PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO E FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM DIFERENTES PERCENTUAIS DA VELOCIDADE CRÍTICA NO NADO LIVRE

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Transcrição:

PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO E FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM DIFERENTES PERCENTUAIS DA VELOCIDADE CRÍTICA NO NADO LIVRE Marcos Franken, Felipe Pivetta Carpes, Fernando Diefenthaeler, Flávio Antônio de Souza Castro Laboratório de Pesquisa do Exercício LAPEX Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil INTRODUÇÃO Resultados de estudos relacionados à organização de programas de treinamento em natação para o alto rendimento pressupõem a necessidade da utilização de parâmetros de controle e de avaliação para quantificação das cargas e do condicionamento físico do nadador ao longo de uma temporada. Dessa forma, é possível verificar as necessidades de cada atleta e oferecer uma prescrição eficiente das intensidades de treinamento, garantindo assim a certeza da evolução, ou não, provinda em determinado período (VILAS-BOAS et al., 1997). Dentre as variáveis que são comumente utilizadas para a prescrição da intensidade do exercício em modalidades esportivas cíclicas com predominância do sistema aeróbico, temos o lactato sangüíneo, a freqüência cardíaca (FC), a velocidade crítica (VC), o consumo de oxigênio (VO 2 ) e a percepção subjetiva de esforço (PSE) (GARCIN & BILLAT, 2001; GREEN et al., 2005). A VC é um modelo de protocolo de avaliação e prescrição da intensidade do treinamento físico, que tem apresentado elevados índices de correlação com a intensidade de limiar anaeróbio (LAn) correspondente a concentração de 4 mmol de lactato sangüíneo (WAKAYOSHI et al., 1992). Além disso, a VC é um método não-invasivo de avaliação que apresenta muitas vantagens, como, por exemplo, a facilidade de aplicação na avaliação de um grande número de atletas, podendo ser realizada durante as sessões de treino e, principalmente, sem a necessidade da utilização de equipamentos de alto custo ou de amostras sangüíneas (HILL et al., 1995). Entretanto, há incertezas quanto a sua utilização para a prescrição das diferentes intensidades de treinamento (DEKERLE et al., 2002). Ainda em relação à prescrição e monitoramento do treinamento, o uso do LAn como modelador de zonas de intensidade é amplamente difundido entre técnicos e atletas. Embora envolva um maior custo, existe um consenso na literatura de que o parâmetro mais confiável para a determinação da intensidade do LAn é por meio da análise da concentração de lactato sangüíneo (HECK et al., 1985). O alto custo para uso rotineiro deste tipo de metodologia levou ao desenvolvimento de protocolos alternativos, como o uso das escalas da PSE, que foram criadas com a intenção de estabelecer relações entre a percepção subjetiva de esforço e o estresse fisiológico (BORG, 1982; NAKAMURA et al., 2005). A PSE é um parâmetro nãoinvasivo e prático para avaliação da intensidade de exercício aeróbico, sendo considerado uma ferramenta útil para a prescrição das intensidades de exercício (GREEN et al., 2005; ENGBRETSON et al., 2004). O comportamento da PSE pode ser observado empregando-se a escala de Borg 6-20, quando há um aumento linear de acordo com o aumento da FC, do consumo de oxigênio e da concentração de lactato sanguíneo (UEDA & KUROKAWA, 1995). Outros estudos encontraram relação entre a resposta lactacidêmica e a PSE em teste incremental no nado livre, considerando que a PSE pode ser considerada uma medida efetiva da intensidade do esforço nesse tipo de exercício (LIMA et al., 2006; UEDA & KUROKAWA, 1995).

