ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES EM TRABALHADORES DE ENFERMAGEM: UMA QUESTÃO DE BIOSSEGURANÇA ACCIDENTS WITH PERFORATE-CUTTING INSTRUMENTS AND NURSING WORKERS: A QUESTION OF BIOLOGICAL SECURITY ACCIDENTES CON MATERIAL PERFURANTE Y CORTANTE EN TRABAJADORES DE ENFERMERÍA: UNA CUESTIÓN DE BIOSEGURIDAD Sandra Solange de Moraes Alves I Joanir Pereira Passos II Florence Romijn Tocantins III RESUMO: Este estudo teve como objetivos identificar o potencial de risco para acidentes com material perfurocortante nos trabalhadores de enfermagem e analisar a influência das normas de biossegurança no conhecimento e no comportamento desses trabalhadores em sua prática assistencial. Aplicou-se o método descritivo, com abordagem quanti-qualitativa. Os dados foram obtidos por meio de entrevista com 33 trabalhadores de enfermagem acidentados com material perfurocortante de um hospital geral municipal do Rio de Janeiro, em 2005. O estudo evidenciou como causas para o risco de acidentes: falta de atenção, má condição de trabalho e uso de técnicas inadequadas. Os entrevistados consideram a profissão de altíssimo risco e o seu trabalho de baixíssimo risco, na medida em que sejam observados as normas de biossegurança e o autocuidado na prestação da assistência. Palavras-Chave: Biossegurança; risco ocupacional; saúde do trabalhador; enfermagem. ABSTRACT: This study aimed both at identifying the potential risk for accidents with perforate-cutting instruments to nursing workers and at analyzing the influence of the biological security norms to the knowledge and behavior of these health workers in their assistance. The descriptive method on a quanti-qualitative approach was applied by means of interviews, in 2005, with 33 nurses of a municipal general hospital of Rio de Janeiro, Brasil, who had accidents with perforate-cutting instruments. The study evinced the following accident-generating risks: lack of attention, poor work conditions, and the use of inadequate techniques. The nurses interviewed regard their profession as having substantially high risks and their work as having extremely low risks, as long as biological security norms and self care in nursing care are observed. Keywords: Biological security; occupational risk; occupational health; nursing. RESUMEN: Este estudio tuvo como objetivos identificar el potencial de riesgo para accidentes con material perfurante y cortante en los trabajadores de enfermería y analizar la influencia de las normas de bioseguridad en el conocimiento y en el comportamiento de eses trabajadores en su práctica asistencial. Se aplicó el método descriptivo, con enfoque cuanticualitativo. Los datos fueron obtenidos por medio de entrevista con 33 trabajadores de enfermería que han sufrido accidente con material perfurante y cortante en un hospital general municipal do Rio de Janeiro-Brasil, en 2005. El estudio evidenció como causas para los riesgos de accidentes: carencia de atención, mala condición de trabajo y uso de técnicas inadecuadas. Los entrevistados consideran la profesión del más alto riesgo y su trabajo de muy bajo riesgo, en la medida que se observen las normas de bioseguridad y el autocuidado en la prestación de la asistencia. Palabras Clave: Bioseguridad; riesgo laboral; salud del trabajador; enfermería. INTRODUÇÃO O hospital é um local de trabalho complexo que, além de prover cuidados básicos de saúde, mantém atendimento de pequena a alta complexidade a um grande número de pessoas. Assim, o ambiente hospitalar envolve a exposição dos profissionais de saúde e demais trabalhadores a uma diversidade de riscos, especialmente os biológicos 1:372. Entende-se acidente de trabalho como um acontecimento repentino entre pessoas e/ou pessoas e objetos, que pode causar lesões corporais ou perturbação funcional que cause morte ou a perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho e que se diferencia de doença ocupacional, que é insidiosa adquirida em longo prazo de tempo 2. I Mestre em Enfermagem. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. Professora Assistente de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: enfsandrasolange@hotmail.com. II Doutora em Enfermagem. Professor Associada do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: joanirpassos@bol.com.br. III Doutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: florence@unirio.br. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):373-7. p.373
