Casas de mãos e barro A arquitetura caiçara de São Sebastião



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO Prof. Dr. Carlos Alberto C. Lemos Casas de mãos e barro A arquitetura caiçara de São Sebastião Trabalho apresentado na Disciplina FAU-USP Técnicas Tradicionais da Arquitetura Paulista Dezembro de 2008

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO Prof. Dr. Carlos Alberto C. Lemos Casas de mãos e barro A arquitetura caiçara de São Sebastião Resumo O presente trabalho aborda as vilas caiçaras e a técnica construtiva do pau a pique. Relaciona a composição urbanística com condicionantes geográficos, sociais e ecológicos, resultando em traçados característicos. Uma breve análise sobre o cotidiano e equipamentos praianos é apresentado. UNITERMOS: pau-a-pique; cotidiano caiçara; equipamentos caiçaras. Trabalho apresentado na Disciplina FAU-USP Técnicas Tradicionais da Arquitetura Paulista Dezembro de 2008

... feitas de paus do mato próximo e da terra do chão... servem de abrigo para toda a família. É o chão que continua... mas justamente por isso, por ser coisa legítima da terra, tem para nós arquitetos, uma significação respeitável e digna. Lúcio Costa

Sumário Introdução 5 Aspectos históricos de São Sebastião 6 A ocupação do espaço 12 Os equipamentos 15 As casas caiçaras 20 A situação atual 28 Conclusão 31 Referências Bibliográficas 33

Introdução O litoral norte apresenta, por ação de condicionantes econômicos e geográficos, um cenário no qual ainda podemos encontrar nichos de cultura tradicional, que se manifesta nos costumes, na culinária e na arquitetura. Especificamente sobre o morar caiçara ainda resistem, em vilas distantes, casarios e habitações isoladas que utilizam o pau a pique como técnica construtiva. Dentro do enfoque das Técnicas Tradicionais da Arquitetura Paulista, tema da disciplina FAU-USP ministrada pelo professor Carlos Lemos, optamos por abordar parcialmente a arquitetura caiçara, em especial, a presente nas vilas praianas de São Sebastião. Para a realização deste trabalho nos valemos da coleção Agnello Ribeiro dos Santos, fotógrafo caiçara autodidata. O olhar talentoso e o amor à terra nos presentearam com importantes registros das construções e do cotidiano litorâneo da primeira metade do século XX. Este acervo pertence ao Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Sebastião. Na primeira parte, apresentamos um breve histórico econômico da cidade e como seus fatores foram condicionantes para a ocupação urbanística e escolha das técnicas construtivas presentes a beira mar. A segunda parte aborda a ocupação do espaço pela gente caiçara, ocupação esta moldada pelo relevo, pelos materiais da terra e por seus costumes. Seguimos a análise de seu cotidiano com a relação dos equipamentos presentes, símbolos de suas atividades produtivas e sociais assim como, na seqüência, uma abordagem sobre a forma de morar, seu programa e as técnicas utilizadas. Finalmente, voltamos nosso olhar para a situação atual, como se encontram os remanescentes em pau a pique e uma breve análise das perspectivas futuras, como por exemplo, a utilização de técnicas construtivas tradicionais em currículos profissionalizantes e projetos arquitetônicos, com a Bioarquitetura. Caiçara barreando a casa. (detalhe). Acervo DPH-PMSS.

Aspectos históricos de São Sebastião A cidade de São Sebastião localiza-se numa extensa faixa de marinha, com cem quilômetros de litoral entrecortado por dezenas de praias e costões, delimitado pela borda do planalto, a Serra do Mar. Possui como divisas Salesópolis a oeste, Bertioga ao sul, Caraguatatuba ao norte e a leste, o Oceano Atlântico. A ocupação humana da cidade e da região remete a um período pré-tupi, evidenciada pelos inúmeros sambaquis e abrigos concheiros, como os encontrados na ilha do Mar Virado, em Ubatuba, e no Sítio Arqueológico Jaraguá 01, em São Sebastião. (GALDINO. 2008 e BORNAL. 2005). Sambaqui Jaraguá-01. Fonte: Edvaldo Nascimento - DPH-PMSS. Sucede-se a esta ocupação a presença Tupi e suas ramificações, sendo as específicas da região os tupiniquins ao sul de Boiçucanga e os tupinambás ao norte. Na Enseada de Caraguatatuba uma nação do mesmo tronco teria habitado, chamada de Guaromomins (CAMPOS. 2000:94).