Em exercícios realizados em intensidade superior ao LAn parece existir um agente etiológico comum à integração dos sinais aferentes periféricos e centrais, levando a acidose metabólica (KOSTKA & CAFARELLI, 1982; ROBERTSON et al., 1986). As reduções do ph tecidual e do ph sangüíneo, respectivamente, causam fadiga muscular e se associam ao aumento da ventilação. Em razão disso, é esperada uma maior atividade neuromotora eferente, tanto para os músculos esqueléticos quanto para os músculos responsáveis pela ventilação, para manter o mesmo nível de trabalho, gerando assim uma PSE crescente (KOSTKA & CAFARELLI, 1982; CAFARELLI, 1982). Considerando a relação linear entre a velocidade média de nado, parâmetros fisiológicos e PSE (UEDA & KUROKAWA, 1995), a percepção subjetiva do esforço relativa ao LAn pode coincidir com a intensidade da VC. Este comportamento simplificaria a avaliação do limiar anaeróbico (LAn) e de índices associados durante as avaliações e as séries de treinamento físico. Uma relação entre a VC e a PSE para diferentes intensidades de nado parece não ter sido investigada, ainda que esta se mostre como um parâmetro de fácil aplicação e útil para a prescrição e monitoramento das intensidades de treinamento em natação. Sendo assim, os objetivos deste estudo foram verificar a utilização dos percentuais da VC no controle do teste de produção de ordem irregular, junto às respostas da FC e da PSE, e as relações entre a PSE, a FC e a VC no nado livre. MATERIAIS E MÉTODOS Participantes Participaram deste estudo oito nadadores meio-fundistas (cinco homens e três mulheres), com idade entre 18 e 27 anos. Todos apresentavam no mínimo seis anos de experiência competitiva na modalidade e treinavam entre quatro e oito vezes por semana, com distância semanal de treino entre 20.000 e 40.000 m, com treinamento regular há pelo menos seis anos e com participações em campeonatos de nível regional e nacional. Antes da participação nas avaliações, os sujeitos foram informados de todos os procedimentos inerentes aos testes, assinando um termo de consentimento concordando com a participação no estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da instituição onde foi desenvolvido. Os testes foram realizados no horário de treino dos sujeitos. Previamente às avaliações, foi recomendado aos sujeitos reduzir os níveis de atividade física por um período mínimo de 24 horas. Determinação das variáveis antropométricas Para obtenção das variáveis antropométricas, foi utilizada uma balança da marca Filizola, com resolução de 0,1 kg, para a medida da massa corporal e uma fita métrica com resolução de 0,01 m, fixada à parede, para medida da estatura e, fixada sobre um tapete num sentido horizontal, para obtenção da medida de envergadura. Um adipômetro científico Sammy, com resolução de 0,1 mm, foi utilizado para obtenção das medidas de dobras cutâneas para o cálculo do percentual de gordura por meio do protocolo de Faulkner (FAULKNER, 1968), avaliando-se quatro dobras cutâneas selecionadas (tricipital, abdominal, supra-ilíaca e subescapular) expressas em mm. Familiarização à Escala RPE de 15 pontos de Borg Os indivíduos passaram por três a cinco sessões de familiarização com a escala RPE de 15 pontos de Borg (BORG, 2000), que foi utilizada na etapa posterior do estudo. A escala era apresentada aos participantes durante os treinamentos, quando os nadadores atribuíam um