A enfermagem e a biossegurança Cabe destacar que o manuseio de material perfurocortante predomina como situação de exposição a acidente ocupacional entre os profissionais da área de saúde 3. Paralelamente, os acidentes de trabalho ocasionados por material perfurocortante entre os trabalhadores de enfermagem são frequentes, sobretudo devido ao número elevado de manipulação de agulhas, cateteres intravenosos, lâminas e outros materiais utilizados na execução dos procedimentos técnicos da assistência de enfermagem e representam prejuízos aos trabalhadores e às instituições. Tais acidentes ainda podem oferecer riscos à saúde física e mental dos trabalhadores 4,5. Dessa forma, esforços na prevenção de acidentes de trabalho que envolvam sangue e outros fluidos potencialmente contaminados devem ser tratados como casos de emergência, uma vez que, para se obter maior eficácia, as intervenções para profilaxia das infecções pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e Hepatite B, necessitam ser iniciadas logo após a ocorrência do acidente 6. Diante do exposto, este artigo tem por objeto de estudo as possíveis causas de acidentes com material perfurocortante na prática assistencial dos trabalhadores Assim, os objetivos do estudo foram identificar o potencial de risco para acidentes biológicos com material perfurocortante na equipe de enfermagem e, analisar a influência das normas de biossegurança no conhecimento e no comportamento dos trabalhadores de enfermagem na sua prática assistencial. REFERENCIAL TEÓRICO O reconhecimento do risco profissional consiste em prever situações ou eventos que poderão ocasionar perdas e danos, baseado em conhecimento prévio ou estimado, com o objetivo de adotar condutas para minimizar os riscos. Nesse contexto, o acidente corresponde à interferência do ambiente, instrumentos e máquinas no bem estar/saúde do profissional 7. Com vistas à implementação de medidas de segurança e saúde ocupacional, o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE) instituiu a Norma Regulamentadora N 32 (NR 32) Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde, definindo a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde do trabalhador em serviços de saúde do trabalhador e em serviços de saúde, principalmente voltados para os riscos a que esses profissionais estão expostos 8. Paralelamente, não se pode deixar de destacar a concepção de biossegurança como: [...] um conjunto de ações voltadas para prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às Artigo de Pesquisa atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou da qualidade dos trabalhos desenvolvidos 9:13. Entre as ações de biossegurança a ser utilizadas pelos profissionais, pode-se destacar as normas de precaução básica, como a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), que visam reduzir a exposição do profissional aos agentes biológicos, além da recomendação na utilização e descarte de material perfurocortante 8,10. Os EPI, de forma combinada ou não, são touca, óculos, máscara, luva, capote e botas e o descarte de material perfurocortante nas caixas coletoras em recipientes de tampa rígida 1,8,10. A importância da biossegurança empregada nos hospitais consiste na adoção de normas e procedimentos seguros e adequados para a manutenção da saúde dos pacientes, dos profissionais e dos visitantes 1. Esse enfoque envolve a saúde do trabalhador, uma área de investigação em saúde que objetiva o estudo, a intervenção e as relações entre o trabalho e a saúde. Essa área tem como objetivo a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador, à organização e à prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada 7. METODOLOGIA Trata-se de estudo descritivo com abordagem quanti-qualitativa. Teve como cenário o Hospital Municipal Salgado Filho (HMSF) da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro e foi realizado no período de julho a setembro de 2005. Esta pesquisa teve seu projeto avaliado e aprovado pelo Parecer n 49A/2005 do Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Todos os procedimentos metodológicos obedeceram aos padrões estabelecidos pela Resolução n 196/96, que trata das Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos 11. Para a seleção dos participantes da pesquisa, estabeleceu-se como critérios de inclusão dos sujeitos da investigação: ser trabalhador da equipe de enfermagem; pertencer ao quadro efetivo da Instituição; e, ter se acidentado com material perfurocortante nos setores de Emergência e de Clínica Médica. Para identificação dos acidentados, consultou-se os registros dos Boletins de Acidentados do HMSF, no período de julho de 2003 a julho de 2005. Nesse período verificou-se que 52 trabalhadores de enfermagem so- p.374 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):373-7.
