Relevância e Irrelevância da Economia Marxiana

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Transcrição:

Relevância e Irrelevância da Economia Marxiana Michael Heinrich Referência: The Relevance and Irrelevance of Marxian Economics in: New School Economic Review, Vol. 1, No. 1, Fall 2004, pp. 83-90 Traduzido por Bruno Miller Theodosio 1 Durante o último século, o pensamento marxiano foi apresentado como uma ideologia de totalidade, uma Weltanschauung (visão de mundo) chamada marxismo ou marxismoleninismo. O processo de produção dessa ideologia se iniciou nos populares escritos do Engels maduro, quem não apensar apresentou a versão popular da teoria marxiana, como também tentou satisfazer o desejo de partes crescentes das classes trabalhadoras a terem sua própria visão de mundo, a qual se distinguia das visões dominantes da sociedade burguesa. A transformação da teoria marxiana em uma Weltanschauung foi imposta pelos partidos socialdemocratas do fim do século XIX, os quais precisavam de fórmulas curtas e breves descrições como armas de propaganda. Este processo continuou nos escritos de Lenin e culminou, após sua morte, no marxismo-leninismo : uma imagem determinista da história, uma visão econômica da sociedade e uma compreensão mecânica da dialética como um conjunto eterno de "leis de desenvolvimento" - construções que serviram, sobretudo, como instrumentos de justificação ideológica para a política dos partidos comunistas. A partir do começo dos anos 1920 a crítica foi levantada contra tais construções dogmáticas. O foco econômico e o determinismo histórico foram atacados por diferentes intelectuais de esquerda, atualmente muitas vezes reunidos sob o rótulo de Marxismo ocidental. Mas o que não foi questionado por décadas foi a teoria econômica do marxismo tradicional: sua transformação de Crítica da Economia Política de Marx em Economia Política Marxista. Apenas após os anos de 1960 que tais críticas surge, as quais ocorreram com diferentes pontos de partida e desenvolvimentos em muitos países diferentes. Reflexões metodológicas se tornaram importantes para o entendimento de O Capital de Marx. A questão não era apenas qual era o conteúdo de certa categoria, mas também qual o é a conexão interna das categorias. As questões colocadas foram, em que nível de abstração

eles trabalham? Qual é a construção de toda a teoria, qual é a estrutura de argumentação? Como parte desse repensar, os escritos preparatórios de O Capital foram levados em consideração: Teorias da Mais-valia, Resultados imediatos do Processo de Produção e, sobretudo, os Grundrisse, que se tornou o texto central pelo famoso estudo de Roman Rosdolsky. Estas novas discussões influenciaram profundamente o entendimento (econômico) das categorias de Marx e tornou-se claro como a Economia marxiana não é algo quase pronto, que poderia ser descoberta nos três volumes de O Capital. Muitos autores chegaram à conclusão que a teoria marxiana precisa de uma reconstrução, a qual não apensas pode referir-se ao O Capital, mas também a outros escritos como os Grundrisse. Nos anos 70 e 80 estas discussões foram especialmente intensas na Alemanha ocidental o livro de Rosdolsky foi publicano na Alemanha no fim dos anos 60, muitos anos antes da tradução para o inglês. Estas discussões tiveram apoio da segunda MEGA (Marx Engels Gesamtausgabe). Após a tentativa de desenvolver uma edição completa nos anos 1920 como um projeto Russo-alemão, que foi interrompido nos anos 30 pelo fascismo e stalinismo, uma nova MEGA começou nos anos 70 como uma cooperação entre a Alemanha (oriental) e a URSS. A nova MEGA apresentava não apenas textos conhecidos como os Grundrisse em uma versão muito melhor, mas também muitos textos não publicados, rascunhos e cartas. Até recentemente importantes textos foram publicados pela MEGA, isso inclui, no início de 1990, os manuscritos do Volume III de O Capital, que diferem em aspectos importantes do texto, o qual foi editado por Engles após a morte de Marx. Mas, junto ao aumento do número de textos que eram estudados, a visão, a perspectiva na qual esses textos eram lidos, mudou. Na visão tradicional, Marx era visto como um grande economista, apresentando um modelo alternativo à Economia Política. Para uma Economia Política Marxista, a teoria do valor-trabalho deveria explicar a relação de troca das mercadorias, a teoria da mais-valia deveria provar a exploração dos trabalhadores; o desenvolvimento do capitalismo deveria ser descrito pela lei de acumulação e pela lei de tendência de queda da taxa de lucro. Nesta visão Marx parece dar diferentes respostas, mas, groso modo, elabora as mesmas perguntas que Adam Smit, David Ricardo e os outros economistas do século XX. Além disso, as apresentações mais sutis da Economia Marxiana era moldada por uma imagem comum de Marx, como a de Paul Sweezy e Ronald Meek, que foram muito influentes durante os anos 50 e 60. Mas, nessa figura dois pontos muito cruciais 1 Bruuno.mt@gmail.com

