Projeto LIFE10 NAT/PT/ ECOTONE - Gestão de habitats ripícolas para a conservação de invertebrados ameaçados

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Projeto LIFE10 NAT/PT/000073 ECOTONE - Gestão de habitats ripícolas para a conservação de invertebrados ameaçados Unio tumidiformis Plano de Conservação pós-life 31/12/2015

LIFE10 NAT/PT/000073 LIFE ECOTONE Gestão de habitats ripícolas para a conservação de invertebrados ameaçados Beneficiário coordenador: Quercus Associação Nacional de Conservação da Natureza Direcção Nacional da Quercus: João Branco, Paula Nunes da Silva, Diogo Lisboa, Célia Vilas Boas, Nuno Sequeira, Samuel Infante, João Carlos Baptista, Ricardo Nabais. Direcção executiva: Samuel Infante, Jorge Pinto, José Paulo Martins, Paula Nunes da Silva, Nuno Sequeira Coordenação do projecto: Paulo Lucas Equipa técnica: Alexandrina Pipa, Joaquim Reis, Sandra Vieira Textos: Paulo Lucas 1

Índice Índice ----------------------------------------------------------------------------------------------- 2 1. Introdução e objectivos -------------------------------------------------------------------- 3 1.1 Introdução e objectivos ----------------------------------------------------------------------- 3 1.2 Resultados previstos -------------------------------------------------------------------------- 5 1.3 Resultados obtidos ---------------------------------------------------------------------------- 5 1.4 Análise SWOT ------------------------------------------------------------------------------------ 7 2. Objectivos e metodologias ----------------------------------------------------------------- 8 2.1 Acções a desenvolver e custos previstos -------------------------------------------------- 9 2.2 Quadros de implementação ------------------------------------------------------------------ 10 2

1. Introdução e objectivos 1.1. Introdução e objectivos O objectivo central do projecto visou conceber, implementar e avaliar metodologias de gestão activa de bosques ribeirinhos de amieiro [habitat prioritário 91E0 *Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae)] para incrementar populações de libélulas (das espécies Oxygastra curtisii, Gomphus graslinii e Macromia splendens) e melhorar o estado de conservação das populações de mexilhões-de-rio ameaçados [das espécies Margaritifera margaritifera e Unio tumidiformis (=Unio crassus)]. Em paralelo, utilizaram-se técnicas de reprodução em cativeiro para incrementar populações do mexilhão-de-rio-do-norte (Margaritifera margaritifera) e do mexilhão-de-rio-do-sul (Unio tumidiformis) e reforçar as populações de peixes hospedeiros das duas espécies, repectivamente a Truta-de-rio (Salmo trutta) e o Escalo-do-Mira (Squalius torgalensis). Importa salientar que estas duas espécies de mexilhões de rio dependem de uma relação parasitária com um peixe hospedeiro já que as larvas (gloquídios), logo que são expelidas na água pela fêmeas fixam-se nas brânquias dos peixes, ocorrendo de seguida uma metamorfose mais rápida ou mais lenta, consoante as espécies. Os recém-formados juvenis abandonam o peixe hospedeiro deixando-se cair no fundo do curso de água, estando a sua sobrevivência dependente do local onde caem. A vida parasitária constitui, assim, uma fase do desenvolvimento larvar e simultaneamente de disseminação da espécie, devido às deslocações do hospedeiro. O projecto desenvolveu-se em troços de dois cursos de água com características diferenciadas, localizados nos SIC Rio Paiva (PTCON0059) e Costa Sudoeste (PTCON0012), com diferentes abordagens em função das características dos locais intervencionados: o rio Paiva é um curso de água com caudal permanente, com águas bem oxigenadas; enquanto que a ribeira do Torgal apresenta padrões de caudal altamente variáveis, quer sazonalmente, quer ao longo dos anos, que lhe conferem um regime hidrológico temporário. Os bosques de amieiros (Alnus glutinosa) instalam-se, em geral, nas margens de cursos de água permanentes, de águas correntes mais ou menos rápidas ou, de forma localizada, em águas lentas, estando quase ausentes dos cursos de água temporários ou de acusado regime torrencial. Estas formações são compostas floristicamente, ao nível do estrato arbóreo por Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia, Salix atrocinerea; o estrato arbustivo é formado por arbustos espinhosos como Crataegus monogyna e arbustos não espinhosos como Salix salviifolia subsp. salviifolia, Frangula alnus e Sambucus nigra; lianas Bryonia dioica subsp. cretica, Hedera helix s.l., Tamus communis e Vitis vinifera subsp. sylvestris; e por um estrato herbáceo numerosos fetos (e.g. Asplenium onopteris, Athyrium filix-femina, Blechnum spicant, Dryopteris sp. pl., Osmunda regalis, Polystichum setiferum). Em grande parte das situações, como a que se regista nos locais de intervenção do projecto cursos de água que estão perto de alguns povoados, em solos de interesse agrícola - os amiais foram reduzidos, por acção do Homem, a uma estreita cortina com uma única fiada de árvores. Sem a reclamação pela agricultura de parte do habitat amial, numa condição natural, 3

