As diferentes formas de violência no trabalho e os males para a saúde do profissional de saúde.

Documentos relacionados
O PROFISSIONAL DA SAÚDE NOSSA ARTE É DESPERTAR O MELHOR DO SER HUMANO

o presente e o futuro da pediatria no Brasil

PERCEPÇÃO DOS BRASILEIROS SOBRE A CONFIANÇA E CREDIBILIDADE EM PROFISSIONAIS E INSTITUIÇÕES. População brasileira, 16 anos ou mais

Chestnut Global Partners do Brasil

Avaliação dos planos de saúde. Usuários e Médicos - Julho/2018 -

Textos para Discussão nº

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DOS GRUPOS DE QUALIDADE 2018 PARA O ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Segundo a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), pelo menos 10% do total de usuários do sistema se queixam de que foram vítimas de preconceito.


Desigualdade, pobreza e violência em Porto Alegre

NOTA ECONÔMICA. Falta de segurança é menor na região Sul. Região Nordeste 4,4 a cada 10 famílias. Região Sul 3,1 a cada 10 famílias

NOTA ECONÔMICA. Região Sul 3,1 a cada 10 famílias. tiveram uma vítima de furto, assalto ou agressão

Violência: Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo

Mídia e Violência. Coordenação Silvia Ramos e Anabela Paiva. Maio de Apoio. Parceria

ACIDENTES DE TRABALHO

PANORAMA DA SEGURANÇA

Perda de audição pode gerar indenização por acidente de trabalho. por Kendra Chihaya Qua, 11 de Janeiro de :44

Pesquisa Dimensões da cidade: favela e asfalto

1 O EDITORIAL INTRODUÇÃO EDITORIAL ÍNDICE COMBATA O ESTRESSE

Magnitude do Aborto no Brasil: uma análise dos resultados de pesquisa.

INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

A SAÚDE E AS DROGAS NO SISTEMA PRISIONAL

Ciclo de Debates SUS: Políticas Sociais e de Assistência à Saúde do Idoso

Indicadores. da situação da mulher no Brasil

MEIOS ELETRÔNICO S DE PAGAMENTO. MERCADO Opinião DE dos. paulistas sobre o atendimento. público na área. de saúde

Mapeamento de equipamentos de radiodiagnóstico e radioterapia em uso na região norte.

PROJETO DE LEI DE DE DE 2016.

NOTA TÉCNICA PROGRAMA ACADEMIA DA SAÚDE OU PROJETOS SIMILARES DE ATIVIDADE FÍSICA

O SETOR DE SAÚDE E A TERCEIRIZAÇÃO

Qualidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança

Prevalência de lesões corporais em região oro-facial registrados no Instituto Médico Legal de Pelotas/RS. 1. Introdução

Ficha Informativa + Segurança

O que é uma pesquisa de vitimização?

Ansiedade Generalizada. Sintomas e Tratamentos

ENFERMAGEM ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM. Gestão de Processos e Equipes de Trabalho Aula 2. Profª. Tatianeda Silva Campos

Segurança em Uberlândia 2013

Christiane Rosane Barros Fróz TURMA E Djalma de Jesus Pinheiro TURMA E

Opinião dos brasileiros sobre o atendimento público na área de saúde

ENFERMAGEM SAÚDE DO IDOSO. Aula 14. Profª. Tatiane da Silva Campos

Planejamento do Inquérito Nacional de Saúde (INS)

desigualdade étnica e racial no Brasil INDICADORES DA Apresentação:

O ambiente hospitalar e o entusiasmo pela vida

Capítulo 14 Melhora na Gestão de Segurança e Medicina do Trabalho

Gráfico 1 Movimentação do Emprego

Estabelecimentos e Empregos nas Micro e Pequenas Empresas 1

Anuário da Saúde do Trabalhador DIEESE

ATIVIDADE DE REVISÃO AULA 10 EXERCÍCIOS DE REVISÃO

EFEITOS DO ESTRESSE OCUPACIONAL NO BEM ESTAR DA EQUIPE DE TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM E EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO.

URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

Fórum de Avaliação da Violência no Trabalho Em Saúde. Salvador, 15 de dezembro de 2017 Elias Abdalla-Filho

SESSÃO DA TARDE PENAL E PROCESSO PENAL LEI /18 (ALTERA OS CRIMES DE FURTO E DE ROUBO) Prof. Rodrigo Capobianco

In: Costa, APP; Othero, MB. Reabilitação em Cuidados Paliativos. Loures, Portugal: Editora Lusodidacta, 2014.

Pesquisa de Vitimização do Segmento Supermercadista. Varejo de Produtos Alimentícios de Belo Horizonte

Percepção da população sobre a avaliação dos estudantes e dos cursos de medicina

O Brasil possui uma população de , com uma densidade demográfica de 22,42 hab/km²;

Opinião dos brasileiros sobre o atendimento público na área de saúde

Relatório 1º Semestre 2011 Relatório 1º Semestre

Determinantes do processo saúde-doença. Identificação de riscos à saúde. Claudia Witzel

DESAFIOS DO ENFRENTAMENTO AOS CRIMES LETAIS INTENCIONAIS NO ESPÍRITO SANTO

Segurança em Uberlândia 2016

SGTES. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Ministério da Saúde

Projeto de Recuperação 1º Semestre - 1ª Série

O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO URBANA EM MINEIROS GO

Geo. Geo. Monitor: Marcus Oliveira

Simulado. Simulado Código de Ética de Enfermagem

ANÁLISE DOS DADOS DE INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR AGRESSÃO A HOMENS NO ESTADO DA BAHIA ENTRE OS ANOS DE 2012 A 2016

TRABALHO E SAÚDE MENTAL. Cargas de trabalho e possíveis transtornos

OS ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAIS BIOLÓGICOS ENTRE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

MARCIANA HOLANDA LIMA NÁDJA MARIA PEREIRA DE DEUS SILVA

BIOSSEGURANÇA EM SAÚDE

Material de apoio para o exame final


SAÚDE E Segurança do trabalho_sst. Prof. Marcus Aurélio

REFLEXÕES A PARTIR DA PESQUISA E DA INTERVENÇÃO SOBRE A INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE

SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA. CONTEÚDO 13: Saúde e Segurança dos Trabalhadores

PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA PERCEPÇÃO DE EMPREGADOS E PRESTADORES DE SERVIÇO PARA A INDÚSTRIA

Solicita esclarecimentos para as seguintes questões:

DEMOGRAFIA MÉDICA 2015 População médica cresce mais que a geral, mas persistem desigualdades na sua distribuição

PARA ENTENDER OS INDICADORES

PROJETO DE LEI Nº 301, DE

PEDIATRIA - CAMPINAS PLANO DE CURSO

Relatório Descritivo Pesquisa do Perfil Organizacional das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher

Métodos Quantitativos para Ciências Sociais Professor: Marcos Vinicius Pó. Categoria O 1 O 2 O 3 O 4 Freqüência

Segurança no Trabalho

MAIORIDADE PENAL JOB IBESPE PESQUISA DE OPINIÃO REGIÃO METROPOLITANA DA BAIXADA SANTISTA MAIO 2013

TÍTULO: QUALIDADE DE VIDA EM PROFISSINAIS DE ENFERMAGEM CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: PSICOLOGIA

Urgência e Emergência. Prof.ª André Rodrigues PORTARIA 2048/2002 MINISTÉRIO DA SAÚDE

COMO ANDA O RIO DE JANEIRO?

Contra a corrente. Evolução recente e desafios da criminalidade no RS Com ênfase em POA. Júlio Francisco Gregory Brunet & Luiz Tadeu Viapiana

E. Acidentes e Violências Horário de Início :

Violência dentro da Escola: a Pesquisa do CNTE

ATLAS DA VIOLÊNCIA. Projeto conjunto do HMMD, FDV e HIAE

Professores no Brasil

Palavras-chave: adolescência, juventude, fatores de risco.