eram omitidos: o sentido marxiano de crítica e a importância que Marx deu à análise das formas. O subtítulo de O Capital é Crítica da Economia Política e com esse subtítulo Marx não significa apenas a crítica a certas teorias ou certos economistas.com certeza, podemos encontrar esses tipos de críticas n O Capital, mas a crítica a outros autores é uma prática bastante normal na ciência. Se Marx tivesse apenas esse tipo de crítica em mente, o subtítulo seria um pouco exagerado. Mas, não é acidental esse subtítulo Crítica da Economia Política nos remeta a um famoso título da literatura filosófica europeia: Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant. Esta foi uma crítica não só de pessoas ou escolas específicas, mas também uma crítica ao pensamento filosófico o que era visto como Filosofia anteriormente a Kant no geral. De modo parecido, Marx tinha a intenção de criticar as fundações da Economia Política. Ele não apenas criticou teorias ou resultados singulares, que eram alcançando pelos outros. Ele tentou criticar as formas de pensar, as fundações conceituais, que eram aceitas por diferentes escolas econômicas. Este ponto se torna claro a partir de uma passagem ao final do primeiro capítulo de O Capital, que versa sobre a mercadoria: A Economia Política analisou, de fato, embora incompletamente, valor e grandeza de valor e o conteúdo oculto nessas formas. Mas nunca chegou a perguntar por que esse conteúdo assume aquela forma [...] (Capital. Vol.1 Os Economistas PDF pág. 194). Marx criticou não só as respostas, acima de tudo, ele criticou as perguntas da Economia Política. Ele criticou o que a Economia Política pressupunha por rotina: a forma dos processos sociais. Análogo à Economia Política, também o marxismo tradidicional foi principalmente ocupado com o conteúdo das categorias econômicas, negligenciando sua dimensão formal. Em relação ao valor, o marxismo tradicional focava sua dependência ao trabalho. De fato, em muitas apresentações da teoria do valor marxiana apenas as cinco ou seis primeiras páginas do Capítulo I de O Capital pareciam ser importantes. A extensivas análise da forma-valor, que constitui a maior parte do capítulo I era largamente negligenciada ou era mal lida como um caminho abreviado na história do desenvolvimento do dinheiro. A visão do capitalismo apresentada pelo marxismo tradicional é bastante simples. Ela pode ser usada para afetar sentimentos morais sobre exploração, mas visões analíticas mais profundas são muito limitadas. Isso se torna bastante óbvio, especialmente quando modernos desenvolvimentos como um sistema monetário sem a mercadoria-dinheiro, ou o sistema

