USO DE COBERTURA DE SOLO NO CONTROLE DA INCIDÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS E NA PRODUÇÃO DE CENOURA EM CULTIVO DE INVERNO Marcelo PEZENTI 1, Mirielle Aline GREIN 2, Henrique EGER 3, Leonardo NEVES 4 1 Marcelo PEZENTI, PET-Agroecologia, Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul. 2 Mirielle Aline GREIN, PET-Agroecologia, Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul. 3 Henrique EGER, PET-Agroecologia, Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul. 4 Leonardo NEVES, PET-Agroecologia, Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul. Introdução No Brasil, a cenoura (Daucus carota L.) é cultivada durante o ano todo, havendo cultivares específicas para o outono-inverno, primavera e verão. A cenoura caracteriza-se como uma das mais importantes olerícolas, pelo seu consumo mundial, pela extensão de área plantada e pelo desenvolvimento socioeconômico dos produtores rurais. No Brasil encontram-se entre as cinco hortaliças mais cultivadas, com consumo de 4,29 kg por pessoa ao ano, constituindo-se em uma das principais hortaliças de raiz, quanto ao valor econômico. Cultivada em todo o território nacional, a produção brasileira de cenoura é de 785 mil toneladas, com destaque para as regiões Sudeste (MG e SP), Sul (PR) e, recentemente, Nordeste (BA) (EMBRAPA, 2008). Na agricultura orgânica, o "mato" ou "inços" são chamados de plantas espontâneas: são espécies que germinam na área de cultivo, podendo ser espécies nativas (surgem naturalmente na região) ou exóticas (introduzidas na região) já estabelecidas ou são indicadoras de algum problema no solo. Quando uma planta se torna agressiva ("invasora" ou "inço") e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. As plantas espontâneas estão adaptadas ao seu ambiente, sendo portanto, indicadoras das condições químicas ou físicas do solo, indicando também o manejo que está sendo praticado. Para que uma espécie de planta não domine a área cultivada, primeiro é preciso resolver os problemas existentes no solo muitas vezes problemas simples para se resolver (EMBRAPA, 2008).
As vantagens da cobertura na cenoura podem se estender desde a maximização da germinação das sementes, uma vez que esta espécie apresenta baixo poder germinativo (padrão nacional é de 65%), até a manutenção das condições adequadas de temperatura e umidade de solo necessárias ao ótimo desenvolvimento das raízes. Com o objetivo de verificar os benefícios da cobertura de solo na germinação e desenvolvimento de plantas espontâneas será realizado este trabalho com diferentes materiais de origem vegetal (serragem de madeira, maravalha, casaca de arroz, folhas de jornal, folhas de oficio e papel pardo), considerando-se para sua escolha a facilidade de aquisição e utilização pelo produtor. Material e Métodos O trabalho foi realizado na Estação Experimental do Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul: (27 11' 14,3" S; 49 39' 45,8"W e Alt. 690 m). Segundo Köppen a classificação climática é Cfa - Clima subtropical úmido com verão quente. As temperaturas são superiores a 22ºC no verão e com mais de 30 mm de chuva no mês mais seco. O solo é classificado como: PVa3 Argiloso - Podzólico Vermelho Amarelo, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SBCS, 1999). A cultivar utilizada para a realização do trabalho será a cultivar Nantes, recomendada para o plantio de inverno na região, semeada diretamente no leito de plantio em 08/06/16 no sentido transversal ao canteiro, sendo que as sementes foram uniformemente distribuídas nos sulcos de plantio espaçados em 15 cm e aproximadamente a 01 cm de profundidade. Aos 25 dias da semeadura realizou-se o desbaste deixando-se um espaçamento de 5 cm entre plantas. Os demais tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações técnicas para cultura da cenoura na região. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com sete
tratamentos e três repetições. Avaliaram-se os seguintes tipos de cobertura: serragem de madeira, maravalha (raspas da madeira), casca de arroz, folhas de jornal, papel parto, folhas de oficio, além de uma testemunha constituída pelo solo sem cobertura morta. Os canteiros foram mantidos durante todo o ciclo cultural com as coberturas. Cada parcela foi montada com dimensões de 1,20 m de largura por 1,20 m de comprimento, totalizando uma área de 1,44 m 2. Os tratamentos com a utilização de papel pardo, folhas de oficio e folhas de jornal, foram distribuídos uniformemente sobre os canteiros de maneira em que cobrisse todo o canteiro. Sobre os papeis aplicou-se 02 cm de composto peneirado e posteriormente realizou-se a semeadura conforme explicado anteriormente. Nos tratamentos com serragem, maravalha e casca de arroz, utilizou-se camadas uniformes, distribuídas de maneira que apenas nas linha de semeadura o solo ficasse sem cobertura até a germinação das sementes de cenoura, após a germinação o solo foi coberto com a devida cobertura do tratamento. Avaliou-se a quantidade de plantas daninhas nos tratamento em uma área de 1 m 2. A avaliação foi realizada aos 22 dias após a semeadura. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as comparações de médias foram realizadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. Resultados e discussão A Tabela 01 apresenta a quantidade de plantas daninhas na cultura da cenoura em função dos tipos de coberturas morta de solo. Pode ser observado que todas as coberturas mortas estudadas reduziram significativamente o número total de plantas daninhas em relação ao solo descoberto na avaliação. Segundo Silva (1970) e Oliveira (1985) o uso de cobertura morta de solo tem ampla ação sobre plantas daninhas, cujas sementes exigem luz ou variação térmica para germinação, permitindo manter a cultura de interesse sem competição durante parte de seu ciclo.
