INVESTIGAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS E DIELÉTRICOS DE UMA SUSPENSÃO E DE PARTÍCULAS DE ÓXIDO DE FERRO

Documentos relacionados
COMPORTAMENTO DIELÉTRICO DE NANOFLUIDOS DE ÓXIDO DE ZINCO EM ETANOL

Aula 02 (Revisão): Ligação Química e Estruturas Cristalinas

ESTUDO DAS PROPRIEDADES ESTRUTURAIS DE ALUMINATOS DE COBALTO NÃO ESTEQUIOMÉTRICOS DE ESTRUTURA TIPO ESPINÉLIO

PROPRIEDADES ESPECTRAIS DE MINERAIS E ROCHAS

4 Resultados Análise das soluções sólidas: Cr 2x Fe 2-2x Mo 3 O 12, Al 2x Cr 2-2x Mo 3 O 12, e Al 2x Fe 2-2x Mo 3 O 12.

5 Discussão de resultados 5.1. Variação dos parâmetros de rede com a composição (x)

Prof. Willyan Machado Giufrida Curso de Engenharia Química. Ciências dos Materiais. Comportamento Elétrico

Aula 02 Propriedades Gerais dos Materiais

Estruturas cristalinas - Reticulado cristalino

Propriedades dos sólidos metálicos. Ligas metálicas

Palavras chaves: Ferritas, reação de combustão, magnetismo.

Seminarios de Ressonância Magnetica Nuclear

Métodos Físicos de Análise - ESPECTROFOTOMETRIA NO INFRAVERMELHO

Materiais de Engenharia Michel Ashby e David Jones Copyright Elsevier, 2018

CMS-301 Física do Estado sólido

30 Exercícios Resolvidos CAPÍTULO 3 ESTRUTURA CRISTALINA

Física dos Materiais FMT0502 ( )

CMS Física do Estado sólido

LISTA DE EXERCÍCIOS 6 1 (UNIDADE III INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DOS MATERIAIS)

SISTEMA HEXAGONAL SIMPLES

Propriedades dos sólidos metálicos. C. E. Housecroft, cap. 6

INDICE GERAL. xv xvii. Nota dos tradutores Prefácio

ESTUDO DE PROPRIEDADES ELETRÔNICAS DE NANOFIOS SEMICONDUTORES DE InAs

CINÉTICA DE EVAPORAÇÃO DO ÓXIDO DE ZINCO. N. Duarte 1, W.B. Ferraz 2, A.C.S.Sabioni 3. Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto, Brasil

Defeitos em Cristais Iônicos. Prof Ubirajara Pereira Rodrigues Filho

Física do Estado Sólido: Sólidos Condutores

A TEMPERATURA DE CURIE E O PARÂMETRO DE REDE DAS FERRITES DE Mn-Zn COM DIFERENTES TEORES DE ÓXIDO DE FERRO.

Resistividade A A R A Equação 2

SOBRE A COR, CENTROS DE COR E TRATAMENTOS DE COR NA BRASILIANITA. Prof. Klaus Krambrock

Aula 01 Propriedades Gerais dos Materiais

SÍNTESE DE PIGMENTOS DE ALUMINA/FERRO RESUMO

Fisico-Química da Redução de Óxidos de Ferro

Medição de temperatura. Dr. Evandro Leonardo Silva Teixeira Faculdade Gama

4 Resultados e discussão Parte II: N

4- IMPERFEIÇÕES CRISTALINAS

Síntese e Caracterização de Óxidos Nanoestruturados: Óxidos de Vanádio

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Unidade 4 ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS

INVESTIGAÇÃO DOS EFEITOS DAS IMPUREZAS ALCALINAS E HIDROGÊNIO NO QUARTZO SUBMETIDO À ELETRODIFUSÃO E RADIAÇÃO IONIZANTE

Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais 1º semestre de Informações e instruções para a resolução da prova