valor numérico na escala correspondente a sua PSE de uma forma geral no instante. Como a escala possui atributos verbais ao lado números, facilitava a escolha, pois a relação entre os atributos verbais e os valores numéricos aprimora o hábito do indivíduo em usar a escala (ex.: 6-sem nenhum esforço; 19-extremamente intenso). Procedimentos experimentais Todas as coletas de dados foram realizadas em piscina de 25 m com temperatura da água entre 28 e 30 C. Foi adotado o estilo de nado crawl, com aquecimento realizado livremente e no horário de treino dos atletas. Os atletas foram submetidos a repetições máximas nas distâncias de 200 e 400 m, realizados de forma aleatória e separados por, no mínimo, 24 horas, e a um teste de produção de ordem irregular com esforços de 200 m realizados, no mínimo, 48 horas após a segunda repetição máxima. Determinação da velocidade crítica Para a determinação da VC, foram registrados os tempos para a realização de dois tiros máximos nas distâncias de 200 e 400 m. Os dados de distância e tempo foram plotados em um modelo de regressão linear, o que resultou numa reta cuja inclinação foi considerada como a VC individual (WAKAYOSHI et al., 1992). Com auxílio de um cronômetro da marca Technos, foi registrado o tempo total para cada tiro máximo realizado. A FC foi monitorada com um freqüêncímetro Polar modelo S810 (Polar Electro Oy, Finlândia). No final de cada esforço, os indivíduos visualizaram a escala de Borg 6-20 e reportaram o índice de esforço percebido para obtenção da PSE. Teste de produção de ordem irregular O protocolo do teste de produção de ordem irregular (MARRIOTT & LAMB, 1996) constou de cinco repetições de 200 m, com intervalos de 90 segundos de repouso passivo, para o relato do índice de esforço percebido para obtenção da PSE e da monitoração da FC. Os percentuais pela VC prescrita, foram realizados em ordem aleatória: 90, 95, 100, 103 e 105% da VC. Foi registrado o tempo de 200 m, que foi utilizado posteriormente para o cálculo da velocidade de cada deslocamento do protocolo. Ao final de cada repetição de esforço, o indivíduo reportou o índice de esforço percebido de forma geral pela visualização da escala RPE. Análise estatística Foram calculadas medianas e/ou médias, desvios e erros-padrão das variáveis de PSE, VC e FC. A normalidade na distribuição dos dados das variáveis numéricas foi verificada com o teste de Shapiro Wilk. As correlações entre as variáveis foram verificadas com a aplicação do teste de correlação de Spearman para dados não-paramétricos, e um teste t de Student simples foi utilizado para comparar a VC prescrita e a VC real. Quando encontradas diferenças entre os % prescritos e reais da VC, os reais eram comparados com o valor percentual prescrito imediatamente superior. Os cálculos foram realizados no programa SPSS v 12.0, para α < 0,05. RESULTADOS

Na Tabela 1 são apresentadas as medidas antropométricas e de composição corporal do grupo de nadadores. Tabela 1. Medidas antropométricas e de composição corporal dos nadadores (n = 8), média ± desvio-padrão (dp). Média dp Massa corporal (kg) 67,17 9,70 Estatura (cm) 172,71 7,64 Envergadura (cm) 179,12 9,38 Gordura corporal (%) 14,29 1,64 Na Tabela 2 são apresentadas as análises de concordâncias entre velocidade crítica prescrita (VCp) e a real (VCr), e as comparações dos percentuais em que ocorreram diferenças estatisticamente significativas entre a VCp e a VCr com os percentuais acima nos esforços do teste de produção de ordem irregular. Tabela 2. Comparação entre os valores dos percentuais de VC prescrita (VCp) e VC real (VCr). Média ± desvio-padrão (dp) e nível de significância (p). VCp % VCr (média ± dp) % p(comparação entre prevista e real) p (comparação entre real e percentual acima) 90 92,10 ± 1,50 0,005* 0,001* 95 96,10 ± 2,26 0,098-100 101,70 ± 1,40 0,012* 0,037* 103 103,50 ± 1,77 0,123-105 105,80 ± 1,61 0,987 - Na Tabela 3, a análise descritiva entre as variáveis de percentual da VCr e PSE no nado livre são apresentadas considerando média ± desvio-padrão (dp) e mediana (mínimomáximo), respectivamente. Os percentuais da VCr apresentaram correlação significativa (r = 0,82; p<0,01) com os índices da escala RPE 6-20 (mediana PSE).

