INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NA QUALIDADE DO AR E METEOROLOGIA DETECTADA PELA REDE DE MONITORAMENTO DO AR DO PÓLO PETROQUÍMICO DE CAMAÇARI Neuza M. Santos Neves Engenheira Química pela UFBA. Mestre em Engenharia Bioquímica pela Universidade de Birmingham (Birmingham Inglaterra). Especialização em Higiene Ocupacional pela UFBA. Doutorado em Química Analítica Ambiental pela UFBA (incompleto). Endereço: Rua Emílio Odebrecht, 49 - T2 - apto. 704 - Pituba - Salvador - BA - CEP: 41830-300 - Brasil - Tel: (071) 248-0343 - e- mail: neuza@cetrel.com.br RESUMO Em 1997 observou-se uma certa anomalia no comportamento geral do microclima da região de influência do Pólo Petroquímico de Camaçari, quando comparada com as tendências normais, observadas nos anos anteriores. Essa anomalia foi atribuída ao fenômeno El Niño, cuja intensidade em 1997, foi uma das maiores observada nos últimos 15 anos. Embora a temperatura média anual da região, e a precipitação pluviométrica total, tenham sido quase iguais aos valores obtidos nos anos anteriores, o comportamento mensal da precipitação pluviométrica no ano de 1997 foi considerado incomum. A maior quantidade de chuvas na área se concentrou entre os meses de fevereiro a julho, sendo que o maior valor observado foi no mês de junho. Dentre os três anos analisados, 1995 a 1997, verificou-se que em 97 houve uma redução significativa da precipitação pluviométrica anual total com relação aos anos anteriores. Esta redução foi cerca de 20%, não ocorreu uniformemente ao longo do ano, e foi mais evidente no 3º e 4º trimestres, respectivamente. O primeiro trimestre foi mais chuvoso do que os anos anteriores. Este fato teve reflexos na qualidade do ar, especialmente no material particulado. Após análise dos dados meteorológicos, identificou-se o período mais desfavorável para a dispersão atmosférica, em relação a cada parâmetro meteorológico. Alguns dos parâmetros mais sensíveis a anomalias climáticas que prevaleceram no estado da Bahia, no referido período, permitiram a identificação do período crítico para dispersão em 1997. PALAVRAS-CHAVE: Poluentes Atmosféricos, Monitoramento do Ar, Mudanças Climáticas Globais, Precipitação Pluviométrica, El Niño. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2590
INTRODUÇÃO O Pólo Petroquímico de Camaçari, o maior complexo industrial integrado da América Latina, localizado em uma das áreas mais povoadas da Grande Salvador (a terceira maior cidade brasileira), começou sua operação em 1978. Incluindo mais de sessenta indústrias, o complexo é uma fonte potencial de poluentes e requer um rigoroso controle ambiental. A Rede de Monitoramento do Ar do Pólo Petroquímico de Camaçari, compreende oito estações contínuas de monitoramento, projetadas para medir vários poluentes atmosféricos, em quatro das principais áreas urbanas situadas nas vizinhanças do mesmo. Operando desde 1994, a Rede é responsável pelo monitoramento dos seguintes parâmetros: os poluentes estabelecidos na legislação brasileira os parâmetros meteorológicos 41 poluentes orgânicos prioritários, através de summa canisters metais A qualidade do ar na área de influência do complexo é determinada quase exclusivamente pelas fontes industrias. As concentrações de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio, em geral relacionadas a veículos, são baixas. Os principais poluentes encontrados na área do Pólo são: SO 2, ozônio e compostos orgânicos voláteis. A CETREL S.A. é uma empresa de proteção ambiental, pertencente às empresas situadas no Pólo Petroquímico, e responsável por todos os aspectos seus ambientais, inclusive o monitoramento do ar. OBJETIVO O principal objetivo das oito estações fixas da rede de monitoramento é medir a qualidade do ar nas áreas urbanas sob a influência do Pólo. Em paralelo é efetuada a avaliação da qualidade do ar, de acordo com os padrões vigentes no país, a Resolução CONAMA 003/90, bem como outros padrões internacionais. A rede fornece também para as empresas do complexo, informações para auxilia-las a minimizar seu níveis de emissões atmosféricas. O projeto da rede baseou-se na modelagem matemática da dispersão de poluentes na atmosfera. E inicialmente, foi efetuado um inventário das emissões atmosféricas da área, bem como levantamento dos dados meteorológicos, e da topografia, para verificar sua influência na dispersão atmosférica. RESULTADOS OBTIDOS EM 1997 Em 1997 observou-se uma certa anomalia no comportamento geral do microclima da região, quando comparada com as tendências normais, observadas nos anos anteriores. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2591
