REFLEXÕES ACERCA DO PAPEL DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: ARTICULANDO OS SABERES DO DOCENTE E DO PEDAGOGO BACHETI, Luciane Serrate Pacheco, FERNANDES, Márcia Alessandra de Souza, SILVA, Maria Izabel Costa da INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CAMPUS SÃO MATEUS PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA INTEGRADA À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE JOVENS E ADULTOS PROEJA INTRODUÇÃO O presente trabalho surge da necessidade de sistematizar questionamentos e reflexões que emergiram ao longo de experiências de formação em serviço para docentes da educação profissional, propostas pelo Núcleo de Gestão Pedagógica do Instituto Federal do Espírito Santo Campus São Mateus. O CONTEXTO E SEUS DESAFIOS O momento em que vivemos, de expansão da Rede de Educação Profissional e Tecnológica em todo país, nos oferece terreno fértil para discutir mais profundamente as especificidades desta modalidade de ensino. Neste trabalho, procuramos entender quais os desafios estão postos para os profissionais que atuam na gestão pedagógica, em especial o pedagogo. Assim perguntamos: Qual o papel do pedagogo dentro das instituições de educação profissional? O que os professores esperam do trabalho do pedagogo nestas instituições, mais especificamente nos cursos de nível técnico? Quais demandas, de fato, os levam a procurar este profissional durante seu trabalho diário? Qual a sua contribuição para o processo de humanização desta modalidade de educação? OS PASSOS Optamos por empreender tal investigação com o corpo docente por ser este um dos públicos que, no cotidiano escolar, mais interfaces possui com o pedagogo. O caminho trilhado para a realização do estudo, deu-se a partir do enfoque da pesquisa qualitativa, que caracteriza-se por buscar compreender e classificar um determinado fenômeno social (Gil apud Oliveira, 1994). Para colher as informações, aplicamos um questionário semiestruturado a 26 professores, sendo 6 de disciplinas da formação geral e os outros de disciplinas das áreas técnicas, dos Cursos Técnicos em Mecânica e em Eletrotécnica, do Instituto Federal do Espírito Santo Campus São Mateus. RESULTADOS PARCIAIS A consolidação dos dados coletados demonstrou que a grande maioria dos professores, no dia-a-dia da escola, busca o pedagogo para apoio nos aspectos pedagógicos, seguido dos aspectos subjetivos, pois acreditam que estas sejam as atribuições essenciais do pedagogo, justificando assim, sua existência na escola. A demanda deste profissional no que tange aos aspectos operacionais não foi relevante, comprovando a idéia de Pimenta quando afirma que o pedagogo contribui com os professores no trabalho de organizar diferentes modos de ensinar os diferentes conteúdos, ter conhecimento sobre os processos de aprendizagem, enfim, tarefas e saberes pedagógicos fundamentais à prática docente (PIMENTA, 2002). APONTAMENTOS Chegando a conclusões preliminares, a pesquisa aponta como fundamental e necessária a formação continuada, tanto dos docentes quanto do pedagogo, incluindo a articulação dos saberes desses profissionais que envolvem, segundo Tardif (2002), os da formação profissional, os da tradição pedagógica, o saber experiencial e o saber da ação pedagógica, entre outros, para a consolidação de práticas educativas que tenham como foco a emancipação humana. Entendemos que esta formação, notadamente necessária, possa ser realizada por meio da pesquisa, em cursos de pós-graduação, e também ao longo do próprio exercício profissional, em espaços intencionalizados e sistematizados de formação em serviço, articulando os saberes do fazer pedagógico com aqueles acumulados ao longo da vida. REFERÊNCIAS GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. PIMENTA, Selma Garrido. O pedagogo na escola pública. São Paulo: Loyola, 2002. TARDIF, Maurice. LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. O questionário, entre outras perguntas, continha duas questões abertas versando sobre os motivos que levam os professores a recorrerem ao pedagogo e que atividades acham que o pedagogo deve desenvolver para ajudá-los. Realização Apoio