Tabela 3. Análise descritiva das variáveis de percentuais da VCr e PSE no nado livre, para média ± desvio-padrão (dp) e mediana (mínimo-máximo). % VCr (média ± dp) Mediana PSE (mínimo-máximo) 92,10 ± 1,50 11 (11-12) 96,10 ± 2,60 13 (11-14) 101,70 ± 1,40 13 (13-16) 103,50 ± 1,70 15 (13-17) 105,80 ± 1,61 16 (15-17) A Figura 1, mostra o aumento linear significativo entre os percentuais da VCr e a FC durante os esforços no teste de produção de ordem irregular (r= 0,652, p<0,01). Figura 1. Correlação entre percentuais da velocidade crítica real (VCr) e a freqüência cardíaca (FC), p<0,01, n=8. DISCUSSÃO Considerando possíveis relações entre diferentes percentuais da VC com as variáveis da PSE e da FC, o objetivo deste estudo foi verificar as relações da PSE e da FC com diferentes percentuais da VC no nado livre, o que pode fornecer evidências que suportem o uso de diferentes percentuais da VC como modulador da intensidade durante o treinamento. Durante o teste de produção de ordem irregular a FC e a PSE aumentaram linearmente para os diferentes percentuais da VCr (Figura 1, r = 0,652, p<0,01; Tabela 3, r = 0,824, p<0,01, respectivamente). Isso demonstra que a determinação das intensidades utilizando

percentuais da VC é confiável para estabelecer intensidades de nado. Porém, não foram encontradas referências que suportem a metodologia apresentada no presente estudo, já que a maioria dos estudos utiliza análises laboratoriais e ou outros métodos para aquisição de dados fisiológicos (carga no cicloergômetro e velocidade na esteira). O valor baixo de correlação encontrado possivelmente ocorreu devido às intensidades terem sido estabelecidas pelos percentuais da VC em intervalos não regulares. De modo semelhante ao nosso estudo, porém utilizando outros parâmetros para a determinação das intensidades de nado, Ueda & Kurokawa (1995), ao avaliarem dez indivíduos no swimming flume, analisaram as relações entre variáveis fisiológicas, como o consumo de oxigênio, FC e concentração de lactato sangüíneo, com a PSE utilizando a escala RPE de 15 pontos de Borg 6-20. Os resultados mostraram um aumento linear entre a intensidade e a PSE (r = 0,991 para os homens e r = 0,998 para mulheres). O consumo de oxigênio e escala RPE de Borg (6-20) em velocidades progressivas de nado apresentaram relação linear com a intensidade, independentemente do estilo de nado avaliado em seis nadadores universitários com e sem o uso de roupas resistivas (CHOI et al., 2000). Concordando com o estudo anterior, porém utilizando a PSE por meio da escala de Borg 6-20 para prescrição da intensidade, Lima et al. (2006) encontraram relação linear significativa entre a velocidade de nado e a PSE prescrita, sugerindo que a determinação das intensidades de nado utilizando a PSE é um método confiável para estabelecimento de parâmetros de velocidades adequados durante um teste de nado incremental. Em outro estudo, Marriot & Lamb (1996) encontraram relação linear entre a PSE e a potência média (Watts), tanto em um teste de produção de ordem irregular, quanto em teste incremental (r = 0,87 e r = 0,96, respectivamente, p < 0,01), onde a escala de Borg 6-20 foi empregada para a determinação da intensidade. Relação linear entre percentuais da FC e o aumento da VCr durante teste de produção de ordem irregular semelhantes ao presente estudo (r = 0,824; Figura 1) foram encontrados por Demura & Nagasawa (2003), ao analisarem as relações entre a FC e a PSE em teste incremental até a exaustão, com recuperação ativa de 25 minutos, em 10 indivíduos saudáveis em cicloergômetro, com correlações significativas encontradas durante o teste (r = 0,99) e na recuperação (r = 0,97). Concordando com o estudo anterior, Lima et al. (2006), encontraram um aumento linear significativo da FC com a PSE prescrita e as correlações individuais variaram entre r = 0,94 e 1,00. Corroborando com os achados citados acima, Taylor & Maclaren (1998) ao analisarem a relação entre a PSE no limiar de lactato e por meio de concentrações fixas de lactato (2,0; 2,5 e 4,0 mmol) e compararem com dados semelhantes de outros dois estudos em nadadores competitivos (HETZLER et al., 1991; SEIP et al., 1991), em teste incremental, encontraram diferenças estatisticamente significativas, entre o limiar de lactato e as concentrações fixas de lactato de 2,0, 2,5, e 4,0 mm com os valores médios de índices de esforço percebido, 12,8 ± 1,6, 13,0 ± 2,1, 13,7 ± 1,8, 15,9 ± 1,5, respectivamente, concluindo que a PSE pode ser utilizada como um protocolo alternativo do teste de análise da concentração de lactato sangüíneo. Weltman (1995), encontrou que os índices de 14 e de 16-17 da escala de Borg 6-20 é associada às concentrações fixas de 2,0 e de 4,0 mm de lactato no sangue, apontadas como indicadores dos limiares de lactato e anaeróbio, respectivamente. Em relação a VC, sabemos que no estudo de Wakayoshi et al. (1992) foi encontrada correlação significativa com a intensidade correspondente a concentração de 4 mmol de lactato sangüíneo. Sendo assim, podemos perceber que no teste de produção em ordem irregular encontramos os índices 16-17 associados ao percentual de 105 % da VC, ou seja, podendo representar um valor acima da intensidade de limiar anaeróbio (4mM). Cabe ressaltar o fator limitante no presente estudo,

