SILVA PS.; SOUZA Produção RB.; JASSE de mudas MEC.; GUEDES orgânicas IMR.; de alface GOBBI americana SJ.; REZENDE em substratos FV.; LUZ a M. base 2009. de Produção fibra de coco de mudas verdeorgânicas de alface americana em substratos a base de fibra de coco verde. Horticultura Brasileira 27: S3365-S3369. PRODUÇÃO DE MUDAS ORGÂNICAS DE ALFACE AMERICANA EM SUBSTRATOS A BASE DE FIBRA DE COCO VERDE Patrícia Santos da Silva 1 ; Ronessa Bartolomeu de Souza 2 ; Martha Elizabeth da Cunha Jasse 2 ; Ítalo Moraes Rocha Guedes 2 ; Silvio José Gobbi 2 ; Francisco Vilela Rezende 2 ; Maurici da Luz³ 1 1 Faculdade da Terra de Brasília e-mail: patrícia.santos@cnph.embrapa.br; 2 Embrapa Hortaliças, BR 060, Km 09, Caixa Postal 218, 70359-970 Brasília, DF; 3 Escola Técnica Estadual Fronteira Noroeste RESUMO O presente trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho de diferentes substratos a base de fibra de coco verde para produção de mudas orgânicas de alface americana, comparando-os com os substratos comerciais Plantmax HA e Biomix. O experimento foi desenvolvido na Área de Pesquisa e Produção Orgânica da Embrapa Hortaliças, Brasília/DF. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições e 32 sementes por parcela. Foram consideradas para avaliação as 12 plântulas centrais da parcela. Avaliaram-se as seguintes características: porcentagem de germinação, número de folhas definitivas, área foliar, comprimento de raiz, altura da parte aérea, massa fresca e massa seca da plântula inteira. O substrato constituído por 50% da mistura compostada por 90 dias (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 35% de vermiculita fina + 10 % de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 5% de cinzas de madeira apresentou os melhores resultados e, portanto é recomendado para produção de mudas de alface em sistema orgânico. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa, reciclagem, reutilização, resíduos orgânicos, composto de farelos, rocha moída ABSTRACT Production of Seedlings of iceberg Lettuce on substrate of fiber coconut green for organic agriculture This study aimed to evaluate the performance of different green coconut fiber substrates for organic lettuce seedlings production in comparison to the commercial substrates Plantmax HA and Biomix. The experiment was conducted in the Organic Agriculture Research Area of Embrapa Vegetables, Brasília / DF in a completely randomized design with four replicates and 32 seeds per plot, of which, only 12 central seedlings were evaluated. Percentage of germination, final number of leaves, leaf area, root length, shoot height and seedling fresh and dry mass were evaluated. The substrate composed by 50% of the mixture (coconut fiber + poultry litter + magnesium thermophosphate) composted for 90 days, added 35% of fine vermiculite, 10% of crumb compost (anaerobic bokashi) and 5% of wood ash, proportioned the best results and, therefore, it was recommended for lettuce seedlings production in the organic production system. KEYWORDS: Lactuca sativa, recycling, reutilization, organic residues, crumb compost, milled rock S 3365
INTRODUÇÃO Na produção de mudas de hortaliças o método de propagação mais empregado é o semeio em bandejas multicelulares de poliestireno expandido com substrato devido às inúmeras vantagens de manejo, controle sanitário e nutricional e posterior transplante para os canteiros, obtendo-se assim plantas mais vigorosas e produtivas (Marques et al., 2003). Os substratos comerciais para uso no sistema convencional em geral são desuniformes e, na maioria das vezes são enriquecidos com adubos químicos não permitidos pelas normas da Agricultura orgânica. Assim, têm se procurado alternativas que sejam ambientalmente corretas, de boa qualidade e baixo custo para produção de substratos nas propriedades agrícolas (Lüdke et al., 2008). O substrato exerce a função do solo, fornece sustentação à planta, deve ser capaz de reter umidade, oxigênio e nutrientes, baixa resistência à penetração das raízes e uniformidade. O uso de pós de rochas juntamente com matéria orgânica na composição dos substratos aumenta os teores de nutrientes, fornecendo todos os elementos essenciais e benéficos ao desenvolvimento das plantas e à manutenção da atividade biológica contribuindo no equilíbrio ecológico do solo. Sendo assim, esse trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho de diferentes composições de substratos a base de fibra de coco verde para produção de mudas de alface americana no sistema orgânico. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na Área de Pesquisa em Produção Orgânica da Embrapa Hortaliças, Brasília/DF, no período de março de 2009. As mudas foram produzidas em casa de vegetação sobre bancadas construídas com madeira e arame liso, em bandejas de poliestireno expandido de 128 células em delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de dois substratos comerciais e onze substratos elaborados com a casca do coco verde. Destes, a maior parte (50% em v.) foi constituída pela mistura de fibra de coco verde mais cama de matriz de aviário, na proporção 3:1 em volume, acrescida de 2 kg m -3 de termofosfato magnesiano, compostados por 90 dias. Assim, foram formulados e avaliados os seguintes substratos (S): S1) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 25 g L -1 rocha moída de Ipirá; S2) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 50 g L -1 de rocha moída de Ipirá; S3) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 25 g L -1 de rocha moída MB4; S4) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 50 g L -1 de rocha moída MB4; S5) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + l0 L torta de mamona + 25 g L -1 rocha moída de Ipirá; S6) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 5 L torta de mamona + 25 g L -1 rocha moída de Ipirá; S7) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 10 S3366
humus de minhoca + 25 g L -1 rocha moída de Ipirá; S8) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 5 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 5 L húmus de minhoca + 25 g L -1 de rocha moída de Ipirá; S9) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 40 L de vermiculita fina + 5 L húmus de minhoca + 5 L de torta de mamona + 25 g L -1 de rocha moída Ipirá; S10) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 37,5 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 5 L cinza; S11) 50 L da mistura compostada (fibra de coco + cama de matriz de aviário + termofosfato magnesiano) + 35 L de vermiculita fina + 10 L de composto de farelos (bokashi anaeróbico) + 5 L cinza; S12) Substrato comercial Plantmax HA como testemunha; S13) Substrato comercial Biomix certificado pelo IBD para produção de mudas orgânicas. Os ingredientes dos substratos de coco verde foram homogeneizados manualmente e colocados nas bandejas, previamente lavadas e desinfetadas com solução 0,2 % de hipoclorito de sódio. Cada parcela foi constituída por 32 células, deixando-se vazias duas fileiras centrais. A semeadura foi realizada em 06/03/2009, com uma semente de alface americana cultivar Amélia colocada no centro de cada célula e, em seguida coberta com uma fina camada do substrato. A irrigação foi realizada de quatro a seis vezes ao dia por microaspersão, conforme a necessidade. A porcentagem de emergência foi avaliada aos 7 e 14 dias após a semeadura, por meio da contagem de plântulas emergidas. Ao final do experimento, 21 dias após a semeadura, avaliaram-se as seguintes características: massa fresca e seca da plântula inteira; área foliar; comprimento de raízes; altura da parte aérea. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e os tratamentos comparados por meio do teste de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade utilizando o programa SISVAR - UFLA. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação ao número de folhas definitivas, os substratos S1, S2, S3, S4, S9, S10 e S11 proporcionaram mudas com mais folhas, enquanto os substratos S6 e S13 resultaram em mudas com menos folhas (Tabela 1). O substrato S11 produziu mudas com maiores massa fresca e área foliar em relação aos demais substratos. Quanto à produção de matéria seca e altura da parte aérea, o melhor desempenho foi observado nos substratos S10 e S11 para a primeira característica e S8, S10 e S11 para a segunda. Observa-se também que, em geral, o substrato comercial Biomix (S13) produziu mudas de qualidade inferior aos demais. A taxa de emergência mostrou-se em geral alta, sendo superior a 90% para os substratos S7, S8, S9, S10, S11, S12 e S13. Por outro lado, os substratos S5 