BIOADSORÇÃO E DESSORÇÃO DOS ÍONS Cd 2+ E Zn 2+ PELO RESÍDUO DA EXTRAÇÃO DO ALGINATO DA ALGA MARINHA Sargassum filipendula

Documentos relacionados
BIOADSORÇÃO DOS ÍONS Cu 2+ E Ni 2+ PELO RESÍDUO DA EXTRAÇÃO DO ALGINATO DA ALGA Sargassum Filipendula

BIOSSORÇÃO DE ÍONS NÍQUEL E COBRE PELO RESÍDUO DE ALGA DA EXTRAÇÃO DO ALGINATO DE SÓDIO DA ALGA MARINHA SARGASSUM SP.

A CAPACIDADE DE BIOSSORÇÃO DO NÍQUEL (II) EM TRÊS BIOSSORVENTES

BIOSSORÇÃO E DESSORÇÃO DE ÍONS COBRE PELO BIOSSORVENTE IMOBILIZADO PREPARADO A PARTIR DA ALGA MARINHA SARGASSUM SP.

BIOSSORÇÃO DE IÓNS NÍQUEL EM ALGA MARINHA SARGASSUM SP. LIVRE E IMOBILIZADA EM ALGINATO

INVESTIGAÇÃO DOS POSSÍVEIS SÍTIOS DE ADSORÇÃO DE Cd +2 E Hg +2 EM SOLUÇÃO AQUOSA

REMOÇÃO DE CÁTIONS METÁLICOS UTILIZANDO ZEÓLITA HBEA

ESTUDO DA CINÉTICA NA BIOSSORÇÃO DOS ÍONS CROMO E NÍQUEL PELA BIOMASSA DE ALGA MARINHA Sargassum filipendula

INFLUÊNCIA DO ph NA SORÇÃO DE ÍONS METÁLICOS EM SÍLICA GEL

BIOTECNOLOGIA AMBIENTAL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA CAPTACAO DE ESPECIES METÁLICAS CONTIDAS EM MEIOS AQUOSOS UTILIZANDO BIOSSORVENTES HIDROFOBICOS

Cinética de adsorção de cobre (II) utilizando bioadsorventes

REMOÇÃO DE ÍONS DE COBRE E ZINCO EM SOLUÇÃO AQUOSA USANDO MACROALGA MARINHA PELVETIA CANALICULATA COMO BIOSSORVENTE

4. Materiais e métodos

Uso de vermiculita revestida com quitosana como agente adsorvente dos íons sintéticos de chumbo (Pb ++ )

Resumo. Luciana de Jesus Barros; Layne Sousa dos Santos. Orientadores: Elba Gomes dos Santos, Luiz Antônio Magalhães Pontes

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1915

TÍTULO: MATERIAIS HÍBRIDOS DERIVADOS DE ARGILA-SUBSTÂNCIAS HÚMICAS POR DIFERENTES ROTAS APLICADOS A ADSORÇÃO DE NÍQUEL

ESTUDO DA CINÉTICA E DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE U PELO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Remoção de Cu e Co contido em soluções aquosas por Biossorção

BIOSSORÇÃO DO ÍON CÁDMIO PELA CASCA DE SOJA

CINÉTICA DA ADSORÇÃO DE ÍONS CÁDMIO EM PARTÍCULAS DE SERICINA/ALGINATO

UTILIZAÇÃO DE QUITOSANA DE DIFERENTES GRAUS DE DESACETILAÇÃO PARA A REMOÇÃO DE CROMO DE SOLUÇÕES AQUOSAS

UTILIZAÇÃO DE ADSORVENTE ALTERNATIVO DE BAIXO CUSTO PARA REMOÇÃO DO CORANTE TARTRAZINA

UTILIZAÇÃO DE BIOMASSA NO TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO ZINCO EM MÚLTIPLOS CICLOS DE ADSORÇÃO-DESSORÇÃO

ESTUDO AVALIATIVO DA CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DO METAL PESADO CHUMBO (II) EM VERMICULITA REVESTIDA COM QUITOSANA

