APELAÇÃO COM REVISÃO N º 719.956-0/6 São Paulo Apelante: Sidney Gimenes Palácios Apelada: Vanderlina Alves Costa Parte: Nemézio Viana de Carvalho Neto Interessada: Caixa Econômica Federal EMBARGOS DE TERCEIRO. AÇÃO ORDINÁRIA. EXECUÇÃO. PENHORA DE IMÓVEL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA NÃO REGISTRADO. A prova produzida demonstrou que o negócio jurídico envolvendo o imóvel deu-se antes do arresto, restando comprovado que a Embargante estava na posse (do imóvel) quando da propositura da Ação de Execução. O negócio não pode ser acoimado de inexistente, ineficaz ou fraudulento, apenas por não ter sido objeto de averbação no cartório de registro de imóveis. Inexistindo indício de fraude contra credores, ou contra a execução, torna-se de rigor o acolhimento dos embargos. Voto n º 8.569. Visto, VANDERLINA ALVES COSTA ingressou com Ação de Embargos de Terceiro, incidente na Ação de Execução que SIDNEY GIMENES PALÁCIOS move contra NEMÉZIO VIANA DE CARVALHO NETO, partes qualificadas nos autos, alegando que: "... Tendo sido ordenado o arresto este recaiu sobre o imóvel nº 72, do 7º andar, do Edifício Carlos Augusto, localizado na Rua Elias Chaves nº 203, nesta Cidade.... - 1 -
... a res é da Embargante sobre a qual tem e exerce a posse em decorrência de instrumento particular de compromisso de venda e compra, firmado aos 06/03/1997, devidamente quitado com o referido Nemézio Viana de Carvalho Neto... (folha 3 - negrito do original). Formalizada a angularidade, o Requerido fez encarte da contestação. Vencida a instrução seguiuse a entrega da prestação jurisdicional:... JULGO PROCEDENTES os embargos, nos termos do art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil, para o fim de manter a embargante na posse do imóvel descrito no auto de arresto, anulando a penhora efetivada. Pela sucumbência, o embargado arcará com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% do valor atribuído à causa. Traslade-se cópia da presente sentença para os autos de execução... (folha 115 - destaque do original). SIDNEY GIMENES PALÁCIOS recorreu. Persegue a reforma da decisão alegando que: "... O único documento que comprova a aquisição do imóvel é o instrumento particular de venda e compra, que possui natureza inter partes e não erga omnis... (folha 123).... a venda foi realizada após o término da demanda de despejo por falta de pagamento proposta contra a afiançada do executado, e o mesmo devidamente cientificado da demanda, realizou a venda para a embargante, ora apelada, tornando-a suspeita e se realmente fosse verdade por que até o presente momento não a regularizou junto à instituição hipotecária... (folha 125).... as provas apresentadas nos autos carecem de certeza, liquidez de que a venda tenha ocorrido e que não passa de uma singela manobra para fraudar a execução do débito oriundo de fiança advocatícia... (folha 126 negrito do original). - 2 -
VANDERLINA ALVES COSTA apresentou contra-razões defendendo o acerto da decisão (folhas 136/154). É o relatório, mantido no mais o da r. sentença. O Código de Processo Civil dispõe que, quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhes sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos 1, que podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor. Os limites objetivos do pedido nesse tipo de processo, são definidos pela pretensão de devolução da posse do bem ao seu titular, no caso esbulho, ou pela aspiração de manutenção da tranqüilidade nela (posse), diante de eventual turbação. Inegável, portanto, a natureza possessória de que se reveste a ação em qualquer dos casos, constituindo a ferramenta jurídica colocada à disposição de terceiro, contra eventuais atos judiciais lesivos aos seus direitos de possuidor. A Súmula n. 84 do Superior Tribunal de Justiça enuncia que "é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro". 1 - Artigo 1.046. - 3 -
A prova produzida demonstrou que o negócio jurídico envolvendo o imóvel deu-se antes do arresto, restando comprovado que a Embargante estava na posse (do imóvel) quando da propositura da Ação de Execução (folhas 7/8, 58/69 e 107). As circunstâncias que envolvem a transferência dos direitos e obrigações incidentes sobre o imóvel arrestado, ocorrida em 1997, não deixam transparecer qualquer indício de fraude ou ineficácia da transação, ao menos com relação às partes envolvidas. O Apelante não conseguiu comprar que o executado tivesse sido reduzido à insolvabilidade. Não ocorre fraude de execução se o bem foi alienado antes da propositura da ação e se não há prova da insolvabilidade determinada ao devedor (arts. 592, V e 593, II do CPC). Na hipótese de fraude contra credores o negócio terá de ser desconstituído em ação própria (art. 107 do C. Civil). Embargos de Terceiro procedentes. Ônus do sucumbimento. Isenção do embargado porque não registrada a escritura no Serviço de Registro de Imóveis. 2 O negócio não pode ser acoimado de inexistente, ineficaz ou fraudulento, apenas por não ter sido objeto de averbação no cartório de registro de imóveis. Até mesmo perante o Condomínio onde se situa o apartamento transacionado, a Embargante é reconhecida como condômina e proprietária do bem (folha 69). Como bem observado pelo r. Juízo... a ausência de anuência e eventual prejuízo do credor hipotecário, é matéria estranha ao exeqüente, não o beneficiando... (folha 115). 2-2ºTACivSP Ap. c/ Rev. 589.131-00/0-10ª Câm. - Rel. Juiz NESTOR DUARTE - J. 8.11.2000. - 4 -
Inexistindo indício de fraude contra credores, ou contra a execução, torna-se de rigor o acolhimento dos embargos, com o cancelamento da constrição judicial sobre o imóvel compromissado à venda para a embargante, à vista do disposto no artigo 593, inciso II do Código de Processo Civil, e da não caracterização, nestes autos, da intenção de negociar para prejudicar credor, por meio de "consilium fraudis", ou de má-fé da adquirente. Posse é fato; e se for este comprovado, bem assim que aquela foi de boa-fé havida, é justo protegêla, como no caso em que a posse de imóvel foi transmitida pelo casal de fiadores a seus adquirentes, por intermédio de instrumento particular de compromisso de venda e compra, obviamente não registrado, porém inequivocamente celebrado antes de serem os fiadores executados pelo locador. 3 É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro. (Súmula 84 do Superior Tribunal de Justiça). 4 recurso. Em face ao exposto, nega-se provimento ao IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator 3-2ºTACivSP - Ap. c/ Rev. 739.231-00/5-12ª Câm. - Rel. Juiz PALMA BISSON - J. 13.3.2003. 4-2ºTACivSP - Ap. c/ Rev. 613.787-00/6-10ª Câm. - Rel. Juiz GOMES VARJÃO - J. 12.12.2001. - 5 -