JOSÉ EUSTÁQUIO RIBEIRO VIEIRA FILHO INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E APRENDIZADO AGRÍCOLA: UMA ABORDAGEM SCHUMPETERIANA CAMPINAS SÃO PAULO BRASIL 2009
JOSÉ EUSTÁQUIO RIBEIRO VIEIRA FILHO INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E APRENDIZADO AGRÍCOLA: UMA ABORDAGEM SCHUMPETERIANA Tese apresentada à Universidade Estadual de Campinas, como parte das exigências do Programa de Pósgraduação em Teoria Econômica, para a obtenção do título de Doutor em Economia. CAMPINAS SÃO PAULO BRASIL 2009 2
JOSÉ EUSTÁQUIO RIBEIRO VIEIRA FILHO INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E APRENDIZADO AGRÍCOLA: UMA ABORDAGEM SCHUMPETERIANA Tese apresentada à Universidade Estadual de Campinas, como parte das exigências do Programa de Pósgraduação em Teoria Econômica, para a obtenção do título de Doutor em Economia. Tese defendida e aprovada, em 27 de fevereiro de 2009, pela banca examinadora constituída pelos professores: Yves André Fauré Université Montesquieu Bordeaux IV Maria da Graça Derengowski Fonseca IE-UFRJ Antônio Márcio Buainain IE-UNICAMP Sérgio Salles-Filho IG-UNICAMP José Maria Ferreira Jardim da Silveira IE-UNICAMP (Orientador) 3
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E APRENDIZADO AGRÍCOLA: UMA ABORDAGEM SCHUMPETERIANA RESUMO José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho A interação entre a ciência, a tecnologia e a produção é bastante discutida sob o enfoque da teoria evolucionária. A definição do setor agrícola como sendo dominado pelos fornecedores é uma pressuposição muito restritiva, já que define a mudança tecnológica como residual. Nesse sentido, o presente estudo procura responder ao problema de qual seria o tratamento mais adequado do setor agrícola de produção como dinâmico e propulsor de efeitos de transbordamento. A compreensão adequada do setor agrícola deve identificar que nem todo o desenvolvimento tecnológico e geração de novos conhecimentos estão cristalizados nos insumos produtivos. A agricultura não funciona por meio de agentes receptores passivos de tecnologias. O processo de inovação na agricultura, que define tanto a questão da adoção quanto os parâmetros da difusão tecnológica, é estruturado dentro de complexos arranjos produtivos e de instituições (públicas e privadas) promotoras do conhecimento. Considerando a existência prévia de um arcabouço institucional que fomenta a geração de conhecimento público e de oportunidades tecnológicas, este trabalho vem demonstrar que a inovação na agricultura depende da acumulação do conhecimento. O processo de aprendizado do agricultor no decorrer do tempo é responsável pelo aumento da produtividade e, paralelamente, pela redução dos custos de produção, dependendo da capacidade do produtor de interpretar e assimilar as novas informações, bem como da habilidade gerencial do uso do conhecimento tecnológico. De um lado, grande parte da pesquisa e desenvolvimento é determinada fora da porteira (órgãos públicos e instituições privadas, extensão agrícola e indústrias fornecedoras de insumos tecnológicos) e coordenada por um sistema agro-industrial de inovação, no qual o Estado possui papel preponderante no provimento de tecnologias de domínio público. De outro, os investimentos e as atividades de experimentação são exercidos dentro da unidade produtiva, gerando maior estoque de conhecimento e ampla capacidade de absorção, além de estimular a apropriação privada dos ganhos produtivos. Desta forma, os investimentos na capacidade gerencial dos agricultores possibilitam um melhor aproveitamento do conhecimento externo. No intuito de sistematizar o encadeamento das principais idéias da dinâmica agrícola, buscou-se identificar a trajetória ampla da agricultura e construir o Modelo Evolucionário de Aprendizado. Os resultados preliminares mostraram que os produtores inovadores, em média, mantêm posições de vanguarda tecnológica. O aumento da capacidade de absorção auxilia nos ganhos produtivos e nas quedas dos custos. Embora o referencial analítico tenha sido pouco explorado, além de levar em conta as suas limitações, verificou-se que a mudança tecnológica é essencial para a compreensão da dinâmica agrícola, sendo que a adoção tecnológica é, via capacidade de absorção e aprendizagem localizada, uma das formas de tratamento adequado do crescimento do setor agrícola. Este 4
estudo abre perspectivas para uma investigação mais aprofundada nas áreas de redes sociais e externalidades, sugerindo uma linha alternativa de pensamento na literatura do desenvolvimento e crescimento agrícola, até então pouco explorada na economia evolucionária. Palavras-chave: Economia Evolucionária; Mudança Tecnológica; Inovação; Tecnologia Agrícola. Códigos JEL: B52, O3, O31 e Q16. ABSTRACT The interaction amongst science, technology and production has often been the subject of much debate notably in the framework of evolutionary theory. The definition of the agriculture sector as a supplier dominated is a very restrictive supposition which implies that the technological changes would be residual. In this light, the present study seeks to address the problem of what would be the most adequate treatment for the agricultural production sector becoming dynamic and a generator of overflow or surplus effects? The appropriate understanding of the agricultural sector must come about from the idea that any technological development and the creation of new knowledge are not incorporated in the productive inputs. Agriculture does not cater to the means of the agents which will simply be the receptors of technology. The innovation process within agriculture, defined by the adoption rather than the diffusion of technology, is organized through complex, production systems, as well as institutions, both private and public, which promote knowledge. Considering the previous existence an institutional structure that promotes the generation of public knowledge and technological opportunities, this study tends to demonstrate that innovation in agriculture depends on the accumulation of knowledge. The learning