14. Violência contra a pessoa idosa

Perfil das Vítimas e Agressores das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis (Janeiro de 2004 a Dezembro de 2005)

Nº de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos ocupados,

Pesquisa de Satisfação com Beneficiários. (ano base 2018) Formulário Padrão ANS

Boletim Informativo dos Acidentes de Trabalho e Serviço Atualização ( )

Transcrição:

As diferentes formas de violência no trabalho e os males para a saúde do profissional de saúde. A transformação atual do trabalho no Brasil iniciou-se nos anos sessenta, com evolução mais rápida na década de setenta e as subseqüentes, atingindo tanto o setor produtivo da industria de transformação como a área de serviço. A atividade médica, no Brasil, está enquadra na área de serviço. De acordo com o Conselho Federal de Medicina o número de médicos em atividade é de 316.126. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o setor saúde tem em torno de dois milhões de empregos, sendo 54 no setor publico e 46 no setor privado complementar. No nosso país o SUS (Sistema Único de Saúde), conforme determina constituição brasileira, o setor privado pode participar do sistema de saúde de forma complementar. Hoje, o setor complementar privado atende cerca de 4 milhões de usuários, enquanto o setor público é responsável pelos demais 13 milhões de habitantes. Setenta por cento dos médicos brasileiros se concentram na região sudeste do país, por coincidência são os quatros Estados mais desenvolvidos dos vinte e sete. Enquanto que o número de médicos por habitante na região Norte é 139, na região Sudeste 398 médicos por habitante. O Sudeste tem excesso de médicos, enquanto outras regiões faltam médicos. (gráfico) 12 1 8 6 4 2 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste medico/habitante O advento de novos processos tecnológicos, com a robotização dos processos produtivos e a introdução da informativa na área de serviço constitui uma variável importante na mudança das relações de trabalho na área médica. O mercado obrigou o profissional da área de saúde para os novos processos tecnológicos, priorizando a medicina de imagem (ressonância magnética, ultra-som Doppler, etc) em detrimento da medicina mais tradicional. O trabalho médico começou a se vincular ao desenvolvimento técnico cientifico. Neste contexto, surgem as normas formas de organização do trabalho e os novos modelos gerenciais (maneger care e derivações), com a introdução do intermediário entre o médico e o paciente (planos de saúde privado e o próprio Estado). 1

O exercício da arte da pratica medica no Brasil tem se tornado cada vez mais difícil devido a vários fatores responsáveis pelo aumento do estresse profissional, depressão e outras patologias. Entre estes fatores, estão o aumento das empresas que compram serviços médicos ao lado do aumento de novas escolas médicas que proliferam em todo o país, o crescimento do número de profissionais. Outro fator muito presente neste processo são as pressões exercidas a partir da própria clientela para que o atendimento nas unidades (postos e hospitais) de saúde muitas vezes faltam equipamentos básicos para o trabalhador de saúde exercer o seu trabalho com dignidade consiga atender as suas necessidades básica. Como o Estado muitas vezes não dá a resposta necessárias em razão da ausência de médicos, equipamentos adequados ou mesmo de medicamentos, a população de resposta e agride o profissional de saúde, que naquela momento representa no seu imaginário o Estado. As pressões exercidas pelo auditores dos planos de saúde constitui outra variável importante na pressão a que os profissionais médicos estão submetidos. São pressões para que os médicos não utilizem procedimentos considerados mais caros, para o seu lucro seja maior. As pressões e mudanças a que os médicos estão submetidos, não diferem de outras categorias, levando-os a perda da autonomia profissional, rebaixamento salarial, sobrecarga de tarefas, aumento da competitividade, precariedade das condições de trabalho, obrigando-os a buscar, cada vez mais, múltiplos empregos para sobreviver. Cerca de 3 dos médicos brasileiros tem dois empregos, 29 três, 14 tem quatro. Em torno de 5 tem cinco empregos. 5 3 19 Uma 14 29 3 Duas Três Quatro Cinco Mais de cinco Fonte: Pesquisa Perfil dos Médicos no Brasil. Fiocruz/CFM - São Paulo/1995 Outro fato relevante a ressaltar é o crescimento de todas as estatísticas criminais, sobretudo os homicídios, roubos e seqüestros. O crescimento da violência urbana tem sido associada à pobreza e grande penetração do crime organizado no país, sobretudo o ligado ao tráfico de entorpecentes. De acordo com Luís Antônio 2

