A agenda de comércio exterior no próximo governo



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Transcrição:

propostas de política comercial A agenda de comércio exterior no próximo governo Welber Barral Apesar da relevância do comércio exterior para a economia de qualquer país, no Brasil isso não se traduz em maior relevância dos temas de política comercial na vida política brasileira, mesmo em tempos de eleição. Quando um novo presidente assume o poder, são poucas as certezas com relação à sua forma de levar adiante a representação do país na esfera internacional, porque nos debates eleitorais não há uma discussão mais profunda sobre comércio exterior ou política externa. Durante o governo Rousseff, o contexto externo foi muito diferente do otimismo econômico que predominou durante quase todo o período anterior, com o debate centrado em temas como manipulação das taxas de câmbio e condução imprudente de políticas monetárias, além de muitas incertezas com relação à dinâmica e recuperação das economias desenvolvidas. Nos últimos anos, o cenário do comércio internacional vem sofrendo modificações importantes, que estão ainda sendo assimiladas por elaboradores de política comercial. Uma delas envolve o que vem sendo chamado de servicificação da economia, termo cunhado pelo National Board of Trade, da Suécia. A outra é a intensificação das chamadas cadeias globais de valor. Esses fenômenos, como se verá mais adiante, precisam entrar com urgência na agenda comercial brasileira do novo governo. Ao mesmo tempo, o âmbito doméstico foi marcado por velhos desafios, como o aumento significativo das importações, a perda crescente da participação dos produtos Welber Barral é doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Sócio da Barral M. Jorge Consultores Associados. O autor agradece à inestimável auxílio da Profa. Carolina Bohrer. 70 RBCE - 119

manufaturados no total exportado, o efeito deletério do câmbio na já combalida competitividade de produtos nacionais no exterior e o consequente aumento das demandas por proteção do mercado interno. Nesse cenário, pode-se antever que o comércio exterior é uma das áreas que demandará especial atenção por parte do próximo governo. O fraco crescimento das exportações deriva de vários fatores, que vão além de problemas com um câmbio sobrevalorizado, e abrangem problemas graves de custo, logística, burocracia e estrutura tributária perversa que oneram exportadores e contribuem para o déficit cada vez maior nas contas externas. Este artigo irá analisar o atual cenário do comércio exterior brasileiro, além do andamento nas negociações comerciais nesse período. Também serão discutidos os novos componentes do cenário internacional servicificação e cadeias globais de valor, além dos velhos novos desafios para uma melhora efetiva do comércio exterior no país. NOVOS COMPONENTES DO CENÁRIO INTERNACIONAL Cadeias globais de valor As cadeias globais de valor (CGVs) podem ser caracterizadas como um conjunto de atividades, com agregação de valor, necessárias para a oferta de um bem e/ou serviço, que vai desde a etapa de desenvolvimento até a entrega ao consumo final. A distribuição ou terceirização de parte desse processo (criação, design, marketing, distribuição, suporte técnico, etc) é compartilhada entre diversos países de forma a reduzir os custos; alavancar a eficiência dos sistemas produtivos; acessar inovações; aprimorar as atividades de gestão das empresas; aperfeiçoar as ferramentas de comércio; alavancar os investimentos; entre outros. Conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos últimos anos, a concentração das fragmentações das estruturas produtivas das CGV está localizada especificamente em algumas regiões (América do Norte, Europa e com destaque para a Ásia). Com isso, observase que o Brasil apresenta desvantagens no processo de reestruturação das cadeias globais de valor por ser uma economia com menor agregação de valor de insumos