Correlação entre a classificação TNM, gradação histológica e localização anatômica em carcinoma epidermóide oral

Documentos relacionados
Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

Estudo epidemiológico do carcinoma epidermóide de boca no estado de Sergipe

Levantamento epidemiológico dos casos de carcinoma epidermóide da cavidade bucal registrados no serviço de ARTIGO CIENTÍFICO

FLÁVIA SIROTHEAU CORRÊA PONTES*, HELDER ANTÔNIO REBELO PONTES*, CRISTIANE GUEDES FEITOSA**, NATHÁLIA RIBEIRO CUNHA**, LARISSA HABER JEHA** INTRODUÇÃO

Aluna: Bianca Doimo Sousa Orientador: Prof. Dr. Jaques Waisberg. Hospital do Servidor Público Estadual

Lesões e Condições Pré-neoplásicas da Cavidade Oral

Perfil da incidência e da sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide oral em uma população brasileira

Características epidemiológicas de pacientes portadores de neoplasias de cabeça e pescoço submetidos à radioterapia em Juiz de Fora MG.

CRESCIMENTO TUMORAL VERSUS ESTADIAMENTO NO CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE LÍNGUA E SOALHO DA BOCA

Artigo Original. Valor prognóstico da infiltração perineural e invasão muscular em carcinoma epidermoide avançado da boca e orofaringe

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

O IMPACTO DO PADRÃO HISTOLÓGICO DE INVASÃO NAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICO-PATOLÓGICAS E NA EVOLUÇÃO DO CARCINOMA EPIDERMÓIDE INICIAL DA LARINGE

Leucoplasias bucais: relação clínico-histopatológica

Abordagem prática para o diagnóstico histopatológico de carcinoma pulmonar na Era da Medicina Personalizada

RM padrão de 1,5T no câncer endometrial: moderada concordância entre radiologistas

RETALHOS ÂNTERO-LATERAL DA COXA E RETO ABDOMINAL EM GRANDES RECONSTRUÇÕES TRIDIMENSIONAIS EM CABEÇA E PESCOÇO

Lívia Souza de Castro, Maria de Fátima Nunes, Sandra Lúcia Ventorin von Zeidler, Rejane Faria Ribeiro-Rotta

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO LESÕES CANCERIZÁVEIS DA BOCA

Perfil epidemiológico das neoplasias de glândulas salivares diagnosticadas em São Luís-MA

Estudo retrospectivo de melanomas cutâneos e mucosos na população do estado do Rio Grande do Norte, Brasil

ONDINA KARLA MOUSINHO DA SILVA ROCHA 1 ADNA CAROLINA MARQUES DE OLIVEIRA 1 PAULO ROGÉRIO FERRETI BONAN 2

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA NÍVEL MESTRADO

Punção Aspirativa com Agulha Fina Guiada por Ultrassonografia Endoscópica PAAF-USE primeira linha suspeita de neoplasia do pâncreas

Câncer do Laringe. Revisão Anatômica Dados Epidemiológicos Etiologia Fatores de Risco Diagnóstico Estadiamento Tratamento Rehabilitação

Artigo Original TRATAMENTO DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO NO IDOSO ACIMA DE 80 ANOS

Melanoma maligno cutâneo primário: estudo retrospectivo de 1963 a 1997 no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo

Neoplasias de glândulas salivares: estudo de 119 casos

Carcinoma de Células Escamosas de Boca: Relação entre Graduação Histopatológica e Características Clínicas da Neoplasia

A relação entre a profundidade de invasão e a presença de metástases cervicais no carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço

Neoplasias de glândulas salivares menores: estudo retrospectivo de 83 casos

Carcinoma espinocelular bucal de grande extensão protocolo diagnóstico. Oral squamous cell carcinoma of great extent - protocol diagnosis

LESÕES POTENCIALMENTE MALIGNAS: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER BUCAL

Adenoma pleomórfico: relato de caso clínico

Resumo. Graziela Cassimiro de Araújo Daher Gilberto de Araújo Pereira Ana Carolina D Arelli Oliveira

