ESTUDO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE COARI- AM ATRAVÉS DE ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS E CORRELAÇÃO COM DOENÇAS CAUSADAS POR VIAS HÍDRICAS Lucas Gabriel da Silva Lima 1, Aline Carvalho de Freitas 2 1 Discente do Curso Técnico em Informática do IFAM Campus Coari AM 2 Docente do IFAM Campus Coari AM INTRODUÇÃO A água é indispensável para as comunidades humanas. No entanto vem sendo excessivamente utilizada e continuadamente poluída, de forma que está se tornando escassa ou imprópria para o consumo em muitas regiões do planeta, causando assim, inúmeros problemas e prejuízos às pessoas e a todos os outros seres vivos. Além dos problemas relacionados à sua má distribuição e escassez em muitas regiões do mundo, deve-se considerar ainda que a má qualidade da água (poluída ou contaminada) vem fazendo com que a maior fonte de vida do planeta acabe se transformando na fonte de inúmeras doenças e problemas de saúde. A importância da água em nosso cotidiano é evidente. Nosso corpo é formado por 80% de água, sendo o elemento essencial à vida. É um bem comum, imprescindível para as necessidades básicas, garantindo assim a sobrevivência de todos os seres vivos. No entanto, as interferências antrópicas têm comprometido a qualidade da água. Com o aumento das populações ocorre uma queda da qualidade dos recursos de água doce existentes. É necessário voltar as atenções a essa problemática, alertando sobre a necessidade de adotar medidas que garantam as características físico-químicas e microbiológicas da água, de modo que as condições sanitárias adequadas da água de consumo sejam alcançadas, lembrando-se de que ela é essencial para a vida na terra e que pode veicular micro-organismos patógenos. Os parâmetros físico-químicos avaliados serão a temperatura, condutividade, oxigênio dissolvido, cloretos, presença de amônia, nitrito, nitrato, ortofosfato, dureza, ph, ferro, presença de cloro livre e residual. Nas atividades realizadas pelo homem é um desafio mitigar a contaminação dos recursos hídricos, pois sabe-se que o transporte nas cidades ribeirinhas é quase que integralmente realizados por embarcações e as atividades realizadas nesse meio de transporte requerem água em quantidades consideráveis, como nas encanações e instalações para o preparo de alimentos, para o banho, para a lavagem 175
dos banheiros e porões. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a ausência de medidas eficazes em favor da água poderá causar uma crise global que provocará, até 2020, 135 milhões de mortos, sobretudo crianças. Após o seu tratamento, a água é considerada potável se os parâmetros físico-químicos e microbiológicos estiverem de acordo com os valores permitidos por lei. A análise desses parâmetros permite a verificação de presença de contaminantes químicos e biológicos na água devido a sua grande importância na veiculação de micro-organismos patogênicos. Bactérias, helmintos, vírus e protozoários são os contaminantes biológicos que, ao serem veiculados pela água, podem através de sua ingestão afetar o organismo humano ou animal. A maioria das cidades do Estado do Amazonas apresenta populações ribeirinhas, dentre elas pode-se destacar Coari, onde grande parte das comunidades está localizada nos entornos do Lago Coari-Mamiá. As formas como as populações ribeirinhas vivem são precárias, com pouca ou nenhuma condição sanitária, devido fatores de cunho econômico e social. O trabalho reporta a análise microbiológica da água consumida nos principais bairros do município de Coari e investiga a qualidade dessa água. Na análise microbiológica estão relacionados vários micro-organismos, dentre eles bactérias do tipo coliformes fecais e totais. Esses micro-organismos são de interesse sanitário para a saúde pública, uma vez que a presença deles indica contaminação por material fecal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 85% das doenças conhecidas são de veiculação hídrica. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A abundância de água no planeta causa uma falsa sensação de recurso inesgotável. Segundo especialistas em meio ambiente, 95,1% da água é salgada, sendo imprópria para consumo humano. Dos 4,9% restantes, 4,7% estão na forma de geleiras ou regiões subterrâneas de difícil acesso, e somente os 0,147% estão aptos para o consumo em lagos, nascentes e em lençóis subterrâneos (GALLETI, 1981; RAINHO, 1999). A água pode abrigar diversos microrganismos que transmitem doenças ao homem, entre eles protozoários, bactérias e vírus. A falta de higiene pessoal ou contato com água contaminada na pele ou olhos pode provocar doenças. Outras doenças são causadas por parasitas encontrados em organismos que vivem na água ou 176