Momento Magnético Momento de Dipolo

Síntese e Caracterização dos Compósitos de Fosfato Dicálcio Anidro/Óxido de Silício e avaliação da estabilidade química

PROPRIEDADES TÉRMICAS E ÓPTICAS DOS MATERIAIS

3/14/2017 LOM RESISTIVIDADE. Profa. Dra. Rebeca Bacani LOL 3230 Métodos Experimentais da Física III

PREPARO DE FILMES CONTENDO ACETILACETONATO DE ALUMÍNIO. PREPARATION OF FILMS CONTAINING ALUMINIUM ACETYLACETONATE.

DIFUSÃO. Conceitos Gerais

Ligações químicas e estrutura dos materiais

PROPRIEDADES MAGNÉTICAS E DIELÉTRICAS DE COMPÓSITOS DE Y 3 Fe 5 O 12 CaCu 3 Ti 4 O 12.

Investigação da Condutividade Térmica de Suspensões de Grafite Disperso em Blendas de Etileno Glicol e Glicerol

Ligações Químicas Foz do Iguaçu, 2017

Análise da Temperatura de Curie em Niobatos Ferroelétricos por Espectroscopia de Absorção no Infravermelho

ARRANJOS ATÔMICOS. Química Aplicada. Profº Vitor de Almeida Silva

SFI 5800 Espectroscopia Física. Infravermelho distante (FIR)

Preparação de catalisadores de óxido de cobalto suportado em zircônia para reação de deslocamento do vapor de água em alta temperatura

Universidade Estadual de Ponta Grossa PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO DIVISÃO DE ENSINO

Cap. 41 -Condução de eletricidade em sólidos

Espectroscopia no IV

Análise do Potencial Catalítico do Óxido de Alumínio Dopado com Európio (III) na produção de Biodiesel via Rota Etílica

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

ENGA47 TECNOLOGIA DOS MATERIAIS CAPÍTULO 04 MATERIAIS DIELÉTRICOS E APLICAÇÕES

Esta folha de exercícios tem por objetivo, fazer uma revisão geral de tópicos fundamentais da disciplina de Materiais Elétricos.

INVESTIGAÇÃO DAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS A ALTA TEMPERATURA DA CERÂMICA DE ÓXIDO NIOBATO DE ESTRÔNCIO E POTÁSSIO DOPADO COM FERRO

Semicondutores são materiais cuja condutividade elétrica se situa entre os metais e os isolantes

ELETROQUÍMICA. Prof a. Dr a. Carla Dalmolin

ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS CAP. 03 Parte II

Princípios de Circuitos Elétricos. Prof. Me. Luciane Agnoletti dos Santos Pedotti

Tecnicas analiticas para Joias

ISOLANTES. Disciplina: Materiais Elétricos Prof a : Sheila Santisi Travessa

A INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CURIE DE FERRITAS DE Mn-Zn NA ABSORÇÃO DE ENERGIA NA FAIXA DE MICROONDAS.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Eletromagnetismo Aplicado

Sólidos: Estudo de Estruturas Cristalinas

DETECTORES DE RADIAÇÃO

estrutura atômica cristalino

ESTADOS EXCITADOS: fonões, electrões livres

Espectroscopia de Impedância Electroquímica

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ALGINATO DE SÓDIO - TiO 2

PMT Fundamentos de Ciência e Engenharia dos Materiais 2º semestre de 2014

PROPRIEDADES DOS SÓLIDOS ESTRUTURA E TIPO DE LIGAÇÕES

Regra do Octeto: (Lewis e Koosel)

PROVA DE SELEÇÃO DOUTORADO PPGEM UFES /01. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Ciência e Engenharia dos Materiais. LINHAS: Materiais avançados e Tribologia

Capítulo 12 Detectores continuação III

Questão 01 - Em qual região do espectro você encontraria uma banda C=C?