certamente ante-medieval, os amiais eram mais espessos e meandrizados, dispunham-se em mosaico com charcas temporárias e depósitos de sedimentos e estavam sujeitos a perturbações (sobretudo enxurradas) de maior severidade. Os cursos de água, por seu turno, mudavam frequentemente de leito. Sendo esta constatação, só por si, uma justificação para investir na expansão da sua área de ocupação, o projecto visou favorecer a biodiversidade e a integridade ecológica das áreas a intervencionar, da seguinte forma: Melhoria do grau de conservação do habitat prioritário bosques ripícolas de amieiro; Abertura pontual de clareiras, criando um mosaico no interior do habitat prioritário bosques ripícolas de amieiro, alternando espaços densos e sombrios com outros sujeitos à luz solar, de forma a possibilitar a instalação de macrófitos; Reconexão de velhos leitos do curso de água existentes para que mais facilmente fiquem sujeitos a inundações periódicas, e criem empoçamentos mais ou menos perenes, que se constituirão como áreas essenciais para que os odonatos se instalem, se reproduzam e completem com êxito o seu ciclo biológico; Potenciação de uma maior heterogeneidade de formas e de condições hidráulicas, através da instalação criteriosa de pequenos obstáculos que, ao proporcionarem diferentes velocidades de corrente e tipos de movimento, provocam alterações de micro-topografia para criação de micro-habitats para libélulas e mexilhões-de-rio e para melhorar as interacções entre estes últimos e seus peixes hospedeiros; Desenvolvimento de um programa de reprodução em cativeiro de duas espécies de mexilhões-de-rio e dos respectivos hospedeiros, recorrendo a técnicas de reforço das populações já testadas com resultados previsíveis. Para a dinamização do programa de reprodução em cativeiro, foram utilizados dois postos aquícolas do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P., um situado em Torno (Amarante) e outro situado em Campelo (Figueiró dos Vinhos). Criação de parcerias com autarquias e com clubes de caça e pesca locais para criação de duas zonas de pesca concessionadas, de forma a garantir zonas de protecção para os mexilhões-de-rio e o estabelecimento de medidas de longo prazo para a manutenção das populações de hospedeiros das suas larvas. Para caracterizar a situação de referência relativa às populações de libélulas e de peixes hospedeiros das náiades e para monitorizar os resultados das acções a implementar foram celebrados protocolos com duas instituições científicas com vasta experiência nestas áreas: o TAGIS Centro de Conservação de Borboletas de Portugal e o Centro de Biociências do ISPA Instituto Universitário. A componente de monitorização e de reprodução dos mexilhões-de-rio ficou a cargo do investigador do MARE Universidade de Lisboa, Joaquim Reis. O projecto foi dinamizado em três fases, uma preparatória de caracterização da situação de referência e de elaboração dos projectos técnicos, uma segunda fase de dinamização dos trabalhos no terreno e de reprodução em cativeiro e uma terceira fase de trabalho com as zonas de pesca concessionada e de avaliação dos resultados. 4

