Das penas restritivas de direito As penas restritivas de direito são sanções autônomas, que substituem as penas privativas de liberdade por certas restrições ou obrigações, quando preenchidas as condições legais para a substituição. (Delmanto, Celso. Código Penal Comentado. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p.79.) Como característica principal das penas restritivas de direito pode-se citar o seu caráter substitutivo, ou seja, elas somente serão aplicadas em substituição a pena privativa de liberdade. Também em virtude deste caráter substitutivo as penas restritivas de direito não podem ser aplicadas cumulativamente com as penas privativas de liberdade. As penas restritivas de direito terão a mesma duração da pena substituída (privativa de liberdade). Porém, se a pena substituída for superior a 1 ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo, nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada, isso no caso da prestação de serviços à comunidade. São 5 as penas restritivas de direito: I prestação pecuniária; II perda de bens e valores; III prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; IV interdição temporária de direitos; V limitação de fim de semana. A prestação pecuniária consiste em pagamento à vítima, a seus dependentes ou à entidade pública ou privada com fim social. A regra é a prestação pecuniária em dinheiro, embora seja aceita prestação de outra natureza, desde que com o consentimento do beneficiário. A prestação pecuniária tem natureza penal e será fixada pelo juiz entre 1 e 360 salários mínimos. Quanto à fixação do valor, este deve ser suficiente para a prevenção e reprovação do delito, levando-se em conta também a situação econômica do condenado e o tamanho do dano sofrido pela vítima. Não se pode confundir multa com prestação pecuniária: a primeira destina-se ao Estado, enquanto que a segunda à vítima, a seus dependentes e a entidades públicas ou privadas. Se não cumprida, a multa não pode ser convertida em pena privativa de liberdade. A perda de bens e valores será concedida em favor do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). Esta pena é muito aplicada nos casos de estelionato. Estes bens podem ser tanto móveis quanto imóveis e a lei não fixa um mínimo, apenas um máximo, sempre tendo por base o prejuízo causado à vítima. Devido à sua natureza penal ela é considerada pessoal e intransferível, de modo que a morte do autor da infração penal acarreta a extinção da pena, ficando os sucessores deste, livres de qualquer obrigação. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na obrigação do condenado em executar serviços gratuitos à comunidade ou a entidades públicas. É aplicada nos casos em que a pena privativa de liberdade seja superior a 6 meses.
O condenado sempre prestará os serviços levando-se em conta suas aptidões anteriores e tal tarefa será executada à razão de 1 hora por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. A interdição temporária de direitos compreende as seguintes imposições: I proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; II proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; III suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; IV proibição de freqüentar determinados lugares. A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. Quando não for possível em determinada comarca a aplicação da limitação de fim de semana, é aconselhável ao juiz conceder o sursis ao condenado. Ao juiz cabe fazer a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito, nos seguintes casos: I aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 anos e se o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II o réu não for reincidente em crime doloso; III a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. No caso de condenação igual ou inferior a 1 ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. Porém, se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. De outro lado, a pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar, será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitando o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. Se sobrevier condenação à pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. A pena de multa (arts. 49 ao 52, CP)
A pena de multa, terceira e última das espécies de penas aplicáveis, consiste na obrigação imposta ao condenado de pagar ao fundo penitenciário determinada quantia em dinheiro, que será fixada em dias-multa. A pena de multa é destinada aos cofres públicos estaduais, e será de no mínimo 10, e de no máximo 360 dias-multa. A obrigação de pagar a multa também é intransferível, ou seja, não ultrapassa a pessoa do condenado. A pena de multa pode ser aplicada tanto como única forma de punição; como forma cumulativa com as penas privativas de liberdade; ou, ainda, como forma substitutiva destas. Neste caso, é necessário que, primeiramente, seja fixada a pena privativa de liberdade, para depois, substituí-la pela pena de multa. Não é necessário haver correspondência entre a quantidade de dias-multa e a quantidade da pena privativa de liberdade substituída. O valor do dia-multa será fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a um 1/30 do salário mínimo vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 vezes esse salário, valor este que poderá ser atualizado pelos índices de correção monetária. A pena de multa tem seu valor calculado, por meio da realização de 3 etapas: 1ª) encontrar o número de dias-multa; 2ª) encontrar o valor de cada dia-multa; 3ª) multiplicar o número de diasmulta pelo valor de cada um deles. É importante ressaltar que este valor deve ser calculado sempre tendo em vista a situação econômica do réu, ou seja, quanto mais rico, maior deverá ser a pena de multa a ele imposta. Não mais existe a conversão da pena de multa em pena de detenção, virando dívida de valor, a ser executada pela Fazenda Pública como dívida ativa (art. 51 do CP). A suspensão da execução da multa é possível nos termos do art. 52, CP, o qual dispõe que ela será suspensa em caso de doença mental do condenado. Das medidas de segurança (arts. 96 ao 99 CP) Introdução Antes prevalecia o sistema do duplo binário ou duplo trilho, o qual ocorria que o condenado considerado perigoso, e era condenado a pena privativa de liberdade, cumpria primeiro essa e depois ainda sofria a aplicação de medida de segurança. Desta forma, aplicava-se pena e medida de segurança. Com a reforma penal de 1984, passou a se adotar o sistema vicariante, que significa substituição, ou seja, será aplicada somente uma delas; pena ou medida de segurança. Assim como a pena, as medidas de segurança também são sanções penais. Mas contrariamente àquela, possuem natureza apenas preventiva e se fundamentam na periculosidade do agente. A finalidade da medida de segurança é curar, tratar do agente. A medida de segurança tem como característica principal o fato de ter tempo indeterminado, só terminando quando cessar a periculosidade do agente, a qual de vê ser atestada por perícia médica. O prazo mínimo para a internação ou tratamento ambulatorial é de 1 a 3 anos, após esse prazo deve ser feita a perícia médica.