Preparação e caracterização da fase La 2 MoO 6. R. A. Rocha, E. N. S. Muccillo

ESTRUTURA DOS SÓLIDOS

VALIDAÇÃO DO ALGORITMO DE IMPEDÂNCIA PARA A CARACTERIZAÇÃO ELETROMAGNÉTICA DO COMPÓSITO FERRITA E CIMENTO

ELETROQUÍMICA. Prof a. Dr a. Carla Dalmolin

Estrutura de Sólidos Cristalinos. Profa. Dra Daniela Becker

Condutores e isolantes

Propriedades Elétricas dos Materiais Cerâmicos

Correlação entre Microestrutura, Resistência à Tração e Resistência à Corrosão. Campinas, 2010.

Estruturas baseadas na HC Wurtzita ZnS

3 N(4) metil tiossemicarbazonas derivadas de 4- nitrobenzaldeído e 4-nitroacetofenona: estudos estruturais

Química Bio-inorgânica - roteiro de aulas

Lista de Exercícios 01/02 Ligações químicas e Classificação dos materiais

Física Experimental III

Ligação metálica corrente elétrica

Ensaios e propriedades Mecânicas em Materiais

02/10/2013. Ewaldo Luiz de Mattos Mehl. Departamento de Engenharia Elétrica

Fundamentos de Ciência e Engenharia de Materiais Prof. Dr. André Paulo Tschiptschin

ESTRUTURA CRISTALINA 1

Transcrição:

INVESTIGAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS E DIELÉTRICOS DE UMA SUSPENSÃO E DE PARTÍCULAS DE ÓXIDO DE FERRO I. A. O. Brito, M. R. M. S. Junior, G. D. F. Silva, A. R. F. Lima, F. S. Bellucci, L. O. Salmazo, M. A. L. Nobre Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT, UNESP C.P. 467, CEP 19060-900, Presidente Prudente SP, Brasil. iarabrito5@hotmail.com Departamento de Física, Química e Biologia Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais LaCCeF RESUMO Neste trabalho foi realizada a caracterização elétrica e dielétrica de uma suspensão de óxido de ferro em butoxietanol. A caracterização elétrica e dielétrica foi realizada utilizando-se espectroscopia de impedância. As medidas foram realizadas no intervalo de freqüência entre 5 Hz e 13 MHz com potencial de 500 mv. O butoxietanol foi utilizado como fluido hospedeiro para as partículas de óxido de ferro. Os parâmetros resistência e capacitância da suspensão foram modelados por ajuste via circuitos elétricos equivalentes. Foram determinados 23 parâmetros elétricos e dielétricos da suspensão. Palavras-chave: Espectroscopia de impedância, suspensões, óxido de ferro. 175

INTRODUÇÃO O óxido de ferro apresenta diversas aplicações tecnológicas, em uma série de áreas, tais como auto-catalisador para tratamento de água e efluentes, resinas de troca iônica, agente anti-corrosivos, pigmentos, dispositivos magnéticos, sensores de umidade e catalisadores. A hematita (α-fe 2 ) é a forma do óxido de ferro de maior interesse comercial devido à sua estabilidade térmica, não toxicidade e boa resistência à corrosão [1]. O α-fe 2 é um material antiferromagnético à temperatura ambiente, com estrutura hexagonal compacta, apresentando temperatura de Curie em torno de 956 K (2-6). No intervalo de temperatura entre 263 e 956 K, a estrutura do α-fe 2 consiste de camadas hexagonais compactas [4, 5] de átomos de oxigênio, empilhadas perpendicularmente ao eixo cristalográfico z. Cátions Fe 3+ ocupam dois terços dos interstícios octaedrais. Uma das faces do octaedro FeO 6 apresenta uma pequena distorção, gerando um deslocamento regular de íons Fe3+ [6]. Assim, a formação de uma camada de íons Fe 3+ entre as camadas de átomos de oxigênio é viabilizada. A distorção das faces octaedrais e a ausência de ligações secundárias, do tipo ponte de hidrogênio, promovem uma estrutura compacta com densidade em torno de 5,26 g/cm 3 [1]. Algumas das propriedades elétricas da hematita têm sido descritas em alguns estudos teóricos e experimentais [1]. Dois modelos de condução eletrônica no α-fe 2 têm sido reportados, o modelo de elétron localizado e o de transporte via bandas [1]. No modelo de condução eletrônica localizada, a condução elétrica baseia-se em níveis eletrônicos espacialmente localizados, associados ao Fe(3d), no qual o elétron é transferido de um íon de ferro para outro. Neste caso, o elétron move-se através dos íons ferro de valência II/III (condutividade do tipo-n) [1]. O α-fe 2 mostra transição no mecanismo de condução do tipo-n para o tipo-p. Neste caso, elétrons apresentam maior mobilidade abaixo de 1073 K e os buracos acima desta temperatura [3,5]. A altas temperaturas o α-fe 2 apresenta uma transição no mecanismo de condução do tipo-n para o tipo-p [3]. Essa transição é atribuída a diferentes mobilidades de elétrons e buracos eletrônicos, onde elétrons apresentam maior mobilidade abaixo de 1073 K e os buracos acima desta temperatura. 176