Colpocitologia Oncótica Anormal na Gestação. O exame citopatológico da cérvice é ainda o método de rastreio por excelência

PROCESSOS PATOLÓGICOS GERAIS. Prof. Archangelo P. Fernandes

Universidade Federal do Ceará Faculdade de Medicina Liga de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Jônatas Catunda de Freitas

NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO

PET-CT NO NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO. Dr. Mauro Esteves -

CORRELAÇÃO ENTRE A CITOLOGIA ASPIRATIVA COM AGULHA FINA E HISTOPATOLOGIA: IMPORTÂNCIA PARA O DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIAS MAMÁRIAS EM CADELAS 1

A deglutição é definida como processo que resulta no transporte do alimento da boca ao estômago. Preparatória

ANÁLISE DA IMUNOEXPRESSÃO DO BCL-2 COM PARÂMETROS CLÍNICO-MORFOLÓGICOS NO CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS DE LÍNGUA DE PACIENTES JOVENS E IDOSOS

XXIII Jornadas ROR-SUL. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa

Determinação da expressão de proteínas no sítio epitélio-mesênquima do Tumor Queratocístico Odontogênico: importância no comportamento tumoral

DESORDENS POTENCIALMENTE MALIGNAS

Avaliação do Doente Oncológico. José Alberto Fonseca Moutinho

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano IX Número 18 Janeiro de 2012 Periódicos Semestral

LESÃO INTRA-EPITELIAL ESCAMOSA DE BAIXO GRAU (LSIL) NIC 1 - DL

Revista da Graduação

Marina Lara de Carli 1, Sophia Loren Santos 2, Alessandro Antônio Costa Pereira 3, João Adolfo Costa Hanemann 4

16/03/12 TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES

TROCANDO IDÉIAS XX. MICROCARCINOMA: Quando indicar histerectomia?

Patologia - orientações

RADIOTERAPIA ESTEREOTÁXICA CORPÓREA

RESUMO UNITERMOS INTRODUÇÃO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATENDIMENTO FONOAUDIOLÓGICO DE PACIENTES TRATADOS DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO

ESTUDO DA PREVALÊNCIA DO CÂNCER BUCAL NO HC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ATRAVÉS DO CID 10

Angiogênese em carcinoma de células escamosas de língua e lábio inferior Angiogenesis in tongue and lower lip squamous cell carcinoma

Os tumores neuroendócrinos retais expressam marcadores como cromogranina e sinaptofisina, embora nem sempre sejam positivo.

XXIII Jornadas ROR-SUL. Mesotelioma Pleural no Sul do País. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa

Patologia Buco Dental Prof. Dr. Renato Rossi Jr.

VALOR PROGNÓSTICO DO LINFONODO METASTÁTICO E SUA RELAÇÃO COM A SOBREVIDA LIVRE DE DOENÇA NO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO. ESTUDO DE 668 CASOS

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, TRATAMENTO E SOBREVIDA DE PACIENTES COM CÂNCER BUCAL EM TAUBATÉ E REGIÃO

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM NEOPLASIA DE MAMA EM TRATAMENTO COM TRANSTUZUMABE EM HOSPITAL NO INTERIOR DE ALAGOAS

CÂNCER BUCAL: AVALIAÇÃO DO TEMPO DECORRENTE ENTRE A DETECÇÃO DA LESÃO E

Protocolo de Preservação de Orgão em Câncer de Cabeça e Pescoço

22 - Como se diagnostica um câncer? nódulos Nódulos: Endoscopia digestiva alta e colonoscopia

Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo laboratório de patologia bucal da Faculdade de Odontologia da Funorte no período de 2005 a 2008

Introdução à Disciplina de Patologia Oral

Departamento de Radioncologia Instituto CUF Porto Hospital de Braga

Microcarcinoma cervical-questões: Seguimento: igual ao da NIC III?