Essa anomalia deveu-se a influência do fenômeno El Niño, cuja intensidade em 1997, foi a maior observada nos últimos 15 anos. O fenômeno El Niño, conhecido como Oscilação Sul (OS), origina-se a partir do aquecimento das águas no oceano Pacífico Equatorial, próximo às costas do Peru, e provoca a transferência de calor latente para a atmosfera, no hemisfério sul, mudando, deste modo, a dinâmica climática de vários países, e particularmente do Brasil. Em 1997, durante o período de inverno, de agosto a setembro, observou-se que a temperatura da superfície da água (TSO Temperature Surface Ocean), medida no Pacífico Equatorial Sul, alcançou valores de até 5 o acima da temperatura média detectada na região. Este aquecimento anormal gerou uma zona de bloqueio sobre a região nordeste do Brasil, impedindo, deste modo, o avanço de frentes frias em direção aquela parte do país, e deslocando-as para a região Sudoeste do Oceano Atlântico. A temperatura média anual na região é de 25 o C e a precipitação pluviométrica, cerca de 1700 mm. Em 1997 a temperatura média anual foi de 25,2 o C, conforme mostra o gráfico 2, e o acumulado anual da precipitação foi de 1731,8 mm. Este valor, quando comparado com a normal, mostrou que em 1997 choveu em torno do esperado. Porém o período chuvoso demonstrou um comportamento diferente do normal, a maior quantidade de chuvas na área se concentrou entre os meses de fevereiro a julho, sendo que o maior valor observado foi de 280,8 mm no mês de junho, como pode ser visto no gráfico 1. Gráfico 1 Precipitação pluviométrica em 1997. 500 Precip. Total (mm) 450 400 350 300 250 200 150 100 50 1995 1996 1997 0 JAN FEV M AR ABR M AI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Gráfico 2 temperatura média anual em 1997. Temperatura ( o C) 28 23 18 JAN FEV M AR ABR M AI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 1995 1996 1997 Dentre os três anos analisados, 1995 a 1997, verificou-se que em 97 houve uma redução significativa da precipitação pluviométrica anual total, com relação aos anos anteriores. Esta redução foi cerca de 20%, não ocorreu uniformemente ao longo do ano, e foi mais evidente no 3 o e 4 o trimestres, respectivamente. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2592
O primeiro trimestre foi mais chuvoso do que os anos anteriores. Este fato teve reflexos na qualidade do ar, especialmente no material particulado. Após análise dos dados meteorológicos, identificou-se o período mais desfavorável para a dispersão atmosférica, em relação a cada parâmetro meteorológico cujo período está apresentados no quadro abaixo. O período crítico para dispersão em 1997, ficou compreendido entre os meses de maio a setembro, estendendo-se até novembro em relação a alguns parâmetros sensíveis a anomalia climática que dominou sobre o Estado da Bahia. O período crítico foi identificado considerando o seguinte comportamento das variáveis meteorológicas em 1997: menor pressão atmosférica; menores valores de temperatura; menores valores da velocidade do vento; menor intensidade de radiação solar; menor precipitação; diminuição da umidade relativa ao sul do Pólo, e elevação a leste. condição de atmosfera neutra/estável. A influência desse período crítico teve reflexo direto no microclima local, conforme mostra a Tabela 1. TABELA 1: Período meteorológico crítico para dispersão de poluentes atmosféricos em 1997. Meses Parâmetros 1 Jan 2 Fev 3 Mar 4 Abr 5 Mai 6 Jun 7 Jul 8 Ago 9 Set Precipitação Período Seco Temperatura Redução de Temperatura Umidade Variável Pressão Pouca elevação Velocidade Fraca média do vento Estabilidade Neutra Estável atmosférica 10 Out 11 Nov 12 Dez Conclui-se que o período crítico, médio, em 1997, oscilou entre maio a setembro, com desvios para outubro e novembro. Identificou-se pelo menos um parâmetro meteorológico em cada um dos meses, que contribuiu com maior ou menor peso, para uma piora das condições de dispersão atmosférica, na região de influência do Pólo. Com relação a chuva observou-se dois extremos: um em junho (280,8 mm), quando ocorreu a maior precipitação mensal, e outro em novembro (5,5 mm), quando ocorreu a precipitação mínima. Portanto a chuva apresentou a maior contribuição para as condições desfavoráveis, referentes a dispersão de poluentes atmosféricos, no período do ano considerado crítico. Os meses de julho e agosto foram classificados como os mais críticos, porque conjugaram todos os fatores desfavoráveis à dispersão meteorológica simultaneamente. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2593