As propriedades elétricas da hematita têm sido estudadas através da técnica de espectroscopia de impedância, que tem sido utilizada na caracterização de cerâmicas semicondutoras, cerâmicas ferroelétricas e antiferroelétricas [7-10]. A grande vantagem da espectroscopia de impedância é que, com a análise adequada dos dados é possível caracterizar os elementos eletricamente ativos de diferentes regiões em um material. Neste trabalho foram investigadas, utilizando-se a técnica de espectroscopia de impedância, as propriedades elétricas e dielétricas da suspensão de óxido de ferro em butoxietanol. Os parâmetros resistência e capacitância foram calculados por ajustes teóricos dos dados experimentais via programa numérico EQUIVCRT. Os parâmetros estruturais foram investigados por difratometria de raios X. MATERIAIS E MÉTODOS Preparação da suspensão A suspensão de partículas foi preparada utilizando 1% em peso de partículas de Fe 2 suspensas em 2-butoxietanol, a mistura foi homogeneizada em ultra-som durante 1 min. A caracterização elétrica das suspensões foi realizada em um intervalo máximo de 30 min, evitando um eventual processo de sedimentação. Periférico de caracterização elétrica A célula de caracterização dielétrica para líquidos e suspensões possui geometria cilíndrica e forma um capacitor tipo coaxial. A célula é constituída de 6 peças cilíndricas de alumínio e nylon. Em alumínio têm-se o eletrodo externo no formato de um copo, o anel interno, o eletrodo interno e o anel de guarda, responsável pelo aterramento. Em nylon têm-se a base para o eletrodo interno e a tampa da célula além de 2 anéis de isolamento acoplados ao anel interno e ao anel de guarda. O fator geométrico da célula de caracterização foi determinado pela relação 2 L )/ln( R E / R ) onde R i é o raio da armadura cilíndrica interna, R E é o raio da ( i armadura cilíndrica externa e L representa o comprimento das armaduras da célula. 177