REFLEXÕES ACERCA DO PAPEL DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: ARTICULANDO OS SABERES DO DOCENTE E DO PEDAGOGO Autor: Luciane Serrate Pacheco Bacheti Co-autores: Maria Izabel Costa da Silva; Márcia Alessandra de Souza Fernandes Orientador: Ms. Alex Jordane O contexto e seus desafios O momento atual, caracterizado pela expansão da Rede de Educação Profissional e Tecnológica em todo país, nos oferece terreno fértil para discutir mais profundamente as especificidades desta modalidade de ensino. Nesse sentido, formar trabalhadores que respondam aos desafios colocados pela sociedade atual, não apenas no que diz respeito à competência laboral, mas também à capacidade de, criticamente, ler, ser e estar no mundo e, ainda, comungando com este, transformá-lo (FREIRE, 1992). Tudo isso exige um processo educativo que considere o ser humano nos diversos aspectos que o totalizam (social, cultural, afetivo etc), sendo necessário para tanto, romper com a lógica do ensino puramente tecnicista, em que apenas a transmissão do conhecimento técnico é priorizada. Quando nos propusemos a pensar as relações de ensino-aprendizagem que ocorrem no cotidiano dos cursos de educação profissional, encontramos desafios colocados tanto ao exercício da docência quanto ao da gestão pedagógica. Assim, procuramos entender quais os desafios postos aos profissionais que atuam na gestão pedagógica, mais especificamente ao pedagogo. Dessa forma perguntamos: Qual o papel do pedagogo dentro das instituições de educação profissional? O que os professores esperam do trabalho do pedagogo nestas instituições, mais especificamente nos cursos de nível técnico? Quais demandas, de fato, os levam a procurar este profissional durante seu trabalho diário? Qual a sua contribuição para o processo de humanização desta modalidade de educação? Estas questões emergiram ao longo de experiências de formação em serviço para docentes da educação profissional, propostas pelo Núcleo de Gestão Pedagógica do Instituto Federal do Espírito Santo Campus São Mateus.
Os passos O caminho trilhado para a realização do estudo deu-se a partir do enfoque da pesquisa qualitativa, que, segundo Oliveira (apud Gil, 1999) se caracteriza por buscar compreender e classificar um determinado fenômeno social. Para colher as informações, aplicamos um questionário semiestruturado a 26 professores, sendo 6 de disciplinas da formação geral e os outros de disciplinas das áreas técnicas, dos Cursos Técnicos em Mecânica e em Eletrotécnica, do Instituto Federal do Espírito Santo Campus São Mateus. Inicialmente, optamos por empreender tal investigação com o corpo docente por ser este um dos públicos que, no cotidiano escolar, mais interfaces possui com o pedagogo. O questionário, entre outras perguntas, continha duas questões abertas versando sobre os motivos que levam os professores a recorrerem ao pedagogo e que atividades acham que o pedagogo deve desenvolver para ajudá-los. As respostas obtidas foram organizadas e analisadas a partir de três categorias gerais, a saber: 1- Aspectos pedagógicos: compreendem atividades relacionadas ao planejamento de aulas, interdisciplinaridade, avaliação do aluno, metodologia/recursos didáticos, alunos com dificuldade de aprendizagem, elaboração e orientação em projetos, turmas e alunos com baixo rendimento; 2- Aspectos operacionais: relacionam-se, por exemplo, com a organização de eventos comemorativos, dúvidas sobre regulamentos, preenchimento de pautas e legislações; e por fim, 3- Aspectos subjetivos: referem-se aos assuntos relativos à indisciplina, à freqüência e à motivação dos alunos. Resultados parciais A consolidação dos dados coletados demonstrou que a grande maioria dos professores, no dia-a-dia da escola, busca o pedagogo para apoio nos aspectos pedagógicos, seguido dos aspectos subjetivos, pois acreditam que estas sejam as atribuições essenciais do pedagogo, justificando, portanto, sua existência na escola.
