QUALIDADE DA ATENÇÃO PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA¹ MARTELLO, Naiashy Vanuzzi 2 ; RESSEL, Lúcia Beatriz 2 ; STUMM, Karine Eliel 2 ; SOUZA, Daiane Fagundes 2 ; BISOGNIN, Priscila 2 ; BUBLITZ, Susan 2 ; SILVA, Larissa Borges da 2 ; BRESOLIN, Júlia 2 ¹ Trabalho de Revisão Bibliográfica 2 Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: nayvanuzzi@hotmail.com RESUMO Este trabalho tem como objetivo identificar a tendência das produções científicas no Brasil, relacionadas ao cuidado de enfermagem na atenção pré-natal. Apesar do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) fazer parte da agenda da maior parte das instituições de saúde do Brasil, constata-se que, no atendimento à saúde da mulher, ainda é priorizado a quantidade em detrimento da qualidade. A metodologia consiste em uma revisão bibliográfica. Entre os resultados, percebemos que os autores destacam o acolhimento, as ações educativas, a integralidade da assistência e a atuação interdisciplinar no cuidado às gestantes como fatores que contribuem para a realização de uma assistência humanizada e qualificada. Conclui-se que os profissionais da saúde não devem impor o seu conhecimento, nem desconsiderar os valores e crenças de cada gestante, uma vez que é preciso que a mulher, ao realizar o pré-natal, compreenda as orientações, aceite-as e possa adaptá-las à sua realidade. Palavras-chave: Pré-natal; Saúde da mulher; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO A gestação, embora constituindo um fenômeno fisiológico que na maior parte dos casos tem sua evolução sem intercorrências, requer cuidados especiais mediante assistência pré-natal. Essa, por sua vez, tem como objetivo principal acolher e acompanhar a mulher durante sua gestação, período caracterizado por mudanças físicas e emocionais vivenciado de forma distinta pelas gestantes. No entanto, as consultas médicas de pré-natal no serviço público são muito rápidas, fazendo com que possíveis anormalidades não sejam percebidas e impedindo que as mulheres não manifestem suas queixas, dúvidas e medos intrínsecos à gravidez (BRASIL, 2001). A realização de um pré-natal humanizado e de qualidade é fundamental para a saúde materna e neonatal. Para tanto, é necessário acolher a gestante e a sua família de maneira integral, considerando o ambiente social, cultural e físico em que vivem (BRASIL, 2006). Na tentativa de possibilitar essa atenção diferenciada à saúde da mulher e do recémnascido, o Ministério da Saúde criou em junho de 2000 o Programa de Humanização do 1
Pré-natal e Nascimento (PHPN), que apresenta como um de seus fundamentos a humanização da assistência obstétrica e neonatal. Apesar do PHPN fazer parte da agenda da maior parte das instituições de saúde do Brasil, constata-se que, no atendimento à saúde da mulher, ainda é priorizado a quantidade em detrimento da qualidade. Assim, em muitos casos, os profissionais da saúde preocupamse com o cumprimento do número de consultas exigido pela instituição em que trabalham e acabam por desconsiderar o contexto cultural da gestante (BARUFFI, 2004). Os profissionais da saúde não devem impor o seu conhecimento, nem desconsiderar os valores e crenças de cada gestante, uma vez que é preciso que a mulher, ao realizar o pré-natal, compreenda as orientações, aceite-as e possa adaptá-las à sua realidade. O enfermeiro precisa, portanto, estar atento às necessidades culturais da gestante, para que possa estabelecer uma comunicação eficaz e uma relação de confiança, assegurando a criação de vínculo e co-responsabilização no cuidado gestacional (RIOS E VIEIRA, 2007). Nesta direção, tem-se como questão norteadora desta revisão bibliográfica: qual a tendência encontrada, nas produções de enfermagem no brasil, acerca do cuidado de enfermagem durante a atenção pré-natal? E tem como objetivo identificar a tendência das produções científicas no Brasil, relacionadas ao cuidado de enfermagem na atenção prénatal. 2. METODOLOGIA A busca bibliográfica foi realizada na base de dados eletrônica Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no portal Scientific Electronic Library Online (SciELO), no mês de julho de 2011. Os critérios de inclusão foram: artigos científicos, na língua portuguesa, no período de 2000 a 2011, na íntegra, disponíveis nas bases de dados; produzidos em periódicos brasileiros; resultados de pesquisa científica de campo, bibliográfica, relatos de experiência e reflexões teóricas. Foram excluídas da pesquisa: teses, dissertações, manuais, notas prévias, atualizações e publicações que após leitura do resumo do artigo não convergiam com o objeto de estudo. O recorte temporal considerado foi o ano de 2000, em virtude da implantação do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN). Os descritores utilizados foram enfermagem e cuidado pré-natal de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), resultando assim em 25 artigos, considerando-se os critérios de inclusão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 2
