Redejuris.com Direito Constitucional Professor Bruno Pontes Questionário sobre art. 5º PERGUNTAS 01. É possível o cidadão retirar certidão em repartição pública para defesa de direitos de terceiros? 02. A vedação ao anonimato é absoluta? 03. A prestação de assistência religiosa se estende para ambientes militares? 04. Para ser privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, basta as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta? 05. Para o exercício da liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, não pode censura pelo Poder Público. Porém, a lei poderá prever casos de prévia licença do Poder Público? 06. O que é reserva de jurisdição? 07. O sigilo da fonte é sempre resguardado? 08. Quando a liberdade de locomoção no território nacional pode ser exercida? Essa liberdade existe para sair do país com os bens? 09. As associações têm sempre legitimidade para representar seus associados? 10. Os autores de inventos industriais têm privilégio definitivo ou temporário para a utilização dos mesmos? 11. O direito de herança é um direito fundamental? 12. A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será sempre regulada pela lei brasileira? 13. Quais os crimes considerados inafiançáveis e quais os imprescritíveis, pelo texto constitucional? 14. O direito de condições especiais para a presidiária gestante é um direito fundamental individual? 15. O brasileiro nato pode ser extraditado? Pode ser entregue? E o naturalizado, pode ser extraditado em que hipóteses? 16. O civilmente identificado pode ser submetido à identificação criminal? Se sim, em que casos? 17. A autoridade policial é obrigada a comunicar a prisão à família do preso? 18. O preso deve sempre ser informado sobre quem efetuou sua prisão? 19. A impenhorabilidade dos bens de família é direito fundamental expresso na Constituição de 1988? 20. O direito de petição pode ser exercido sem a presença de advogado? 21. O direito de reunião abrange o direito de não participar da reunião? 22. O art. 5º, XXXIII, da CF/88 diz: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Se o órgão público se negar indevidamente, cabe habeas data? 23. O direito de permanecer em determinado lugar é protegido por mandado de segurança ou habeas-corpus? 24. O proprietário que tiver sua propriedade utilizada por autoridade competente, no caso de iminente perigo público, faz jus à indenização pelo uso da propriedade? 25. Se um interesse público colidir com um interesse particular, aquele deve sempre prevalecer? RESPOSTAS 01. Não. O direito de certidão é personalíssimo (art. 5º, XXXIV, b ). Só pode ser utilizado para situações de interesse pessoal. Não se pode confundir direito de certidão com direito de receber informações dos órgãos públicos. No caso do direito de receber informações dos órgãos públicos, aplica-se o inciso XXXIII: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 02. Não. A preocupação com a vedação ao anonimato no art. 5º, IV, é para preservar a segurança e proteger a própria sociedade, e então restringir o uso abusivo da liberdade de expressão. Não impede, assim, que haja o serviço de disque-denúncia, e o sigilo da fonte quando necessário para exercício de profissão, que reserva o direito de não identificação. 03. Sim (Art. 5º, VII: é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva ) 04. Não. Para a privação de direitos, é preciso tanto a negativa de cumprir obrigação legal a todos imposta quanto a recusa de cumprir prestação alternativa (Art. 5º, VIII: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei ). Veja bem que a Constituição fala em privação de direitos, e não em restrição de direitos, de modo que a lei poderá prever a extinção de determinado direito, como o direito de ser servidor público etc. A doutrina chega a entender que, neste caso, há privação do status de cidadão e dos direitos dele decorrentes. 05. Não (art. 5º, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença ). 06. É a previsão, pela Constituição, de que determinado direito ou garantia constitucional só poderá ser violada por decisão do Poder Judiciário, vedando-se que qualquer outra autoridade ou órgão possa decretar a violação, sendo impossível, assim, que o Ministério Público, que a Polícia Judiciária e que a Comissão Parlamentar de Inquérito assim o façam sem intervenção do Judiciário. São três os casos de reserva de jurisdição: a) inviolabilidade do domicílio (art. 5º, XI); b) interceptação telefônica (art. 5º, XII); c) decretação de prisão cautelar (art. 5º, LXI). Lembre-se que interceptação telefônica não se confunde com gravação telefônica, porque gravação um dos interlocutores pode fazer, mas interceptação é a gravação clandestina, sem que nenhum dos interlocutores saibam. Da mesma forma, lembre-se que a prisão cautelar (preventiva e temporária) é que cabe ao Judiciário, podendo haver prisão em flagrante por qualquer pessoa. 07. Não. Só se resguarda o sigilo da fonte quando for necessário para se exercer uma profissão (art. 5º, XIV), como é o caso do jornalismo, e também dos padres e pastores, para exercerem o confessionário.