ESTADIAMENTO TNM PARA O TRATAMENTO DE CÂNCER BUCAL TNM STAGING FOR ORAL CANCER TREATMENT

AVALIAÇÃO DO AUTOCONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE BOCA DOS IDOSOS NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ: PROJETO DE PESQUISA

INTRODUÇÃO OBJETIVO MÉTODOS

Journal Club (set/2010)

Radioterapia de SNC no Câncer de Pulmão: Update Robson Ferrigno

É um nódulo pulmonar?

A IMPORTÂNCIA DO CIRURGIÃO-DENTISTA NA PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER DE BOCA

Matrilisinas e correlação com metástase em carcinoma de células escamosas de língual

MANUAL DE ORIENTAÇÃO DE CONTROLE DE QUALIDADE

Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço

Head and Neck April Humberto Brito R3 CCP

A RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO PRECOCE E A MELHORIA NO PROGNÓSTICO DE CRIANÇAS COM CÂNCER

Avaliação do Índice Apoptótico em Adenomas Pleomórficos de Glândulas Salivares

METÁSTASE CERVICAL DE TUMOR PRIMÁRIO OCULTO: ESTUDO DE 107 CASOS

MARCO AURELIO VAMONDES KULCSAR CHEFE DE CLINICA ICESP

ADENOMA PLEOMÓRFICO: DESAFIOS DO TRATAMENTO A Propósito de Um Caso Clínico

CAPÍTULO 18. MIOMAS SUBMUCOSOS: ESTADIAMEnTOS PARA TRATAMEnTO HISTEROSCÓPICO. 1. INTRODUçãO

S. C. SILVA; ANTÔNIO A. G. JUNIOR; LUANE A. MARTINS; 01 DE MAIO DE 2014.

LASER TERAPÊUTICO: OPÇÃO VIÁVEL NO TRATAMENTO DA MUCOSITE ORAL E XEROSTOMIA EM PACIENTES SUBMETIDOS À RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA

Cirurgiã dentista voluntária no serviço de Estomatologia do Hospital Metropolitano Odilon Behrens, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil 2

Correlação clínica e histopatológica de cistos e granulomas periapicais

IMAGIOLOGIA NOS TUMORES DE CÉLULAS RENAIS

Citopatologia I Aula 7

ÍNDICE DE DESVANTAGEM VOCAL NOS LARINGECTOMIZADOS TOTAIS

Estudo Comparativo entre o Líquen Plano e o Carcinoma Epidermóide em Mucosa Bucal

Transcrição:

Pesqui Odontol Bras 2002;16(3):216-220 Patologia Correlação entre a classificação TNM, gradação histológica e localização anatômica em carcinoma epidermóide oral Correlation between TNM classification, histological grading and anatomical location in oral squamous cell carcinoma Antonio de Lisboa Lopes Costa* José Carlos Pereira** Angélica Adriana Ferreira Nunes*** Maria de Lurdes da Silva Arruda**** RESUMO: O objetivo deste estudo foi investigar a existência de correlação da classificação clínica TNM com gradação histológica de malignidade e localização anatômica do carcinoma epidermóide oral. Selecionamos 120 casos de carcinoma epidermóide oral retirados dos arquivos do Hospital Dr. Luiz Antonio (Natal - RN). Após a análise dos prontuários, foram obtidos os dados referentes à classificação clínica TNM e localização anatômica da lesão. A gradação histológica de malignidade foi realizada de acordo com os parâmetros estabelecidos por Wahi 22 (1971). A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o teste de correlação de Pearson que demonstrou correlação (r = 0,2993, p = 0,01) estatisticamente significante entre a classificação clínica TNM e gradação histológica de malignidade, como também foi observada correlação (r = 0,4463, p = 0,01) entre a classificação clínica TNM e localização anatômica do carcinoma epidermóide oral. Concluímos que a classificação clínica TNM exibiu correlação com a diferenciação histológica e as diferentes localizações anatômicas. UNITERMOS: Neoplasias bucais; Carcinoma de células escamosas; Técnicas histológicas; Condições patológicas anatômicas. ABSTRACT: The aim of this study was to investigate the existence of correlation between the TNM clinical classification, histologic malignancy grading and anatomical location of oral squamous cell carcinoma. A total of 120 oral squamous cell carcinomas were selected from the files of the Dr. Luiz Antonio Hospital (Natal, Rio Grande do Norte, Brazil). Data concerning TNM clinical classification and anatomical location of lesions were obtained. Histologic malignancy grading was carried out following the criteria defined by Wahi 22 (1971). Pearson s correlation test was applied for the statistical analysis of data. It revealed a statistically significant correlation (r = 0.2993, p = 0.01) between TNM clinical classification and histologic malignancy grading. It also revealed correlation between TNM classification and the anatomical location of oral squamous cell carcinomas (r = 0.4463, p = 0.01). We concluded that TNM classification presented correlation with histological grading and with the different anatomical locations of oral squamous cell carcinomas. UNITERMS: Mouth neoplasms; Carcinoma, squamous cell; Histological techniques; Pathological conditions, anatomical. INTRODUÇÃO O câncer oral apresenta uma distribuição geográfica variável nas diferentes regiões do mundo. Em alguns países da Ásia e na Índia, o mesmo é responsável por 40% de todos tumores malignos, enquanto na maioria dos países ocidentais este índice varia de 3% a 5% das neoplasias malignas, estando entre os 10 tipos mais comuns de câncer 15. Dentre os cânceres de boca o carcinoma epidermóide representa aproximadamente 90% das neoplasias malignas e cerca de 38% dos tumores malignos de cabeça e pescoço. Predomina no sexo masculino e 75% dos casos ocorrem na faixa etária dos 60 anos 8. O sistema de estadiamento clínico TNM apresenta muitas qualidades, principalmente por avaliar as características fundamentais de um câncer que são: extensão local, disseminação regional e metástases à distância. Os sistemas de gradação histológica de malignidade são importantes, tendo *Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral; ***Bolsista de Iniciação Científica Universidade Federal do Rio Grande do Norte. **Professor Mestre em Patologia Oral da Universidade Tiradentes de Aracaju - SE. ****Cirurgiã-Dentista do Setor de Oncologia de Cabeça e Pescoço do Hospital Dr. Luiz Antonio de Natal - RN. 216

