MEDIAR, VERBO DEFECTIVO CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ATOR-REDE PARA A CONJUGAÇÃO DA MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA

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Transcrição:

MEDIAR, VERBO DEFECTIVO CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ATOR-REDE PARA A CONJUGAÇÃO DA MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA Laura Rodrigues Thaiz Maciel

INTRODUÇÃO - Mediação jornalística: prática profissional especializada que seleciona, avalia, hierarquiza e coloca em circulação informações consideradas de interesse público. - Reconfiguração do cenário comunicacional: Interpenetração entre as lógicas de transmissão e de compartilhamento, (redes sociais) torna opaca e circunstancial a separação entre produtores e consumidores de informação. - Discutir a imbricação da mediação jornalística com outras formas de mediações na produção e circulação de informações, assim como o impacto da questão na prática profissional.

EU MEDEIO, TU MEDEIAS E AS CONJUGAÇÕES (IM)POSSÍVEIS - As manifestações de junho de 2013 acirraram o cenário de desconfiança em relação à mediação jornalística. Casos de rejeição a profissionais nada mais são do que a rejeição da imprensa como instituição e referência de credibilidade no trabalho de mediação discursiva. (MORETZSOHN, 2014, p.8)

EU MEDEIO, TU MEDEIAS E AS CONJUGAÇÕES (IM)POSSÍVEIS - Produzir e consumir informações não são mais polos opostos da comunicação - O cenário não suprime a histórica função mediadora jornalística e pode representar a sobrevivência da profissão resgatando o papel de costureiro das narrativas expostas pelos diferentes atores sociais (MORAES; ADGHIRNI, 2011, p. 2).

EU MEDEIO, TU MEDEIAS E AS CONJUGAÇÕES (IM)POSSÍVEIS - Nessas visões, outros medeiam, mas há um eu medeio no jornalismo que se difere qualitativamente dos demais. Jornalista medeia porque se posiciona diferenciadamente entre dois polos comunicativos, entre uma mensagem a ser dada a conhecer e seu conhecedor. - Esta noção é por nós recusada não apenas por conceber um jornalista exterior ao fato que relata, mas também por conceber um social que já está dado de antemão, no qual os atores e seus papéis estão definidos antes mesmo do curso da ação. - Mediar é verbo defectivo, conjugável apenas na primeira pessoa do plural (nós). Todos os atores da cadeia (humanos e não-humanos) agem e são levados a agir, a traduzir, a transformar, portanto, a mediar. Como é possível defender, a priori, a superioridade da mediação jornalística sobre as demais na circulação de informações em rede?

MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA - Jornalismo como o produto final de uma série de procedimentos que visam a permitir o acesso à informação (LIPPMANN, 1922). - Evolução das perspectivas de mediação: Teoria do Espelho, Gatekeeping, Teoria Organizacional (normas das empresas) - Segunda metade do séc XX: Compreensão de que notícias não são manifestações objetivas do real, mas resultam de processos de construção coletiva. Diferentes mediações na conformação do que vem a ser a mediação jornalística. Permanece a ideia de um eu mediador do jornalismo que é determinante para a configuração do social.

MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA - Mediações como processos estruturantes que provêm de diversas fontes, incidindo nos processos de comunicação e formando as interações comunicativas dos atores sociais (OROZCO GÓMEZ, 2006, p. 88). - O jornalismo perde sua força mediadora na medida em que se multiplicam as formas de mediação. Mediações diversificadas e mediações provenientes de instituições midiáticas tradicionais circulam de modo intermídia, contaminando-se mutuamente (ALZAMORA, 2012) - Na perspectiva da TAR, mediação é uma cadeia de associações agenciadas em rede, em constante transformação. - Ainda que perspectivas reconheçam a pluralidade de mediações que atravessam a mediação jornalística, sublinham a superioridade da mediação jornalística sobre as demais.

MEDIAMOS - TAR E A PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL - Social - movimento de reassociação e reagregação. É uma rede que se refaz a todo momento - Pensamento moderno opera pela purificação : separação da natureza (inato) e da política (ação humana). É preciso enxergar que nós mesmos somos híbridos (tudo acontece ENTRE) - Tradução/Mediação: Mediação é o próprio conjunto de práticas que permite a tradução. Tradução enquanto transformação e não como intermedação, feita por sujeitos e objetos. - Teoria Ator-Rede - Mediação jornalística: operação de tradução que é coletiva e, portanto, híbrida. Rejeição à ideia da CAIXA PRETA

MEDIAMOS - TAR E A PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL Estabilizada, a mediação jornalística perde sua potência transformadora e tradutora. O jornalismo passa a ser intermediário das ações do mundo, e não mediador, actante que participa coletivamente das produções de sentidos do mundo. Assim consideramos que o eu medeio, característico da mediação jornalística tradicional, reduz a potência do nós mediamos e somos mediados por outros, tal como reivindica a TAR.

MEDIAÇÕES DO JORNALISMO - EXEMPLO DAS MANIFESTAÇÕES - Jornalista entre dois lados opostos, no centro do campo de batalha - Ele deve ser respeitado pois é quem permite aos participantes formar uma opinião - https://www.youtube.com/watch?v=7oercwz4kx8

MEDIAÇÕES DO JORNALISMO - EXEMPLO DAS MANIFESTAÇÕES Mesmo recorte de imparcialidade e agilidade da informação em editorial da 2013: - Centralidade do termo profissional : mediação especializada como única capaz de oferecer isenção e correção das informações - Jornalista como intermediário e purificador, em um cenário de múltiplos mediadores. - Jornalismo profissional x Jornalismo amador - https://www.youtube.com/watch?v=cgbw8impaok

MEDIAÇÕES DO JORNALISMO - EXEMPLO DAS MANIFESTAÇÕES - Exemplo da Folha de São Paulo: tentou reafirmar a função medidora do jornalismo ao usar dados sobre a origem de compartilhamentos nas redes sociais online para provar que a autoridade informativa num cenário de múltiplas conexões ainda é das grandes empresas jornalísticas. - Relevâncias de práticas comunicativas resultantes de ações como visualizar, curtir, compartilhar, comentar e recomendar

MEDIAÇÕES DO JORNALISMO - EXEMPLO DAS MANIFESTAÇÕES Paródia que evidencia a impossibilidade de se conceber mediação como mera ação intermediária entre dois pontos: - Vídeo convoca à mediação coletiva a matéria mencionada. - Latour (2000): não há mediação, mas uma cadeia incessante de mediações - https://www.youtube.com/watch?v=jqstwyx7gic

CONCLUSÃO - A mediação jornalística não é uma ponte no espaço neutro entre a realidade e o cidadão, mas situa-se adiante, em circulação. - Eu medeio : atenua o caráter mais promissor da mediação jornalística, que é da ordem da circulação e, portanto, do hibridismo. Recusamos, portanto, a atuação exclusiva e diferenciada de um intermediário, o jornalista, assim como seu gesto pretensamente purificador, pois a mediação, híbrida e plural, resulta de uma cadeia de transformações da qual o jornalismo é parte actante. O eu medeio jornalístico é, assim, relativizado por nós mediamos. Nessa acepção, nem o jornalista é exterior ao fato que relata, nem o social está dado de antemão. A mediação jornalística se torna híbrida, parte integrante e jamais autônoma do movimento coletivo de reagregar o social nas conexões intermidiáticas da contemporaneidade.