000 visitas, visto que muitos indivíduos fazem visitas repetidas ao longo do ano. Sobre as variáveis utilizadas no modelo V = taxa de visitantes estimada; TCi = (Ti + Ii ) = custo total de viagem médio; Ti = custo de viagem monetário médio; Ii = custo monetário do tempo de viagem médio (custo de oportunidade do tempo gasto viagem); e TC = elasticidade da visitação com relação ao custo total de viagem; ( )* = teste t para um nível de significância de 99% (MOTTA, 1997, p. 108). Motta (1997) conclui: Embora utilizado na sua forma simplificada, a aplicação do método do custo de viagem é apresentada de forma bastante clara no estudo. São evidenciadas as principais etapas necessárias para a construção da função de demanda associada aos benefícios recreacionais de um determinado sítio natural. É importante ressaltar que aplicações do método de custo de viagem, como esta apresentada aqui, são particularmente interessantes quando se pretende estabelecer parâmetros para a determinação de taxas de admissão em unidades de conservação e seus impactos na visitação, tendo como enfoque principal os benefícios recreação. Com o Método do Custo de viagem concluiu-se que o número de visitantes, de acordo com o valor da taxa de entrada cobrada pelo parque, representa a função demanda. A soma do total de visitantes para uma determinada taxa de entrada representa o ponto da curva de demanda pelo uso do parque, já a variação do valor da taxa de entrada representa vários pontos da curva de demanda e a área localizada abaixo

63 desta curva representa o excedente do consumidor, de acordo com este excedente é estimado o valor de uso do parque baseado numa análise do custo de viagem (MOTTA, 1997, p. 109). Parque Nacional de Khao Yai na Tailândia Este quarto estudo de caso, de autoria de Dixon e Sherman (1990), foi analisado por Motta (1997). Este estudo procurou estimar os principais serviços ambientais relacionados à proteção do Parque Nacional de Khao Yai, na Tailândia. Foram avaliados os benefícios gerados pelo turismo, o valor de uso e de opção e o valor de existência pela preservação de algumas espécies. O Parque é conhecido como a maior área de preservação ambiental do país, onde habitam dezenas de espécies de mamíferos, incluindo grandes animais, como tigres, elefantes e cervos. Tornou-se importantíssimo na organização da oferta de água, já que nele se situam as nascentes dos corpos d água que abastecem quatro bacias hidrográficas e dois dos maiores reservatórios da região (MOTTA, 1997, p. 116). Motta (1997) apud Dixon e Sherman (1990) aponta, como benefício da preservação do parque, o impacto positivo que o turismo ecológico causa, por vários motivos, como a proteção e conservação da diversidade biológica, o incentivo à educação ambiental e o desenvolvimento de pesquisas. Como resultado dos benefícios financeiros, os autores estimaram que o turismo na região do Parque gerou entre 4 a 8 US$ milhões. Neste estudo de caso foi utilizado o Método de Custo de Viagem (MCV) para chegar ao valor econômico do Parque Khao Yai. Estimou-se que o excedente do consumidor para este último estaria entre US$ 0,5 e 1,0 milhão. Para chegar aos valores de uso, opção e existência de uma das espécies que habita o parque, o Método de Valoração Contingente (MVC) foi utilizado novamente, obtendo um valor de US$ 4,7 milhões resultado da preservação dos elefantes. Dixon e Sherman (1990), apud Motta (1998), estimaram que 25% das famílias que residem próximo ao parque aumentam suas rendas explorando o parque de forma ilegal, e ainda que se a proibição fosse fiscalizada e obedecida, algo em torno de US$ 1,6 milhão por ano de renda da população deixaria de ser gerada (Motta, 1998, p. 117). Com o estudo, os autores chegaram à conclusão que a maior ameaça ao Parque é os seres humanos, o que é muito comum quando o assunto é proteção ao meio ambiente,

64 o que acaba sendo um tanto irônica essa necessidade de proteger os recursos naturais de nós mesmos. Nas últimas décadas grande parte da vegetação que fica dentro das fronteiras do parque foi degradada ou totalmente modificada para fins de atividade da agricultura, criação de animais, extração de produtos florestais e da caça de animais silvestres, atividades que além de degradar o parque, ameaçam os recursos naturais (MOTTA, 1997, p. 118). O impacto do turismo foi medido pelos autores. Em primeiro lugar foram examinados os gastos com transporte, guias, alimentação e acomodação, constatando que, na média, os visitantes estrangeiros gastam mais do que os tailandeses nos Parques Nacionais. O gasto médio por pessoa/dia para os visitantes estrangeiros varia de US$ 20 a US$ 30, já o valor de taxa de entrada do parque corresponde a menos de 1% deste valor. Os autores calcularam que o parque recebe mais de 400 mil visitantes por ano, e como as despesas gastas dentro do parque variam de US$ 10 a US$ 20/dia, o gasto total gerado pelo turismo no parque somaria de US$ 4 a 8 milhões. Entretanto, os autores enfatizam que estas despesas não representam o valor econômico do Parque. Para se chegar a esse valor, seria necessário medir o excedente do consumidor (MOTTA, 1997, p. 119). Os autores realizaram uma pesquisa onde foi aplicado o método de valoração contingente (de lances livres), com as pessoas que utilizam a área sobre a quantia máxima que elas estariam dispostas a pagar (disposição a pagar - DAP), para que fosse garantida a proteção e a sobrevivência dos elefantes. Tendo como resultado uma média de US$ 7 por pessoa entrevistada, os autores obtiveram então um valor de uso de US$ 12,6 milhões (1,8 milhões x 7 = 12,6), que seria o número de visitantes do parque multiplicado pelo valor DAP encontrado, valor associado à continuidade a vida desses animais; os elefantes que habitam o parque somam aproximadamente 10% do total da espécie existente no país. Os autores salientam que essa DAP elevada está diretamente relacionada à grande importância que essa espécie representa para a cultura tailandesa (MOTTA, 1997, p. 119). O Parque Nacional Khao Yai gera muitos interesses em investigações científicas e pesquisa na região, consequentemente ocorre o aumento de emprego e incentivo a especializações. Na aplicação do Método de Custo de Viagem (MCV), houve pouco rigor metodológico na estimação da DAP, o que diminuiu sensivelmente a relevância dos resultados (MOTTA, 1998, p. 119).