freram acidentes com material perfurocortante. Entretanto não foram considerados para este estudo os 14 que já não pertenciam ao quadro efetivo de pessoal da Instituição além dos três profissionais de licença para tratamento médico e aqueles dois formalmente de férias durante a fase de levantamento de dados junto à equipe Desse modo, os sujeitos desta pesquisa constituíram-se de 33 trabalhadores da equipe de enfermagem, sendo cinco enfermeiros, 10 técnicos e 18 auxiliares Para a coleta de dados, utilizou-se como instrumento a entrevista individual em local reservado e em horários pré-agendados com os sujeitos da pesquisa. Para garantir o anonimato dos participantes, todos foram identificados pela letra E e o respectivo número considerando a ordem cronológica de sua entrevista. Para nortear o desenvolvimento da entrevista, elaborou-se um roteiro com algumas proposições/ questões orientadoras da investigação. Na análise das entrevistas, adotou-se os seguintes procedimentos: leitura e releitura das entrevistas, destacando as palavras e/ou frases escritas significativas baseadas na interpretação das pesquisadoras, além do tratamento estatístico de dados com cálculo de frequência absoluta e percentual. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Perfil dos Participantes Para o desenvolvimento desta investigação, participaram 33 trabalhadores da equipe de enfermagem, profissionais de enfermagem efetivos do hospital e acidentados com material perfurocortante, sendo: 14 (42%) do serviço diurno e 19 (58%) do serviço noturno, nos diferentes plantões de clínica médica e de emergência. Cabe ressaltar que estudos relatam a unidade de emergência como sendo um setor desgastante, tanto pela carga de trabalho como pelas especificidades das tarefas para os trabalhadores de enfermagem 12. Verificamos que a maioria 32 (94%) dos trabalhadores acidentados investigados compreendia a faixa etária de 31 a 60 anos de idade, com predomínio 28 (85%) do sexo feminino. Em relação à categoria profissional, constatouse que auxiliares e técnicos de enfermagem totalizam 28 (85%) dos acidentados. A maioria dos pesquisados, 28 (85%), tem mais de 10 anos de exercício profissional, o que permite reconhecer que estes trabalhadores possuem uma expressiva experiência da prática do exercício profissional, onde o domínio das técnicas e os conceitos de biossegurança deviam ou deveriam estar solidificados. O estudo aponta ainda que 100% dos entrevistados possuem outro vínculo empregatício. Este dado permite refletir que o duplo vínculo de trabalho possa estar relacionado aos baixos salários que usualmente se encontra nos trabalhadores Portanto, estes trabalhadores apresentam mais de uma atividade laboral, fator esse que pode influenciar na exposição aos riscos ocupacionais devido à sobrecarga de trabalho. Enfermagem Profissão de Risco Observa-se que a maioria dos acidentados entrevistados 25 (75%) considera a profissão de enfermagem de alto risco. Destaca-se algumas justificativas dos acidentados entrevistados ao se referirem à enfermagem como uma profissão de risco: [...] aconteceu por causa de outra pessoa, um acadêmico, usam a seringa e a agulha em punho como se fosse uma espada, um perigo! Isso quando não largam em qualquer lugar. (E2) [...] nunca foi tão ruim, nunca houve tanto acidente como agora, ninguém te orienta [...]. (E13) Muito paciente para pouco funcionário, além da falta de atenção, estresse, correria [...] o risco aumenta. (E 22) E ainda, estes fazem referência à falta de esclarecimento sobre biossegurança, condições inadequadas de trabalho, sobrecarga de trabalho, o risco de contrair doença e de se acidentar a qualquer momento, fazendo com que a grande maioria considere a enfermagem uma profissão de alto risco, o que pode ser considerado nesse grupo, como fator determinante para acidente com material perfurocortante. Os laboratórios, indústrias, hospitais e instituições de ensino, quando não administrados de modo adequado, apresentando instalações precárias, improvisadas, adaptadas, com corpo técnico formado por pessoal sem treinamento, desmotivado, podem ser considerados como ambiente de alto risco, expondo a equipe, o paciente,a instituição e a si próprio a qualquer tipo de risco 13. Entretanto, verifica-se que 16 (49%) do total dos acidentados entrevistados definem o seu trabalho em enfermagem sem risco e de baixo risco para acidente com material perfurocortante. Destaca-se algumas justificativas por eles referidas, a saber: Procuro me concentrar no que estou fazendo, a correria aumenta a chance de se acidentar, calma é fundamental. (E11) Tento manter o máximo de calma e uso luva, máscara, EPI. (E19) Isso leva a refletir que a profissão de enfermagem pode ser considerada de altíssimo risco para acidente com material biológico, entre outros. E que, mediante o conhecimento e o cumprimento das nor- Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):373-7. p.375