Francisco de Souza, professor da Faculdade de Sociologia da Universidade de São Paulo e Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, na cidade de São Paulo, no período de 1983-2, observa-se um aumento real de 53,54 no total de registros de ocorrências, acima do crescimento da população, que foi de 18,424. E, assevera o professor Luiz Antônio no seu artigo Direitos Humanos e Violência. A geografia do crime que os profissionais de saúde também não estão isentos desse problema, ao contrário, estão no olho do furação, sobretudo, àqueles que atuam em plantões de prontos socorros. Neste contexto, foi realizada uma ampla pesquisa sobre violência no local de trabalho pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo, na cidade de São Paulo. A referida pesquisa está sendo ampliada pelo Federação Nacional dos Médicos abrangendo todo o país e cujo objetivo fundamental era traçar m perfil dos médicos e das condições de trabalho a que estão submetidos. Foram duas pesquisas (em 2 e 22) realizada para avaliar a sobrecarga a que estão submetidos cotidianamente e as queixas mais freqüentes destes profissionais. Foram detectados vários fatores de risco a que estão expostos em seu local de trabalho e entre estes, revelou-se alta a incidência de diferentes formas de violência a que estão submetidos no exercício laboral. São fatos que muitas vezes permanecem em silencio por vários motivos. Entre eles, destacamos o medo e vergonha de serem estigmatizados. Fenômenos fortemente inserido no cotidiano das grandes áreas metropolitanas do Brasil, a violência constituiu-se, no s últimos anos, em uma dos principais temas de debates e controvérsias acerca da estrutura das sociedades urbanizadas, sendo objeto de análise nas mais diversa áreas de conhecimento, que têm se empunhado deslindar as variáveis das quais a violência é função. Tal como nos demais centros urbanos, a violência tem se manifestado nos mais diversos locais da capital paulista, não se excetuando, ultimamente, locais que eram tradicionalmente considerados de baixo risco como os estabelecimentos de saúde, hospitais, prontos socorros, ambulatórios e assemelhados. A metodologia utilizada foi uma pesquisa semiaberta. Enviamos aleatoriamente um questionário para médicos da cidade de São Paulo, procurando respeitar as proporções populacionais entre homens e mulheres profissionais da medicina. Nenhum dos colaboradores do presente estudo compôs a amostra de 2. Colaboraram respondendo à pesquisa 65 médicos. De acordo com o cadastro eletrônico do Sindicato dos Médicos de São Paulo, existiam, na época, 37.463 médicos ativos na cidade. Portanto, a amostra selecionada corresponde a 1,75 da população de médicos da capital paulistana O gráfico abaixo apresenta a distribuição em percentual de relatos de pelo menos uma ocorrência de violência no local de trabalho. Observa-se que a proporção de não ocorrência (59) é maior do que a ocorrência (41). No entanto, é uma índice extremamente alta e preocupante. 3