A atuação humanizada do enfermeiro no pré-natal possibilita a criação de um espaço fundamental para que a gestante receba orientações condizentes com sua realidade cultural, social e econômica. Assim, este profissional ao abordar os aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais do processo gestacional, considerando as necessidades individuais das gestantes, os seus medos, as suas crenças e os seus valores, irá proporcionar uma relação de confiança e um ambiente acolhedor, essenciais para uma assistência de qualidade. Em relação à qualidade da assistência no pré-natal, os autores destacam o acolhimento, as ações educativas, a integralidade da assistência e a atuação interdisciplinar no cuidado às gestantes como fatores que contribuem para a realização de uma assistência humanizada e qualificada. Acolher a mulher considerando seu contexto sócio-cultural e valorizando seus sentimentos, dúvidas, medos e angústias é o primeiro passo na construção de um pré-natal de qualidade. Muitas vezes o pouco retorno da mulher à unidade básica se dá pela falta de vínculo entre profissional e gestante (SUCCI, 2008). Estas ações podem ocorrer de forma individual e coletiva. A consulta coletiva está intimamente ligada ao princípio de integralidade, devendo atender a todas as necessidades de saúde do indivíduo ou grupo de forma a favorecer a prevenção e promoção de saúde. Assim, a consulta coletiva, juntamente com a consulta individual, contribui para concretizar a assistência humanizada valorizando a mulher em sua integralidade (PENNA, 2008). Destaca-se o acompanhamento pré-natal como determinante para minimização das complicações e desconfortos no período da gravidez, garantindo-se assim, que esse momento seja marcado por experiências positivas na vida dessa mulher e de sua família. Para tanto requer qualidade e humanização na atenção pré-natal. Uma assistência pré-natal e puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; do fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém-nascido, desde o atendimento ambulatorial básico ao atendimento hospitalar para alto risco (BRASIL, 2005). A qualidade do atendimento pré-natal em doze unidades básicas de saúde estudadas repercutiu no aumento do número de gestantes atendidas e do número de consultas realizadas. Porém, o acompanhamento até o final da gestação diminuiu em 2004 e apenas 7,70% das gestantes tiveram atendimento que cumprisse todas as atividades estabelecidas pelo PHPN (SUCCI, 2008) Outro elemento encontrado nos estudos que destaca a qualidade no pré-natal referese às ações educativas. Apesar da educação em saúde ser considerada importante pelos 3
profissionais de saúde, muitas vezes eles se detém no aumento da cobertura em detrimento da qualidade da assistência. Os enfermeiros têm conhecimento da importância da prática de informação em saúde e muitos realizam atividades de comunicação/informação durante as consultas de enfermagem ou por meio de atividades coletivas. No entanto, ainda existe deficiência no planejamento destas atividades, principalmente as de âmbito coletivo, além de falta de continuidade. Apesar da cobertura no pré-natal, por equipes da Estratégia da Saúde da Família estar aumentando, em função da melhoria do acesso, do aumento do número de consultas às gestantes e da captação precoce de gestantes, é importante avaliar o real impacto dessas ações na qualidade de vida dessas mulheres (MOURA, 2003) É necessário que os enfermeiros derivem esforços para a implementação de atividades que visem melhorar as ações educativas no pré-natal e gerem esforços para realizá-las de forma a contribuir com a qualidade da assistência (RIOS E VIEIRA, 2007). Em estudo que avaliou a perspectiva das mulheres atendidas acerca do cuidado em saúde no ciclo gravídico-puerperal, evidenciou-se que além da qualidade técnica elas ressaltam a importância