O espaçamento entre os eletrodos é de 5 mm e o fator geométrico é igual a 0,3235 m [11]. Caracterização Dielétrica por Espectroscopia de Impedância A caracterização elétrica das amostras foi realizada por espectroscopia de impedância utilizando uma célula de caracterização dielétrica tipo capacitor coaxial acoplado a um analisador de impedância Novocontrol modelo α-analyser. O intervalo de freqüência em que as medidas foram realizadas foi de 5 Hz a 13 MHz (precisão de 0,01%), com um potencial aplicado de 500 mv em temperatura ambiente e umidade relativa do ar controlada em 46% [11]. Esta técnica consiste em submeter a amostra a uma tensão senoidal V( ) V0 exp j( t), monitorando-se a resposta uma corrente alternada I ( ) I 0 exp j( t ), onde, é o ângulo de fase entre a tensão e a corrente e é a freqüência angular ( 2f ). Assim, a impedância Z*( ) pode ser escrita conforme a Equação (A): V ( ) V0 exp j( t) * * Z *( ) Re( Z ) j Im( Z ) Z'( ) jz"( ) (A) I( ) I exp j(. t ) 0 onde, Re(Z*) é a parte real, Im(Z*) a parte imaginária da impedância Z*(ω), j é o operador imaginário 1 e o ângulo de fase. A freqüência correspondente ao ponto máximo do gráfico de impedância, Z (ω) versus Z (ω) é conhecida como freqüência linear característica (f 0 ) determinada pela relação f 0 1/ 2RC, onde R é a resistência da amostra e C a capacitância da amostra, obtidos em geral por ajustes teóricos dos dados experimentais. A função permissividade dielétrica complexa *( ) pode ser definida em função da impedância de acordo com as equações (B). 178

1 Z" = 1 o 2 2 2 (Z + Z" ) * ( ) ' ( ) j"( ) (B) 1 Z " = 1 o 2 2 2 (Z + Z" ) Sendo, *( ) é a permissividade dielétrica complexa em função da freqüência angular e o fator geométrico que caracteriza a célula de caracterização dielétrica. Caracterização por Difração de Raios X A caracterização estrutural do pó de Fe 2 foi realizada por difratometria de raios X, utilizando um difratômetro SHIMADZU (modelo XRD-6000) com radiação Cu K ( = 1,54060) no intervalo de 10 2 90. As características estruturais do Fe 2 foram analisadas através do método de Rietiveld, empregando o programa FULLPROF (9) para o refinamento dos parâmetros estruturais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Espectroscopia de Absorção na região do Infravermelho A Figura 1 mostra os espectros de absorção na região do infravermelho para a) óxido de ferro e b) butoxietanol. A Figura 2 mostra o espectro da suspensão de óxido de ferro em butoxietanol. A Tabela I lista as atribuições das bandas 1 e 2 observadas nos espectros de absorção. 179

Transmitance (%) Transmitance (%) Transmitance (%) 54º Congresso Brasileiro de Cerâmica, 30 de maio a 02 de junho de 2010, Foz do Iguaçu, PR, Brasil 100 a) 100 b) 90 3349 1636 90 3413 2924 1450 889 80 70 80 70 1056 1122 60 Fe 2 50 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 wavenumber (cm -1 ) 555 470 60 Butoxietanol 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 wavenumber (cm -1 ) Figura 1. Espectro de absorção no infravermelho na região de 4000-400 cm -1 para a) Fe 2 e b) butoxietanol. 110 Suspensao: Fe 2 + butoxietanol Tabela I. Atribuições de bandas 105 vibracionais do óxido de ferro, Fe 2. 100 95 90 85 80 75 2272 2954 2862 1454 887 1056 1114 Grupo Funcional (cm -1 ) O-H 3350-3200 C=O 1640-1600 * 1 AO 4 2 AO 6 1000-400 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 wavenumber (cm -1 ) * 1AO 4 sítios tetraédricos e 2AO 6 sítios octaédricos Figura 2. Espectro de absorção no infravermelho na região de 4000-400 cm -1 para a suspensão de Fe 2 em butoxietanol. Bandas entre 3200 3350 cm -1 tem sido atribuidas a estiramentos de grupos hidroxila OH -, associados as deformações axiais nos átomos de hidrogênio ligados a oxigênio. Bandasa entre 1600 640 cm -1 tem sido associadas à deformação de moléculas de CO 2. As bandas entre 1000 400 cm -1 são usualmente caracterizadas por vibrações de íons na rede do cristal. Entre 600 e 400 cm -1 ocorrem os estiramentos 1 dos sítios tetraédricos e 2 dos sítios octaédricos da estrutura cristalina. O estiramento mais intenso observado no intervalo entre 600 550 cm -1 e o menos intenso entre 450 385 cm -1 correspondem às vibrações intrínsecas do metal nos sítios tetraédricos e octaédricos, respectivamente [12-14]. 180