importados nas exportações, configurando na cadeia de valor como fornecedor de insumos básicos. Ainda, de acordo com o estudo da OCDE, a distribuição geográfica das cadeias de valor será reordenada, norteada pelo: (i) crescente aumento dos custos energéticos e logísticos; (ii) aumento dos preços dos recursos combinado com as restrições nas exportações; (iii) aumento da carga trabalhista na China, impactando o crescimento econômico daquele país asiático; (iv) baixo custo para obtenção de novas tecnologias; e (v) incremento do crescimento dos mercados do sul enquanto as economias dos países do norte permanecem estagnadas. Dessa forma, a inclusão da servicificação permitiria aos países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo maior participação dentro das CGVs, além de incrementos no fluxo de comércio, investimentos e conhecimento, facilidade de acesso à inovação e aperfeiçoamento do processo produtivo, bem como ampliação de oportunidades e de mercados. Frente aos novos desafios e configurações das estratégias empresariais e de políticas governamentais para aumentar ou manter o market-share nas CGVs, as políticas públicas para inserção das empresas às CGVs devem estar interligadas com as ações voltadas à eficiência dos serviços logísticos e aduaneiros, à simplificação tributária, à celeridade nos processos administrativos, como também envidar esforços para ampliação de novos mercados por meio de acordos de liberalização comercial. A servicificação da produção industrial O uso e produção de serviços por indústrias não é em si uma novidade, mas a quantidade e a importância disso cresceu muito em função de mudanças significativas nos padrões de produção e consumo no mundo, com a especialização, outsorcing e off-shoring e a integração do mercado global. Nesse sentido, servicificação, de acordo com o National Board of Trade da Suécia, é o termo usado para descrever um processo no qual indústrias 1 Kummerskollegium. 2012. Everybody is in services The Impact of srvicification in manufacturing on trade and trade policy. Swedish National Board of Trade. RBCE - 119 71

Deve haver maior ênfase na celebração de acordos de investimentos e de bitributação, já que a combinação dos dois fatores analisados proliferação das cadeias globais de valor e servicificação torna esses acordos ainda mais relevantes não apenas compram e produzem cada vez mais serviços, mas também compram e exportam serviços como parte integrante ou parte de seus produtos (bens) 1. Estudos recentes mostram que esse fenômeno é cada vez mais comum, atingindo o setor industrial de diversos países, especialmente os mais desenvolvidos. No caso dos EUA, por exemplo, estudo recente relaciona comércio transfronteiriço de serviços e operações de multinacionais, mostrando que o setor industrial está entre os maiores comerciantes de serviços. Esse comércio envolve principalmente o uso e criação de propriedade intelectual, bem como prestação de serviços de apoio 2. Outro estudo, da Deloitte, no nível da empresa, mostra que a servicificação está ocorrendo dentro das maiores indústrias do mundo, e os serviços representam entre 25-50% de suas receitas totais 3. O fenômeno da servicificação, dessa forma, implica maior importância no processo de liberalização do comércio de serviços para as indústrias de bens também, na medida em que os comércios de serviços e de bens estão cada vez mais interdependentes. Dessa forma, a remoção de barreiras sobre a importação e exportação de serviços passa a ser essencial no nível industrial. Em outras palavras, a servicificação é uma realidade, e precisa ser levada em consideração na formulação da política comercial e na condução das negociações comerciais. O foco deve passar a ser em bens e serviços, e não mais um ou outro. Além disso, deve haver maior ênfase na celebração de acordos de investimentos e de bitributação, já que a combinação dos dois fatores analisados proliferação das cadeias globais de