ACIDEZ DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS COLHIDOS NOS ANOS DE 2008 E 2009 EM ITAÚNA-MG

Documentos relacionados
SÍNTESE DE BIODIESEL A PARTIR DE BLENDAS UTILIZANDO PLANEJAMENTO FATORIAL 2 3

BIODIESEL DO ÓLEO DE PINHÃO MANSO DEGOMADO POR ESTERIFICAÇÃO

Controle de Qualidade de Óleos e Gorduras Vegetais

Autores: Giselle de S. Araújo, Ricardo H. R. de Carvalho e Elisa M. B. D. de Sousa. São Paulo, Maio de 2009

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 66

AUTOR(ES): GUILHERME CANDIDO LOPES, ALESSANDRA GOMES DOS SANTOS, VICTOR PAULINO LESCANO

CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE BABAÇU VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL.

ANALISE DE RENDIMENTO DO CATALISADOR HETEROGÊNEO ÓXIDO DE ALUMÍNIO (Al2O3) NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL DE SOJA (glycine max)

Análise da estabilidade oxidativa de um biodiesel produzido a partir de miscelas etanólicas de óleo de soja.

Biodiesel Combustível renovável

DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES DO ÓLEO RESIDUAL DE FRITURAS, COM E SEM FILTRAÇÃO, EM DIFERENTES TEMPERATURAS

SEMINÁRIO REGIONAL SOBRE PRODUÇÃO E USO DE BIODIESEL BACIA DO PARANÁ III

Produção de biodiesel: panorama e perspectivas IQB

11º ENTEC Encontro de Tecnologia: 16 de outubro a 30 de novembro de 2017

PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ÓLEOS RESIDUAIS DE FRITURAS DOMÉSTICAS VISANDO REAPROVEITAMENTO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO BIODIESEL DE JATROPHA CHARACTERIZATION PHYSICAL CHEMISTRY OF BIODIESEL JATROPHA

Revista Brasileira de Energias Renováveis PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DA TRANSETERIFICAÇÃO DE ÓLEOS RESIDUAIS¹

Produção de combustíveis a partir de recursos renováveis Biodieselmatéria-prima

6 Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel 9º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel 965 Biodiesel de

PURIFICAÇÃO DO BIODIESEL PELA ADSORÇÃO COM FÉCULA DE MANDIOCA

UTILIZAÇÃO DA GLICERINA OBTIDA NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL PARA NEUTRALIZAÇÃO DE ÓLEO VEGETAL RESIDUAL

PALAVRAS-CHAVE: Biodiesel. Metanol. Óleo de fritura.

AVALIAÇÃO DE TRATAMENTOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Crambe Abyssinica

Prof. Dr. Marcos Baroncini Proença

PURIFICAÇÃO DO ÓLEO DE FRITURA UTILIZANDO BIOMASSAS COMO ADSORVENTES PARA POSTERIOR PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS.

AVALIAÇÃO E APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DE ÓLEO VEGETAL COLETADO NO RU/UFTM PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

PURIFICAÇÃO DA GLICERINA A PARTIR DO MÉTODO DE DESTILAÇÃO E CENTRIFUGAÇÃO 1 INTRODUÇÃO

HIDRÓLISE DO ÓLEO DE CRAMBE CATALISADA POR LIPASE EXTRAÍDA DE SEMENTES DE MAMONA

3º Congresso Norte Nordeste de Química, São Luís, Maranhão 2009

CURVAS DE RENDIMENTO DA EXTRAÇÃO MECÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO DE PINHÃO MANSO

OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ETANOL E ÓLEO RESIDUAL DE FRITURAS EMPREGANDO CATÁLISE MISTA: EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DE CATALISADORES

OBTENÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS A PARTIR DA PRODUÇÃO DE BLENDAS PROVENIENTES DO REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS: SEBO BOVINO E ÓLEO DE FRITURA.

