Cidade Iluminista Antonio Castelnou
Introdução No Reino Unido, devido à sua acidentada história durante os séculos XVI e XVII, na qual houve a sucessão de vários estilos artísticos, o BARROCO italiano e francês foi praticamente recusado. Para os arquitetos britânicos, além desse estilo estar fortemente ligado ao catolicismo, apresentava formas imorais, pois servia a uma religião de austeridade e humildade por meio de sensualidade e fausto, assim como recorria a artifícios para atingir seus fins de encantamento.
Inigo Jones (1573-1625) Queen's House (1616/35, Greenwhich GB) Como reação ao barroco, instalou-se na Inglaterra o PALLADIANISMO, uma corrente classicista inspirada na doutrina do tratadista da Renascença ANDREA PALLADIO (1508-80), que dominou todo o país por quase dois séculos, de 1620 a 1800, servindo de ponte entre o Renascimento e o Neoclassicismo do final do século XVIII. Andrea Palladio (1508-80)
Antoon van Dyck (1599-1641) Portrait of Inigo Jones (1620) Inicialmente muito sóbrias e contidas, aos poucos, no decorrer do século XVII, as construções burguesas na Grã-Bretanha procuraram por maior conforto, o que as fez se distanciarem do classicismo rigoroso e combinarem os motivos palladianos com o lirismo e o dinamismo da Europa central, especialmente da Baviera. Banqueting House (1619/22, Whitehall London) Inigo Jones (1573-1625)
Soho Square (ant. Kings Square) (1681, London) Na Inglaterra seiscentista, houve uma fusão entre as formas clássicas e a decoração barroca, sem nunca atingir o excesso. Nessa época, várias PRAÇAS particulares foram criadas em Londres, as quais se caracterizavam pela continuidade característica e uniformidade rítmica das fachadas circunvizinhas, além do uso exclusivo para pedestres pagantes. Covent Garden (1631/35, London) Red Lion Square (1684, London)
St. James Square (1662, London) Soho Square (1681, London) Bloomsbury Square (1660, London) Tais praças londrinas, como a Bloomsbury Square (1660), a St. James Square (1662) e a Soho Square (1681), também se caracterizavam pelo tratamento unitário em bloco (street block), geralmente associado ao corpo de um palacete burguês, igreja ou templo coletivo.
Christopher Wren (1631-1723) St. Paul s Cathedral (1675-1710, London) Além de INIGO JONES (1573-1652) em seus trabalhos tardios, devem ser citados como expoentes dessa arte inglesa híbrida os arquitetos e urbanistas CHRISTOPHER WREN (1631-1723), JOHN VANBRUGH (1664-1726), JAMES GIBBS (1682-1754) e WILLIAM KENT (1684-1748), entre vários outros (Ferrari, 1991). Hampton Court (1689/99, London)
Blenheim Palace (1705/21, Woodstock Londres) John Vanbrugh (1664-1726)
Burlington House (1698/99, London) James Gibbs (1682-1754) Em meados do século XVIII, a reação inglesa contra os faustos barrocos tornou-se ainda mais intensa e acabou por fazer imperarem a pureza, a contenção compositiva e as restrições clássicas. Optou-se enfim pelo NEOCLASSICISMO ou Neopalladianismo, que se implantou sob a direção de LORD BURLINGTON (1694-1753) e contribuiu com alguns elementos na decoração georgiana.
Iluminismo Este movimento intelectual caracterizou todo o pensamento europeu do século XVIII, particularmente na França, Inglaterra e Alemanha; e baseou-se na crença no poder da RAZÃO para solucionar os problemas sociais. Também chamado de ILUSTRAÇÃO ou Século das Luzes, tal doutrina opunha-se à tradição, representada sobretudo pela Igreja Católica; e lutava por uma nova ordem social e política, que culminaria com a Revolução Francesa (1789/99).