valor e servicificação torna esses acordos ainda mais relevantes. UMA AGENDA COMERCIAL PARA O BRASIL Governo Dilma Durante o governo Dilma, o comércio exterior registrou variação relativa de corrente de comércio de 25,70% para 3,28% negativo. Entre os principais mercados compradores do Brasil temos a China, representando 19,01% do total das exportações, seguido de Estados Unidos (10,18%), Argentina (8,10%), Países Baixos (7,16%), e Japão (3,29%), no ano de 2013. Ainda no mesmo período, as compras brasileiras centraramse na China, com participação de 15,57% na pauta, Estados Unidos (15,03%), Argentina (6,87%), Alemanha (6,39%) e Nigéria (4,03%). Observou-se que no fluxo de comércio houve incremento dos produtos básicos, respondendo por 46,67% da pauta das vendas brasileiras, enquanto semimanufaturados registrou 12,60% e queda dos 2 Barefoot e Koncz-Bruner. 2012. A profile of US exporters and importers of services: evidence from new linked data on international trade in services and operations of multi national companies. U.S. Department of Commerce, Bureau of Economic Analysis. 3 Deloitte. 2006. The service revolution in global manufacturing industries. A Deloitte Research Global Manufacturing Study. 72 RBCE - 119

manufaturados, totalizando 38,44% nas vendas. Já nas importações, os básicos registraram 13,91%, semimanufaturados, 12,60% e manufaturados, 82,68%. Quanto aos produtos exportados mais representativos em volume temos: minérios, grãos, combustíveis, carnes, veículos, máquinas e equipamentos, açúcares, ferro, embarcações e resíduos da indústria de alimentos. E nas compras do exterior: combustíveis, máquinas e equipamentos, veículos, químicos, adubos e fertilizantes, plásticos, produtos farmacêuticos e instrumentos e aparelhos, médicos-cirúrgicos, e suas partes. Em comparação ao período de atuação do governo anterior, a corrente de comércio teve variação relativa de 22,74% para 36,64%. No ano de 2010, os principais países compradores foram: China (15,25%), Estados Unidos (9,56%), Argentina (9,17%), Países Baixos (5,07%) e Alemanha (4,03%). Ainda no mesmo ano, a participação dos países importadores estava concentrada em: Estados Unidos (14,88%), China (14,08%), Argentina (7,94%), Alemanha (6,91%) e Coreia do Sul (4,63%). Os produtos básicos representaram 44,58%, semimanufaturados, 13,97%, e manufaturados, 39,40%. Enquanto nas exportações foram obtidos 13,10%, 3,91% e 82,99%, respectivamente. Em relação aos produtos, os que mais se destacaram na exportação foram: minérios, combustíveis, açúcares, carnes, grãos, máquinas e equipamentos, ferro e café. Para as importações foram combustíveis, máquinas e equipamentos, veículos, químicos, plásticos, instrumentos e aparelhos médico-cirúrgicos, produtos farmacêuticos, adubos ou fertilizantes e ferro. Sem dúvida essa dinâmica ocorreu, na sua maior parte, num contexto ainda de crise econômica global, com as principais economias mundiais ainda se recuperando, e baixo crescimento do PIB no Brasil e no mundo, além de muita incerteza quanto aos rumos da economia mundial. O fato é que o Brasil vem perdendo mercado para suas exportações, especialmente de manufaturados. Apesar dessa situação, nos últimos anos, poucos avanços ocorreram na agenda de integração econômica regional brasileira e na expansão da rede de acordos comerciais assinados. O período foi marcado por uma grave crise institucional no Mercosul, que envolveu o afastamento temporário do Paraguai e a entrada da Venezuela. Outros fatos relevantes abrangem a renegociação do acordo automotivo entre o Brasil e o México, o fracasso das negociações de um acordo Mercosul-União Europeia, que ainda não se concretizou, a exclusão do Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP) europeu, e um tímido avanço na agenda de negociações internacionais quando comparado com outros países e blocos regionais. Ao mesmo tempo, houve um aumento visível no protecionismo num contexto de aumento das importações e de tendência de apreciação do real. As ações do governo, inclusive aquelas incluídas no Plano Brasil Maior (2011/2014), têm como objetivo expandir as exportações brasileiras e aumentar a participação do país no comércio internacional, e o fortalecimento dos mecanismos de defesa comercial foi um dos instrumentos apontados. Para se ter uma ideia, só em 2013 foram aplicados 42 direitos antidumping, número quase igual ao somatório dos direitos aplicados em 2010, 2011 e 2012 (44 medidas, sendo 12 em 2010, 16 em 2011 e 16 em 2013). 