em vista que enfatizam as características histopatológicas e a relação imunológica entre o tumor e o hospedeiro. A localização anatômica da lesão também deve ser considerada como uma indicadora de prognóstico, já que os tumores apresentam comportamentos diferentes dependendo da localização anatômica 9,21. Nas últimas décadas, observa-se que muitas pesquisas visam estabelecer uma correlação das características clínicas e histopatológicas com o prognóstico; entretanto, os resultados não são inteiramente satisfatórios. Assim sendo, estamos nos propondo, a pesquisar se existe correlação da classificação clínica TNM, com a gradação histológica de malignidade e a localização anatômica dos pacientes acometidos pelo carcinoma epidermóide oral. MATERIAL E MÉTODOS Amostra, seleção dos casos e análise morfológica A amostra selecionada para a realização deste estudo foi constituída de 120 casos de carcinoma epidermóide oral de pacientes atendidos e registrados nos arquivos do Hospital Dr. Luiz Antônio, Natal - RN, no período de janeiro de 1989 a dezembro de 1998. Com a análise dos prontuários foram obtidos os dados relativos ao sexo dos pacientes, faixa etária, localização anatômica da lesão e classificação clínica TNM. Os dados referentes ao estadiamento clínico TNM foram classificados de acordo com os parâmetros estabelecidos pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) (Hermanek et al. 10, 1996; Neville et al. 17, 1998): Estágio T 1 =T 1 N 0 M 0 ; Estágio T 2 = T 2 N 0 M 0 ; Estágio T 3 = T 3 N 0 M 0, ou T 1, T 2, ou T 3 N 1 M 0 ; Estágio T 4 = qualquer lesão T 4, ou qualquer N 2 ou N 3, ou qualquer lesão M 1. As lâminas referentes aos casos foram obtidas a partir de biópsias incisionais fixadas em formol a 10% e emblocadas em parafina. Foram obtidos cortes de 3 µm de espessura e corados pela hematoxilina-eosina (H. E.). Em seguida foi realizado estudo morfológico em microscopia óptica por dois patologistas que examinaram cinco campos histológicos em cada caso. A avaliação sob o ponto de vista de malignidade foi realizada, de acordo com o sistema de gradação histológica de malignidade, desenvolvido por Wahi 22 (1971) publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que consiste de: Grau 1 - numerosas pérolas córneas, importante ceratinização celular com pontes intercelulares, menos de 2 mitoses por campo histológico, observando-se em maior aumento, raras mitoses atípicas e escassas células gigantes multinucleadas, pleomorfismo celular e nuclear muito reduzido. Grau 2 - pérolas córneas escassas ou ausentes, ceratinização celular e pontes intercelulares aparentes, 2-4 mitoses por campo histológico, algumas mitoses atípicas, moderado pleomorfismo celular e nuclear, escassas células gigantes multinucleadas. Grau 3 - raras pérolas córneas, ceratinização celular quase inexistente e ausência de pontes intercelulares, mais de 4 mitoses por campo histológico, freqüentes mitoses atípicas, pleomorfismo celular e nuclear pronunciado, freqüentes células gigantes multinucleadas. Análise estatística Para pesquisar a correlação da classificação clínica TNM com gradação histológica de malignidade e localização anatômica da lesão foi aplicado o teste de correlação de Pearson que analisa dados pareados. RESULTADOS De acordo com a análise dos dados referentes aos pacientes portadores de carcinoma epidermóide oral, constatamos que dos 120 casos analisados, 78 (65%) foram do sexo masculino (M) e 42 (35%) do sexo feminino (F), com uma relação de M/F de 1,85:1. A idade dos pacientes que compuseram a amostra variou de 21 a 90 anos com uma idade média de 68 anos. As décadas de vida mais acometidas foram: 51-60 anos com 23 casos (19,16%), 61-70 anos com 29 casos (24,16%) e 71-80 anos com 31 casos (25,83%). De acordo com a classificação clínica TNM, a nossa amostra foi assim distribuída: 29 casos (24,17%) foram classificados como T 1, 25 casos (20,83%) como T 2, 22 casos (18,33%) como T 3 e44 casos (36,67%) como T 4 (Tabela 1). Quanto à gradação histológica de malignidade, 25 casos (20,83%) foram bem diferenciados (grau 1), 75 (62,50%) moderadamente diferenciados (grau 2) e 20 (16,67%) pobremente diferenciados (grau 3) (Tabela 1). As localizações anatômicas mais acometidas foram: lábio inferior com 38 casos (31,67%), seguido por língua com 34 casos (28,34%), assoalho bucal 217