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 92

PRODUÇÃO VIA ENZIMÁTICA DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO DE SOJA

Síntese de Biodiesel a partir da utilização de Óleo Residual

ESTUDO COMPARATIVO DA QUALIDADE DO BIODIESEL DE ÓLEO DE FRITURA E ÓLEO COMERCIAL

Laboratório de eletrocatálise e reações superficiais, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru,

CARACTERIZAÇÃO DA IDENTIDADE E CONTROLE DA QUALIDADE DE ÓLEO VEGETAL, MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL RESUMO

Prof. Ricardo Brauer Vigoderis, D.S. website:

4º Seminário Internacional de Logística Agroindustrial 15 e 16/03/2007 ESALQ/USP Piracicaba/SP

PRODUÇÃO DE BIODIESEL ORIUNDO DO SEBO BOVINO: AVALIAÇÃO EXERGÉTICA EM ESCALA DE BANCADA

ANÁLISE DE DESGASTE MECÂNICO DE UM MOTO GERADOR OPERANDO COM BIODIESEL DE SOJA

A SUSTENTABILIDADE COMO REFERÊNCIA PARA A CADEIA DO BIODIESEL: REFLEXÕES PRELIMINARES

AUMENTO DA ESTABILIDADE OXIDATIVA DO BIODIESEL DE SOJA ATRAVÉS DE FILTRAÇÃO COM SEMENTE TRITURADA DE MORINGA

ESTABILIDADE DO BIODIESEL APARTI DO USO DE ADITIVOS ALTERNATIVOS

Minicurso Produção de Biodiesel & Educação Ambiental. Autora: Cristiane Geissler

PRODUÇÃO NÃO CATALITÍCA DE ETIL ÉSTERES DE ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE SOJA

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE QUALIDADE ATRAVÉS DAS CURVAS DE DESTILAÇÃO DO B100 A PARTIR DO ÓLEO VEGETAL DE GIRASSOL.

BIODIESEL DE SOJA PERSPECTIVA DE USO NO BRASIL

Utilização de Resíduos do Sector Avícola para a Produção de Biodiesel

PRODUÇAO E CARACTERIZAÇAO DO BIODIESEL PRODUZIDO A PARTIR DO ÓLEO DE TUCUMA

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 18

Óleo Vivo Programa de Conscientização, Coleta e Beneficiamento de Óleos e Gorduras Residuais, com Propósito de Produção de Biodiesel

ANÁLISE COMPARATIVA DO RENDIMENTO E DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO BIODIESEL PRODUZIDO A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL DE FRITURAS E DE PINHÃO MANSO

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TEOR DE CAROTENÓIDES E DE ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS EM MISTURAS DE BIODIESEIS

COMPORTAMENTO ANTIOXIDANTE DE EXTRATOS ETANÓLICOS NA ESTABILIDADE OXIDATIVA DE BIODIESEL DE SOJA

PARTICIPAÇÃO DOS INSUMOS E INFLUÊNCIA DA VENDA DOS SUB-PRODUTOS NO CUSTO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL. Danielle Magalhães Rochael 1

ANÁLISE DO ÍNDICE DE ACIDEZ E NEUTRALIZAÇÃO DO ÓLEO DO BAGAÇO DE OLIVA BRUTO

ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DE UMA UNIDADE PRODUTORA DE BIODIESEL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMINA GRANDE

ALTERNATIVAS VIÁVEIS PARA A REDUÇÃO DA ACIDEZ NO SEBO BOVINO

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 55

Comparação entre métodos de purificação de óleos vegetais por degomagem visando à produção de biodiesel

5º CONGRESSO NORTE-NORDESTE DE QUÍMICA 3º Encontro Norte-Nordeste de Ensino de Química 08 a 12 de abril de 2013, em Natal (Campus da UFRN)

Rotas de Produção de Diesel Renovável

Tecnologias de Produção de Biodiesel

AVALIAÇÃO DE METODOLOGIAS DE PURIFICAÇÃO DO BIODIESEL ETÍLICO DE ÓLEO DE PALMA (Elaeis guineensis) REFINADO E BRUTO

CARACTERIZAÇÃO E PRÉ TRATAMENTO DA MATÉRIA-PRIMA PARA A OBTENÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO DE COZINHA USADO

Síntese do Biodiesel a partir de óleo vegetal Procedimento experimental (adaptado de 1 )

Principais rotas tecnológicas de produção do biodiesel

AVALIAÇÃO DE TRATAMENTOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE PINHÃO MANSO (JATROPHA CURCAS L.)