REMOÇÃO DE DICLOFENACO DE POTÁSSIO USANDO CARVÃO ATIVADO COMERCIAL COM ALTA ÁREA DE SUPERFÍCIE

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE ADSORÇÃO DE ÍONS DOS METAIS DE TRANSIÇÃO UTILIZANDO O MODELO DE AVRAMI

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATERIAL ADSORVENTE DO METAL NÍQUEL

ESTUDO DA DESSORÇÃO DO CORANTE TÊXTIL REATIVO AZUL 5G ADSORVIDO EM BAGAÇO DE MALTE

DESENVOLVIMENTO DE BIOADSORVENTE A PARTIR DA VAGEM SECA DO FEIJÃO

REMOÇÃO DE METAIS PESADOS EM ÁGUA ATRAVÉS DE BIOPOLÍMEROS MODIFICADOS 1 INTRODUÇÃO

DESSORÇÃO DO CORANTE COMERCIAL AZUL 5G A PARTIR DO ADSORVENTE CASCA DE SOJA

Adsorção de íons Zn 2+ pelo bagaço da uva Isabel em meio aquoso

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE INDÚSTRIA DE CUIA COMO UM ADSORVENTE PARA A REMOÇÃO DE CORANTE ORGÂNICO EM SOLUÇÃO AQUOSA

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1Comprimento de onda do corante Telon Violet

O EFEITO DA ADIÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO NO COMPORTAMENTO DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE CORANTE AZUL REATIVO BF-5G EM CARVÃO ATIVADO DE OSSO

Adsorção em interfaces sólido/solução

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO METAIS PESADOS

UTILIZAÇÃO DE CASCA DE JABUTICABA (Plinia sp.) COMO ADSORVENTES NA REMOÇÃO DE CROMO (VI): PLANEJAMENTO FATORIAL, CINÉTICA E ESTUDO DE EQUILÍBRIO.

Eixo Temático ET Tratamento de Efluentes Sanitários e Industriais

6 Conclusões e Sugestões para Futuras Pesquisas

ESTUDO DO EQUILÍBRIO DE BIOSSORÇÃO DOS ÍONS Cu 2+ E Ni 2+ EM SISTEMA BATELADA PELO RESÍDUO DA EXTRAÇÃO DO ALGINATO DA ALGA SARGASSUM FILIPENDULA

II-090 UTILIZAÇÃO DE PÓ DE CASCA DE COCO COMO BIOADSORVENTE PARA REMOÇÃO DOS CORANTES VERMELHO CONGO E AZUL DIRETO DE EFLUENTES

Avaliação da Remoção de Cd e Zn de Solução Aquosa por Biossorção e Bioflotação com Rhodococcus opacus

REMOÇÃO DE METAIS PESADOS POR PROCESSOS DE BIOFLOTAÇÃO E BIOSSORÇÃO Aluno: Mariana Soares Knust Orientador: Mauricio Leonardo Torem

Uso de Vermiculita Revestida com Quitosana como Agente Adsorvente dos Íons Sintéticos de Chumbo (Pb ++ )

AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DE CROMO UTLIZANDO RESINA MISTA

INFLUÊNCIA DO ph NA ADSORÇÃO DE ÍONS Cr (VI) UTILIZANDO ESPONJA DE QUITOSANA

12º Encontro Brasileiro sobre Adsorção 23 a 25 de abril de 2018 Gramado/RS

Efeito da utilização de solução tampão sobre a biossorção de cromo (III) pela biomassa da alga marinha Sargassum sp.

Adsorção do corante Rodamina B de soluções aquosas por zeólita sintética de cinzas pesadas de carvão

INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE SAIS NA ADSORÇÃO DO CORANTE VERMELHO PROCION UTILIZANDO ALUMINA ATIVADA

UTILIZAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA NATURAL PARA TRATAMENTO DE EFLUENTE TÊXTIL

Utilização de lama vermelha tratada com peróxido de BLUE 19

ESTUDO DO PROCESSO DE ADSORÇÃO DE CHUMBO, CÁDMIO E CROMO EM CASCA DE PEQUI POR MEIO DE ISOTERMAS

ESTUDO DA ADSORÇÃO DE CHUMBO UTILIZANDO COMO ADSORVENTE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR ATIVADO

BIOSSORÇÃO DE ZINCO E COBRE UTILIZANDO SALVINIA SP.