Análise dos dados por Difratometria de Raios-X As linhas de difração do Fe 2 foram indexadas com base na unidade de célula hexagonal (Ficha JCDPS: 33-0664). De acordo com dados desta ficha, a fase Fe 2 apresenta simetria hexagonal, compatível com o grupo espacial R -3 c (167) com parâmetros de rede: a = b = 5,03024(2) Å, c = 13,745812(3) Å. O volume da cela unitária é igual a V = 301,6653(2) Å 3. A partir das posições atômicas obtidas no refinamento foi construída a cela unitária do Fe 2, utilizando-se o programa Diamond 3.2. A Figura 3 mostra a cela unitária obtida para o Fe 2. Figura 3. Representação esquemática da cela unitária obtida para o óxido de ferro (III) (Fe 2 ). Análise dos dados por espectroscopia de impedância A Figura 4 mostra o diagrama de impedância normalizado pelo fator geométrico da célula de medida para a suspensão de Fe 2 com a respectiva curva de ajuste teórico. De acordo com o ajuste do diagrama de impedância, os valores modelados de resistência (R), capacitância (C) e freqüência de relaxação (f o ) para o fluido, e para a suspensão estão listados na Tabela II. 181

Re(Z*)/(x10 3.m) - Im(Z*) (x10 3..m) -Im(Z*)/(x10 3.m) ' '' 54º Congresso Brasileiro de Cerâmica, 30 de maio a 02 de junho de 2010, Foz do Iguaçu, PR, Brasil 0,21 0,18 0,15 0,12 0,09 0,06 0,03 Suspensمo - Fe 2 em butoxietanol Experimental Ajuste Te rico 66 khz 22 khz 0,00 0,00 0,03 0,06 0,09 0,12 0,15 0,18 0,21 Re(Z*) (x10 3..m) 9 khz f Tabela II. Parâmetros Físicos do butoxietanol e da suspensão. Parâmetros Fluído Suspensão Físicos (Butoxietano l) R 63,4 k 67,3 k *C 92,0 pf 100 pf f o 27,3 khz 23,6 khz * A capacitância para ambas as amostra é ideal (n=1) Figura 4. Diagrama de impedância e ajuste teórico para o nanofluído de óxido de ferro em butoxietanol. A Figura 5 a) e b) mostra as componentes real e imaginária da da impedância e permissividade complexa em função da freqüência, respectivamente. 80 70 60 Suspensمo - Fe 2 em butoxietanol 80 70 60 10 6 10 5 10 4 Suspensمo - Fe 2 em butoxietanol '' 10 6 10 5 10 4 50 40 30 Z' Experimental Z'' Experimental f = 26,4 KHz 50 40 30 10 3 10 2 10 1 ' f = 26,4 KHz 10 3 10 2 10 1 20 20 10 0 f = 64 Hz 10 0 10 10 10-1 10-1 0 0 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7 10 8 (a) f (Hz) 10-2 10-2 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7 10 8 f (Hz) (b) Figura 5. a) Componente real e imaginária da impedância normalizados em função da freqüência para a suspensão de óxido de ferro em butoxietanol b) Componentes real e imaginária da permissividade em função da freqüência para a suspensão de óxido de ferro em butoxietanol. 182