59 6 5 4 3 2 1 Não Relato de Ocorrência Sim 41 Desconsiderando-se os relatos de violência cujo tipo foi ameaça, observa-se no próximo 2, que 21,2 dos médicos relataram a ocorrência de violências comumente consideradas mais graves (assalto e agressão física). Embora seja substancialmente menor do que o percentual apresentado no gráfico anterior, o percentual de ocorrência de violências graves deve ser considerado extremamente alto. 78,8 8 7 6 5 4 3 2 1 21,2 Não Sim Relato de Ocorrência Gráfico. 2 - Distribuição, em percentual, de relatos de pelo menos uma ocorrência de violência, exceto as do tipo Ameaça. O gráfico 3 representa a distribuição, em percentual, dos tipos de violências relatadas. Observa-se que quase a metade dos relatos forma do tipo ameaça (48,36). O segundo tipo de violência mais freqüente foi assalto (26,18), seguindo pelo tipo de agressão física. Reflete o crescimento da violência da sociedade nos últimos anos pelo aprofundamento da pobreza e crime organizado. Decorre evidentemente pela ausência de política publicas na área de saúde, educação, esportes que atinjam a população mais carente, direcionando-as para o crime organizado. 4

48,36 5 4 3 2 26,18 14,91 1,55 Ameaça Assalto Agressão Física Outros 1 Tipo de Violência Gráfico 3 - Distribuição, em percentual, dos tipos de violência relatados. A categoria Outros, de menor incidência, inclui: seqüestro-relâmpago, agressão verbal e furto. Pode-se observar no gráfico abaixo, comparando-se o presente estudo com o realizado por Oliveira & Tomé (2), que o percentual de relatos de ocorrência de seqüestro-relâmpago saltou de 5,26 para 24, 14 das violências de menor incidências, o que corresponde um aumento de 358. Seqüestro-relâmpago é uma modalidade de crime, onde o meliante seqüestra a vitima por curto período de tempo, obrigando-o a retirar dinheiro em caixa eletrônico. Esse tipo de violência ocorre quando o médico se desloca, em seu veiculo, de um emprego para outra. No Brasil qualquer acidente no percurso entre um emprego a outro é considerado acidente de trabalho. 25 2 24,14 15 1 5 5,26 Em 2 Em 22 Seqüestro-Relâmpago A freqüência de relatos quanto ao local de ocorrência de violência (gráfico 4), revelou que a incidência de violência é maior em Hospitais Públicos em relação aos Hospitais Privados. É importante observar que na cidade de São Paulo, a urgência e emergência é feita essencialmente pelos hospitais públicos. Esses hospitais, provavelmente, tem uma incidência maior em razão de albergar péssimas condições de trabalho, ausência de médicos, em particular nas regiões mais periféricas, falta de medicamentos, etc. A população revolta pelas péssimas condições de atendimento, revoltam-se e agridem o profissional de saúde que está na ponta, como o médico, enfermeira e outros. 5

77,1 8 7 6 5 4 3 2 1 Local 22,9 Hospital Público Hospital Privado Gráfico 4 Distribuição, em percentual, do número de relatos quanto ao local de ocorrência de violências. Já a distribuição, em percentual, das unidades de saúde para as quais foram relatadas, ocorrências de violências é representada no gráfico 5, onde se constata uma alta porcentagem de ocorrências (61.19) na unidade do Pronto Socorro; percentagem menor é observada em ambulatórios (21,64). Coincide com a afirmativa do pesquisador de Universidade de São Paulo citado anteriormente que o maior incidência de violência que acomete o profissional de saúde ocorre na Pronto Socorro. Local, naturalmente tenso, em função da tipo de atendimento, torna-se mais violento quando potencializado pelas péssimas condições de trabalho. 7 61,19 6 5 4 3 21,64 17,17 Ambulatório Consultório Pronto Socorro 2 1 Unidade Gráfico 5. Os profissionais da saúde trabalham expostos a riscos ocupacionais, tais como: agentes biológicos (vírus, bactérias, fungos, etc.), físico (ruído, radiação), químicos (anestésicos) e mecânicos. Além desse tipo de exposição clássica, hoje, surge um novo fator de risco: a violência. Há uma sobrecarga física que afeta o organismo, seu tempo biológico, suas necessidades orgânicas, à qual associa-se a sobrecarga psíquica. Além dessa sobrecarga física e psíquica, a violência naturalmente deixa marca importante na saúde do trabalhador. Por isso, a pesquisa buscou conhecer quais as principais seqüelas decorrentes desse tipo de evento infortunistico. 6