4 Aliado a essa estratégia mais defensiva está ainda o aumento do conteúdo nacional dos bens produzidos no Brasil, como no caso do setor automobilístico, e a adoção de preferências a produtos nacionais nas compras governamentais de bens e serviços. O próprio Plano Brasil Maior aumentou em muito o uso de mecanismos para aumentar o conteúdo nacional dos produtos industriais como condição para acessar incentivos fiscais e creditícios. Vale ressaltar que várias dessas medidas, relacionadas à política industrial, especialmente 4 Relatório Decom 2013. 5 DS 472 Brazil Certain Measures concerning taxation and charges. A reclamação, apresentada pela União Europeia, em 19 de dezembro de 2013, ainda está em fase de consultas, abrange o GATT 1994 (arts. I:1, II:1(b), III:4 e III:5), o Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias (arts. 3.1 (a) e 3.1 (b)) e Acordo de Medidas de Investimento relacionadas ao Comércio (arts. 2.1 e 2.2). Japão, Argentina e EUA pediram para juntar-se às consultas. Disponível em www.wto.org. RBCE - 119 73

incentivos tributários como o Inovar-Auto, programa que tenta atrair montadoras de veículos para o Brasil, e exigências de conteúdo nacional, inclusive a Zona Franca de Manaus, estão sendo questionadas pela União Europeia na Organização Mundial de Comércio (OMC) 5. Entre os poucos avanços que podem ser mencionados estão iniciativas como as do Operador Econômico Autorizado, certificação que agiliza os procedimentos de verificação e liberação de mercadorias, e o Programa Portal Único de Comércio Exterior, que unifica todos os sistemas dos órgãos envolvidos nos processos de exportação e importação no país e simplifica essas operações, reduzindo prazos. Essas medidas, no entanto, apesar de importantes, não são suficientes para contrarrestar os problemas enfrentados no Brasil pelo exportador, a começar pelos de natureza tributária, questão antiga cuja solução uma reforma tributária profunda, capaz de retirar obstáculos à competitividade nacional só foi mais uma vez adiada. Nesse contexto, mostra-se ainda mais relevante adotar uma postura mais proativa e agressiva na negociação de acordos comerciais que beneficiem as exportações e a economia brasileira. A verdade é que a maior parte dos acordos dos quais o Brasil é parte foram negociados no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), e os negociados fora dela envolvem economias de menor relevância para as exportações brasileiras como Israel (em vigor) e Palestina (ainda não em vigor) 6. Agenda para o novo governo A agenda para o novo governo precisa contemplar uma série de elementos se quisermos que o Brasil retome o crescimento de seu comércio exterior de maneira sustentada e favorável ao crescimento da economia. A necessidade de orientar a política comercial, irrelevante para a política externa brasileira nos últimos anos, para a celebração de acordos comerciais relevantes é clara. Enquanto outros países avançam em negociações bilaterais e inter-regionais de comércio, e fixam novos padrões de acordos, o Brasil tem ficado parado. Para reverter esse quadro, é essencial, por exemplo, a conclusão do acordo Mercosul- UE. A UE não apenas é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, mas a sua retirada do SGP europeu combinada com a concorrência que os produtos brasileiros sofrem no mercado europeu de outros países que possuem acordos com aquele bloco tornam ainda mais premente