A demanda deste profissional no que tange aos aspectos operacionais não foi relevante, comprovando a idéia de Pimenta quando afirma que o pedagogo contribui com os professores no trabalho de organizar diferentes modos de ensinar os diferentes conteúdos, ter conhecimento sobre os processos de aprendizagem, enfim, tarefas e saberes pedagógicos fundamentais à prática docente (PIMENTA, 2002). Entendendo que o papel do pedagogo na educação profissional ainda é pouco debatido tanto na literatura da área quanto nas discussões nacionais a respeito da identidade deste profissional, a análise dos dados neste trabalho será feito a partir da discussão da atuação deste profissional na educação pública. Desde a década de 80 vem-se discutindo a identidade do pedagogo que, para além da prática específica da docência, que chega à função de especialista da educação, antes caracterizada e fragmentada em orientação, supervisão e administração escolar. Os estudos da professora Selma Garrido Pimenta, já naquela época, apontavam para a importância de se superar essa fragmentação do trabalho no interior da escola, uma vez que essa fragmentação contribui para alienação dos profissionais, pois, de que adianta ter, na escola, diferentes especialistas, cada qual para resolver um tipo diferente de problema, se estes não trabalham de forma conjunta e articulada? Essa segmentação apenas reforça a burocratização do ensino. Há que se enxergar os processos educativos, acima de tudo, como prática humana, e sendo humana, é também coletiva e exige que os profissionais que nela atuam tenham visão de sua especificidade numa totalidade orgânica (p. 150). Tendo como referencial a pedagogia crítico-social dos conteúdos, Pimenta encara a escola como um dos instrumentos de transformação social, que deve ter como objetivo a inclusão das camadas dominadas e, portanto, precisa passar por um processo de democratização. Para atender ao público ao qual se destina a escola precisa pensar, cotidianamente, sua organização. Dentro desta perspectiva, o pedagogo deve cumprir a tarefa de ser o articulador entre as questões administrativas e didático-pedagógicas. O primeiro diz respeito aos aspectos mais organizacionais e do projeto político pedagógico da escola voltado para o cumprimento de sua função social, enquanto o segundo diz respeito ao auxílio aos professores na sua tarefa de ensinar, contribuindo no trabalho de organizar diferentes modos de ensinar os diferentes conteúdos, ter conhecimento sobre os processos de aprendizagem, enfim, tarefas e saberes pedagógicos fundamentais à prática docente.
No que diz respeito ao professores, pudemos identificar que, entre os pesquisados, apenas 23% são provenientes das licenciaturas, sendo os outros formados em engenharia ou cursos tecnólogos. A partir destas informações poderíamos supor que a demanda por formação pedagógica partisse exclusivamente dos professores das áreas técnicas, já que, nas licenciaturas, existem disciplinas pedagógicas. Contudo, nas respostas analisadas, percebemos que todos os professores licenciados também levantaram demandas pertinentes aos aspectos pedagógicos. Significa dizer que apenas a formação inicial dos professores, dada nos cursos de licenciatura, não é suficiente para atender à complexidade do processo educativo. Ao professor é exigido que trabalhe, ao mesmo tempo, com grupos e indivíduos com pluralidade de saberes, com respeito e cuidado em propiciar seu aprendizado; que articule os saberes trazidos pelos alunos com os seus próprios saberes; que observe as exigências legais da organização escolar; que, por meio da pesquisa, construa conhecimentos de forma criteriosa de modo que sejam úteis na prática, entre muitas outras tarefas. Citando Maurice Tardif (2002): [...] O tratamento reservado ao objeto, assim, não pode mais se reduzir à sua transformação objetiva, técnica, instrumental; ele levanta as questões complexas do poder, da afetividade e da ética, que são inerentes à interação humana, à relação com o outro. [...] ensinar, é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos. (TARDIF,2002). Na concepção deste autor, o saber docente é um saber plural que se origina da formação profissional (saberes construídos pelas instituições de formação de professores); de saberes disciplinares (que surgem da tradição cultural); curriculares (programas escolares) e experienciais (os que emergem do trabalho cotidiano). O que exige do professor capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condição para a sua prática. [...] os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento do seu meio. Esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se à experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer e de saber-ser. (TARDIF, 2002, p. 38-39) Assim, compreendemos que para o professor alcançar, efetivamente, esses objetivos é necessário e fundamental que, para além da formação inicial, ele conte com condições de trabalho adequadas, como por exemplo, tempo para planejamento, recursos materiais e
