ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina

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Transcrição:

ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL - NOVA LEGISLAÇÃO PERMITE RÁPIDO AVANÇO PARA NORMAS TÉCNICAS E NOVAS SOLUÇÕES Tarcísio de Paula Pinto PRÓXIMA Realização: ICTR Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP

RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NOVA LEGISLAÇÃO PERMITE RÁPIDO AVANÇO PARA NORMAS TÉCNICAS E NOVAS SOLUÇÕES. Arq. Tarcísio de Paula Pinto 1 Resumo A Resolução CONAMA 307/2002 criou os instrumentos para a superação dos constantes problemas urbanos com os resíduos da construção, definindo responsabilidades e deveres, abrindo caminho para o preparo de normas técnicas tanto para o correto manejo dos resíduos como para seu uso pós reciclagem. Os primeiros textosbase produzidos estão colocados à discussão pública, pela ABNT. Resultante das exigências colocadas pelo CONAMA, há toda uma série de saudáveis iniciativas de municípios, empresas construtoras e instituições representativas, que apontam para uma acelerada modificação dos cenários observados nos últimos decênios. Com suporte nos conceitos das novas normas técnicas, áreas de triagem de resíduos vem sendo implantadas, a reciclagem começa a ser adotada pela iniciativa privada, novas soluções de destinação, mais sustentáveis, são viabilizadas pelo próprio mercado.este trabalho técnico pretende informar sobre estes avanços e analisá-los à luz da necessidade de superação dos graves problemas de comprometimento de qualidade ambiental que os resíduos da construção vêm causando em municípios brasileiros. Palavras chave: Resíduos da construção civil, entulho, reciclagem, gestão sustentável. 1 Mestre e Doutor pela USP, Diretor da I &T Informações e Técnicas - www.ietsp.com.br 5100

O conhecido cenário das inúmeras deposições irregulares e bota foras de entulho nos centros urbanos brasileiros começa a ser alterado, em profundidade, pelas a- ções incisivas tomadas em vários municípios brasileiros. Somam-se agora às ações pioneiras de Belo Horizonte, outros esforços, de administrações públicas e empresas, desenvolvidos principalmente após a edição da Resolução nº 307 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Se há um traço comum entre os resíduos da construção detectados nos diversos municípios, além da composição semelhante, oriunda de processos construtivos similares, é a profunda indisciplina existente em todas as fases afetas a eles. Para resíduos mais agressivos, como os domiciliares e os dos serviços de saúde, sistemas de gerenciamento estão implantados, ao menos na etapa de coleta; para os resíduos da construção, menos incômodos por não serem putrescíveis, acaba-se por aceitar a não responsabilização dos geradores e a multiplicação das pequenas deposições e bota foras irregulares, impactantes na qualidade da vida urbana, por afetarem aspectos como a drenagem urbana, multiplicação de vetores e outros. Figura 1 Composição típica dos resíduos sólidos urbanos (média de 11 municípios) A Resolução CONAMA 307, aprovada em 05/07/2002, criou os instrumentos para a superação destes problemas, definindo responsabilidades e deveres e abrindo caminho para o preparo de normas técnicas tanto para o correto manejo dos resíduos como para seu uso pós reciclagem. A resolução impõe aos geradores a obrigatoriedade da redução, reutilização e reciclagem, quando, prioritariamente, a não geração dos resíduos não puder ser alcançada. Mas, diante das características diversas destes geradores, foi definida, para os municípios e Distrito Federal, a necessidade de desenvolverem e implementarem Planos Integrados de Gerenciamento que possibilitem a expressão das responsabilidades dos geradores, correspondentes à sua diversidade. 5101

Figura 2 Caracterização dos geradores (média em 3 municípios) Obedecidas as diretrizes gerais da Resolução, aos municípios caberá a definição da política local de gestão (como exemplificada no diagrama a seguir), assumindo a solução para o problema dos pequenos volumes, quase sempre mal dispostos, e disciplinando a ação dos agentes envolvidos com os grandes volumes de resíduos definindo e licenciando áreas para o manejo dos resíduos em conformidade com a Resolução CONAMA 307, cadastrando e formalizando a presença dos transportadores destes resíduos, exigindo responsabilidades dos geradores, inclusive no tocante ao desenvolvimento dos projetos específicos previstos na Resolução. Figura 3 SISTEMA DE GESTÃO PARA RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E RESÍDUOS VOLUMOSOS DISCIPLINAR atores e fluxos FACILITAR descarte correto INCENTIVAR redução, segregação e reciclagem REDE PARA GESTÃO DE PEQUENOS VOLUMES (Pontos de Entrega distribuídos pelo município) (serviço público de coleta) REDE PARA GESTÃO DE GRANDES VOLUMES (Áreas de Transbordo e Triagem, Á- reas de Reciclagem, Aterros para Reservação) (ação privada regulamentada) AÇÕES DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL AÇÕES DE FISCALIZAÇÃO RENOVADA Aspecto essencial na Resolução CONAMA 307 é a solução encontrada para a abolição dos bota foras de entulhos da construção. Se por um lado, não há viabilidade em exigir-se, neste momento, a plena reciclagem dos resíduos captados da constru- 5102