Tabela 1 Quantidade de plantas daninhas (número de plantas/m 2 ) na cultura da cenoura em função dos tipos de cobertura morta de solo, 22 dias após a semeadura (DAS). Cobertura de Solo Incidência de plantas daninhas (n plantas/m 2 ) - 22 DAS Sem Cobertura 59,33 a Folha de Oficio 35,00 ab Folha de Jornal 24,66 b Serragem 17,66 b Casca de Arroz 13,33 b Maravalha 10,33 b CV (%) 33,57 * Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P 0,01) As espécies de plantas daninhas identificadas na avalição aos 22 dias após o plantio foram Oxalis articulata (Azedinha), Raphanus sativus (Nabo), Amaranthus lividus (Caruru), Stellaria media (Erva de Passarinho) Elephantopus Scaber (Língua de Vaca), Sonchus oleraceus (Serralha), Commelina benghalensis (Trapoeraba), Polygonum persicaria (Erva de Bicho), Zea mays (Milho), Beta vulgaris (Beterraba), Artemisia absinthium (Chazinho), Cyperus rotundus (Junça), Trifolium repens (Trevo Branco), Plantago major (Tanchagem), Galinsoga parviflora (Pição Branco). As maiores densidades de plantas daninhas foram das espécies Stellaria media (Erva de Passarinho) e Polygonum persicaria (Erva de Bicho). As coberturas de maravalha, folha de jornal, serragem, folha de jornal e folha de oficio apresentaram resultados satisfatórios comparados com a testemunha. Porém a cobertura com maravalha apresentou menos desenvolvimento da cultura da cenoura. Conclusão A utilização da cobertura morta de solo constitui-se numa prática vantajosa para o cultivo de inverno da cenoura, reduzindo a incidência de plantas invasoras, estimulando o desenvolvimento das plantas e aumentando a produtividade em relação ao solo
descoberto. Entre os tipos de cobertura morta utilizados, maravalha, folha de jornal, serragem, folha de jornal e folha de oficio, a casca de arroz e a maravalha se destacaram em relação ao solo descoberto como os materiais que proporcionaram menor germinação de plantas daninhas. Agradecimentos Agradeço, primeiramente, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que nos proporcionou a bolsa de estudo. Aos colegas do Programa de Educação Tutorial (PET), por participar da implantação, avaliação e demais atividades do projeto. Referências BLANCO, H. G.; OLIVEIRA, D. O. Duração do período de competição das plantas daninhas. O Biológico, São Paulo, v. 37, p. 3-7, 1971. COSTA, J. T. A.; SILVA, L. A. da; MELO, F. I. O. Efeitos do turno de rega e cobertura morta na cultura do alho na serra da Ibiapaba, Ceará: I. umidade e temperatura do solo. Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 28, n. 1/2, p. 70-84, 1997. ROBINSON, D. W. Mulches and herbicides in ornamental plantings. Hortscience, Alexandria, v. 23, n. 6, p. 547-552, 1988. WILLIAM, R. D.; WARRE, G. F. Competion between purple nut redge and vegetables. Weed Science, Champaign, v. 23, n. 4, p. 317-23, 1975.