O gráfico abaixo mostra que a violência em si deixa seqüela decorrente da violência. Observa-se que a violência deixou marcas em 39,3 das vitimas acometidas de algum grau de violência, sendo 25,85 com seqüelas de natureza mental/psicológica, 2,93 com seqüelas de natureza física e 1,25 com seqüelas de ambas as naturezas. 7 6,97 6 5 4 3 2 1 2,93 25,85 1,25 Nenhuma Física Mental/Psicológica Ambas Seqüelas de Violências As seqüelas mais relatadas foram: ansiedade, depressão, transtorno do pânico, insônia e crise hipertensiva. O gráfico 7 mostra a distribuição, em percentual, médicos que as relatam, considerando-se que um mesmo médico pode relatar mais de um tipo de seqüela. Foram relatadas doenças como taquicardia, gastrite, escoriações, distúrbios neurovegetativo e crises obsessivas. 35 31,25 3 25 2 15 1 23,75 17,5 12,5 7,5 Ansiedade Depressão Trans. Pânico Insônia Crise Hipertensiva 5 Tipos de Seqüelas Das vitimas de violência, 2,48 precisaram de atenção médica (o que corresponde a 52,5 das vítimas com seqüelas). Ademais, 14,15 precisaram fazer uso de algum medicamento (o que corresponde a 36, 25 das vitimas com seqüela). E 13,66 das vítimas tiveram incapacidade temporária para o trabalho (o que corresponde a 35 das vítimas com seqüelas). 7

Apesar da obviedade da pergunta, foi solicitada a opinião do pesquisado quanto às causas da violência que teria sofrido. Dentre os médicos colaboradores do estudo, 14,63 consideraram como principal motivo da violência as precárias condições de atendimento ao publico devido às péssimas condições de trabalho ; 24,39 dos médicos atribuem a violência principalmente a desigualdade social, que acaba originando a criminalidade. E o maior percentual (47,81) atribui a violência a ambos os motivos. Ver gráfico abaixo. 47,81 5 45 4 35 3 25 2 15 1 5 24,39 14,63 Motivos da Violência 13,17 Condições de Trabalho Desigualdade Social Ambas Não Sabe/Outras Na análise dos resultados, pode-se vislumbrar a gravidade desse quadro. Revelou também um alto grau de tensão entre o profissional de saúde e a população usuária do serviço publico. Há uma predominância da violência em Hospitais Públicos e neste jogo de tensões. Neste contexto, é possível inferir que a comunidade carente ao adentrar no Hospital Público em busca de assistência, deparando-se com as precárias condições de atendimento, vê no médico o representante do Estado. Além das precárias condições de trabalho, o médico e demais profissionais de saúde submete-se também a tensão provocada pelo crescimento da violência urbana, que vem crescendo, hoje atingindo também cidade do interior do país. O mapa da violência dos Municípios Brasileiros, elaborado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura e o Ministério da Saúde do Brasil revelou que um conjunto de cidades que equivale a penas 1 por cento dos 5.56 municípios brasileiros concentrou 71,8 por cento dos homicídios registrados no país, segundo dados de 24. O Financial Times em recente artigo aponta que a violência física e psicológica no local de trabalho está aumentando em todo o mundo e atingiu "níveis epidêmicos" em muitos países industrializados, segundo um estudo publicado ontem pela Organização Internacional do Trabalho. Profissões antes consideradas "seguras", como magistério, serviços sociais, serviços de biblioteca e tratamento de saúde hoje sofrem níveis crescentes de violência física, tanto nos países ricos como nos pobres, diz o estudo. Diante dessa preocupação, a Federação Nacional dos Médicos em conjunto com a academia está realizando uma pesquisa nacional para melhor dimensionar o grau de violência que acomete os profissionais de saúde no Brasil, em particular os médicos. 8