ção urbana, não se poderia, por outro, aceitar a continuidade dos bota foras, expressão máxima da indisciplina neste processo. Não poderemos ter, no Brasil. a curto prazo, índices elevados de retorno destes materiais ao ciclo produtivo (como na Holanda com 90%, Bélgica com 87% e Dinamarca com 81%) mas podemos, desde já, adotar práticas que respeitem estes materiais como recursos naturais não renováveis. Para isto servirá a nova figura instituída pela Resolução, o Aterro de Resíduos da Construção Civil, onde, não havendo um uso urbano futuro designado para a á- rea, necessariamente o material deverá ser reservado, de forma segregada, disponibilizado para recuperação quando das condições econômicas e políticas adequadas. Havendo reservas de materiais plenamente recicláveis, de boa qualidade, a racionalidade aplicada à gestão ambiental evitará o desmonte de jazidas em ambientes naturais importantes e evitará o transporte de agregados naturais por longas distâncias. Após a Resolução CONAMA 307 a gestão dos resíduos da construção deverá ser feita com apego não mais a 3 Rs, mas sim a 4 Rs Redução, Reutilização, Reciclagem e Reservação. Todo este processo de gestão sustentável dos resíduos não pode avançar se eles continuam a ser tratados como um único material. A atividade de caracterização e triagem dos resíduos passa a ser fundamental e a definição de novos destinos, sucessores dos antigos bota foras, tem que ser feita com respeito às quatro classes definidas pela resolução (ver Tabela 1). Tabela 1 Classes e destinos dos resíduos da construção e demolição, conforme a Resolução CONAMA nº 307 Classes Integrantes Destinação A B C D resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como componentes cerâmicos, argamassa, concreto e outros, inclusive solos resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plástico, papel e papelão, metal, vidro, madeira e outros resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis para reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso resíduos perigosos oriundos da construção, tintas, solventes, ó- leos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de obras em clínicas radiológicas, instalações industriais e outras deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas 5103

Em conseqüência da Resolução CONAMA e da necessidade de avançar no disciplinamento destes resíduos, o Estado de São Paulo formulou o primeiro instrumento de política estadual sobre a questão. A Resolução nº 41 (17/10/2002) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente proíbe a operação de bota foras no estado, define procedimentos para o licenciamento dos Aterros de Resíduos da Construção Civil, em função de seu porte, e dá prazo para o enquadramento das áreas já existentes. As alterações exigidas pela Resolução CONAMA não serão feitas sem o recurso a novas normas técnicas. O esforço para desenvolvê-las foi sustentado pela Câmara Ambiental da Indústria da Construção Civil, da CETESB-SP, e por grupos técnicos estruturados a partir de workshop realizado em 2001, em São Paulo, com apoio de várias instituições. No âmbito da ABNT, o CB-02 (Comitê Brasileiro da Construção Civil) finalizou quatro novas normas brasileiras e o CB-18 (Comitê Brasileiro do Cimento, Concreto e Agregados) colocou uma última em consulta pública, conforme o rito típico da ABNT. Tabela 2 Projetos de norma em finalização após edição da Resolução CONAMA nº 307 Comitê Projeto Aspectos centrais CB 02 CB 02 CB 02 CB 02 CB 18 Projeto 02:130.06-001 (em publicação) Resíduos da construção civil e resíduos volumosos. Áreas de Transbordo e Triagem. Diretrizes para projeto, implantação e operação. Projeto 02:130.06-002 (em publicação) Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes. Aterros. Diretrizes para projeto, implantação e operação. Projeto 02:130.06-004 (em publicação) Resíduos sólidos da construção civil. Áreas de Reciclagem. Diretrizes para projeto, implantação e operação. Projeto 02:130.05-002 (em publicação) Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil. Execução de camadas de pavimentação. Procedimentos. Projeto 18:200.05-001 (em consulta pública) Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil. Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural. Requisitos define procedimentos para o manejo na triagem dos resíduos das diversas classes, inclusive quanto a proteção ambiental e controles diversos define procedimentos para o preparo da área e disposição dos resíduos classe A, proteção das águas e proteção ambiental, planos de controle e monitoramento. estabelece procedimentos para o isolamento da área e para o recebimento, triagem e processamento dos resíduos classe A. define as características dos agregados e as condições para uso e controle na execução de reforço de subleito, sub-base, base e revestimento primário (cascalhamento). define condições de produção, requisitos para agregados para uso em pavimentação e em concreto, e o controle da qualidade do agregado reciclado 5104