1.2. Resultados previstos O projecto visava efectuar as seguintes intervenções, distribuídas ao longo de 12 Km lineares de zona ripária no Rio Paiva e 5 Km na ribeira do Torgal: restauração de cerca de 15 hectares de amiais ribeirinhos, ou seja, 11 hectares no SIC Rio Paiva e 4 hectares no SIC Costa Sudoeste ; aumento da área de ocupação do habitat em aproximadamente 5 hectares. Para tal, nos cerca de 20 hectares, preconiza-se a realização das seguintes acções: Plantar cerca de 10.000 árvores e arbustos presentes nas composições florísticas dos bosques de amieiros locais (e.g. Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia, Laurus nobilis, Salix atrocinerea, Crataegus monogyna, Salix salviifolia subsp. salviifolia, Frangula alnus e Sambucus nigra); Reconectar 5 hectares de leitos antigos de rio e melhorar 2 hectares de novas áreas para incrementar as populações de odonatos, através da instalação de macrófitos; Reforçar os núcleos populacionais existentes de Mexilhão-de-rio-do-norte, adicionando 4.500 juvenis aos 500 indivíduos adultos que se estimam existir; Reforçar os núcleos populacionais de Mexilhão-de-rio-do-sul com 400 indivíduos juvenis, que se juntarão aos 100 adultos que se estimam existir; Realizar duas acções de repovoamento de peixes hospedeiros das larvas; Criar e dinamizar duas áreas de pesca desportiva concessionada; Produzir materiais de divulgação como um folheto, uma brochura, três vídeos e um documentário, bem como elaborar uma exposição interpretativa sobre os bosques ripícolas de amieiros, complementada com um guia de exploração pedagógica e um suplemento num jornal. 1.3 Resultados obtidos Tendo por base as expectativas atrás mencionadas, podemos referir o conseguimento dos seguintes resultados: restauro de cerca de 15,1 hectares do habitat prioritário 91E0 *Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae), ou seja, 7 hectares no SIC Rio Paiva e 8,1 hectares no SIC Costa Sudoeste ; aumento da área de ocupação do habitat em aproximadamente 4,5 hectares. Mais concretamente, Limpeza dos leitos em 0,8 hectares, com o objectivo de retirar elementos que constituam obstáculos ao normal fluxo da água ou possam induzir perturbações nos processos característicos das linhas de água, Limpeza e condução da vegetação ripícola natural de forma a garantir a sua vitalidade 5

(remoção de árvores mortas, corte de árvores velhas, limpeza de silvados e de exóticas invasoras), em 18,8 hectares (8,7 ha no rio Paiva, e 10,1 ha na ribeira do Torgal), Plantação de 13.066 árvores e arbustos (Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia, Salix atrocinerea, Salix salviifolia, Frangula alnus e Tamarix sp.), Reconexão de 2,5 hectares de leitos antigos, de forma a aumentar a área de ocupação, Estabilização das margens em 800 metros e criação de 2 represamentos, na ribeira do Torgal, incrementando o habitat em 2 hectares, Reprodução de 161.178 juvenis de Mexilhão-de-rio-do-norte, recorrendo à infestação de 281 trutas, possibilitando três repovoamentos no rio Paiva totalizando 4.600 juvenis libertados, Reprodução de 31.511 juvenis de Mexilhão-de-rio-do-sul, recorrendo à infestação de 80 Bordalos (Squalius alburnoides), permitindo a realização de três repovoamentos na ribeira do Torgal que totalizaram 12.400 juvenis libertados, Infestação in loco de 30 Escalos-do-Mira, na ribeira do Torgal, Realização de dois repovoamentos com Escalos-do-Mira, perfazendo 986 peixes libertados, Implementação de novo protocolo para reprodução da Truta-de-rio e captura de 41 reprodutores na sub-bacia do rio Paiva, trabalho realizado pelo ICNF no Posto Aquícola do Torno, para permitir a realização de futuros repovoamento com a preservação da identidade genética das populações locais, Criação de um zona de pesca concessionada e alteração do regulamento de duas existentes, com vista a: o diminuir o esforço de pesca à Truta-de-rio, reduzir o número de jornadas de pesca e garantir a comunicação dos espécimes capturados, o criar 4 troços de pesca sem morte, com uma extensão de 13,9 Km. Instrução do processo para a criação de zona de protecção no Rio Paiva, com a extensão 1.120 metros a jusante da praia da Folgosa, interditando a pesca para salvaguardar a reprodução da Truta-de-rio e do Mexilhão-de-rio-do-Norte, Realização de duas acções de controle de espécies exóticas invasoras, designadamente o Lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) e da Perca-sol (Lepomis gibbosus), Divulgação da exposição interpretativa do projecto a cerca de 10.850 cidadãos e distribuição de 3.300 guiões de exploração pedagógica, Edição de um folheto e de uma brochura do projecto, bem como 5 suplementos no jornal Quercus Ambiente. Posto isto, e tendo em conta que a execução de um projecto LIFE só pode ser entendida como um ponto de partida, importa agora delinear um plano de conservação a médio prazo/longo (pós-life) que permita dar continuidade às acções de gestão dos habitats e das espécies alvo do projecto, garantindo que se mantêm em estado de conservação favorável e que a continuidade das acções irá contribuir para a conservação de habitats e espécies ameaçadas na União Europeia e, assim, favorecer a implementação da rede Natura 2000. 6