08. A liberdade de locomoção no território nacional pode ser exercida em tempo de paz (art. 5º, XV). No caso de declaração de guerra, esta locomoção é restringida (art. 139, I e VII). A liberdade, em tempo de paz, engloba a possibilidade de deixar o país com seus bens. 09. Não. Só tem quando estiverem expressamente autorizadas (art. 5º, XXI). Entretanto, cabe alertar que as associações em funcionamento há mais de um ano, podem propor mandado de segurança coletivo independentemente de autorização expressa (art. 5º, LXX, b ), bastando previsão nos Estatutos, já que neste caso há substituição processual, e não representação judicial. 10. Temporário (art. 5º, XXIX). 11. Sim (art. 5º, XXX). 12. Não. Se a lei de origem do de cujus for mais favorável aos herdeiros brasileiros (cônjuge e filhos), a lei brasileira não será aplicada, e sim a lei estrangeira que regula o sucedido (art. 5º, XXXI). É preciso, porém, que os bens estejam situados no Brasil. Assim, se um francês deixa uma casa de R$ 1.000.000,00 no Brasil, e tem filho brasileiro que mora no Brasil, e um filho francês que mora na França, e a lei brasileira diz que ele pode dispor da metade da casa, e a lei francesa diz que ele pode dispor de apenas 25% da casa, a lei que regerá a situação será a da França, e não a brasileira. 13. São inafiançáveis: racismo, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático e a tortura. São imprescritíveis: racismo e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLII e XLIII). Como se vê, a Constituição não declara a imprescritibilidade para o tráfico, para os crimes hediondos e para a tortura. Da mesma forma, não declara a impossibilidade de graça ou anistia para o racismo (Art. 5º, XLII: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei ; XLIII: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem ; XLIV: constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático ). 14. Não. A Constituição assegura apenas o direito de condições especiais para a presidiária lactante (Art. 5º, L: às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação ). Pode até ser considerado um direito fundamental social, por interpretação do art. 201, II, e até ser assegurado condições especiais por lei infraconstitucional, mas a Constituição não dá tratamento privilegiado para a presidiária grávida, não colocando a questão como direito fundamental individual. 15. O brasileiro nato não pode ser extraditado, em nenhuma hipótese (art. 5º, LI). Atualmente, há entendimento de que o brasileiro nato poderá ser entregue para o Tribunal Penal Internacional, nos termos do Estatuto de Roma, art. 59, promulgado no Brasil pelo Decreto 4.388, de 25.09.2002, e previsto no art. 5º, 4º, da CF/88. Assim, extradição seria entre países soberanos, e entrega seria entre países soberanos e órgãos internacionais, o que não seria vedada pela Constituição brasileira de 1988. O naturalizado só pode ser extraditado por crime comum praticado antes da naturalização, ou por envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, antes ou depois da naturalização. 16. Via de regra, se a pessoa já está civilmente identificada (RG, CNH, Carteira Profissional etc.), não precisará ser identificado criminalmente, com colheita da impressão digital e fotos de frente e de lado (art. 5º, LVII). Entretanto, a Constituição permite que a lei faça previsão de casos de identificação criminal do civilmente identificado, em uma clara norma de eficácia contida. Estas hipóteses estão na Lei 10.054/2000, quando permite a identificação criminal do civilmente identificado quando: a) estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio praticados mediante violência ou grave ameaça, crime de
receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento público; b) houver fundada suspeita de falsificação ou adulteração do documento de identidade; c) o estado de conservação ou a distância temporal da expedição de documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais; e) constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; f) houver registro de extravio do documento de identidade; g) o indiciado ou acusado não comprovar, em quarenta e oito horas, sua identificação civil. 17. A Constituição diz que a prisão será obrigatoriamente comunicado ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 5º, LXII). Assim, se o preso indicar uma determinada pessoa, a autoridade policial não está obrigada a comunicar a prisão para a família do preso. 18. O preso deve ser informado sempre sobre seus direitos (art. 5º, LXIII), mas os responsáveis por sua prisão podem não ser identificados se for identificado para o preso os responsáveis por seu interrogatório. A Constituição, no art. 5º, inciso LXIV diz que o preso tem o direito de identificar quem foi que lhe prendeu ou quem fez seu interrogatório, quando deveria ter dito, para ser mais sensata, que o direito englobasse tanto a identificação de quem fez a prisão quanto quem fez o seu interrogatório. 