Os pensadores iluministas entre os quais MONTESQUIEU (1689-1755), VOLTAIRE (1694-1778), DAVID HUME (1711-76), JEAN- JACQUES ROUSSEAU (1712-78) e JOHANN W. VON GOETHE (1749-1832), além dos enciclopedistas, apoiaram a democracia, o liberalismo e a renovação industrial. Montesquieu (1689-1755) Voltaire (1694-1778) Johann W. von Goethe (1749-1832)
Cavendish Square (1717, London) Portman Square (1761, London) Durante o ILUMINISMO, as cidades inglesas receberam intervenções pontuais que ressaltaram os valores barrocos perspécticos, destacandose várias praças privadas em Londres, tais como: Hanover Square (1717), Cavendish Square (1717), Grosvenor Square (1725), Berkley Square (1739), Bedford Square (1739) e Portman Square (1761). Hanover Square (1717, London)
Grosvenor Square (1725, London)
King s Circus (1754/60, Bath GB) Royal Crescent (1767/74, Bath GB) A cidade balneária de BATH recebeu um característico conjunto classicista a partir de 1727, graças a JOHN WOOD (1700-54), este iniciado com a Queen Square (1727/34), que se liga, através da Gay Street (1760), ao King s Circus (1754/60) que, por sua vez, estende-se pela Brock Street (1767/68) até o Royal Crescent (1767/74).
Contudo, desde o início do século XVIII, o artificialismo típico dos jardins clássicos atenuouse e apareceram parques caracterizados por árvores, córregos e extensos prados. Nascia assim o JARDIM INGLÊS que se distanciava cada vez mais do modelo axial e geométrico, de tradição renascentistabarroca, criada pelo poder absolutista e despótico dos franceses. Henry Hoare II (1705-85) Stourhead Gardens (1725/43, Wiltshire GB)
Holkham Hall (1734, Norfolk GB) WILIAM KENT (1684-1748), um dos criadores do jardim naturalista de tradição inglesa a reação romântica ao paisagismo francês, sustentava que se deveria projetar de acordo com dois fatores fundamentais: a integridade moral, de origens clássicas; e o gosto pelo natural. William Kent (1684-1748)
Rousham Park (1730, Oxfordshire GB.) William Kent (1684-1748)
Henry Hoare II (1705-85) Stourhead Gardens (1725/43, Wiltshire GB) Criticando a pretensa domesticação das paisagens naturais empreendida pelos franceses e inspirando-se, ao mesmo tempo, na apologia ao ESTADO NATURAL feita pelos artistas românticos e na cultura e artes orientais, defendia-se a volta do contato humano com a natureza, enfatizando as idéias de liberdade e movimento no paisagismo.
Charles Bridgeman (1680-1738) Stowe Gardens (1715, Buckinsham- Shire GB) Deste modo, os elementos do PAISAGISMO INGLÊS passaram a ser: a) Traçados curvilíneos e tortuosos, objetivando surpresa, variedade de sensações e simulação de idílicas perspectivas, por meio do manejo de sinuosos contornos naturais; b) Criação de uma seqüência de experiências (qualidades de umidade, temperatura, textura e som) associadas a impressões visuais (luzes, sombras, cores, formas, etc.) que provocavam emoções variadas e distintas;
c) Eliminação de barreiras visuais e físicas entre o jardim e o paisagem natural, explorando seus valores ecológicos e trabalhando com episódios (relvas, clareiras, bosques, matos, lagos, riachos, cascatas, grutas, ruínas, etc.). Humphry Repton (1752-1818) Sheringham Park (1812/19, Norfolk GB)
William Chambers (1723-96) Kew Gardens (1841, London) Mesmo com o término da era georgiana, vários arranjos paisagísticos foram realizados em Londres, estes completamente definidos pelos ideais românticos, como os Kew Gardens (1841), os primeiros jardins botânicos reais do mundo, de WILLIAM CHAMBERS (1723-96); e o Victoria Park (1815/45), de HUMPHREY REPTON (1752-1818).
Royal Victoria Park (1815/45, London) Rumphrey Repton (1752-1818)
Além dos já citados, outros paisagistas românticos foram CHARLES BRIDGEMAN (1690-1738) ; HENRY HOARE II (1705-85), criador dos jardins de Stourhead (1725); LANCELOT CAPABILITY BROWN (1716-83) e JOHN C. LOUDON (1783-1843), este o introdutor inglês do Gardenesque Style. Lancelot Capability Brown (1716-83) Picturesque Garden x Gardenesque Garden
Joseph Paxton (1808-65) Crystal Palace (1851, London) Outro destaque foi JOSEPH PAXTON (1803-65), que foi o autor do Birkenhead Park (1844/7), em Londres, além do Crystal Palace (1851), construído no Hyde Park por ocasião da Primeira Exposição Universal; e depois transferido para Sydeham. Birkenhead Park (1844/7, London)