1.4 Análise SWOT A definição dos objectivos e metas a alcançar no período subsequente à conclusão do projecto em Janeiro de 2016 requer, em primeira instância, uma avaliação da situação actual, não só do projecto mas do enquadramento no contexto sócio-económico local e nas politicas públicas que se estão a desenhar para o horizonte 2016-2020. Para tal, uma análise SWOT (Quadro 1) permitiu identificar os factores internos (pontos fortes e fracos) e externos (oportunidades e ameaças), positivos e negativos, que podem influenciar de forma directa ou indirecta a gestão futura das áreas intervencionadas. Com base na referida análise definiu-se um conjunto de objectivos e metodologias para conservar os valores naturais que as áreas de intervenção encerram, através da execução de um leque de acções que dão continuidade ao trabalho desenvolvido no decurso do projecto ECOTONE e que atendem aos resultados obtidos na monitorização que foi realizada. Quadro 1 - Análise SWOT das áreas de intervenção do projecto ECOTONE. S - Pontos fortes 1. Existência de um habitat prioritário em estado de conservação favorável. 2. A presença de zonas de pesca lúdicas concessionadas, com planos de ordenamento aprovados. 3. Experiência e conhecimentos adquiridos pela equipa do projecto. 4. Capacidade de mobilização de voluntários para colaborarem nas acções de conservação. 5. Áreas classificadas no âmbito da Rede Natura 2000. 6. Elevada qualidade ambiental e valores paisagísticos. 7. Boa relação com as entidades locais, designadamente os Municípios. 8. Existência de percursos interpretativos. 9. Existência de estruturas regionais da Quercus para apoio às acções previstas. 10. Capacidade de divulgação do projecto e das iniciativas de voluntariado (Jornal "Quercus Ambiente", Boletim Informativo semanal da Quercus). W - Pontos fracos 1. A necessidade de dar continuidade aos trabalhos de reprodução ex-situ das náiades e dos seus peixes hospedeiros, uma tarefa relativamente dispendiosa. 2. A vulnerabilidade das populações de náiades, pela concentração das suas populações em determinados pontos. 3. A incipiência do modelo económicofinanceiro estabelecido para as concessões, face às necessidades de gestão dos recursos. 4. Interrupção da monitorização e avaliação das acções de conservação por parte das entidades científicas. 5. Fiscalização ineficiente por parte das entidades oficiais. 7