4. Materiais e Métodos 4.1. Preparo da biomassa

EFEITO DA FRAÇÃO MOLAR NA CINÉTICA DE ADSORÇÃO BICOMPOSTO DE ÍONS PRATA E COBRE EM ARGILA BENTONÍTICA

4 MATERIAIS E MÉTODOS

5. Resultados e discussão

EFEITO DA TEMPERATURA DE GASEIFICAÇÃO DE BIOMASSA NA ADSORÇÃO DE CORANTE REATIVO

INVESTIGAÇÃO DA ADSORÇÃO DO CORANTE VERMELHO PONCEAU SOBRE CARVÃO COMERCIAL DE ORIGEM ANIMAL

ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina

BIOSSORÇÃO APLICADA A REMOÇÃO DE METAIS PESADOS DE EFLUENTES LÍQUIDOS

4 Materiais e Métodos

FORMAÇÃO DE COMPLEXOS DE METAIS PESADOS PELO PROCESSO DE BIOSSORÇÃO QUÍMICA EM BIOREATORES EM SÉRIE DE COLUNAS VERTICAIS DE LODO DE ESGOTO SANITÁRIO

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA OBTENÇÃO DE HIDROXIAPATITA PARA FINS BIOMÉDICOS

SCIENTIA PLENA VOL. 6, NUM

USO DE RESÍDUOS TRATADOS PARA ADSORÇÃO DO CORANTE AZUL BRILHANTE REMAZOL EM EFLUENTE SINTÉTICO

UTILIZAÇÃO DO MESOCARPO DE COCO VERDE PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES CONTAMINADOS COM METAIS PESADOS

Planejamento experimental estatístico para a otimização das condições em batelada de dessorção de níquel da alga marinha Sargassum filipendula

ESTUDO DA REMOÇÃO DE CROMO UTILIZANDO RESINAS MISTA E CATIONICA PUROLITE

ADSORÇÃO DE PRATA E COBRE POR ARGILA BENTONÍTICA: CARACTERIZAÇÃO DO ADSORVENTE PRÉ E PÓS PROCESSO RESUMO

BIOSSORÇÃO DO ÍON CU 2+ EM LEITO FLUIDIZADO PELA LEVEDURA SACCHAROMYCES CEREVISIAE IMOBILIZADA EM QUITOSANA

II CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DO CORANTE REATIVO AZUL 5G EM CASCA DE ARROZ E CASCA DE SOJA COMO BIOSSORVENTES

ESTUDO DO PROCESSO DE PURIFICAÇÃO DE BIODIESEL DE CANOLA POR ADSORÇÃO EM CARVÃO ATIVADO

PALIGORSQUITA ATIVADA TERMICAMENTE VISANDO A ADSORÇÃO DE Pb +2. Ministro Petrônio Portela - Bairro: Ininga, CEP /Teresina PI

A EFICIÊNCIA DE BIOADSORVENTES PARA METAIS TÓXICOS NAS CULTURAS DO MORANGO E DA BATATA

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ACIDEZ E DA TEMPERATURA DO SISTEMA SOBRE REMOÇÃO DE CROMO TOTAL UTILIZANDO RESINA MISTA.

ADSORÇÃO DE Cr(VI) EM HIDROGEL DE QUITOSANA

AVALIAÇÃO DA ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE EM ESFERAS POROSAS DE QUITOSANA CONTENDO LÍQUIDOS IÔNICOS.