Os textos-base, no entanto, já estão sendo úteis. Aqueles referentes ao manejo dos resíduos em áreas de triagem, transbordo e aterro, já são indicados pela CETESB como referência interna na análise de propostas de empreendimentos no estado de São Paulo. Já o texto produzido para o uso de agregados reciclados em pavimentação, foi tomado, pela Prefeitura do Município de São Paulo, como matriz para a formulação de especificação interna, a ETS 001/2003, que respalda o uso municipal dos resíduos reciclados nas diversas camadas dos pavimentos. Em ato que só encontra similaridade em políticas públicas de alguns poucos países desenvolvidos, foi recentemente divulgada uma listagem de serviços (ver Tabela 3) para os quais esta municipalidade aceitará a oferta do uso dos novos agregados, obedecida a especificação técnica e condições favoráveis de preço. Os serviços em divulgação pela PMSP embutem uma estimativa de preço, para os agregados reciclados em São Paulo, na ordem de R$ 21,91 por metro cúbico. Tabela 3 Serviços com Agregados Reciclados incluídos na Tabela de Preços da PMSP (SIURB - Secretaria de Infra-estrutura Urbana) item serviço 14.1 Fundação de agregado reciclado 14.2 Revestimento primário com agregado reciclado misturado ao solo local, inclusive escarificação, verificação, umedecimento, compactação e ensaios da camada acabada 14.3 Base de agregado reciclado 14.4 a 14.9 Reforço de sub-leito / sub-base de solo melhorado com agregado reciclado 10% a 60% em volume 14.10 Lastro de agregado reciclado 14.11 Dreno de agregado reciclado graúdo Iniciativas como estas, integradas a outros esforços de renovação da gestão como a breve contratação, pela PMSP, de aterros que se adeqüem às exigências da Resolução CONAMA 307, reservando os resíduos que possam ser reinseridos no ciclo produtivo, apontam para uma progressiva alteração de cenários. Figura 4 São Paulo Ponto de Entrega para Pequenos Volumes Alteração que já pode ser observada em Belo Horizonte onde, após quase 8 anos ininterruptos de esforços, multiplicam-se as instalações para captação de pequenos volumes (23 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes) com enorme impacto na qualidade ambiental dos bairros onde são instaladas e consolida-se a experi- 5105

ência de reciclagem dos resíduos. As duas instalações existentes, projetadas para o processamento diário de 360 toneladas, trabalham continuamente no patamar de 660 toneladas diárias. Belo Horizonte recupera, hoje, 15% dos resíduos gerados, e se prepara para avançar para a terceira instalação de reciclagem. São experiências consolidadas que se incorporam à administração rotineira da cidade e se espraiam por grande número de municípios (ver Tabela 4) que já dão passos rumo à implantação de ações específicas de gestão para estes resíduos. Uma ação importante para a sustentabilidade deste esforço de gestão renovada vem sendo o preparo, pelo Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal, de linhas específicas de financiamento operadas com recursos do FGTS, destinadas ao apoio de entes públicos e privados que implantem instalações de manejo e reciclagem a- pós o atendimento de alguns requisitos - o preparo do Plano Integrado de Gerenciamento local, previsto pela Resolução CONAMA, a abertura do mercado público para a compra de agregados reciclados e o respeito às normas técnicas da ABNT para estes resíduos, aos moldes dos passos dados pela Prefeitura de São Paulo e outros municípios importantes. Os passos dados por diversos municípios e atores, em função das exigências da Resolução CONAMA, têm gerado lições significativas e mostrado que é viável a gestão sustentável dos resíduos, com redução dos custos anteriormente praticados e têm demonstrado que resíduos que se mostravam potencialmente com destinação mais complexa, como madeira (classe B), de grande presença no conjunto, e solos provenientes de desassoreamento (classe A), vão encontrando soluções técnica e economicamente viáveis. A madeira resultante do processo de triagem vem sendo destinada, de forma crescente, ao processo de produção de componentes cerâmicos, alimentando fornos industriais em condições controladas na Região Metropolitana de São Paulo, o mesmo veículo que abastece o mercado com produtos cerâmicos, já retorna à sua origem com madeira triada em Áreas de Transbordo e Triagem ou em canteiros de obra. Guarulhos/SP, município com grande número de córregos e persistentes problemas de drenagem, já consegue evitar o descomprometido bota fora do material resultante do desassoreamento, com uso de equipamento simples, que separa um grande percentual de fração miúda, e limpa, que pode ser reservada ou reutilizada de imediato. Estes resíduos, madeira e solo, constituíam problema enquanto estavam imersos na massa descontrolada de resíduos empurrados em bota foras. O mesmo vem acontecendo com o gesso acartonado, com produtores já ofertando o recebimento de aparas, em retorno, como forma de destinação correta dos resíduos na região de São Paulo. A atividade de triagem, obrigatória pela Resolução CONAMA 307, colocou à tona oportunidades de negócios que anteriormente não eram visíveis. As diversas Áreas de Transbordo e Triagem já existentes em Belo Horizonte, São Paulo, São José do Rio Preto, Guarulhos, Piracicaba, em sua maioria empreendimentos privados, são sustentáveis e vão se consolidando economicamente. Em Piracicaba/SP, a recente implantação de uma área de triagem e transbordo, fruto de planejamento cuidadoso e parceria entre a administração pública e a associação de empresas coletoras, mostra a total viabilidade de recepção ordenada dos resíduos e sua destinação correta uma única área recebe, hoje, os resíduos anteriormente destinados a 14 bota foras já desativados; os resíduos triados são conduzidos, em grande parte, à reciclagem e posterior uso em pavimentação e fabricação de artefatos. 5106