A enfermagem e a biossegurança mas de biossegurança e o cuidado com ele próprio no desempenho de suas ações, o risco de se acidentar pode se tornar baixo ou inexistente. Em relação aos aspectos importantes no preparo com material perfurocortante, constata-se que 24 (72%) dos acidentados entrevistados referiram a atenção como um dos principais elementos a serem considerados, seguido da técnica correta 10 (30%) e da utilização das luvas 9 (27%) para realização dos procedimentos do cuidado O preparo e administração de medicamentos requerem precisão do enfermeiro. O enfermeiro necessita prestar toda a atenção no preparo dos medicamentos e não fazer outra tarefa simultânea, garantindo desta forma uma administração segura 14. Entre as recomendações específicas que devem ser seguidas, durante procedimentos que envolvam a manipulação de material perfurocortante, destacase a importância de se ter máxima atenção durante a realização dos procedimentos, entre outros 8. Prevenindo Acidentes com Material Perfurocortante Para o desempenho das atividades de enfermagem, a atenção 18 (54%), o uso de EPI / luvas 16 (48%) e o uso da técnica correta 7 (21%) foram os principais aspectos enfatizados pelos entrevistados quanto às considerações do manuseio com material perfurocortante. Dessa forma, entende-se que existe a preocupação individual dos investigados e o reconhecimento da sua responsabilidade para evitar o risco de acidente com material biológico. De acordo com a opinião dos depoentes quanto aos principais aspectos a serem considerados no descarte do material perfurocortante no desempenho laboral de suas atividades, 28 (84%) destacaram o fato de ter coletor (Descarpack), seguido de 10 (30%) que enfatizam a ação de não reencapar agulhas e 7 (21%) focalizaram a atenção. Entre as inúmeras informações relacionadas às situações que levam ao acidente, os pesquisados afirmaram que estes ocorrem por falta de atenção 19 (58%), excesso de confiança 17 (52%) e estresse 15 (21%). Isso pode estar atrelado à forma da organização do trabalho e ao abrandamento do sentimento de pânico gerado pela rotina do dia a dia, tornando banal o acidente, interferindo no comportamento, na falta de sensibilização e a não percepção individual do risco para acidentes. Alguns desses aspectos podem ser identificados nos seguintes depoimentos: Você acha que nunca vai acontecer com você! Por falta de condições de trabalho acabo furando a agulha no colchão, até para evitar acidente! Acabo fazendo prática errada, porém necessária nas condições que trabalho. (E15) Artigo de Pesquisa Encontro muito material usado deixado por colegas, na cabeceira do paciente, capa de agulha e agulha em baixo do paciente, falta de atenção do colega, às vezes fica difícil [...]. (E17) O coletor parece um porco espinho! Tanto eu posso me acidentar, como o pessoal da limpeza ao fechar [...]. (E31) Conforme as informações emitidas pelos investigados sobre as principais causas de acidente com perfurocortante, destacam-se aquelas ocasionadas: pela imprudência (27%), por movimento brusco do paciente (18%) e pela existência de agulha em superfícies (18%). Esses dados corroboram outros estudos realizados em que 60% dos acidentes com trabalhadores de enfermagem aconteceram durante realização de procedimentos à beira do leito e 23% no posto de enfermagem ao preparar medicação 15. Ressalta-se ainda que condições dignas de trabalho 18 (54%); educação permanente / divulgação de acidente 16 (48%); maior quantitativo e qualitativo de material 14 (42%); maior número de profissionais para prestação da assistência 14(42%) foram situações e/ou condições apontadas pelos entrevistados para evitar o risco de acidentes com material perfurocortante. Dessa forma, percebe-se que na visão dos investigados, tanto nos aspectos relacionados às causas e situações para evitar o risco de acidentes, existe uma série de fatores que estão interligados e que podem estar associados à ocorrência de acidentes laborais, incluindo desde a manipulação de materiais com desenho (design) que oferecem pouca segurança; a forma de organização do trabalho; a estrutura física que pode induzir ao erro; o comportamento dos próprios profissionais e as condições de trabalho oferecidas. Vale destacar que estudos semelhantes confirmam que ter melhores condições de trabalho implica: [...] ter equipamento adequado e suficiente; ter pessoal em número e categoria adequados; melhorar as condições de uma maneira geral; [...] dispor de instalações e estrutura adequadas para efetuar tratamentos; [...] além de outros requisitos como regularidade no fornecimento de material, resolução dos problemas de biossegurança para clientes e profissionais, ter menos sobrecarga no trabalho 16:65. Assim, merece destaque que os direitos do trabalhador devem ser o fulcro da formação dos profissionais de enfermagem, como a educação continuada em serviço 17. CONCLUSÃO Neste estudo identificou-se que o potencial de risco para acidentes biológicos com material perfurocortante está associado a inúmeros fatores combinados ou não. Entre esses fatores destacam-se: p.376 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):373-7.