Modelagem do efeito do ph na biossorção de metais pela alga marinha Sargassum filipendula

II ESTUDOS DE ADSORÇÃO PARA REMOÇÃO DE URÂNIO EM MEIO NÍTRICO USANDO UM BIOSSORVENTE

DESSORÇÃO DE NÍQUEL DA BIOMASSA SARGASSUM FILIPENDULA EM COLUNA DE LEITO FIXO

APLICAÇÃO DA FIBRA DE BAMBU IN NATURA E CARVÃO ATIVADO ÓSSEO COMO ADSORVENTE NA REMOÇÃO DE CORANTE AZUL DE METILENO

MECANISMO DE ADSORÇÃO DE PARACETAMOL EM CARVÕES DE ORIGEM NACIONAL

4002 Síntese de benzil a partir da benzoína

APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE BEBIDA E DE ALIMENTOS NA BIOSSORÇÃO DO COBRE

SOLUÇÃO DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 10- Prof. Alexandre Paiva da silva. Sólida Gasosa (CO 2.

II ESTUDO DA BIOREMOÇÃO DO ÍON CIANETO PELA MACRÓFITA EICHHORNIA CRASSIPES

BIOSSORÇÃO DOS METAIS COBRE E ZINCO PELA MICROALGA Spirulina platensis

Henrique John Pereira Neves (1); Eliane Bezerra de Moraes Medeiros (1); Otidene Rossiter Sá da Rocha (2); Nelson Medeiros de Lima Filho (3)

UTILIZAÇÃO DE SEMENTES DE LARANJA COMO ADSOVENTE NA REMOÇÃO DO CORANTE AZUL DE METILENO

AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE ADSORÇÃO DE ÍONS CROMO (VI) EM NANOFIBRAS DE QUITOSANA/NYLON 6

1.1. Problemas decorrentes da contaminação das águas por agrotóxicos

DESSULFURIZAÇÃO ADSORTIVA DO CONDENSADO ORIUNDO DA PIRÓLISE DE PNEUS INSERVÍVEIS

ESTUDO DA ADSORÇÃO E DESSORÇÃO DO CORANTE AZUL REATIVO BF-5G EM CARVÃO ATIVADO DE OSSO

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

UTILIZAÇÃO DA CASCA DE PINUS (Pinus elliotti) NA ADSORÇÃO DE CROMO (Cr) DE SOLUÇÕES CONTAMINADAS 1

Transcrição:

BIOADSORÇÃO E DESSORÇÃO DOS ÍONS Cd 2+ E Zn 2+ PELO RESÍDUO DA EXTRAÇÃO DO ALGINATO DA ALGA MARINHA Sargassum filipendula M. T. MUNARO 1, C. BERTAGNOLLI 2, M. G. C. da SILVA 3, S. J. KLEINÜBING 3 e E. A. da SILVA 1 1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro de Engenharias e Ciências Exatas 2 Centre de Matériaux des Mines d Alès, École des mines d Alès, Alès, France 3 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Química E-mail para contato: mauriciomunaro@hotmail.com RESUMO Estudou-se o processo de bioadsorção dos íons Cd 2+ e Zn 2+, em soluções monocomponentes, pelo resíduo da extração do alginato da alga Sargassum filipendula. A técnica de espectroscopia na região do infravermelho (FT-IR) foi utilizada para a avaliação da participação dos grupos funcionais responsáveis pela remoção dos íons. Verificou-se que os grupos carboxílico e sulfato são relevantes para o processo de remoção. O estudo cinético foi ajustado de acordo com os modelos de pseudo primeira ordem e pseudo segunda ordem, onde um melhor ajuste foi obtido com o modelo de pseudo primeira ordem. Os dados de equilíbrio foram ajustados de acordo com as isotermas de Langmuir e Freundlich. As capacidades máximas de adsorção foram determinadas de acordo com o modelo de Langmuir. Os valores obtidos para o resíduo da extração foram de 0,64 mmol g -1 e 1,00 mmol g -1 para os íons Cd 2+ e Zn 2+, respectivamente. A dessorção foi estudada utilizando-se o CaCl 2 (0,5 M) como eluente e foi atingida em aproximadamente 1 hora com taxas de eluição superiores a 90% e uma baixa perda de massa do adsorvente. Os resultados indicam que mesmo após a extração do alginato, o resíduo da extração ainda possui um potencial de aplicação na remoção dos íons metálicos pelo processo de bioadsorção. 1. INTRODUÇÃO A presença de metais pesados e, consequentemente, sua remoção em efluentes líquidos representa um motivo de grande preocupação devido à toxidade e capacidade de acumulação nos organismos vivos. As principais fontes de efluentes contendo os metais cádmio e zinco envolvem o setor industrial de metalurgia, eletrodeposição, cerâmicas e baterias (Sarada et al., 2014). Os métodos tradicionais de tratamento de efluentes contendo íons metálicos como a precipitação, membranas, troca iônica e coagulação possuem a desvantagem de não serem eficientes no tratamento de efluentes com baixas concentrações de metais pesados. Nesse contexto, a bioadsorção se apresenta como um método efetivo e economicamente viável na remoção de metais pesados em efluentes líquidos (Deng et al., 2007). Dentre os adsorventes