Casas de mão e barro. A arquitetura caiçara de São Sebastião A cultura tupi contribuiu de forma importante para o estabelecimento do elemento europeu na região, com a tecnologia e saber fazer nativo sobre os acessos por mar e terra, a caça, a pesca, a fabricação de potes cerâmicos e a feitura de cabanas feitas com tramas de paus e fibras, que logo incorporariam o vedo de barro. A invocação da qual a cidade herdou seu nome originou-se do batismo da Ilha de São Sebastião, que atualmente abriga o município de Ilhabela, em 20 de janeiro de 1502, por ocasião da expedição cartográfica de Américo Vespuccio. (ALMEIDA.1959:28) Ao longo do século XVI a presença lusa limitou-se à esparsas expedições extrativistas e à luta pela conquista do espaço, processo que envolveu as nações rivais tupiniquim, aliada aos portugueses e tupinambás, confederadas ao norte e aliada dos franceses. (STADEN. Século XVI:125,126). Homem tupi. Albert Eckhout Com a paz conquistada e a expulsão dos franceses das terras fluminenses, inicia-se a efetiva ocupação colonial, com a instalação de postos de apoio à extração de madeiras, aprisionamento de escravos nativos e sobretudo, instalações de fortificações para proteger a terra dos corsários espanhóis, holandeses e franceses. (LEMOS. 1999:74). Diante da dificuldade de ocupar as terras com recursos estatais, o Reino de Portugal promove a ocupação privada, por meio de doações de terras, em capitanias e por seus donos, em porções menores, as sesmarias, como a doada em 1601 a José Adorno, que originou a Vila de São Sebastião, erigida em 16 de março de 1636. Seu território se estendia, na porção continental, com a divisa de Santos até o Rio Tabatinga, que o limitava ao Norte com Ubatuba, além da Ilha de São Sebastião, território desmembrado em 1806 com a ereção da Villa Bella da Princesa, atual Ilhabela. Em 1847 Caraguatatuba emancipa-se, fixando seu limite com o Rio Juqueriquerê, atualmente regredido para o Rio Perequê Mirim. Além do centro urbano fixado na planície sedimentar defronte a Ilha, ladeado por dois rios, o Ipiranga e o Outeiro, outro conjunto se formou no Bairro de São Francisco da Praia, decorrente da instalação, em 1650, do Convento Franciscano, doado sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo. 7

Casas de mão e barro. A arquitetura caiçara de São Sebastião Convento de Nossa Senhora do Amparo. Fonte: Val Pereiro Pelas praias, engenhos canavieiros e entrepostos de escravos imprimiam pelo litoral o ritmo das viagens e negócios, assim como as festividades. Lemos aponta o ocorrido no litoral entre Rio e Santos, principalmente na área de São Sebastião, por gente atraída pela possibilidade de vender caro o açúcar aos mineiros, via Parati, de onde partia a estrada às Gerais. (1989:27). Engenho movido a bois. Fonte: Benedito Calixto 8

Casas de mão e barro. A arquitetura caiçara de São Sebastião Assim, movida pelo lucrativo comércio de açúcar e aguardente, a região experimentou desenvolvimento econômico, até ser abatida por sucessivas ações governamentais que priorizaram a cidade de Santos como praça comercial e para esta, o monopólio de porto de exportação da capitania de São Paulo. (Almeida. 1959:06). A produção de açúcar e posteriormente, a cafeeira, deu ao Litoral Norte um caráter de importância agrária, tendo São Sebastião e Ilhabela mais de uma centena de fazendas. A comunicação marítima das gentes paulistas atenuou o isolamento geográfico da região, decorrente de sua morfologia. Contudo, no século XIX com o implantação das ferrovias que ligavam o planalto à baixada santista e à capital fluminense, um hiato formou-se no Litoral Norte. Transporte de pipas de aguardente em canoas de voga. Tais viagens se estendiam por todo o Litoral Norte, Santos e Parati. Fonte: CGGESP. A produção agrária decaiu, e com ela, as grandes fazendas. Firma-se neste momento a ocupação caiçara, baseada nas comunidades de beira de praia acolhidas nas enseadas e com elas, o fortalecimento de um modo de vida baseado na cultura de subsistência, na pesca e caça, no conhecimento empírico sobre o tempo e o mar, e sobretudo, na ajuda mútua e integração com o meio ambiente. (Galdino. 2004:11). 9