e S6, com 10 e 5% de torta de mamona respectivamente, apresentaram as menores taxas de emergência, abaixo de 70%, sugerindo algum efeito fitotóxico desse componente, o que prejudicou a germinação das sementes de alface. Taxas de emergência menores ainda foram encontradas por Gouzalez et al. (2009) para mudas de tomateiro semeadas em substratos contendo 10, 20 e 30% de torta de mamona. Segundo os autores, a explicação pode estar em alguma substancia tóxica presente na torta de mamona ou devido a um aumento de temperatura no substrato causado pela fermentação da mesma, uma vez que não foi compostada. Por outro lado, o S9 apesar de conter 5% de torta de S 3367
mamona mostrou desempenho relativamente bom, provavelmente devido à mistura da torta com 5% de húmus de minhoca ao invés do bokashi, presente em igual proporção (5%) no S6. Em geral, o substrato plantmax proporciona mudas de boa qualidade, superior a que foi observada neste trabalho, corroborando o comentário feito anteriormente sobre a desuniformidade entre lotes de um mesmo substrato. Esse é o principal problema dos substratos encontrados no comercio e que resulta em prejuízos para o produtor. Por ser relativamente novo no mercado, ainda não é possível fazer considerações sobre o substrato Biomix. Entretanto, parece necessitar de enriquecimento com fontes orgânicas ricas em nutrientes e/ ou minerais permitidas para uso em agricultura orgânica a fim de melhorar seu desempenho na produção de mudas. A boa qualidade da muda de alface obtida nos substratos S10 e, principalmente S11 foi visualmente perceptível. Apenas esses dois substratos contem cinzas de madeira (resíduos de poda de goiabeiras orgânicas) na proporção de 2,5 e 5%, respectivamente, indicando a cinza de madeira para o enriquecimento nutricional da fibra de coco verde. Provavelmente, o maior crescimento das mudas ocorreu em função do maior aporte de nutrientes, especialmente K e P, oriundos das cinzas de madeira. Uma vez que cinzas não possuem nitrogênio, observa-se que o menor crescimento das mudas nos substratos S1 e S2 provavelmente ocorreu devido a falta de K e/ou P. REFERÊNCIAS GOUZALEZ, RG; GOMES, LAA; FRAGA, AC; CASTRO NETO, P. Utilização de Torta de Mamona em Substratos Para Produção de Mudas de Tomate. Brasília, Governo Federal: Portal do Biodiesel, 2009. 4p. Disponível em: http://www.biodiesel.gov.br/docs/congressso2006/ agricultura/utilização Torta16.pdf>. Acessado em 27 de abril de 2009. LUDKE, I. ; SOUZA, R. B.; BRAGA, D. O. ; LIMA, J. L.; RESENDE, F. V. Produção de mudas de pimentão em substratos a base de fibra de coco verde para agricultura orgânica. In: IX SIMPÓSIO NACIONAL DO CERRADO. II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE SAVANAS TROPICAIS, 2008, Resumos... Brasília. Planaltina, DF : Embrapa Cerrados, 2008. MARQUES, P. A. A.; BALDOTTO, P. V.; SANTOS, A. C. P.; OLIVEIRA, L. 2003. Qualidade de mudas de alface formadas em bandejas de isopor com diferentes números de células. Horticultura brasileira 21 (4): 649-651 S3368
Tabela 1. Número de folhas definitivas, produção de matéria fresca e seca, área foliar, comprimento de raiz, altura da parte aérea e emergência das plântulas de alface americana Cv. Amélia, produzidas em diferentes substratos. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2009. Substrato Nº folhas Comprimento Altura da Emergência Matéria fresca Matéria seca Áreafoliar definitivas de raízes parte aérea 14 dias g plântula -1 g plântula -1 cm² plântula -1 cm plântula -1 cm plântula -1 % S1 4,65 a 1 1,51 b 0,09 b 21,13 b 6,30 a 4,88 b 86,72 a S2 4,75 a 1,07 c 0,05 c 20,64 b 6,41 a 5,28 b 89,06 a S3 4,55 a 0,57 d 0,03 d 11,24 d 2,96 c 2,17 d 78,90 b S4 4,15 a 1,32 b 0,07 c 22,93 b 6,81 a 5,30 b 84,37 a S5 3,80 b 0,67 d 0,03 d 12,76 d 4,74 b 3,84 c 69,53 c S6 3,20 c 0,74 d 0,04 d 10,28 d 6,06 a 5,04 b 64,06 c S7 3,50 b 1,03 c 0,07 c 12,35 d 6,33 a 4,67 b 97,66 a S8 3,85 b 1,53 b 0,09 b 21,63 b 6,46 a 5,87 a 92,97 a S9 4,30 a 0,86 c 0,07 c 17,70 c 6,62 a 5,18 b 94,53 a S10 4,50 a 1,48 b 0,12 a 21,57 b 6,59 a 6,25 a 95,31 a S11 4,55 a 2,29 a 0,13 a 28,72 a 6,45 a 6,76 a 96,09 a S12 3,60 b 1,27 b 0,08 c 13,68 d 7,43 a 3,99 c 97,66 a S13 2,90 c 0,58 d 0,03 d 4,40 e 6,65 a 2,76 d 96,09 a 1 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Scott- Knott, a 5% de probabilidade. S 3369