19. Não. A Constituição garante expressamente a impenhorabilidade para pagamento de débitos decorrentes da atividade produtiva da pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família (art. 5º, XXVI). Por conta disto, e do próprio sistema de proteção da propriedade, da intimidade, da privacidade e da dignidade humana, há quem entenda que a impenhorabilidade dos bens de família é uma garantia fundamental implícita. De todo modo, não é uma garantia explícita. 20. Não. Porém, o direito de petição não pode ser confundido com o direito de acesso ao Judiciário (ou o direito de peticionar em juízo ), este sim com necessidade de ter capacidade postulatória, com representação por advogado (salvo algumas exceções como é o caso do habeas corpus e do acesso ao Juizado Especial Cível e à Justiça do Trabalho, onde há dispensa de advogado). Assim, o direito de petição não garante o ingresso ao Judiciário sem capacidade postulatória, até porque ele tem por objetivo colocar nas mãos das pessoas um direito geral de participação política, para que ele tenha condições de levar ao conhecimento do Poder Público um ato ou fato ilegal, abusivo ou contra direitos, evidentemente na expectativa de que sejam tomadas medidas necessárias. Não há necessidade, portanto, de comprovar lesão ou ameaça de lesão a interesse pessoal ou particular, como ocorre no direito de ação judicial. Previsto na Constituição (art. 5º, XXXIV: são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder ), é uma garantia geral para oferecer ao cidadão um meio de conclamar oficialmente o Poder Público no caso de ilegalidade, abuso de poder ou no caso de ser necessário para defender seus direitos, geralmente utilizado para fazer reclamações ou denúncias e chamar a atenção dos poderes públicos para determinada situação ou fato. É, assim, o gênero, de que faz parte as outras formas de ter acesso ao Poder Público, como habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, ação popular, e pode ser exercido independentemente de disciplinamento legal (não se trata de uma norma de eficácia limitada). Cabe lembrar que o direito de petição não é, como todos os demais, um direito absoluto, podendo ser indeferido, ou limitado, quando entrar em conflito com a norma constitucional que prevê que a obtenção de informações dos órgãos públicos podem ser limitadas no caso de necessidade de sigilo para a imprescindível segurança da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII). 21. A doutrina destaca que o direito de reunião abrange o direito de não participar dela (Paolo Barile bem qualifica o direito de reunião como, simultaneamente, um direito individual e uma garantia coletiva, uma vez que consiste tanto na possibilidade de determinados agrupamentos de pessoas reunirem-se para livre manifestação de seus pensamentos, quanto na
livre opção do indivíduo de participar ou não dessa reunião Alexandre de Moraes, Direito constitucional, 22ª edição, Atlas, 2007, p. 73). 22. Não, porque, no caso, cabe mandado de segurança. Apesar de aparentemente ser um direito suscetível de ensejar habeas-data, porque envolve acesso a informações sobre a pessoa que estão em órgão público, o direito de receber informações dos órgãos públicos engloba as informações que são do interesse da pessoa, mesmo que não se refira a informações sobre ela. Assim, quando a pessoa tiver interesse em determinadas informações que não seja relativas a ela mesma, aplica-se o art. 5º, XXXIII, e quando ela tiver interesse em determinadas informações que sejam relativas a ela mesma, aplica-se o art. 5º, LXXII ( habeas-data ). O mesmo ocorre em relação ao direito de certidão previsto no art. 5º, XXXIV, b ( são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal), que também dá azo a mandado de segurança, e não habeas-data, porque no caso do direito de certidão, quem a pleiteia deve, necessariamente, informar que está solicitando para defesa de algum direito e ainda deverá esclarecer que servirá também para esclarecer situações de interesse pessoal. Para o habeas-data, não há necessidade do impetrante esclarecer que as informações servirão para defesa de direitos, bastando o desejo de conhecer as informações. 23. Habeas-corpus, que protege não só o direito de ir e vir, mas também o legítimo direito de ficar. 24. Não. O proprietário faz jus à indenização ulterior se houver dano. Não faz jus à indenização apenas pela utilização da propriedade, sendo necessário que ocorra o dano em face da utilização (art. 5º, XXV). 25. Não. Não é sempre que o interesse público prevalece quando entra em colisão com um interesse particular. No caso, em especial nas colisões impróprias de direitos fundamentais (direito fundamental da pessoa x direito fundamental da sociedade), deve ser ponderado os valores em jogo e verificar qual tem mais intensidade no caso concreto, para prevalecer. Assim, no caso de interesse da sociedade, por exemplo, de ver divulgada a foto do rosto de alguém, para conhecer do câncer que assola a face, e o interesse da própria pessoa de ver resguardada sua vida privada e sua intimidade, há de prevalecer, provavelmente, o interesse da pessoa.