mais estudados nesse processo, as algas marrons tem demonstrado uma alta eficiência na remoção dos íons (Davis et al., 2003). As espécies de algas marrons possuem em sua composição o biopolímero alginato que faz parte dos componentes estruturais da parede celular, responsável pela resistência mecânica e significativa capacidade de sorção (Sharma e Gupta, 2002). Além disso, o biopolímero possui uma grande aplicação industrial, sendo utilizado no setor alimentício, farmacêutico, têxtil e cosmético devido a suas propriedades como viscosidade e em aplicações como estabilizante. O resíduo originado da extração do alginato geralmente é descartado ou utilizado como ração animal. No entanto, mesmo após a extração, o material ainda contém um potencial de aplicação como bioadsorvente de metais pesados, uma vez que vários grupos funcionais da alga ainda ficam presentes na biomassa, representando um possível interesse econômico na reutilização deste resíduo de processo (Bertagnolli et al., 2014). Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo o estudo do processo de bioadsorção e dessorção pelo resíduo da extração do alginato presente na alga Sargassum filipendula como tratamento alternativo de efluentes contaminados com metais pesados. 2. METODOLOGIA 2.1. Preparo do bioadsorvente e caracterização A alga marinha Sargassum filipendula foi submetida à extração do alginato de acordo com o método de McHugh (1987). Primeiramente, a alga foi lavada, purificada e seca a 60 C. A extração do alginato foi prosseguida utilizando-se carbonato de sódio a 2%, à 60 C por 5 horas. O resíduo da extração sofreu um tratamento com HCl para os ensaios uma vez que a dissolução de compostos orgânicos pode elevar o ph e a possibilidade de precipitação dos íons em solução. Para obter informações sobre os grupos funcionais presentes no bioadsorvente que participam do processo e avaliar o mecanismo de remoção dos íons metálicos, utilizou-se a técnica de espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR) para o intervalo de 650 a 4000 cm -1. Amostras do resíduo da extração antes e após a saturação com os íons metálicos foram analisadas para avaliar a interação adsorvente-adsorbato. 2.2. Estudos de bioadsorção e dessorção em batelada Os estudos cinéticos e de equilíbrio de adsorção e dessorção foram realizados em ph 4, sob agitação constante e temperatura ambiente com soluções monocomponentes de cada íon metálico. O ph dos ensaios foi determinado com base nos estudos de especiação química realizados com o software Visual MINTEQ com o objetivo de evitar a precipitação dos íons estudados. Nos ensaios cinéticos, 0,5 L das soluções monocomponentes foram colocadas em contato com 1 g de bioadsorvente e alíquotas foram retiradas em intervalos pré-determinados (0-9 h). Os dados foram ajustados de acordo com os modelos cinéticos de pseudo primeira ordem e pseudo segunda ordem. A determinação da capacidade de adsorção foi obtida por uma série de ensaios com soluções de diferentes concentrações de metal (0,5 7 mmol L -1 ) e