CONCLUSÕES Neste relatório foram analisados os dados de qualidade do ar e meteorologia obtidos ao longo dos anos de 1995 a 1997, na região de influência do Pólo, onde verificou-se os seguintes resultados: Entre os três anos analisados, verificou-se que em 97 houve uma redução significativa da precipitação pluviométrica anual total com relação a 1996 e 1995. Esta redução foi cerca de 20%, não ocorreu uniformemente ao longo do ano, e foi mais evidente no 3 o e 4 o trimestres, respectivamente. O primeiro trimestre foi mais chuvoso do que os anos anteriores. Este fato teve reflexos na qualidade do ar, especialmente no material particulado. A anomalia do comportamento da chuva em 97, foi causada pelo longo período de atuação do fenômeno El Niño, classificado como o mais intenso dos últimos anos Com relação ao vento, verificou-se que em 97 houve uma maior persistência de fluxos da direção Leste (E), ou seja do Pólo para Lamarão do Passé, que refletiu diretamente na qualidade do ar. De um modo geral houve uma redução na concentração de SO 2 nas estações à montante do Pólo, e um certo acréscimo, naquelas situadas a jusante. As direções predominantes do fluxo do vento por estação, em cada trimestre de 1997, são apresentadas a seguir: Tabela Resumo do Fluxo do Vento sobre a região de Camaçari em 1997. 1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 4º Trimestre Hospital E e ESE - E (2,6 m/s) ESE (3,3 m/s) (2,7 m/s e 2,8 m/s)) Câmara ESE (3,3 m/s) ESE (2,5 m/s) SE (2,5 m/s) ENE (3,6 m/s) Lamarão E (1,4 m/s) SE (2,4 m/s) E (1,6 m/s) E (2,7 m/s) Escola E (2,9 m/s) ENE (2,0) E (2,5 m/s) 3,3 (m/s) Identificou-se que o período mais desfavorável para a dispersão atmosférica, ou seja, o período crítico para dispersão em 1997, ficou compreendido entre os meses de maio a setembro, estendendo-se até novembro em relação a alguns parâmetros sensíveis a anomalia climática que dominou sobre o Estado da Bahia. O período crítico foi identificado considerando o seguinte comportamento das variáveis meteorológicas em 1997: menor pressão atmosférica; menor intensidade de radiação solar; menor precipitação; e diminuição da umidade relativa ao sul do Pólo; condição de atmosfera neutra/estável. A temperatura média foi mais elevada em 1997 do que nos anos anteriores, principalmente a partir do mês de setembro, e este aquecimento teve reflexos na formação dos oxidantes fotoquímicos. A qualidade do ar foi classificada como boa em 1997, ou seja, as concentrações dos poluentes mantiveram-se dentro dos padrões estabelecidos pelo CONAMA 003/90, para 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2594
os poluentes, SO 2, CO, NO 2 e MP. Entretanto o O 3 ultrapassou o padrão em duas ocasiões. Os poluentes orgânicos não possuem limites estabelecidos no Brasil, porém em 1996 foi efetuado um estudo em conjunto com as empresas do Pólo e o COFIC, que resultou na proposição de limites para estes poluentes, os quais serão incluídos na nova Resolução Ambiental do Pólo Petroquímico de Camaçari, que substituirá a Resolução CEPRAM 620/92. Em 1997 apenas o benzeno ultrapassou o padrão de 5 ppb estabelecido, na estação localizada no Pólo. Em 1997 foi adquirido e instalado um radar acústico, com o objetivo de efetuar medições do perfil vertical do vento, e da altura da camada de mistura, para melhor interpretar os resultados obtidos através da Rede de Monitoramento do Ar. Observa-se ainda que o vento muda de direção com a altura, principalmente no regime de microescala em zona costeira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CETREL S.A. Relatório Anual da Rede de Monitoramento do Ar. 1995; 1996 e 1997. 2. ARAÚJO, M.M.A. de e FRONDIZI C. Levantamento da Micrometeorologia e Influência topográfica da Região de Influência do Pólo, 1991. 3. OLIVEIRA S., Estudo sobre a influência dos parâmetros críticos para a formação de oxidantes fotoquímicos na Grande São Paulo. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2595