das relações interpessoais, necessitando serem reconhecidas como principal partícipe no processo gestacional (PARADA e TONETE, 2008). Este mesmo estudo chama atenção ao fato de que, o PHPN adota indicadores para a avaliação da qualidade da assistência que privilegiam a quantidade de consultas realizadas, não incluindo aspectos que valorizem outras dimensões do cuidado (PARADA e TONETE, 2008). Durante o processo gestacional muitos são os sintomas que acometem o corpo da mulher, e estes muitas vezes não são percebidos ou aliviados em consequência do déficit de autocuidado e de informação recebido no pré-natal (PEREIRA E BACHION, 2005). Com isso os autores destacam a necessidade de atuação mais eficaz e de uma equipe interdisciplinar, que promova ações integradas de profissionais qualificados nesta área. Embora os gestores de saúde possuam um discurso de caráter multiprofissional e interdisciplinar, o SISPRENATAL dá ênfase para a realização da consulta médica (PERERA e BACHION, 2005). Apesar do atendimento à mulher no ciclo gravídico-puerperal ser preconizado pelo Ministério da Saúde e ser realizado pelos profissionais de saúde em muitos hospitais e unidades básicas, ainda assim morrem cerca de seiscentas mil mulheres em países subdesenvolvidos, incluindo o Brasil. Este alto índice de mortalidade se dá em decorrência de complicações que podem ser evitadas por meio de uma adequada assistência à mulher no processo gestacional e puerpério (SPINDOLA, 2006). Nesse sentido, depreende-se que a consulta de enfermagem obstétrica e as ações educativas no pré-natal contribuem de maneira significativa para a qualidade na assistência 4
pré-natal, repercutindo na redução da morbimortalidade das gestantes, sobressaindo a importância do papel da enfermagem obstétrica no ciclo gravídico-puerperal (SPINDOLA, 2006). 4. CONCLUSÃO Diante do estudo, percebe-se que acolher a mulher considerando seu contexto sóciocultural e valorizando seus sentimentos, dúvidas, medos e angústias é o primeiro passo na construção de um pré-natal de qualidade. Ofertar uma assistência pré-natal qualificada é uma importante atividade do enfermeiro a qual vai influenciar diretamente na saúde da gestante e do concepto, pois, visa à prevenção de intercorrências e a promoção da saúde durante todo o ciclo gravídico. Nos estudos analisados, os autores ressaltam a importância de padronizar as ações de assistência ao pré-natal, organizando o serviço com vista a melhorar a sua qualidade. A humanização da assistência e o acolhimento são importantes fatores que qualificam o atendimento, assim como o preparo dos profissionais para o atendimento integral e a compreensão do contexto sócio-cultural da gestante e sua família. REFERÊNCIAS BARUFFI, L.M. O cuidado cultural à mulher na gestação. Passo Fundo, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-Natal e Puerpério: Atenção qualificada e humanizada. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual técnico do pré-natal e puerpério. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. MOURA, E. R. F.; HOLANDA JR., F. & RODRIGUES, M. S. P. Avaliação da assistência prénatal oferecida em uma microrregião de saúde do Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6): 1791-99, 2003. MOURA, E. R. F.; RODRIGUES, M. S. P. Comunicação e informação em Saúde no prénatal, Saúde, Educ, 7(13):109-18, 2003. PENNA, Lucia Helena Garcia; CARINHANHA, Joana Iabrudi; RODRIGUES, Raquel Fonseca. Consulta coletiva de pré-natal: uma nova proposta para uma assistência integral. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, 16(1), 2008. PARADA, C.M.G.L.; TONETE, V.L.P. O cuidado em saúde no ciclo gravídico puerperal sob a perspectiva de usuárias de serviços públicos. Interface - Comunic., Saúde, Educ., 12(24): 35-46, 2008. 5
PEREIRA, Sandra Valéria Martins; BACHION, Maria Márcia. Diagnósticos de Enfermagem identificados em gestantes durante o pré-natal. Rev. bras. enferm., Brasília, 58(6), 2005. RIOS, C. T. F. & VIEIRA, N. F. C. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 12(2):477-86, 2007. SUCCI, RCM et al. Avaliação da assistência pré-natal em unidades básicas do município de São Paulo. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, 16(6), 2008. SPINDOLA, Thelma; PENNA, Lúcia Helena Garcia; PROGIANTI, Jane Márcia. Perfil epidemiológico de mulheres atendidas na consulta do pré-natal de um hospital universitário. Rev Esc Enferm, São Paulo, 40(3):381-8, 2006. 6