process of the farmer throughout, determines the increase in productivity, and simultaneously the reduction in the cost of production, which all depends on the ability of the producers to recognize the value of new information, as well as the managerial ability to apply technological knowledge. On one side, a huge portion of the research and development is carried out externally (such as public organizations, private institutions, agricultural extensions and suppliers of technological inputs) and coordinated by an agro-industrial innovation system in which the State has a predominant role in the supplement of technologies of public domain. On the other hand, investments and experimentation activities occur within the unit of production, thus creating a wider stock of knowledge and a larger absorptive capacity, in addition to fostering the private appropriation of the gains in production. In this way, the investments in the managerial capability of the farmers allow taking better advantage of the external knowledge. With the aim of systemizing the chains of the main ideas on agricultural dynamics, one has sought to identify an ample trajectory of agriculture and to construct the Evolutionary Model of Learning. 5
Preliminary results showed that innovative producers on average maintain an avant-garde technological stance. The increase in the absorptive capacity serves to conquer gains in production and to make lower costs. Although the analytic system of reference has not been widely explored and has taken into account its limitations, it has been verified that technological changes is essential to understanding the agricultural dynamics, making clear that the adoption of technology is, through absorptive capacity and local learning, one of the methods of adequately addressing the growth of the agricultural sector. The present study opens perspectives for a more in-depth investigation into the social network domains and externalities and suggests an alternative line of thought in developmental literature and agricultural growth, until now less explored in the evolutionary perspective. Keywords: Evolutionary Economics; Technological Change; Innovation; Agricultural Technology. JEL-codes: B52, O3, O31 e Q16. RÉSUMÉ L interaction entre la science, la technologie et la production est fréquemment discutée dans le cadre de la théorie évolutionnaire. La définition du secteur agricole comme étant un secteur dominé par les fournisseurs est un présupposé très restrictif impliquant que le changement technologique y serait résiduel. Dans ce sens la présente étude cherche à répondre à la question de savoir quel serait le traitement le plus adéquat du secteur agricole comme dynamique et générateur d effets de débordement. La compréhension appropriée du secteur agricole doit partir de l idée que tout le développement technologique et la création de nouvelles connaissances ne sont pas cristallisés dans les intrants servant à la production. L agriculture ne fonctionne pas au moyen d agents qui seraient simplement des récepteurs passifs des technologies. Le processus d innovation dans l agriculture, définie tant par l adoption que par la diffusion des technologies, s organise à l intérieur de dispositifs productifs complexes et d institutions, publiques et privées, promotrices de connaissances. Prenant en considération l existence, jugée comme étant donnée, de fondements institutionnels qui soutiennent la génération d informations publiques et d opportunités technologiques, cette étude tend à démontrer que l innovation dans l agriculture dépend de l accumulation de connaissances. Le processus d apprentissage de l agriculteur au cours du temps est responsable de l augmentation de la productivité et, parallèlement, de la réduction des coûts de production, le tout dépendant de la capacité du producteur d interpréter et d assimiler les nouvelles informations ainsi que de la capacité managériale d utiliser la connaissance technologique. D un côté une grande partie de la recherche-développement est déterminée à l extérieur (organes publics et institutions privées, extension agricole et industries fournisseuses d intrants technologiques) et coordonnée par un système agro-industriel d innovation dans lequel l État joue un rôle prépondérant en termes de mise à disposition de technologies relevant du domaine public. D un autre côté les investissements et les activités 6
d expérimentation sont réalisés à l intérieur de l unité de production créant un stock plus important de connaissances et une ample capacité d absorption, en plus de stimuler l appropriation privée de gains de production. De cette manière les investissements dans la capacité entrepreneuriale des agriculteurs rendent possible un meilleur profit tiré des connaissances externes. Dans le but de systématiser l enchaînement des principales idées sur la dynamique agricole, on a cherché à identifier une trajectoire ample de l agriculture et de construire le Modèle Évolutionnaire d Apprentissage. Les résultats préliminaires montrent que les producteurs innovateurs, en moyenne, conservent des positions d avant-garde technologique. L accroissement de la capacité d absorption aide à conquérir des gains de production et à abaisser les coûts. Bien que le référentiel analytique ait été peu exploré, même si l on prend en compte ses limites, on a pu vérifier que le changement technologique est essentiel pour comprendre la dynamique agricole, étant entendu que l adoption de la technologie est, à travers la capacité d absorption et l apprentissage local, une des formes pour traiter de façon adéquate la croissance du secteur agricole. La présente étude ouvre des perspectives pour une investigation plus approfondie dans les domaines des réseaux sociaux et des externalités et suggère une ligne alternative de pensée dans la littérature du développement et de la croissance agricoles, jusqu ici peu explorée dans l économie évolutionnaire. Mots-clés: Économie évolutionnaire; Changement technologique; Innovation; Technologie agricole. Codes JEL: B52, O3, O31 e Q16. 7