UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA III MESTRADO EM BIOÉTICA PROGRAMAS DE CUIDADOS CONTINUADOS: A DIGNIDADE HUMANA NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM Maria João Santos Rodrigues Orientador: Professor Alexandre Laureano Santos
A dignidade humana identifica-se como um conceito nuclear no contexto das relações interpessoais, quer em meio familiar, social ou profissional, onde se constituem como fundamentos alguns princípios, pios, nomeadamente o respeito, a cortesia, a benevolência e a solidariedade, essenciais a uma feliz convivência da família humana.
A dignidade humana na prestação de cuidados de saúde implica liberdade, subentende igualdade e pressupõe vulnerabilidade, pelo que apenas a responsabilidade profissional poderá garantir que estes princípios pios serão mantidos no melhor interesse do doente, um ser humano fragilizado e vulnerável vel por excelência.
Palavras-Chave Dignidade Humana - valor fundacional intrínseco nseco e intransferível da pessoa, do qual deve necessariamente resultar o reconhecimento de todos os direitos inerentes. Enfermagem arte de cuidar do outro, garantindo um conjunto de necessidades indispensáveis à vida.
Palavras-Chave Cuidados Continuados de Saúde todos os cuidados de saúde prestados nos doentes dependentes de forma articulada, independentemente dos d dias de prestação, por equipas multiprofissionais que respondam às s situações de dependência em apoio domiciliário. Visitação Domiciliária consulta efectuada por qualquer membro da equipa de saúde ou do apoio social no domicílio do doente, devido à incapacidade deste se deslocar até ao estabelecimento de saúde, podendo verificar-se a necessidade de visitas domiciliárias conjuntas, isto é,, por vários v membros da equipa multidisciplinar.
Palavras-Chave Período terminal da vida humana período final do ciclo vital do homem, frequentemente caracterizado pela necessidade de cuidados básicos b de saúde que nas sociedades actuais é enquadramento familiar e social. particularmente dependente do
Objectivo do estudo Avaliar a importância do conceito de dignidade humana atribuído pelos enfermeiros aos seus doentes expressa através s das opiniões destes sujeitos nos seus domicílios a um programa de cuidados continuados. As opiniões dos utentes reflectem as atitudes, as motivações, as competências e os interesses dos enfermeiros nos cuidados diários aos seus doentes.
Questões de investigação 1. Quais os profissionais envolvidos? 2. Quais as características destes profissionais? 3. Que tipo de doentes envolvidos? 4. São os cuidados prestados adaptados à pessoa? 5. São adaptados ao tipo de patologia?
Questões de investigação cont. 6. Os profissionais incentivam a participação da família nos cuidados? 7. São explicados ao doente os cuidados a instituir? 8. A linguagem utilizada é clara? 9. Qual a importância das visitas ao doente? 10. O que é mais valorizado na visita domiciliária? 11. Qual a atitude que se traduz em maior beneficio para o doente?
Tipo de estudo Investigação descritiva; Métodos qualitativos e quantitativos; Entrevista pessoal.
População e amostra População de 15419 utentes apoiados pelas equipas de cuidados continuados na Sub-Região de Saúde de Lisboa; 165 utentes apoiados pela equipa do C.S. de Santo Condestável durante o ano de 2003; População total apoiada durante o mês de Outubro/2004 pela equipa do C.S. Santo Condestável: 59 utentes; Amostra final de 30 utentes.
Variáveis V. Dependente Interpretação do conceito de dignidade humana atribuído pelos enfermeiros ao doente e expresso através s dos graus de satisfação deste pelos cuidados prestados. A avaliação é feita através s de indicadores de níveis psico-biol biológico, psico-social social e psico- espiritual, segundo João Mohana.
Variáveis V. Independentes Idade, sexo, escolaridade, estado civil, residência, forma de admissão no programa, coabitação, diagnóstico, estado mental e grau de dependência.
Procedimentos Aplicação da escala de Brantl e Brown (estado mental ausente, moderado e bom); Aplicação da escala de Barthel (independente, dependente ligeiro, moderado, grave e total); Aplicação do instrumento de colheita de dados através s da realização de uma entrevista; Organização e tratamento dos dados.
Apresentação de resultados Doença Count Responses % Cases I P4 1 Dça Oncológica 27 10.4 90 I P4 2 Dça Cardiovascular 28 10.8 93.3 I P4 3 Acidente Vascular Cerebral 29 11.2 96.7 I P4 4 Dça Osteoarticular crónica 29 11.2 96.7 I P4 5 Dça vascular periférica rica 15 5.8 50.0 I P4 6 Úlcera de decúbito 25 9.6 83.3 I P4 7 Dça neurológica degenerativa 28 10.8 93.3 I P4 8 Dça traumatológica 28 10.8 93.3 I P4 9 Diabetes tipo II 22 8.5 73.3 I P4 10 Dça respiratória ria 29 11.2 96.7 Total Responses 260 100.0 866.7 0 missing cases; 30 valid cases Tabela 11 - Patologias que motivaram o apoio domiciliário
80 60 40 20 0 Apresentação de resultados 50 40 30 20 10 0 Dependente total Dependente grave Dependente moderado Dependente ligeiro Independente Moderado Bom Gráfico 11 - Nivel de Estado Mental Gráfico 12 - Grau de dependencia Percentagem Percentagem
Apresentação de resultados Faixas etárias dominantes: 70-79 79 A e dos 80-89 89 A; Prevalência do sexo feminino; A maioria dos utentes vive com o cônjuge, com filhos ou sozinhos; Rendimentos baixos; A visita domiciliária é um contributo para o bem- estar do utente no seu dia-a-dia; dia; A simpatia é a atitude do enfermeiro mais percepcionada pelos utentes.
Apresentação de resultados Em 6,7% dos casos, o enfermeiro não procede à apresentação pessoal, 60% dos utentes reconhecem um elevado interesse dos enfermeiros; 3,3% considera o enfermeiro visitador indiferente ou desatento; A linguagem utilizada é na maioria clara; A preservação da privacidade constitui um indicador importante na dignificação da sua pessoa em 26,7% dos utentes; O alívio da dor é referido em 73,3% dos utentes.
Apresentação de resultados Só 26,7% dos utentes referem que o enfermeiro manifesta preocupação quanto às s atitudes religiosas em causa; 3,3%, mulheres, consideram que o diálogo e a expressão dos seus sentimentos não foi possível; 13,3% sentiram-se ridicularizados por motivos atribuídos a insensibilidade do profissional de enfermagem; A maioria dos utentes prefere ter a visita do mesmo enfermeiro.
Conclusões 1. As opiniões dos doentes exprimem que os enfermeiros subvalorizam as necessidades pessoais e intrínsecas nsecas das pessoas e valorizam excessivamente os aspectos técnicos t e clínicos dos cuidados.
Conclusões 2. Os utentes têm uma percepção muito positiva da actuação dos enfermeiros na área psico- biológica durante a visita domiciliária traduzida pela valorização dos aspectos profissionais e clínicos.
Conclusões 3. Os utentes apresentam uma percepção que valoriza menos as áreas psico-social social e psico- espiritual traduzida por uma avaliação menos positiva da relação estabelecida e das atitudes de alguns profissionais.
Conclusões 4. A apreciação do trabalho de enfermagem é globalmente muito positiva pela parte dos seus destinatários, valorizando os aspectos que se referem directamente à pessoa cuidada e à sua dignidade.
Limitações do estudo Amostra exígua; Amostra reduzida à área de Santo Condestável; Avaliação limitada à prestação de cuidados de uma única equipa de enfermagem; Escassez de estudos efectuados em Portugal.