Quadro 1 - Análise SWOT das áreas de intervenção do projecto ECOTONE. O - Oportunidades 1. A boa evolução do estado de conservação do habitat. 2. A criação de zonas de protecção das espécies e de zonas de pesca sem morte. 3. Financiamento de acções de gestão através de um sistema de créditos (valorização dos serviços prestados pelos ecossistemas destinado aos agentes económicos e cidadãos em geral). 4. Voluntariado. 5. O apoio às concessões de pesca, orientando investimentos provenientes de Estratégias de Desenvolvimento Local de Base Comunitária plurifundos (FEADER, FEDER, FSE). 6. A possibilidade de se incrementar o conhecimento científico sobre as populações de invertebrados, designadamente sobre as náiades e sobre os odonatos, como suporte à tomada de decisões de gestão. T - Ameaças 1. A recorrência de actividades de pesca furtiva, com impactes localizados sobre a ictiofauna. 2. A possibilidade de registos pontuais de sobrepesca, por deficiente controle das concessionárias 3. A expectativa de se acentuarem os efeitos previsíveis das alterações climáticas sobre as populações de náiades e sobre a ictiofauna.. 4. O corte de vegetação ribeirinha não autorizada. 2. Objectivos e metodologias No processo de definição dos objectivos e das metodologias a adoptar para os alcançar, facilitada pela avaliação anterior, considera-se ainda desejável referir previamente alguns aspectos relativos às prioridades de conservação, necessidades e capacidade da equipa de trabalho, questões institucionais, entre outros. As prioridades de conservação para as áreas do projecto centram-se na necessidade de efectuar pequenas acções de correcção das intervenções de gestão do habitat, de promoção de mais repovoamentos com náiades e com os peixes hospedeiros, de monitorização dos resultados a médio prazo e de acompanhamento das concessões de pesca. Apesar da redução da equipa do projecto, no grupo de trabalho existe conhecimento e experiência suficientes para implementar o presente plano, bem como capacidade de mobilização da sociedade civil através da bolsa de voluntários pré-existente e de parcerias existentes com os Municípios das áreas intervencionadas. 8

Neste contexto, apresentam-se de seguida os objectivos do presente plano de conservação pós-life, que são comuns aos dois SIC, com ligeiras adaptações resultantes de diferenças pontuais que serão devidamente destacadas. Objectivo 1 Incrementar o conhecimento científico de suporte às decisões de gestão. Objectivo 2 - Contribuir para a manutenção dos habitat e biodiversidade associada em estado de conservação favorável. Objectivo 3 - Sensibilizar e divulgar os resultados do projecto. 2.1 Acções a desenvolver e custos previstos Nos Quadros 2 a 4 encontram-se resumidas as diversas acções preconizadas para alcançar os objectivos referidos, bem como as respectivas actividades, a calendarização, os responsáveis pela execução e/ou pelo financiamento e ainda os custos estimados. O planeamento tem um horizonte temporal de cinco anos, iniciados logo após o final do projecto (Janeiro de 2016 a Dezembro de 2020). No caso dos objectivos de gestão se as circunstâncias se alterarem substancialmente ao fim de cinco anos, proceder-se-á à devida actualização do presente plano de conservação. No âmbito da sensibilização e divulgação dos resultados, no essencial, serão adoptadas as mesmas estratégias e meios usados durante a execução do projecto ECOTONE. No que concerne ao financiamento das actividades previstas, cujos custos estimados ascendem aos 30.000 em cinco anos, consideram-se quatro vertentes. 1. Estabelecimento de parcerias com diversas entidades (ver actividade 1.1 no Quadro 2) para obtenção de financiamento directo ou apoios indirectos (e.g. execução de algumas tarefas sob orientação da Quercus e angariação de voluntários). 2. Angariação de fundos através de: i) um sistema de eco-créditos, isto é, de valorização dos serviços prestados pelos ecossistemas, destinado aos agentes económicos e cidadãos em geral; ii) empresas envolvidas com a Quercus em planos de redução da Pegada Ecológica, em que uma das componentes passa pelo investimento em capital natural ; iii) Crowdfunding. 3. Apresentação de propostas de candidaturas a programas com co-finaciamento comunitário nos quais seja possível integrar algumas das acções previstas, nomeadamente os relacionados com a implementação do Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020 e, em especial, o recurso à aplicação das Estratégias Locais de Desenvolvimento, tendo por âncora a concretização do Desenvolvimento Local de Base Comunitária numa lógica plurifundos. 4. Fundo de Conservação da Natureza da Quercus; 2.2 Quadros de implementação 9