a conclusão do acordo. Além disso, há a possibilidade real de um acordo entre EUA e UE, o que atingiria ainda mais a competitividade dos produtos brasileiros no mercado europeu. Ao mesmo tempo, é preciso avaliar outros acordos de livre comércio possíveis, e com menor grau aparente de dificuldade, como com Canadá e México. No caso do primeiro, diálogos exploratórios já foram iniciados em 2012, sem maiores avanços ainda. E no caso do México, já existem acordos setoriais específicos (como no setor automotivo) e em 2010, ainda no Governo Lula, foi iniciada a negociação de um Acordo Estratégico de Integração Econômica Brasil-México, depois paralisada 7. Além de acordos de livre comércio, é preciso investir em outros tipos de acordos que são importantes para dar mais competitividade às exportações brasileiras. Já se mencionou acima a relevância de acordos de serviços, ainda maior diante da servicificação da economia. Uma iniciativa importante nessa área seria a conclusão da negociação do protocolo para liberalização do comércio de serviços entre Mercosul e Colômbia, no âmbito do Acordo de Complementação Econômica nº 59. Se concretizada, essa iniciativa poderá gerar um precedente importante para o Brasil, inclusive quanto aos parâmetros a ser adotados em outras negociações. Nesse contexto, seria importante o Brasil acompanhar mais de perto 6 Acordos celebrados no âmbito da ALADI: Brasil - Uruguai (ACE-02); Brasil - Argentina (ACE-14); Mercosul (ACE-18); Mercosul - Chile (ACE-35); Mercosul - Bolívia (ACE-36); Brasil - México (ACE-53); Mercosul - México (ACE-54); Automotivo Mercosul - México (ACE-55); Mercosul - Peru (ACE-58); Mercosul - Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59); Brasil - Guiana (ACE-38); Brasil - Suriname (ACE-41); Brasil - Venezuela (ACE-69) ainda sem vigência; Mercosul - Cuba (ACE-62). Acordos celebrados fora do âmbito da ALADI: Mercosul/Índia; Mercosul/Israel; ainda sem vigência; Mercosul/Egito - ainda sem vigência; Mercosul/Palestina - ainda sem vigência. Fonte: MDIC. 7 O AEIE tem cobertura ampla e contempla: acesso a mercados, aduanas, serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, cooperação em matéria de políticas de concorrência e medidas contra práticas desleais de comércio, solução de controvérsias, aspectos institucionais e Comissão Administradora. Informação disponível no site do MRE: www.itamaraty.gov.br. 74 RBCE - 119

as negociações do Acordo sobre Comércio de Serviços (Trade in Services Agreement, TISA), lançado em 2012 pelos EUA. Trata-se de iniciativa de acordo plurilateral (não necessitaria da adesão de todos os membros da OMC) que envolve 50 países que representam 70% do comércio mundial de serviços e com participantes tão diversos como China e Uruguai, esse membro do Mercosul. Se deixar essa iniciativa de lado enquanto está sendo negociada, o Brasil corre o risco de não ter escolha, a não ser aderir a ela mais tarde, quaisquer que sejam os seus termos, dado o grau de abrangência que deve ter. Outro tipo de acordo que deve ser priorizado é o de investimentos, importantes para os investidores brasileiros. O processo de internacionalização de empresas brasileiras, fenômeno relativamente recente e que fortalece a competitividade do país em diversos setores, só tem a se beneficiar com isso. A agenda no âmbito interno, por sua vez, precisa se centrar numa estratégia interna de facilitação de comércio, capaz de reduzir obstáculos e fomentar as exportações. Essa estratégia deve se basear num tripé já conhecido: i) redução da burocracia; ii) simplificação e harmonização do sistema tributário; e iii) investimentos em logística. Essas medidas já são discutidas há muito tempo nas instâncias governamental e privada, mas, até hoje, poucos avanços foram alcançados. É preciso que essa estratégia interna de facilitação de comércio constitua uma política de estado, e não de governo, para que possa de fato ser alcançada. CONSIDERAÇÕES FINAIS O comércio