financeiros e equipe de apoio. Destacamos, ainda, a formação continuada e a formação em serviço como ferramentas de extrema importância para o aperfeiçoamento do professor, visto que estes espaços proporcionam oportunidade de estudar/pesquisar/avaliar as práticas educativas, trocar experiências, desenvolver novas técnicas e fortalecer a equipe docente enquanto coletivo. O pedagogo, por sua vez, tem como objetos de seu trabalho a equipe docente e os discentes, com sua pluralidade de saberes. Tendo diante de si, portanto, o desafio de articular esses saberes, mediando relações e interações, respondendo às demandas trazidas por estes sujeitos. Demandas essas que dizem respeito ao processo de ensino aprendizagem, às metodologias, aos instrumentos avaliativos, às condições sócio-econômicas, entre outras. Dessa forma, os saberes do pedagogo, segundo Pimenta (2002, p. 177) não são superiores nem inferiores aos dos professores, [...] ele possui uma especificidade que completa e amplia a especificidade de cada professor (especialista numa área), da mesma forma que completa e amplia sua própria especificidade, a partir de cada área. Nesta perspectiva, compreendendo o papel do pedagogo, começamos a delinear quais os saberes necessários a serem incluídos na formação deste profissional que lhe dê condições de responder efetivamente às tarefas e desafios que foram citados como de sua competência dentro dos processos educativos. Trazemos, novamente, as reflexões de Pimenta (2002, p. 188) no que se refere à formação do pedagogo. Para ela, são requisitos básicos: [...] uma sólida formação de história e filosofia da educação que permita-lhe compreender os problemas atuais da educação e a educação como prática social articulada às demais. Aí a explicação clara da educação enquanto função política. Compreender a escola como instância fundamental para a emancipação das camadas populares. Mais do que compreender, espera-se que o pedagogo apresente soluções competentes. Para isso, toda a parte de instrumentação se faz necessária. Pode-se destacar a necessidade do conhecimento do processo de aprendizagem como fundamental, de modo a que se saiba articular o lógico (dos conhecimentos científicos, técnicos) com o psicológico (do ser que aprende). A instrumentação necessária caminha desde a Didática enquanto teoria da educação até os aspectos de referencial para fazer de sua profissão um instrumento de conhecimento dessa realidade e de proposição de soluções. Ao lado de uma sólida formação acadêmica é fundamental a militância política pelas associações, sindicatos, partidos etc., que possibilitará aos cidadãos o constante referencial para fazer de sua profissão um instrumento de luta. Apontamentos
Chegando a conclusões preliminares, a pesquisa aponta como fundamental e necessária a formação continuada, tanto dos docentes quanto do pedagogo, incluindo a articulação dos saberes desses profissionais que envolvem, segundo Tardif (2002), os da formação profissional, os da tradição pedagógica, o saber experiencial e o saber da ação pedagógica, entre outros, para a consolidação de práticas educativas que tenham como foco a emancipação humana. Entendemos que esta formação, notadamente necessária, possa ser realizada por meio da pesquisa, em cursos de pós-graduação, e também ao longo do próprio exercício profissional, em espaços intencionalizados e sistematizados de formação em serviço, articulando os saberes do fazer pedagógico com aqueles acumulados ao longo da vida. Referências FREIRE. Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1992. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. PIMENTA. Selma Garrido. O pedagogo na escola pública. São Paulo: Loyola, 2002. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. TARDIF, Maurice. LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.