tgx(10 2 ) 54º Congresso Brasileiro de Cerâmica, 30 de maio a 02 de junho de 2010, Foz do Iguaçu, PR, Brasil De acordo com a Figura 5a, a componente imaginária da impedância Z (ω) apresenta um ponto de máximo simétrico na curva, esse ponto de máximo está posicionado na freqüência em torno de 26,4 khz. Tal máximo coincide com o ponto de inflexão da curva para a componente (Z (ω)) e está associado ao processo de relaxação elétrica [11]. De acordo com a Figura 5b, a partir de 37 Hz, a curva da parte real da permissividade das partículas suspensas em butoxietanol é quase independente da freqüência de medida, o que sugere que o comportamento dispersivo da curva da parte imaginária da permissividade não está vinculado à perdas por condução. A Figura 6 mostra o gráfico da tangente das perdas em função da freqüência para a suspensão. 6 Suspensمo - Fe 2 em butoxietanol 5 4 Tabela III. Valores de condutividade elétrica (σ) para a suspensão em função da freqüência. 3 2 1 f = 26,4 Hz 0 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7 10 8 f (Hz) Figura 6. Gráfico da tangente das perdas em função da freqüência para a suspensão de óxido de ferro em butoxietanol. Freqüência tg 10 Hz 4,8x10 4 100 Hz 1,9x10 4 1 khz 1,9x10 3 10 khz 2,3x10 2 100 khz 2,4x10 1 1 MHz 3,3x10 0 De acordo com a Fig. 6, a curva apresenta um ponto de máximo em 26,4 Hz, o qual pode estar associado a processos de relaxação lentos. Uma diminuição da magnitude das perdas ocorre com o aumento da freqüência. A Tabela III mostra o valor das perdas para uma série de freqüências mostrando-se independente da freqüência acima de 10 4 Hz. A Figura 7 mostra a evolução da condutividade elétrica da suspensão em função da freqüência. 183

10 0 Suspensão - Fe 2 em butoxietanol 10-1 10-2 10-3 (1 MHz) = 5,9 x 10-4 Tabela IV. Valores de condutividade elétrica (σ) para a suspensão em função da freqüência. :(.m) -1 10-4 10-5 10-6 10-7 10-8 f = 31 Hz 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7 10 8 f (Hz) Figura 7. Condutividade em função da freqüência para a suspensão de oxido de ferro em butoxietanol. Freqüência m 10 Hz 3,10x10-8 100 Hz 7,72x10-8 1 khz 7,45x10-7 10 khz 6,42x10-6 100 khz 6,65x10-5 1 MHz 5,87x10-4 De acordo com a Fig. 7, a condutividade elétrica é função da freqüência em todo o intervalo de freqüência caracterizado. A característica geral é a do fluido. Para freqüências abaixo de 31 Hz observa-se um aumento da condutividade com o aumento da freqüência. Este processo não é claro, mas mantém correlação com o máximo nas perdas, ver Fig 6. Acima de 31 Hz há um aumento da condutividade como aumento da freqüência de medida. Tabela IV mostra valores de condutividade em uma série de frequências. CONCLUSÕES A caracterização elétrica, por espectroscopia de impedância, mostrou ser uma ferramenta flexível para a determinação dos parâmetros elétricos e dielétricos da suspensão. O espectro de impedância da suspensão foi determinado. AGRADECIMENTOS: CAPES, PROGRAD/UNESP e NOVOCONTROL pelas facilidades. 184