com 9 casos (7,5%), palato mole com 8 casos (6,67%) e mucosa jugal com 7 casos (5,83%) (Tabela 2). O teste de Pearson revelou correlação estatisticamente significante entre classificação clínica TNM e a gradação histológica de malignidade (r = 0,2923, p = 0,01) (Tabela 1). Esta mesma correlação também foi demonstrada entre classificação clínica TNM e localização anatômica da lesão (r = 0,4463, p = 0,01) (Tabela 2). DISCUSSÃO De acordo com os nossos resultados, observou-se correlação estatisticamente significante em TABELA 1 - Correlação da classificação clínica TNM com gradação histológica de malignidade do carcinoma epidermóide. Gradação histológica de malignidade TNM Grau 1 Grau 2 Grau 3 Total n % n % n % n % T 1 15 12,5 13 10,83 1 0,83 29 24,17 T 2 1 0,83 21 17,5 3 2,5 25 20,83 T 3 3 2,5 10 8,33 9 7,5 22 18,33 T 4 6 5 31 25,83 7 5,83 44 36,67 Total 25 20,83 75 62,50 20 16,67 120 100 Houve correlação em nível de 1% (r = 0,2993, p = 0,01). nível de 1% (p = 0,01) entre o estadiamento clínico TNM e a gradação histológica de malignidade. Observou-se que a maioria dos casos classificados clinicamente como T 1 et 2 exibiu gradação histológica de malignidade entre grau 1 e 2. Os casos classificados clinicamente como T 3 exibiram gradação histológica de malignidade entre grau 2 e 3. No entanto, é digno de nota que a maioria dos casos classificados clinicamente como T 4 exibiu gradação histológica de malignidade grau 2, variando um pouco a tendência que vínhamos observando entre a correlação clínica TNM e gradação histológica de malignidade. Do mesmo modo Neto, Quadros 16 (1998); Oliver et al. 19 (1996); Wahi 22 (1971); Anneroth et al. 1 (1987) relataram uma estrita correlação entre classificação clínica TNM e gradação histológica de malignidade em carcinoma epidermóide oral. Oliver et al. 19 (1996) observaram que a mortalidade aumenta em relação ao estágio no qual o diagnóstico é feito, ou seja, pacientes com estadiamento clínico T 3 ou T 4 têm um prognóstico pior que aqueles com lesões T 1 et 2, muito embora os referidos autores não tenham encontrado correlação entre gradação histológica e prognóstico. Na literatura consultada, muitos autores consideram o estadiamento clínico TNM como um dos melhores indicadores de prognóstico do carcinoma epidermóide oral (Hermaneck et al. 10, 1996; Iro, TABELA 2 - Correlação entre estadiamento clínico TNM e localização anatômica do carcinoma epidermóide. Estadiamento clínico TNM Localização T anatômica 1 T 2 T 3 T 4 Total n % n % n % n % n % Lábio inferior 21 17,5 8 6,67 5 4,17 4 3,33 38 31,67 Língua 3 2,5 9 7,5 5 4,17 17 14,17 34 28,33 Assoalho bucal 1 0,83 3 2,5 1 0,83 4 3,33 9 7,5 Palato mole - - 3 2,5 1 0,83 4 3,33 8 6,67 Mucosa jugal - - - - 3 2,5 4 3,33 7 5,83 Palato duro e mole - - - - 1 0,83 6 5 7 5,83 Região retromolar 1 0,83 1 0,83 2 1,67 1 0,83 5 4,17 Lábio superior 2 1,67 - - 2 1,67 1 0,83 5 4,17 Palato duro 1 0,83 - - 1 0,83 2 1,67 4 3,33 Rebordo alveolar - - - - 1 0,83 2 1,67 3 2,5 Total 29 24,17 24 20 22 18,33 45 37,50 120 100 Houve correlação em nível de 1% (r = 0,4463, p = 0,01). 218