por insetos vetores com ciclo de vida na água. O alto número de casos de doenças relacionadas à água não se restringe a áreas desfavorecidas pela falta de abastecimento ou saneamento básico. A falta de conhecimento ou a forma como a informação chega à população é um dos fatores relacionados à persistência de doenças infecciosas no Brasil (RIBEIRO, 2004). As principais fontes de contaminação dos recursos hídricos são: esgotos de cidades sem tratamento que são lançados em rios e lagos; aterros sanitários que afetam os lençóis freáticos; os defensivos agrícolas que escoam com as chuvas, sendo arrastados para os rios e lagos; os garimpos que lançam produtos químicos, como mercúrio, em rios córregos; e as indústrias que utilizam os rios como carreadores de seus resíduos tóxicos (EMBRAPA, 1994). A avaliação da presença de organismos patogênicos na água é determinada pela presença ou ausência de um organismo indicador e sua respectiva população. O isolamento e a identificação de cada organismo exigem uma metodologia diferente e a ausência ou a presença de um patógeno não exclui a presença de outros. Segundo Carlos Richter (2009), em uma estação, o tratamento da água é feito em etapas: 1. Coagulação: quando a água na sua forma natural (bruta) entra na ETA (Estação de Tratamento de Água), recebendo nos tanques uma determinada quantidade de sulfato de alumínio. Esta substância serve para aglomerar (juntar) partículas sólidas que se encontram na água como, por exemplo, a argila. 2. Floculação - em tanques de concreto com a água em movimento, as partículas sólidas se aglutinam em flocos maiores. 3. Decantação - em outros tanques, por ação da gravidade, os flocos com as impurezas e partículas ficam depositados no fundo dos tanques, separando-se da água. 4. Filtração - a água passa por filtros formados por carvão, areia e pedras de diversos tamanhos. Nesta etapa, as impurezas de tamanho pequeno ficam retidas no filtro. 5. Desinfecção - é aplicado na água cloro ou ozônio para eliminar microrganismos causadores de doenças. 6. Fluoretação - é aplicado flúor na água para prevenir a formação de cárie dentária em crianças. Além de parâmetros físico-químicos, a água também tem parâmetros microbiológicos, que servem para averiguar se água apresenta coliformes totais ou 177
fecais. Os coliformes totais são um grupo de bactérias que contem bacilos gram- -negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidase-negativa, capazes de crescer na presença de sais biliares ou outros compostos ativos de superfície, com propriedades similares de inibição de crescimento, e que fermentam a lactose com produção de ácidos, aldeídos e gás a 35ºC em 24-48 horas. Este grupo contém os seguintes gêneros: Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebisiela (BETTEGA, 2006). Dentre as substâncias que podem constituir risco a saúde humana incluem-se os compostos de nitrogênio nos seus diferentes estados de oxidação: nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato. A amônia é um parâmetro químico de grande importância na análise da qualidade da água. Pode estar presente naturalmente em águas superficiais ou subterrâneas, sendo que sua concentração usualmente é bastante baixa devido à sua fácil adsorção por partículas do solo ou à oxidação a nitrito e nitrato. Entretanto, a ocorrência de concentrações elevadas pode ser resultante de fontes de poluição próximas, bem como da redução de nitratos por bactérias ou por íons ferrosos presentes no solo (BATALHA, 1993). O nitrito, quando presente na água de consumo humano, tem um efeito mais pronunciado e mais rápido que ao nitrato. Se o nitrito for ingerido diretamente, pode ocasionar metemoglobinemia, independente da faixa etária do consumidor (BATALHA, 1993). É de suma importância que se atente para o aumento da contaminação das águas por compostos nitrogenados, pois esse aumento está se tornando um problema mundial, ocasionado principalmente pela ampla e diversificada procedência da água. A partir da análise e processamento de dados, a obtenção de faixas de concentração será importante para avaliar a frequência e distribuição estatística de parâmetros de qualidade da água, principalmente como indicador de riscos à saúde pública e aos ecossistemas aquáticos. As concentrações de coliformes fecais são utilizadas como indicadores de contaminação e respectivo grau de interferência antrópica que provavelmente tem resultado ao desequilíbrio dos ecossistemas a serem estudados, principalmente causados pelos efeitos de lançamento de esgotos e resíduos domésticos em corpos de águas superficiais. As doenças de veiculação hídrica afetam milhares de pessoas em todo o mundo. A investigação de dados obtidos nas análises permitirá correlacioná-los com o risco da ingestão de água contaminada, auxiliando no entendimento sobre 178