CARACTERIZAÇÃO E CONTROLE DA QUALIDADE DO BIODIESEL ASPECTOS GERAIS

REUTILIZAÇÃO DO ÓLEO RESIDUAL PRODUZINDO BIODIESEL METÍLICO

OS COMBUSTIVEIS ALTERNATIVOS LIQUIDOS E GASOSOS

Química. APL 2.5 Síntese de biodiesel a partir de óleo alimentar

SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO TÉRMICO DO BIODIESEL DE MAMONA OBTIDO PELA ROTA ETÍLICA.

APLICAÇÃO DA EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO NA NEUTRALIZAÇÃO DE ÓLEO BRUTO DE SOJA COM FOCO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

4º Seminário Bioenergia: Desafios e Oportunidades de Negócios

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 24

INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO ÁLCOOL:ÓLEO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL POR ROTA ETÍLICA

TERRA DE DIATOMÁCEA COMO MÉTODO ALTERNATIVO PARA A PURIFICAÇÃO DO BIODIESEL

Ricardo Alan Verdú Ramos

ANÁLISE COMPARATIVA E CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL DE ÓLEO DE SOJA E BANHA DE PORCO EM SÍNTESE POR AQUECIMENTO E AGITAÇÃO CONSTANTE

Palavras- Chave: Bioquerosene. Reutilização. Óleo de Cozinha. Impacto Ambiental.

Biodiesel: produção e benefícios

BIODIESEL OBTIDO A PARTIR DE REJEITO DE GORDURA ANIMAL

REDUÇÃO DO ÍNDICE DE ACIDEZ DO ÓLEO DE FRITURA PELO PROCESSO DE ADSORÇÃO EM SABUGO DE MILHO

Sandro Martins de Oliveira 1. Juan Carlos Dalcolle 2. Nehemias Curvelo Pereira 3

TRANSESTERIFICAÇÃO COM CATÁLISE ÁCIDA DE RESÍDUOS DE GORDURA DE FRANGO PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL: RESULTADOS PRELIMINARES

Brasil/região UNISC Uso de fontes renováveis. Parcerias. Biocombustíveis Baixo Impacto Ambiental

Controle de Qualidade de Óleos e Gorduras Vegetais

ESTUDO DA ESTABILIDADE DOS ÓLEOS DE SOJA E ARROZ UTILIZADOS EM FRITURAS SUCESSIVAS DE PASTILHAS DE TRIGO

ESTUDO DE TRATAMENTOS ALTERNATIVOS PARA A REDUÇÃO DA ACIDEZ NO SEBO BOVINO

PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE A PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS COM O ENFOQUE CTSA

A Estratégia da ANP para o Controle de Qualidade do Biodiesel

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS A PARTIR DE MISTURAS DE SEBO BOVINO E ÓLEO DE FRITURA POR CATÁLISE ÁCIDA

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE QUALIDADE E MÉTODOS DE ANÁLISES APLICÁVEIS AO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL

TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA DE ÓLEOS E GORDURAS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

ANÁLISE QUALITATIVA DO BIODIESEL DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL ATRAVÉS DE MÉTODOS SIMPLES E DE BAIXO CUSTO

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 30

Transcrição:

ACIDEZ DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS COLHIDOS NOS ANOS DE 2008 E 2009 EM ITAÚNA-MG Jimmy Soares, ENERBIO, jimrhino@gmail.com Angélica Gonçalves, ENERBIO-UIT, angelica@enerbio.ind.br Henrique Bernardes Loregian, ENERBIO-UIT, hbloregian@yahoo.com.br Alex Nogueira Brasil, ENERBIO-UIT-UFMG, brasil@enerbio.ind.br Diego Luiz Nunes, ENERBIO-UFMG, diego@enerbio.ind.br RESUMO: Devido a preocupação com a preservação do meio ambiente, vários são os trabalhos no estudo e destinação de poluentes urbanos e dentre os mais danosos, alinham-se os óleos e gorduras utilizados na alimentação humana. A disposição de tais resíduos ainda é, normalmente, negligenciada pelas legislações em todas as instâncias, sendo necessário ampliar o conhecimento sobre o potencial poluidor desses resíduos e, tão logo, propor destinações viáveis, tanto pela técnica quanto ao custo envolvidos. Uma potencial destinação trata-se de utilizar esses resíduos como insumo na produção de biodiesel, entretanto é necessário padronizar e controlar a qualidade do óleo que tenha tal aplicação. O presente trabalho buscou avaliar a acidez de óleos e gorduras residuais colhidos nos anos de 2008 e 2009 pelo grupo de pesquisa ENERBIO e pelo Programa OGR s - Programa de Coleta de Óleos e Gorduras Residuais, desenvolvido pela Biominas Indústria de Derivados Oleaginosos Ltda. em parceria com a prefeitura do município de Itaúna, MG. A média de acidez dos óleos foi de 2,67 mg KOH/g, evidenciado a necessidade de pré-tratar este óleo para que se possa produzir biodiesel dentro das especificações nacionais. Palavras chave: Biodiesel; Óleo e gordura residual; Acidez; Qualidade do biodiesel.

INTRODUÇÃO O ano de 2004 foi caracterizado pelo lançamento oficial do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) pelo governo brasileiro, firmando o potencial científico, tecnológico e agroindustrial para o uso do combustível renovável. O Brasil desenvolveu um vasto histórico científico na busca pela maturidade da produção de biodiesel utilizando matérias-primas e insumos diversos, focando a viabilidade frente ao petrodiesel. O biodiesel apresenta-se como um candidato em potencial para a substituição total ou parcial do diesel mineral, pois é produzido a partir de fontes renováveis (óleos vegetais, gorduras animais e óleos residuais), é biodegradável e seus níveis de emissão de poluentes são bem inferiores aos associados a derivados fósseis (KUCEK et al., 2004). O óleo ou gordura utilizado no preparo de alimento se verte em uma alternativa interessante para a síntese de biodiesel, mesmo não tendo seu uso agraciado pelo PNPB na forma de incentivo fiscal esta fonte de ácidos graxos circunda pontos importantes. Uma por ser um resíduo oriundo da alimentação, logo esta matéria-prima não tem influência direta na fatídica crise mundial por alimentos. A coleta do óleo de fritura de forma pública, privada ou em parcerias conjuntas evita que este resíduo seja descartado de forma errada e prejudicial ao meio ambiente, além de gerar novos empregos. Por não haver legislação vigente que monitore o uso do óleo de forma correta e suas eventuais trocas nos estabelecimentos, estudos de casos específicos se fazem imperativos para o levantamento do consumo, qualidade, destino e descarte de óleos de frituras residuais em municípios. Contudo, para que o biodiesel atenda as especificações referidas na Resolução 07 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é necessário o emprego matéria-prima com considerável nível de pureza, uma vez que esta tem influência direta nas características físico-químicas do produto final, o biodiesel. Diversas reações químicas ocorrem durante a cocção de alimentos por imersão em óleo ou gordura a temperaturas elevadas (e.g. 180ºC), processo conhecido como fritura. Dentre as reações químicas, destacam-se pela ocorrência natural (Figura 01), a oxidação, responsável pela formação de sabores e odores indesejáveis (rancidez oxidativa) e também pela formação de compostos parcialmente tóxicos. Outra reação indesejada é a lipólise, processo de hidrólise de ligação éster por lipases ou pela combinação de calor e a umidade decorrente da liberação de água dos alimentos, resultando liberação de ácidos graxos (conhecidos por ácidos graxos livres ou AGL) (ARAÚJO, 2008). Tais reações são de caráter