financeiro globalizado entram em perspectiva. A visão do marxismo tradicional é realmente irrelevante para a compreensão das mudanças do capitalismo mundial contemporâneo. Mas, temos um quadro diferente quando a Economia Marxiana é concebida como a crítica das categorias econômicas centrada na análise das formas. As diferenças podem ser delineadas de forma muito breve em relação ao dinheiro. Na visão marxista tradicional, o principal era mostrar que o valor de uma mercadoria é dependente da quantidade de trabalho incorporado. O dinheiro conta apenas como meio de circulação. O dinheiro aparece com uma ferramenta útil na vida cotidiana, mas parece ser desnecessária à investigação das relações básicas da economia. Esta é essencialmente a mesma visão do dinheiro das teorias da economia clássica ou neoclássica. Assim como os economistas burgueses, muitos marxistas apenas salientaram as diferentes funções do dinheiro, tomando como certo o ponto de partida e negligenciando a análise muito mais sutil de Marx. Marx também apresentou as funções do dinheiro, mas isso é capítulo três d O Capital depois de ele já ter lidado com o dinheiro nos dois primeiros capítulos. O capítulo um oferece uma análise da forma-valor, que resulta na formadinheiro não dinheiro, mas forma-dinheiro. A proposição central aqui é que o valor precisa de uma forma de valor independente. Mas, para expressar a generalidade do valor, a forma-dinheiro do valor é necessária então, a existência do valor é impossível sem a formadinheiro. A análise da forma-valor lida apenas com as formas econômicas e não com as ações econômicas. Essa é a questão do segundo capítulo, o comportamento dos possuidores de mercadorias. A lógica da forma impõe alguns comportamentos acontecerem: os possuidores de mercadorias têm de usar algo como dinheiro real, uma coisa real, que é, por ação dos possuidores de mercadorias, uma forma-dinheiro. Não está na forma de dinheiro como resultado planejado e previsto pelos possuidores de mercadorias, mas como um resultado natural da ação das pessoas, que seguem a racionalidade de se comportar como possuidores de mercadorias. Esta estrutura, no entanto, não é transparente para eles, eles agem sob condições fetichizadas: o fetiche da mercadoria continua até o fetiche do dinheiro. Apenas depois de lidar com a forma dinheiro, e então com o dinheiro real como um resultado da ação dos possuidores de mercadorias (liderado pela lógica das formas do valor), Marx apresenta as funções do dinheiro. A argumentação esboçada para o dinheiro, que é muitas vezes

negligenciada, fornece uma relação muito mais próxima entre o valor e o dinheiro que qualquer outra teoria econômica, então, a teoria do valor marxiana é essencialmente uma teórica monetária do valor. O papel proeminente do dinheiro não se restringe à relação do valor e dinheiro. Quando Marx explica o capital como valorização do valor ele insiste no papel decisivo do dinheiro, expresso na fórmula D M D. No segundo volume de O Capital, uma questão central é o problema monetário de realização da mais-valia e no volume três a análise do juro e do crédito é uma das seções mais importantes. Aqui nós podemos encontrar o núcleo de uma teoria do crédito como um caminho inconsciente de regulação da produção e acumulação capitalistas. Particularmente, este último ponto significa que o crédito não é apenas um aspecto adicional da produção capitalista, isso significa que a produção capitalista como uma relação dominante de produção é impossível sem um sistema de crédito desenvolvido. Uma teoria do valor monetária pode mostrar não apenas que o valor não existe sem dinheiro, mas pode mostrar alinda que o capital não existe sem crédito, na medida em que valor e capital estão dominante as atividades econômicas. Uma outra parte importante da economia marxiana é a teoria da crise. As teorias Clássicas e Neoclássicas supõem que as economias de mercado são inerentemente estáveis. Isto é suposto, que os mercados tendem a um equilíbrio, se não há perturbações externas. Marx tenta mostrar que o contrário é verdadeiro: em uma economia capitalista nós encontramos uma instabilidade inerente, que não vem de fora, mas está nas estruturas básicas do próprio capitalismo. Na visão tradicional do marxismo, a causa da crise muitas vezes é vista na chamada lei tendencial da queda da taxa de lucro, que Marx tentou provar no volume três de O Capital. No passado, a consistência lógica da argumentação de Marx neste lei foi fortemente atacada. No meu ponto de vista, esta lei não pode mais se sustentar. Mas, esta perda não causa danos à teoria da crise. Uma teoria do valor monetária não apenas mostra o caminho para se analisar o capital e o crédito como um todo inseparável, nos dá também uma teoria da crise, que começa com o argumento de Marx no volume um de O Capital, que a mais geral possibilidade de crise é dada com a existência do dinheiro (cf. Capital. Vol.1 Os Economistas PDF pág. 224). Esta é uma abordagem que é negligenciada pela maioria da literature marxista tradicional. Mas, essa abordagem pode ser continuada em uma teoria do

crédito, levando à interação dos processos de produção e das finanças, que necessariamente produz crise. Assim, as simples ideias da tradicional Economia Política Marxista, centradas no valor e na exploração e fortemente dependentes da falsa lei tendencial da queda da taxa de lucro, não nos ajudam muito a entender o capitalismo contemporâneo. Mas a Crítica da Economia Política, centrada na análise das formas, fetichismo e em uma teoria monetária do valor e do capital podem nos ajudar muito.