65 Resultados dos estudos de caso: No primeiro estudo de caso, com o Método de Valoração Contingente, foi estimado o valor econômico total do parque Chico Mendes. Já no segundo estudo, foi estimada a rentabilidade social das florestas na Grã-Bretanha com a substituição das árvores, além da análise dos benefícios com esta substituição, utilizando-se do Método de Preços Hedônicos. No terceiro estudo de caso, verificou-se que, de acordo com o número de visitantes ao parque público de Lumpinee em Bangkok, Tailândia, e suas preferências, podem-se estabelecer parâmetros para taxas de entrada e medir a importância da conservação do parque para a cultura e lazer do povo Tailandês, como mostra a Tabela 1: Tabela 1 - Resultados dos estudos de caso Estudos de caso Valoração Contingente do Parque Chico Mendes Projetos florestais na Grã-Bretanha Parque Público De Lumpinee Em Bangkok, Tailândia Resultados obtidos: Método O Valor Econômico Total do parque é uma ótima ferramenta para dar suporte às decisões de políticas públicas voltadas para o gerenciamento desse recurso. Método de Valoração A rentabilidade social das florestas cresce quando folhosas substituem coníferas. Os benefícios das amenidades mais que superam as perdas de produção madeireira. Método de Preços O número de visitantes, de acordo com o valor da taxa de entrada cobrada pelo parque, representa a função demanda. O método ajuda a estabelecer parâmetros para a determinação de taxas de admissão em unidades de conservação. Método do Custo de Viagem. utilizado: Contingente. Hedônicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A necessidade e a escassez de recursos ambientais tendem a se tornar importantes objetos de estudo nas próximas décadas. Os métodos de Valoração Ambiental, ainda em evolução quanto às suas metodologias e aplicabilidade, são importantes instrumentos na busca do de equilíbrio entre a necessidade e a escassez destes recursos vitais à vida na terra.

66 Dos principais métodos existentes, o Método da Valoração Contingente (MVC) possibilita encontrar o valor econômico de um bem público ou ambiental para os quais não há preço de mercado. O Método do Custo de Viagem é um dos mais antigos métodos de valoração econômica, aplicado principalmente a patrimônios naturais de visitação pública. O emprego deste método no estudo de caso tratado mostrou o valor de opção. Os autores evidenciaram as etapas necessárias para a construção da função de demanda e alertam que não são apresentadas informações quanto ao conteúdo dos questionários e que a falta destas informações geram grandes dificuldades na elaboração de uma análise crítica. Os autores apresentados ressaltam a importância da aplicação do Método do Custo de Viagem, quando se pretende estabelecer parâmetros para a determinação de taxas de admissão em unidades de conservação e seus impactos na visitação. O Método de Preços Hedônicos (MPH) identifica os atributos e as características de um bem privado, em que esses atributos sejam complementares a bens ou serviços ambientais, possibilitando assim tentativa de estimar o preço implícito do atributo ambiental no preço de mercado. Valorar economicamente recursos ambientais se tornou, e possivelmente se tornará cada vez mais, uma ferramenta essencial para a tomada de decisões, tanto em novos projetos onde haja impactos ambientais, como em casos de processos judiciais de indenização por danos causados ao ambiente. Portanto, o estudo e a realização de trabalhos que atribuam valor econômico aos recursos ambientais são de fundamental importância, e essa atribuição de valor é uma forma de possibilitar a implantação de políticas de conservação ambiental, importantes para a continuidade de existência dos recursos naturais para as presentes e futuras gerações. REFERÊNCIAS AGUILERA, K. F. ALCÁNTARA, V. (orgs.) De la economía ambiental a la economía ecológica. Barcelona: ICARIA, 1994, p. 405. AZQUETA, O. D. Valoración económica de la calidad ambiental. Madrid: McGraw Hill, 1994. CAMPOS, J. J. F. de. Valoração econômica de danos ambientais: o caso dos derrames de petróleo de São Sebastião. Tese de doutorado. Pós-Graduação em Engenharia Mecânica.Universidade Estadual de Campinas, SP, 2003.

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