Quadro 2 - Informações relativas ao objectivo 1 (Incrementar o conhecimento científico de suporte às decisões de gestão). Acções Actividades 2016 2017 2018 2019 2020 Execução Possíveis fontes de financiamento Custos estimados 1. Monitorização dos odonatos 2. Monitorização das náiades 1.1 Trabalhos de monitorização e publicação de resultados 2.1 Trabalhos de monitorização e publicação de resultados X X TAGIS X X MARE Horizonte 2020, POSEUR, Outros Horizonte 2020, POSEUR, Outros 2.500,00 2.500,00 3. Avaliação dos stocks populacionais de Trutade-rio (Salmo trutta) 3.1 Trabalhos de monitorização e publicação de resultados X X CB-ISPA Horizonte 2020, POSEUR, Outros 3.000,00 Quadro 3 - Informações relativas ao objectivo 2 (Contribuir para a manutenção do habitat e biodiversidade associada em estado de conservação favorável). Acções Actividades 2016 2017 2018 2019 2020 Execução Possíveis fontes de financiamento Custos estimados 1. Efectuar trabalhos de correcção nas obras de engenharia natural 1.1 Executar pequenas reparações nas estruturas de consolidação das margens X X Quercus Produto da venda da biomassa florestal 9.000,00 2. Incremento do bosque ripícola 2.1 Reforço pontual com plantação de amieiros X X Quercus Quercus, Empresas 4.000,00 10

3. Acompanhamento das concessões de pesca 3.1 Monitorizar a aplicação das alterações ao regulamentos X X X Quercus Quercus, concessionários 1.000,00 4. Realizar repovoamentos anuais com Salmo trutta 4.1 Dar continuidade à reprodução de Salmo trutta no Posto Aquicola de Torno (Amarante) 4.2 Efectuar acções de repovoamento anuais com juvenis ou ovos recémeclodidos X X X X X ICNF OE 2.000,00 X X X X X ICNF OE 2.000,00 Quadro 4 - Informações relativas ao objectivo 3 (Sensibilizar e divulgar os resultados do projecto). Acções Actividades 2016 2017 2018 2019 2020 Execução Possíveis fontes de financiamento Custos estimados 1.1 - Actualização semestral do sítio do ECOTONE na internet X X X X X Quercus Quercus 500,00 1. - Divulgação na comunicação social e internet 1.2 - Publicação de uma notícia/ano no Jornal "Quercus Ambiente", num total de 5 X X X X X Quercus Quercus 1 000,00 1.3 Divulgar o projecto na comunicação social com reportagens e comunicados X X X X X Quercus Quercus 11

4. - Divulgação dos resultados directamente ao público 4.1 Divulgação da exposição interpretativa com o projecto e do guião de exploração pedagógica 4.2 Divulgação do Relatório Não Técnico e do Caderno de Gestão do Habitat X X X X X 2.500,00 Quercus, Parceiros Quercus X X X 500,00 5. - Produção de artigo científico 5.1 - Publicação de um artigo científico sobre os resultados obtidos com a reprodução das náiades X X MARE Horizonte 2020, FCT 500,00 ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. ONGA - Organização Não Governamental de Ambiente TAGIS - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal CIBIO Centro de Biociências do ISPA Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida PDR 2014-2020 Programa de Desenvolvimento Rural para o Continente 2014-2020 FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia Notas relativas aos quadros anteriores: (1) É de realçar que uma parte do financiamento para a execução de algumas acções de conservação já se encontra assegurado pela Quercus e pelo ICNF. (2) Refira-se que nos próximos cinco anos serão desenvolvidos todos os esforços no sentido angariar e investir os cerca de 30.000,00 nas áreas do projecto para executar as actividades supramencionadas. No entanto, dada a dimensão do investimento para uma ONG e a actual conjuntura económica, admite-se que a estratégia delineada não é isenta de riscos e que podem ocorrer algumas dificuldades que obriguem a alterações do planeamento realizado. Em tal situação será dada prioridade à conservação activa dos habitat e espécies. 12