o assunto pela população. Segundo dados do IBGE, no ano de 2010, no Brasil, mais de 31 milhões de brasileiros não tiveram acesso à água tratada. O Sistema Único de Saúde (SUS) estima que 60% das internações hospitalares estão relacionadas às doenças transmitidas pela água. Os valores máximos de contaminação permitidos de nitrito, nitrato, dureza, turbidez, e ph, são respectivamente, 1mg/L, 10mg/L, 500mg/L, 5NUT e 6-9,5. MATERIAIS E MÉTODOS Utilizamos o Kit de potabilidade da água da Alfakit para analisar os parâmetros químicos, físicos e microbiológicos da água. Os parâmetros analisados foram alcalinidade total, cloretos, dureza total, ph, ferro, amônia, cloro, oxigênio consumido, turbidez, cor, coliformes totais e fecais. A água foi coletada em garrafas pet de 250 ml, que previamente foram esterilizadas para realizar a coleta. As amostras foram coletadas no período da manhã. Os bairros onde foi feita a investigação foram os bairros mais populosos do município. São eles: Naide Lins, Espírito Santo, Bairro Duque de Caxias, Táua-Mirim, Liberdade, Ciganópolis, Guarabira, Centro e Porto de Coari. Os alunos do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde do Programa Nacional de Formação de Técnicos - PRONATEC - elaboraram um questionário que foi aplicado aos comunitários que tiveram a água de suas casas analisadas. Abordaram questões referentes à qualidade da água consumida, quanto à presença de possíveis agentes patológicos presentes na água, sobre a forma de armazenamento da água e a importância desse bem não renovável para a sobrevivência dos seres vivos. Após avaliação das respostas dadas pelos entrevistados, os alunos atuaram como agentes multiplicadores do conhecimento discutindo com os moradores os pontos anteriormente estudados em sala de aula a respeito da conservação, da qualidade e do uso adequado da água. Abaixo a tabela 1 representa os principais parâmetros e limites estabelecidos relativos ao controle de qualidade da água para consumo humano. Tabela 1. Parâmetros e limites estabelecidos pela Portaria n 518 do Ministério da Saúde, relativos ao controle de Qualidade da água para consumo humano. 179
*A alcalinidade é um parâmetro não especificado pela Portaria n 518, porém é importante é para avaliação geral. RESULTADOS E DISCUSSÃO As amostras analisadas atenderam a maioria dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde, porém o parâmetro ph estava abaixo do considerado aceitável (limites estabelecidos ph 6-9,5). Nos bairros Naide Lins, Espírito Santo e Duque de Caxias apresentaram índices elevados de amônia; quanto ao ph as amostras coletadas nos bairros Espírito Santo, Duque de Caxias e Tauá-Mirim tiveram índices abaixo do estabelecido pelos Ministério da Saúde, e as demais tiveram índices aceitáveis. Análises microbiológicas permitiram verificar quanto à presença de coliformes totais, coliformes fecais e salmonela na água. Os resultados das análises foram negativos para esses microrganismos. No Porto, existe um número significativo de flutuantes. Amostras coletadas naquele local apresentaram índices elevados de ferro. Quanto ao parâmetro turbidez todas as amostras tiveram níveis aceitáveis. 180
A sondagem foi realizada, por meio de entrevistas, com alunos e comunitários sobre questões referentes a conservação dos recursos hídricos para verificar seu conhecimento prévio. Ficou constatado que as pessoas entrevistadas não tinham a preocupação com a água consumida e que não realizavam tratamento alternativo da mesma. Quanto ao conhecimento sobre possíveis micro-organismos veiculadores de doenças de vias hídricas afirmaram que devam existir, porém desconheciam os danos causados por esses agentes quando a água não está apropriada para consumo humano. As análises realizadas permitiram verificar que a água consumida apresentava qualidade consideravelmente satisfatória e em concordância com parâmetros estabelecidos pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente. Os parâmetros físicos e químicos utilizados nas análises serão turbidez, cor, oxigênio consumido, alcalinidade, cloretos, dureza total, ph, ferro, amônia e cloro. Quanto aos parâmetros microbiológicos, procurou-se identificar preferencialmente as bactérias do grupo coliforme, que são habitantes normais do intestino humano. Sua presença nas águas indica a presença de material fecal. Todos os testes microbiológicos apresentaram resultados negativos. REFERÊNCIAS BATALHA, B.H.L. & PARLATORE, A.C. Controle da qualidade da água para consumo humano: bases conceituais e operacionais. São Paulo, CETESB, 1993 BETTEGA, J.M.P.R. Métodos analíticos no controle microbiológico de água para consumo humano. Cien. Agrotec.2006, volume 30, n. 5, 950-954 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA. Atlas do meio ambiente do Brasil. Brasília, DF: Terra Viva, 1994. GALLETI, P. A. Mecanizaýo agrícola: preparo do solo. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1981. 220 p. HELLER, L. Saneamento e Saúde. Ed. Organização Pan-Americana de Saúde/OMS. Brasília. 1997. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Portaria n 518, 2004. RAINHO, J. M. Planeta água. Revista Educação, São Paulo, v. 26, n. 221, p. 48-64, set. 1999. 181
RIBEIRO,P.J., AGUIAR,l.A.K., TOLEDO, C.F., BARROS, S.M.O., BORGES, D.R.Programa educativo em esquistossomose: modelo de abordagem metodológica. Rev Saúde Pública; 38(3):415-21, jun, 2004. RICHTER, Carlos A. Água: Métodos e tecnologia de tratamento. São Paulo: Blucher, 2009. 182