onde não podemos relacionar os dados com limiares metabólicos, limitando nossas comparações. CONCLUSÃO A utilização de percentuais da VC pode ser uma estratégia confiável para a monitoração da intensidade de exercício na natação em teste de produção de ordem irregular. REFERÊNCIAS BORG, G. A. V. Psychophysical bases of perceived exertion. Medicine and Science and Sports Exercise, 14:377-81, 1982. BORG, G. A. V. Escalas de Borg para a dor e esforço percebido. São Paulo: Manole, 2000. CAFARELLI, E. Peripheral contributions to the perception of effort. Medicine Science Sports Exercise, 14:382-9, 1982. CHOI, S. W.; KUROKAWA, T.; EBISU, Y.; KIKKAWA, K.; SHIOKAWA, M.; YAMASAKI, M. Effect of wearing clothes on oxygen uptake and ratings of perceived exertion while swimming. Journal of Physiological Anthropology and Applied Human Science, 167-73, 2000. DEKERLE, J.; SIDNEY, M.; HESPEL, J. M.; PELAYO, P. Validity and reliability of critical speed, critical stroke rate, and anaerobic capacity in relation to front crawl swimming performances. International Journal Sports Medicine, 23:93-8, 2002. DEMURA, S.; NAGASAWA, Y. Relations between perceptual and physiological response during incremental exercise followed by an extended bout of submaximal exercise on a cycle ergometer. Perceptual Motor Skills, 96:653-63, 2003. ENGBRETSON, B.; FILLINGER, M.; GENSON, C.; LYNCH, M.; REDINGTON, M.; SHEWCHUK, J. Can the Borg RPE scale be used to prescribe resistance exercise intensity? Medicine Science Sports Exercise, 36:S4, 2004. FAULKNER, J. A. Physiology of swimming and diving. In: FALLS, H. Exercise Physiology. Baltimore: Academic Press, 1968. GARCIN, M.; BILLAT, V. Perceived exertion scales attest to both intensity and exercise duration. Perceptual Motor Skills, 93:661-71, 2001. GREEN, J. M.; McLESTER, J. R.; CREWS, T. R.; WICKWIRE, P. J.; PRITCHETT, R. C.; REDDEN, A. RPE-lactate dissociation during extended cycling. European Journal Applied Physiology, 94:145-50, 2005. HECK, H. M. A.; HESS, G.; MUCKE, S.; MULLER, R.; HOLLMAN, W. Justification of the 4 mmol/l lactate threshold. International Journal Sports Medicine. 6:117-30, 1985. HETZLER, R. K.; SEIP, R. L.; BOUTCHER, S. H.; PIERCE, E.; SNEAD, D.; WELTMAN, A. Effect of exercise modality on ratings of perceived exertion at various lactate concentrations. Medicine and Science and Sports and Exercise, 32:88-92, 1991.

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