depreciativo para o óleo e tem influência direta na qualidade do alimento, tão logo, a constante necessidade para a substituição do óleo ou gordura na cocção de alimentos. Figura 01: Tipos de rancidez durante o processo de fritura. Fonte: OLIVEIRA et al., 2008. O óleo ou gordura é susceptível a degradação por uma série de fatores tais como equipamento, temperatura, tempo e forma de fritura, características físico-químicas do óleo, presença de aditivos, contaminantes, tipo de alimento, quantidade, tipo de preparação (e.g. empanados, pré-fritos etc) (CORSINI & JORGE, 2006). Ante os dados supracitados, o presente trabalho objetiva avaliar o teor de A.G.L. de óleos e gorduras residuais e altercar sobre a viabilidade de produção de biodiesel a partir desta matéria-prima. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados no município de Itaúna, MG, no Laboratório de Energias Renováveis da Faculdade de Engenharia da Universidade de Itaúna. Parcelas dos óleos e gorduras residuais utilizados no experimento foram gentilmente cedidos pelo Programa OGR s - Programa de Coleta de Óleos e Gorduras Residuais, desenvolvido pela Biominas Indústria de Derivados Oleaginosos Ltda. em parceria com a prefeitura do município de Itaúna, MG. As demais amostras pertenciam ao acervo do grupo de pesquisa ENERBIO da Universidade de Itaúna, MG. Todos os reagentes e insumos utilizados neste trabalho não sofreram qualquer

tratamento de purificação antes de sua utilização. Os óleos e gorduras residuais, no dia da coleta estavam acondicionados ao abrigo do sol e a temperatura ambiente. As amostras foram coletadas em tubos falcon e filtradas por papel filtro de 28 µm. A titulação de acidez foi realizada em duplicata, seguindo metodologia referenciada por Arantes et al. (2008), tal método quantifica a quantidade de KOH necessária para neutralizar 1g de ácido graxo livre, como proposto pela metodologia do Instituto Adolf Lutz. Aproximadamente 2g de óleo foram colocados em erlenmeyer, adicionado 25mL de solução de éter e etanol (2:1) e seguida da homogeneização da solução, por fim adicionou-se solução alcoólica de fenolftaleína 1%. A mistura foi titulada com solução de NaOH 0,1M até coloração rósea mantida por 30 segundos. O cálculo do índice de acidez deu-se por: Ac = V x f x 5,61 / P, Ac = índice de acidez; V= volume de NaOH gasto na titulação em ml; f= fator de correção da solução de NaOH; 5,61 = equivalente grama do KOH; P = número de gramas da amostra. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os óleos e gorduras residuais coletados apresentaram grande quantidade de sólidos precipitados, no fundo de bombonas plásticas de 40L de onde foram colhidos, necessitando de uma filtração prévia às análises. Observou-se grande espectro de cores, margeando de amarelo claro, muito similar a um óleo de soja refinado a óleos mais escuros, em tom de marrom. No geral os óleos mais escuros apresentaram maior acidez, porém esta não foi uma constante. Os resultados da titulação podem ser vistos na Tabela 1.