exterior esteve na periferia das preocupações da política externa brasileira nos últimos anos, mesmo com o mau desempenho da balança comercial nesse período. Os dados acima discutidos mostram que não apenas as exportações brasileiras perderam mercado e competitividade, mas, também, as importações aumentaram. Essa situação, em vez de gerar uma reação ofensiva por parte do governo, com a busca de novos mercados relevantes, celebração de acordos de livre comércio, serviços, investimentos e de harmonização regulatória (como acordos sanitários e de barreiras técnicas) e a adoção de medidas internas de facilitação de comércio, acabou gerando uma posição defensiva. A maioria das medidas adotadas nos últimos anos pelo governo para facilitar a vida dos exportadores e melhorar as condições de exportação no Brasil, como concessão de vantagens fiscais a pequenos e médios produtores, maior rapidez nas devoluções de créditos tributários, e aumento de crédito às exportações, são muito tímidas diante do cenário atual. Tais problemas, associados às dificuldades cambiais, servem de desestímulo à competitividade das exportações. Houve também um aumento claro do protecionismo, com o aumento de medidas de defesa comercial e a adoção de medidas políticas de benefícios fiscais e tributários que estão sendo questionados na OMC. Além desses desafios, já conhecidos, outros surgiram nos últimos anos, e precisam ser inseridos com urgência na agenda brasileira, independentemente da orientação política, ideológica ou sentimental do próximo governo. As CGVs, cada vez mais complexas e disseminadas, e influenciadas pelo fenômeno da servicificação, demandam mudanças nas prioridades das negociações comerciais brasileiras. O tema de serviços precisa ser encarado como essencial e não apenas instrumento de troca para concessões na área agrícola ou industrial. O cenário deixou de ser administrável, e a verdade é que os obstáculos impostos pelo custo Brasil demandam uma ação muito mais corajosa e efetiva, especialmente em termos de redução da burocracia, simplificação e harmonização do sistema tributário e investimentos em logística, além de dar um novo relevo à política comercial dentro da política externa brasileira. A menos que o país adote uma estratégia de longo prazo, de facilitação do comércio, inclusive de serviços, corre o risco de perder de vez o trem da história que tem limites para o atraso aceitável, mesmo que o trem seja brasileiro e ter que adotar oficialmente a política do tatu-bola, não por acaso mascote oficial da Copa do Mundo de 2014 no Brasil: torcer para que os acordos alheios não funcionem. Porque se funcionarem, só nos restará nos defender fechando-nos em nós mesmos. Apresentamos no Apêndice tabelas com dados relevantes para melhor compreensão do artigo. RBCE - 119 75

APÊNDICE Tabela 1 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA: 2011-2014 (US$ MILHÕES) Ano Valor de importação Valor de exportação Saldo Corrente 2011 226.247 256.040 29.793 482.286 2012 223.183 242.578 19.395 465.761 2013 239.627 242.179 2.551 481.806 2014 (jan-abr) 74.878 69.312-5.566 144.190 Tabela 2 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA: 2007-2010 (US$ MILHÕES) Ano Valor de importação Valor de exportação Saldo Corrente 2007 120.617 160.649 40.032 281.267 2008 172.985 197.942 24.958 370.927 2009 127.722 152.995 25.272 280.717 2010 181.768 201.915 20.147 383.684 Tabela 3 PRINCIPAIS MERCADOS COMPRADORES DO BRASIL - 2010 País US$ milhões % Exportação total 201.915 100,00 China 30.786 15,25 Estados Unidos 19.307 9,56 Argentina 18.523 9,17 Países Baixos (Holanda) 10.228 5,07 Alemanha 8.138 4,03 Tabela 6 PRINCIPAIS MERCADOS FORNECEDORES AO BRASIL - 2013 País US$ milhões % Importação total 239.627 100,00 China 37.303 15,57 Estados Unidos 36.004 15,03 Argentina 16.463 6,87 Alemanha 15.182 6,34 Nigéria 9.648 4,03 Tabela 7 EXPORTAÇÃO BRASILEIRA POR FATOR AGREGADO (US$ MILHÕES) Ano Básicos Semimanufaturados Manufaturados Valor Part. % Valor Part. % Valor Part. % 2010 90.005 44,58 28.207 13,97 79.563 39,40 2013 113.023 46,67 30.526 12,60 93.090 38,44 Tabela 8 IMPORTAÇÃO BRASILEIRA POR FATOR AGREGADO (US$ MILHÕES) Ano Básicos Semimanufaturado Manufaturado Valor Part. % Valor Part. % Valor Part. % 2010 23.801 13,10 7.100 3,91 150.748 82,99 2013 33.322 13,91 8.188 3,42 198.111 82,68 76 RBCE - 119