volume de 20 ml colocadas em contato com 0,04 g de adsorvente. Os dados de equilíbrio foram ajustados de acordo com as isotermas de Langmuir e Freundlich. Os ensaios de dessorção foram realizados utilizando-se 300 ml de CaCl 2 (0,5 M) a ph 3 como eluente e 0,5 g de adsorvente. As biomassas previamente saturadas foram submetidas as mesmas condições dos ensaios cinéticos com alíquotas de solução sendo retiradas em intervalos prédeterminados (0 4 h). A comparação entre os modelos cinéticos e de equilíbrio ajustados foi realizada de acordo com o critério de Akaike para pequenas amostras ( ) de acordo com Hurvich e Tsai (1989). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Caracterização do resíduo da extração do alginato A constituição bioquímica de um bioadsorvente é responsável por sua performance no processo de remoção dos íons metálicos (Davis et al., 2003). O principais grupos funcionais presentes nas algas marrons desempenham um papel determinante no processo (He e Chen, 2014). A Figura 1 apresenta os espectros obtidos pela análise de FT-IR para o resíduo da extração acidificado e saturado com os íons Cd 2+ e Zn 2+. Figura 1 FT-IR obtidos para o resíduo acidificado e saturado com os metais do estudo. Os espectros evidenciam que, para ambos os íons, ocorreram mudanças nas bandas relacionadas ao grupamento carboxílico (1620 cm -1 ) para 1611 e 1618 cm -1 após a bioadsorção dos íons Cd 2+ e Zn 2+, respectivamente. Além disso, também se evidenciam alterações nas bandas de 1408 cm -1 do resíduo acidificado referentes ao estiramento do grupo carboxílico, reforçando a contribuição desse grupo no processo de remoção dos íons. A mudança na banda de 1530 cm -1 também indica a contribuição dos grupos amino no processo. A banda referente ao estiramento do grupamento SO 3 de 1235 cm -1 e sua mudança para 1206 e 1209 cm -1 indicam a contribuição desse grupo na remoção dos íons, possivelmente devido a presença do polissacarídeo fucoidana que ainda fica presente no resíduo mesmo após a extração do alginato (Sheng et al., 2004).

3.2. Estudo da cinética e equilíbrio de bioadsorção e cinética de dessorção A Figura 2 apresenta as curvas cinéticas de bioadsorção para o resíduo da extração e ambos os íons estudados, ajustadas de acordo com os modelos de pseudo primeira ordem e pseudo segunda ordem. A Tabela 1 apresenta os parâmetros dos modelos obtidos. Para ambos os íons estudados, o equilíbrio foi rapidamente atingido em aproximadamente uma hora, indicando uma rápida interação com a biomassa estudada, e o modelo cinético de pseudo primeira ordem melhor descreveu a cinética de remoção dos íons com um menor valor de. Também verifica-se que o íon Cd 2+ apresentou maiores taxas de remoção de acordo com os parâmetros k 1 e k 2 dos modelos. Figura 2 Cinéticas de bioadsorção ajustadas para os íons Cd 2+ e Zn 2+, respectivamente. Tabela 1 Parâmetros dos modelos cinéticos. Pseudo primeira ordem Pseudo segunda ordem Metal q eq k 1 (min -1 ) q eq k 2 (g (mmol min) -1 ) Cd 2+ 0,479 0,246-81,232 0,497 0,795-63,989 Zn 2+ 0,565 0,172-76,676 0,587 0,464-68,865 Na Figura 3 são apresentadas as isotermas de bioadsorção, realizadas à temperatura ambiente, ajustadas de acordo com as isotermas de Langmuir e Freundlich para ambos os íons metálicos. Os valores dos parâmetros dos modelos são encontrados na Tabela 2. Baseando-se nos valores de dos modelos, verifica-se que para a bioadsorção do Cd 2+, os dados foram melhor descritos pela isoterma de Freundlich, observado pelo menor valor de, ao passo que os íons Zn 2+ apresentaram um bom ajuste a ambos os modelos. Tal comportamento pode ser relacionado a uma maior afinidade do íon Cd 2+ por algum grupo