Figura 5 Piracicaba Área de Transbordo e Triagem do Bongue Tabela 4 Municípios com ações para a gestão de resíduos da construção e resíduos volumosos municípios Plano de gestão implantado ou em implantação Áreas de recepção pequenos volumes Áreas de transbordo e triagem Unidades de reciclagem implantadas ou em implantação Belo Horizonte - sim 23 1 3 São Paulo - SP sim 2 4 2 Salvador - BA sim 6 Maceió - AL 5 Uberlândia - MG 18 São J. Rio Preto - sim 6 2 1 Piracicaba - SP sim 1 1 Araraquara - SP 5 São Carlos - SP 1 1 Ribeirão Preto - SP 1 São J. Campos - 1 Guarulhos - SP sim 3 3 2 Diadema - SP sim 3 Ribeirão Pires - SP sim 3 1 Santo André - SP 8 Vinhedo - SP 1 Londrina - PR 1 Macaé -RJ 1 Brasília - DF 2 Rio de Janeiro - RJ 35 2 Campinas - SP 2 Socorro - SP 1 5107

São áreas como esta de Piracicaba e como as que constituem iniciativa privada na Grande São Paulo, gerando receitas pela recepção de cargas e pela comercialização de resíduos triados, que poderão viabilizar um final eficaz para os esforços que vêm sendo desenvolvidos por construtoras paulistanas, para a gestão ambiental no canteiro de obras. Esta iniciativa, organizada pelo SindusCon SP e assessorada pelas empresas Obra Limpa e I&T Informações e Técnicas, vem rompendo velhos paradigmas, mostrando ser possível aliar redução de resíduos a redução de custos, aliar alteração de comportamento nas diversas frentes de trabalho à construção de parcerias com os diversos fornecedores, abolindo-se a disposição irresponsável em bota foras, por meio da destinação compromissada de cada componente dos resíduos triados, para que a responsabilidade com o ambiente que ancora a atividade econômica seja exercida. São portanto iniciativas várias, e concretas, mostrando que a defesa de novas práticas de gestão que vinha acontecendo em artigos, trabalhos e esforços técnicos, nos últimos 15 anos, apontava para a direção correta. Referências bibliográficas 1. BRASIL, Leis. Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA. Resolução nº 307, de julho de 2002. 2. PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São Paulo 1999. 189 p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Construção Civil. 5108

CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE NEW LEGISLATION ALLOWS QUICK ADVANCE FOR TECHNICAL STANDARDS AND NEW SOLUTIONS. Abstract The Environmental National Council - CONAMA Resolution 307/2002 created the instruments for the overcoming of the constant urban problems with C&D waste, defining responsibilities and duties, opening space for the preparation of technical standards so for the correct handling of the waste as for its post-recycling use. The first base-texts produced are under public discussion, by ABNT (Technical Standards Brazilian Association). Resulting from the requirements set by CONAMA, there is a whole series of initiative by the municipalities, constructors and representative institutions, which point to an accelerated modification of the sceneries observed in the last decenniums. With support over the concepts of new technical standards, waste trial facilities have been implanted, the recycling starts to be adopted by the private initiative, new destination solutions, more sustainable, are made viable by the own market. This technical job pretends to inform about these advances and analyze them through the necessity of overcoming of the serious problems of environmental quality that the waste have been caused in certain Brazilian municipalities. Key-words: construction and demolition waste, debris, recycling, sustainable management 5109