a falta de atenção no planejamento e na execução das atividades, a não observância das normas de biossegurança, quer seja pela ausência ou pelo uso inadequado dos EPIs, além da sobrecarga de atividades pelo número reduzido de profissionais para prestação do cuidado Constatou-se ainda que o estado de alerta e a insegurança decorrentes das condições precárias de trabalho são percebidos e sentidos pelos trabalhadores de enfermagem investigados, dado que, muitas vezes, eles não têm conhecimento do diagnóstico do paciente/cliente a ser cuidado e consequentemente, dos riscos a que eles estão expostos, principalmente quando desempenham suas ações no setor de emergência. Cabe ressaltar que o risco de acidentes com material perfurocortante, na opinião dos entrevistados, associa-se ao outro profissional, ao ambiente, à própria profissão e à própria rotina da unidade, consequentemente, o perigo torna-se na maioria das vezes oculto e inesperado. Os participantes da pesquisa consideram a profissão de enfermagem de altíssimo risco, relacionando as más condições de trabalho como um dos determinantes preponderantes do risco ocupacional e seu trabalho de baixíssimo risco quando observadas e aplicadas as normas de biossegurança e o autocuidado na prestação da assistência. Dessa forma, faz-se necessário o conhecimento de fatores determinantes das situações de risco, com vistas a implementar efetivas medidas preventivas e outras intervenções de biossegurança. REFERÊNCIAS 1. Scheidt KL, Rosa LRS, Lima EFA. As ações de biossegurança implementadas pelas comissões de controle de infecções hospitalares. Rev enferm UERJ. 2006; 14: 372-77. 2. Ministério do Trabalho e Emprego (Br). Secretaria de Inspeção do Trabalho. Caminhos da análise de acidentes do trabalho. Brasília (DF): Ministério do Trabalho e Emprego; 2003. 3. Toledo AD, Oliveira AC. Situação vacinal e sorológica para hepatite B entre trabalhadores de uma unidade de emergência. Rev enferm UERJ. 2008; 16: 95-100. 4. Marziale MHP, Nishimura KYN, Ferreira MM. Riscos de contaminação ocasionados por acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante entre trabalhadores Rev Latino-am Enfermagem. 2004; 12(1): 36-42. 5. Marziale MHP, Nishimura KYN. Programa preventivo para a ocorrência de acidentes com material pérfuro-cortante entre trabalhadores de enfermagem de um hospital do Estado de São Paulo. Acta Paul Enf. 2003; 16(4): 59-68. 6. Secretaria Municipal de Saúde (RJ). Recomendações para atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico, HIV e Hepatite B e C. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Saúde; 2005. 7. Ministério da Saúde (Br). Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2001. 8. Ministério do Trabalho e Emprego (Br). Gabinete do Ministro. Portaria n 485, de 11 de novembro de 2005. Aprova a Norma Regulamentadora n 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 16 nov 2005: Seção 1. 9. Teixeira P, Valle S. Biossegurança uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 1996. 10. Ministério da Saúde (Br). Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas em exposição ocupacional a material biológico. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1999. 11. Ministério da Saúde (Br). Conselho Nacional de Saúde. Resolução n 196, de 10 de outubro de 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Bioética. 1996; 4 (2 Supl): 15-25. 12. Pinho PS, Araújo TM. Trabalho de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar e transtornos mentais. Rev enferm UERJ. 2007; 15: 329-36. 13. Valle S, Telles JL. Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Interciência; 2003. 14. Potter P, Perry AG. Fundamentos Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. 15. Nishide VM, Benatti MCC, Alexandre NMC. Ocorrência de acidente do trabalho em uma unidade de terapia intensiva. Rev Latino-am Enfermagem. 2004; 12: 204-11. 16. Mauro MYC, Veiga AR. Problemas de saúde e riscos ocupacionais: percepções dos trabalhadores de enfermagem de uma unidade materna infantil. Rev enferm UERJ. 2008; 16: 64-9. 17. Silva SM, Robazzi MLCC, Marziale MHP, Haas VJ. Los trabajadores de enfermería y las informaciones sobre sus derechos laborales. Rev enferm UERJ. 2008; 16: 357-63. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):373-7. p.377