funcional específico da biomassa e devido, possivelmente, à heterogeneidade resultante da composição de vários grupamentos na superfície do adsorvente, diferindo no que se refere à força de ligação, bem como a taxa de adsorção nesses sítios (Sheng et al., 2004). Figura 3 Isotermas de bioadsorção para os íons Cd 2+ e Zn 2+, respectivamente. Tabela 2 Parâmetros das isotermas de Langmuir e Freundlich. Langmuir Freundlich Metal q max b (L mmol -1 ) k N Cd 2+ 0,644 43,024-16,410 0,554 0,142-22,299 Zn 2+ 1,001 2,927-27,372 0,634 0,270-27,547 Por meio do parâmetro b do modelo de Langmuir, verifica-se que, o íon Cd 2+ possui uma maior interação com a biomassa. As capacidades máximas de adsorção encontradas para o resíduo da extração de acordo com o modelo de Langmuir são comparáveis as da alga marinha Sargassum filipendula, o que indica um elevado potencial desse material na remoção dos íons estudados e uma alternativa no uso de um resíduo de processo como adsorvente alternativo de baixo custo. Em relação aos ensaios cinéticos de dessorção, verificou-se que a eluição do íon Cd 2+ foi atingida em aproximadamente trinta minutos e para o íon Zn 2+ em aproximadamente uma hora. As eluições atingiram valores superiores a 90% em nos experimentos realizados. A alta remoção dos íons metálicos das biomassas indica um importante fator para a reutilização do material em sistemas contínuos em processos industriais no tratamento de efluentes e em outros procedimentos analíticos (Martins et al., 2006).

4. CONCLUSÕES O resíduo da extração do alginato apresentou uma elevada afinidade pelos íons Cd 2+ e Zn 2+ como verificado pelas capacidades máximas de adsorção obtidas pela isoterma de Langmuir, além disso, a biomassa apresentou uma alta eluição dos íons estudados pelo processo de dessorção com CaCl 2. Tais resultados indicam que mesmo após a extração do biopolímero da alga marinha, este resíduo de processo ainda possui um potencial de aplicação como adsorvente alternativo no tratamento de efluentes contaminados com metais pesados pelo processo de bioadsorção. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTAGNOLLI, C.; SILVA, M. G. C.; GUIBAL, E. Chromium biosorption using the residue of alginate extraction from Sargassum filipendula. Chem. Eng. J., v. 237, p. 362-371, 2014. DAVIS, T. A.; VOLESKY, B.; MUCCI, A. A review of the biochemistry of heavy metal biosorption by brown algae. Water Res., v. 37, p. 4311-4330, 2003. DENG, L.; SU, Y.; SU, H.; WANG, X.; ZHU, X. Sorption and desorption of lead (II) from wastewater by green algae Cladophora fascicularis. J. Hazard. Mater., v. 143, p. 220-225, 2007. HE, J.; CHEN, J. P. A comprehensive review on biosorption of heavy metals by algal biomass: materials, performance, chemistry and modeling simulation tools. Bioresour. Technol., v. 160, p. 67-78, 2014. HURVICH, C. M.; TSAI, C. L. Regression and time series model selection in small samples. Biometrika, v. 76, p. 297-307, 1989. MARTINS, B. L.; CRUZ, C. V. C.; LUNA, A. S.; HENRIQUES, C.A. Sorption and desorption of Pb 2+ ions by dead Sargassum sp. biomass. Biochem. Eng. J., v. 27, p. 310-314, 2006. MCHUGH, D. J. Production, properties and uses of Alginates. FAO Fisheries Technical Papers, p. 58-115, 1987. SARADA, B.; PRASAD, M. K.; KUMAR, K. K.; MURTHY, Ch. V. Cadmium removal by macro algae Caulerpa fastigiata: Characterization, kinetic, isotherm and thermodynamic studies. J. Environ. Chem. Eng., v. 2, p. 1533-1542, 2014. SHENG, P. X.; TING, Y. P.; CHEN, J. P. Biosorption of lead, copper, cadmium, zinc, and nickel by marine algal biomass: characterization of biosorptive capacity and investigation of mechanism. J. Colloid Interface Sci., v. 275, p. 131-141, 2004. SHARMA, A.; GUPTA, M. N. Three phase partitioning of carbohydrate polymers: separation and purification alginates. Carbohydr. Polim., v. 48, p. 391-395, 2002.