REFERÊNCIAS [1] LANFREDI S. et al. Comportamento elétrico a alta temperatura de termistor cerâmico alfa-fe2o3 com coeficiente de temperatura negativo. Cerâmica, n. 54, p. 443-450, 2008. [2] ROSSO, K. M.; SMITH, D. M. A.; DUPUIS, M. An ab intio modelo of electron transport in hematite (α-fe 2 ) basal planes. Journal of Chemical Physics, v. 118, n. 14, p. 6455-6466, 2003. [3] MORIN, F. J. Electrical properties of α-fe 2. Physical Review, v. 93, n. 6, p. 1195-1199, 1954. [4] GURLO, A.; et al. A p- to n-transition on α-fe 2 -based thick film sensors studied by condutance and work function change measurements. Sensors and Actuators B, v. 102, p. 291-298, 2004. [5] BRAHMA, P.; DUTTA, S.; CHAKRAVORTY, D. Magnetic and transport properties of nanostructured ferric oxide produced by mechanical attrition. Journal of Applied Physics, v. 100, 2006. [6] DIXON, J. B.; WEED, S. B. Minerals in soil environments. 2. ed. Wisconsin: Soil Science Society of America Book Series, 1992. [7] HAYASHI, Y.; PRUZENKO, A.; BALIN, I.; RYABOV, Y. E.; FELDMAN, Y. Relaxation Dynamics in Glycerol-Water Mixtures. 2. Mesoscopic Feature in Water Rich Mixtures. Journal Physics Chemistry B, v. 109, p. 9174-9177, 2005. [8] PUZANKO, A.; HAYASHI, Y.; RYABOV, Y. E.; BALIN, I.; FELDMAN, Y.; KAATZE, U.; BEHRENDS, R. Relaxation Dynamics in Glycerol-Water Mixtures: I. Glycerol-Rich Mixtures. Journal Physics Chemistry B, v.109, p. 6031-6035, 2005. [9] NOBRE, M.A.L.; LANFREDI, S. Dielectric Properties of Bi3Zn2Sb3O14 Ceramics at High Temperature. Materials Letters, v. 47, p. 362-366, 2001. [10] NOBRE, M.A.L.; LANFREDI, S. New Evidence of Grain Boundary Phenomenon in Zn7Sb2O12 Ceramic: An Analysis by Impedance Spectroscopy. Materials Letters, v. 50, n. 6, p. 322-327, 2001. 185

[11] BELLUCCI, F.S.; SALMAZO, L. O.; NOBRE, M. A. L. Desenvolvimento e calibração de uma célula de medida para Caracterização de pós nanométricos e nanoestruturados por Espectroscopia de impedância. In: 52º Congresso Brasileiro de Cerâmica, Florianópolis, SC, 2008. [12] WALDRON, R. D. Infrared spectra of ferrites, Phys. Rev., v. 99, n. 6, p. 1727-1735,1955. [13] HEMEDA, O. M., ABD El-ATI, M. I. Spectral studies of Co 0.6 Zn 0.4 Fe 2 O 4 at different soaking time, Matter. Lett., v. 51, n. 1, p. 42-47, 2001. [14] ZHOU, Z. H.; WANG, J.; XUE, J. M.; CHAN, H. S. O. Cluster glass structure in nanohybrids nonstoichiometric zinc ferrite in silica matrix. App. Phys. Lett., v. 79, n. 19, p. 3167, 2001. [15] MAZEN, S. A.; ABDALLAH, M. H.; SABRAH, B. A., et al. The Effect of Titanium on some physical-properties of CuFe 2 O 4, Phys. Stat. Sol. A, v. 134, n. 1, p. 263-271, 992. INVESTIGATION OF ELECTRIC AND DIELECTRIC PARAMETERS OF A SUSPENSION AND IRON OXIDE PARTICLES ABSTRACT In our study was performed the electrical and dielectric characterization of a suspension of iron oxide in butoxyethanol and particles of iron oxide. The electrical and dielectric characterization was held using the technique of impedance spectroscopy. Measurements were performed in the frequency range between 5 Hz and 13 MHz with a potential of 500 mv. The butoxyethanol was used as host for the fluid particles of iron oxide. The resistance and capacitance parameters of the suspension and the particles were modeled by setting via equivalent circuits. The contribution of electrical and dielectric particles of iron oxide was obtained by deconvolution of the impedance data. Structural characterization of the suspension and the particles was performed by means of vibrational absorption in the infrared diffraction and X-ray. Were determined 23 electrical and dielectrics parameters of the particles and the suspension. Modifications of electrical parameters and dielectric fluid, generated by the addition of particles, are discussed. Key-words: oxide of iron, particles, suspensions, impedance spectroscopy. 186