Waldfaherer 13, 1998; Costa et al. 7, 2000). Outros estudos corroboram a afirmação anterior tendo em vista que demonstraram uma forte correlação da classificação clínica TNM com o prognóstico do carcinoma epidermóide oral (Hosal et al. 12, 1998; Carinci et al. 5, 1999; Lacy et al. 14, 1999). Para outros autores como Urist et al. 21 (1987) e Dib et al. 9 (1994) a classificação clínica TNM é um indicador de prognóstico importante apenas nos seus extremos, ou seja, nos estágios T 1 et 4, apresentando falhas nos estágios intermediários. Considerando esta afirmação, no presente estudo observou-se que a maioria dos casos classificados como T 4 foi graduado histologicamente como grau 2. Entretanto, nos outros estadiamentos clínicos (T 1,T 2 et 3 ) observamos uma forte correlação entre a classificação clínica TNM e a gradação histológica de malignidade. Holm et al. 11 (1982) relataram que a gradação histológica de malignidade utilizando-se escores histológicos é um método mais indicado do que o grau de diferenciação convencional de acordo com Wahi 22 (1971) para a avaliação do comportamento biológico do carcinoma de língua, já que Holm et al. 11 (1982) encontraram uma íntima correlação entre o escore total de malignidade e a evolução final do carcinoma epidermóide. Diferentemente, Costa et al. 7 (2000) não encontraram correlação dos escores histológicos de malignidade com a classificação clínica TNM e prognóstico em carcinoma de língua. O presente estudo utilizou o grau de diferenciação histológica convencional de Wahi 22 (1971) e demonstrou uma forte correlação da classificação clínica TNM com a gradação histológica de malignidade do carcinoma epidermóide. Nós achamos que os métodos de gradação histológica que utilizam os escores histológicos de malignidade (Anneroth et al. 1, 1987; Bryne 3, 1998) apresentam falhas pelo fato de não definirem até onde podemos considerar alto e baixo escores. Relatos de Bryne et al. 4 (1992); Odell et al. 18 (1994); Bryne 3 (1998) sugerem que a gradação histológica do fronte invasivo do tumor fornece uma melhor informação prognóstica, sendo assim, os referidos autores recomendam que a gradação histológica de malignidade seja feita em biópsias incisionais amplas objetivando um melhor planejamento cirúrgico para o paciente. Para os referidos autores não terá sentido fazer a gradação histológica da peça cirúrgica uma vez que o tumor já foi totalmente removido, não proporcionando portanto, um planejamento adequado antes da cirurgia. Concordamos com os autores supracitados uma vez que no presente estudo foram utilizadas biópsias incisionais amplas (diâmetro e profundidade) de forma que fosse possível a observação de cinco campos histológicos para a realização da gradação histológica de malignidade. De acordo com os nossos resultados, observou-se correlação estatisticamente significante em nível de 1% (p = 0,01) entre estadiamento clínico TNM e localização anatômica da lesão. Observou-se que a maioria dos casos classificados clinicamente como T 1 acometeram o lábio inferior e à medida que ia aumentando o estadiamento clínico, o número de casos desta localização diminuiu proporcionalmente, enquanto que a maioria dos casos que acometeram a língua foi classificado clinicamente como T 4. Quanto ao assoalho bucal e palato mole, observou-se que a maioria dos casos foi classificada clinicamente como T 4. Os nossos achados nos permitem inferir que estas localizações (língua, palato mole e assoalho) são as de maior risco quanto a um pior prognóstico do carcinoma epidermóide oral. Os resultados do presente estudo estão de acordo com os relatos de Catanzaro Guimarães 6 (1982); Shafer et al. 20 (1987); Neville et al. 17 (1998) que consideram a localização anatômica como um indicador de prognóstico importante, sabendo-se que as lesões que acometem o lábio inferior geralmente são bem diferenciadas quando comparadas com as lesões que acometem a língua e o assoalho bucal. De acordo com Beltrami et al. 2 (1992), os tumores localizados em lábio inferior exibem freqüentemente melhor prognóstico, quando comparado com as demais localizações da cavidade oral. De acordo com Shafer et al. 20 (1987) os carcinomas que acometem a língua e assoalho bucal geralmente apresentam um prognóstico reservado devido à freqüente presença de metástases cervicais. Os nossos resultados chamam a atenção para alguns fatores que devem ser considerados nestes pacientes portadores de carcinoma epidermóide, principalmente, com relação à localização anatômica da lesão, classificação clínica TNM e gradação histológica de malignidade que demonstraram ser importantes indicadores de prognóstico. Por isso, é importante alertar aos cirurgiões-dentistas para que conheçam melhor todos esses indicadores a fim de que possam realizar o diagnóstico precoce desta neoplasia, contribuindo assim para um aumento da sobrevida e qualidade de vida dos pacientes portadores de carcinoma epidermóide oral. 219