Tabela 1: Resultados da titulação de acidez por NaOH. Amostra Data da coleta Índice de acidez (mg KOH/g) 1 26-03-2009 1,0 ± 0,2 2 07-03-2009 1,8 ± 0,2 3 12-08-2008 8,7 ± 0,6 4 26-06-2009 5,9 ± 0,1 5 14-05-2009 3,0 ± 0,1 6 15-05-2009 0,7 ± 0,2 7 19-05-2009 1,6 ± 0,1 8 30-06-2009 2,5 ± 0,1 9 30-06-2009 1,0 ± 0,2 10 06-07-2008 2,5 ± 0,1 11 26-06-2009 0,8 ± 0,1 Média 2,7 ± 0,1 Experimentos realizados por Araújo et al. (2007) demonstraram que durante o processo de produção de biodiesel, mais precisamente a transesterificação e posterior purificação, houve decréscimo de mais de 90% do índice de acidez do biodiesel de pinhãomanso (Jatropha curcas L.). Partindo de tal estudo, um óleo e gordura residual deve conter no máximo a acidez de 1 mg KOH/g para que atenda a acidez normalizada pela ANP de 0,5 mg KOH/g. Visto que apenas 4 óleos e gorduras residuais (Gráfico 1) possuem o índice de acidez aceitável, existe a real necessidade de pré-tratar este óleo para a retirada de umidade e particulados sólidos, assim como a correção de acidez elevada (NUNES et al., 2007 ; VÖLZ, et al., 2008 ; FERNANDES et al., 2008) para sua aplicação na produção de biodiesel. 5 4 3 Amostra 2 1 0 < 1 < 2 < 4 > 4 Acidez (mg KOH) Gráfico 1: Índice de acidez dos óleos e gorduras residuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Óleos e gorduras residuais tendem como alternativa interessante para a sociedade, governo e empresas para produção de energia. Conforme demonstrado, os óleos e gorduras residuais apresentam elevada acidez, que pode inviabilizar sua destinação direta para produção do biodiesel, contudo esta acidez também pode ter sido elevada devido à forma de armazenagem e período de tempo, conforme estudado por Arantes et al. (2008). A média de acidez dos óleos e gorduras residuais foi de 2,67 mg KOH/g, um valor relativamente alto, evidenciando a necessidade de estudar se os óleos colhidos já apresentavam elevada acidez quando descartados, ou se faz decorrente de armazenamento incorreto, pela forma ou longo tempo. Para que não seja inviabilizada a produção de biodiesel a partir de óleos e gorduras residuais, faz-se necessário estudo e desenvolvimento de tecnologia de baixo custo para prétratar o óleo, deixando-o apto à produção de biodiesel e a um preço inferior em relação aos óleos brutos, degomados e refinados. AGRADECIMENTOS Os membros do grupo ENERBIO agradecem a empresa Biominas Indústria de Derivados Oleaginosos Ltda. (Itaúna, MG) pelas bolsas de pesquisa concedidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, A. C. C et al. Avaliação do índice de acidez e do índice de saponificação de óleos residuais durante o armazenamento. 5º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel, Lavras, 2008. ARAÚJO, F. D. S. et al. Caracterização do óleo de pinhão-manso (Jatropha curcas L.). Congresso Internacional de Agroenergia e Biocombustíveis - Energia de Resultados, Teresina, 2007. ARAÚJO, J. M. A. Química de alimentos: teoria e prática. 4. ed. Editora Viçosa. Viçosa, MG, 2008. CORSINI, M. da S. ; JORGE, N. Estabilidade oxidativa de óleos vegetais utilizados em frituras de mandioca palito congelada. Ciênc. Tecnol. Aliment., vol. 26, n. 1, p. 27-32, 2006. FERNANDES, R. K. M et al. Biodiesel a partir de óleo residual de fritura: alternativa energética e desenvolvimento sócio-ambiental. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2008.

KUCEK, K. T. et al.. Biodiesel produzido a partir da reação de transesterificação etílica de óleos de soja refinado e degomado. 1 Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos Vegetais e Biodiesel, 2004, Varginha, 2004. NUNES, D. L. et al. Pré-tratamento de óleo de café visando a produção de biodiesel. 2º Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, Brasília, 2007. OLIVEIRA, B. P. et al. Uso de material adsortivo (NaY, SiO2, AL2O3) para clarificação do óleo de fritura usado. 5º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel, Lavras, 2008. VÖLZ, M. D. de A et al. Estudo da esterificação ácida de óleos e gorduras de alta acidez para a produção de biodiesel. 4 Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos Vegetais e Biodiesel, 2004, Varginha, 2007.