Tabela 4 PRINCIPAIS MERCADOS COMPRADORES DO BRASIL - 2013 País US$ milhões % Exportação total 242.179 100,00 China 46.026 19,01 Estados Unidos 24.653 10,18 Argentina 19.615 8,10 Países Baixos (Holanda) 17.333 7,16 Japão 7.964 3,29 Tabela 5 PRINCIPAIS MERCADOS FORNECEDORES AO BRASIL - 2010 País US$ milhões % Importação total 181.768 100,00 Estados Unidos 27.044 14,88 China 25.595 14,08 Argentina 14.435 7,94 Alemanha 12.554 6,91 Coreia do Sul 8.422 4,63 Tabela 9 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS - 2010 Capítulo Descrição US$ milhões 26 Minérios, escórias e cinzas 30.839 27 17 87 02 12 84 Combustíveis minerais, óleos Minerais e produtos da sua destilação; Matérias betuminosas; Ceras Minerais Açúcares e produtos de confeitaria Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres; Suas partes e Carnes e miudezas, comestíveis Sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragens Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes 19.844 12.955 12.138 11.878 11.178 11.084 72 Ferro fundido, ferro e aço 8.388 09 Café, chá, mate e especiarias 5.399 85 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; Aparelhos de gravação ou de reprodução de som; Aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e 5.133 RBCE - 119 77

APÊNDICE Tabela 10 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS - 2013 Capítulo Descrição US$ milhões 26 Minérios, escórias e cinzas 35.083 12 27 Sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragens Combustíveis minerais, óleos Minerais e produtos da sua destilação; Matérias betuminosas; Ceras Minerais 23.027 17.822 02 Carnes e miudezas, comestíveis 14.786 87 84 Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres; Suas partes e Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes 14.089 12.890 17 Açúcares e produtos de confeitaria 12.014 72 Ferro fundido, ferro e aço 8.372 89 Embarcações e estruturas fl utuantes 7.934 23 Resíduos e desperdícios das indústrias alimentares; alimentos preparados para animais Tabela 11 PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS - 2010 7.141 Capítulo Descrição US$ milhões 27 84 85 87 Combustíveis minerais, óleos Minerais e produtos da sua destilação; Matérias betuminosas; Ceras Minerais Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; Aparelhos de gravação ou de reprodução de som; Aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres; Suas partes e 29.954 28.547 22.252 17.276 29 Produtos químicos orgânicos 8.441 39 Plásticos e suas obras 6.522 90 Instrumentos e aparelhos de óptica, fotografi a ou cinematografi a, medida ou controle de precisão; Instrumentos e aparelhos médico-cirúrgicos; suas partes e 6.095 30 Produtos farmacêuticos 6.093 31 Adubos ou fertilizantes 4.943 72 Ferro fundido, ferro e aço 4.722 78 RBCE - 119

Tabela 12 PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS - 2013 Capítulo Descrição US$ milhões 27 84 85 87 Combustíveis minerais, óleos Minerais e produtos da sua destilação; Matérias betuminosas; Ceras Minerais Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; Aparelhos de gravação ou de reprodução de som; Aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres; Suas partes e 45.695 35.759 28.275 22.418 29 Produtos químicos orgânicos 10.736 31 Adubos ou fertilizantes 8.885 39 Plásticos e suas obras 8.849 30 Produtos farmacêuticos 7.422 90 Instrumentos e aparelhos de óptica, fotografi a ou cinematografi a, medida ou controle de precisão; Instrumentos e aparelhos médico-cirúrgicos; suas partes e 7.138 38 Produtos diversos das indústrias químicas 4.971 RBCE - 119 79