CONCLUSÕES Baseado em nossos resultados concluímos que: 1. Existe correlação estatisticamente significante entre o estadiamento clínico TNM e a gradação histológica de malignidade. 2. Existe correlação estatisticamente significante entre o estadiamento clínico TNM e localização anatômica da lesão. REFERÊNCIAS 1. Anneroth G, Batsakis J, Luna M. Review of the literature and a recommended system of malignancy grading in oral squamous cell carcinomas. Scand Dent Res 2. Beltrami 1987;95(3):229-49. CA, Desinan L, Rubini C. Prognostic factors in squamous cell carcinoma of the oral cavity: a retrospective study of 80 cases. Pathol Res Pract 1992;188: 510-6. 3. Bryne M. Is the invasive front of oral carcinoma the most important area for prognostications? Oral Dis 1988;4(2):70-7. 4. Bryne M, Koppang HS, Lilleng R, Kjaerheim A. Malignancy grading of the deep invasive margins of oral squamous cell carcinomas has high prognostic value. J Pathol 1992;166(4):375-81. 5. Carinci F, Farina A, Longhini L, Urso RG, Pelucchi S, Calearo C. Is the new TNM (1997) the best system for predicting prognosis? J Oral Maxillofac Surg 1999; 28(3):203-5. 6. Catanzaro Guimarães SA. Patologia básica da cavidade bucal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. 7. Costa ALL, Dantas DDL, Ramos CCF, Nunes AAF, Pinto LP. Parâmetros clínico-patológicos em carcinoma epidermóide de língua. Pesqui Odontol Bras 2000;14 supl: 130. 8. Costa ALL, Souza LB, Arruda MLS, Nunes AAF, Silva LPP. Oral squamous cell carcinoma: retrospective study of 389 cases. J Dent Res 2000;79(5):1094. 9. Dib LL, Sabba LMB, Marques LA, Araújo NS. Fatores prognósticos em carcinoma de borda de língua: análise clínica e histopatológica. Acta Oncol Bras 1994;14(2): 88-93. 10. Hermanek P, Sobin HL, Fleming DI. What do we need beyond TNM? Cancer 1996;77(5):815-7. 11. Holm LE, Lundquist PG, Silversvärd R. Histological grading of malignancy in oral squamous cell carcinoma of the tongue. Acta Otolaryngol 1982;94:185-92. 12. Hosal AS, Unal OF, Ayhan A. Possible prognostic value of histopathologic parameters in patients with carcinoma of the oral tongue. Eur Arch Otolaryngol 1998;255(4): 216-9. 13. Iro H, Waldfaherer F. Evaluation of the newly update. TNM classification of head and neck carcinoma with data from 3,247 patients. J Oral Maxillofac Surg 1998;15: 2201-7. 14. Lacy PD, Spitznagel Jr EL, Piccirillo JF. Development of a new staging system for recurrent oral cavity and oropharyngeal squamous cell carcinoma. Cancer 1999;15(86):1387-95. 15. Line S, Lopes MA, Zaia AA, Jacks Júnior J. As alterações gênicas e o desenvolvimento do câncer bucal. Rev Assoc Paul Cir Dent 1995;49(1):51-6. 16. Neto MM, Quadros OF. Associação entre os estadiamentos clínicos T1, T2, T3 e T4 e a graduação histopatológica do carcinoma epidermóide de língua. Rev Odonto Ciência 1998;13(26):51-67. 17. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 18. Odell EW, Jani P, Sheriff M, Ahluwalia SM, Hibbert J, Levison DA, Morgan PR. The prognostic value of individual histologic grading parametres in small lingual squamous cell carcinomas. The importance of the pattern of invasion. Cancer 1994;74(3):789-94. 19. Oliver AJ, Helfrick FJ, Gard D. Primary oral squamous cell carcinoma: a review of 92 cases. J Oral Maxillofac Surg 1996;54(8):949-54. 20. Shafer WG, Hine MK, Levy BM. Tratado de Patologia Bucal. Rio de Janeiro: Interamericana; 1987. 21. Urist MM, O'Brien CJ, Soong SJ, Visscher DW, Maddoz WA. Squamous cell carcinoma of buccal mucosa; analysis of prognostic factors. Am J Surg 1987;154:411-5. 22. Wahi PM. Tipos histológicos de tumores orales y orofaringeos. Ginebra: Organización Mundial de la Salud; 1971. Recebido para publicação em 11/01/02 Enviado para reformulação em 12/06/02 Aceito para publicação em 05/07/02 220