Uma parte da doutrina defende que o prazo de duração das medidas de segurança não pode ser completamente indeterminado, sob pena de ofensa ao princípio constitucional que proíbe a prisão perpétua. Defende-se que o prazo da medida de segurança não pode ultrapassar o prazo máximo da pena in abstrato atribuída ao delito. Ressalta-se que, não se aplicam aos agentes plenamente imputáveis, mas somente aos semi-inimputáveis ou aos inimputáveis. Desta forma, os inimputáveis devem ser absolvidos (sentença absolutória imprópria), mas devem sofrer a aplicação de medida de segurança. Após o trânsito em julgado da sentença que aplicar medida de segurança será expedida guia para a execução, sendo que ninguém pode ser internado ou submetido a tratamento ambulatorial para cumprimento de medida de segurança sem a guia expedida pela autoridade judiciária. São considerados pressupostos da medida de segurança: a) prática de crime; b) potencialidade para novas ações delituosas. O CP prevê as seguintes medidas de segurança: I internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II sujeição a tratamento ambulatorial. A primeira (internação) recebe o nome de medida de segurança detentiva, enquanto que a segunda (tratamento) é denominada de medida de segurança restritiva. Medida de segurança detentiva A medida de segurança detentiva possui as seguintes características: a) é obrigatória quando a pena imposta for a de detenção; b) será por tempo indeterminado, até que cesse a periculosidade do agente, que deverá ser comprovada por meio de perícia médica; c) esta cessação da periculosidade será averiguada após um prazo mínimo, estipulado entre 1 e 3 anos; d) a averiguação pode ocorrer a qualquer tempo, mesmo antes do término do prazo mínimo. Medida de segurança restritiva A medida de segurança restritiva possui as seguintes características: a) se o fato é punível com detenção, o juiz pode determinar o tratamento ambulatorial; b) este tratamento será por prazo indeterminado até a constatação da cessação da periculosidade; c) a constatação será feita por perícia médica após o decurso do prazo mínimo, que varia entre 1 e 3 anos; d) a constatação pode ocorrer a qualquer momento, mesmo antes do término do prazo mínimo estipulado. Considerações finais Pode haver a conversão do tratamento ambulatorial em internação de acordo com o 4º do art. 97, CP, em qualquer fase do tratamento ambulatorial, se esta medida tiver como pressuposto
fins curativos. Porém, a lei não prevê o contrário, ou seja, a conversão da internação em tratamento ambulatorial. Se, durante a execução da pena privativa de liberdade, ao condenado sobrevier doença mental, o juiz poderá determinar a substituição da pena pela medida de segurança. Porém, ambas não podem ser cumuladas: ou se aplica a pena privativa de liberdade ou a medida de segurança. Contudo, não poderá ser aplicada a medida de segurança se não houver prova da autoria do crime, prova do fato, se estiver presente causa de exclusão da ilicitude, se o crime for impossível e se ocorreu a prescrição ou outra causa extintiva da punibilidade, tendo em vista que, em todos estes casos, não ficou provada a prática da infração penal. Da mesma maneira que as outras espécies de pena, a medida de segurança somente será aplicada após o devido processo legal. Os direitos do preso De acordo com o art. 38 do CP, o preso conserva todos os direitos não atingidos pela condenação. Assim, terá ele direito à vida, à integridade física e moral, à igualdade, à liberdade de pensamento e convicção religiosa, de propriedade, direito de petição aos Poderes Públicos ou contra abuso de poder, direito à inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem, à assistência jurídica, ao trabalho remunerado, de receber visitas, além de outros. Quer saber mais sobre Direito e Processo Penal? Então acompanhe o! fernandotadeu.marques Prof_Marques Prof_Marques Fernando Tadeu Marques fernandotmarques@hotmail.com www.aulaemminutos.com.br