AULA 9 - AS REFORMAS INGLESA E ESCOCESA A REFORMA INGLESA

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Transcrição:

AULA 9 - AS REFORMAS INGLESA E ESCOCESA A REFORMA INGLESA A reforma inglesa é um processo que se estendeu pelo reinado de Henrique VIII e seus três filhos Eduardo VI, Maria e Isabel. A questão foi o divórcio de Henrique e Catarina de Aragão, ocasionando também a separação da igreja romana. Nesse ponto, vale descartar que a reforma inglesa representou uma questão de estado, uma crise política. No início do reinado de Henrique VIII a igreja vivia em ruínas e a as nomeações de títulos honoríficos dignitários eram sem custo, na verdade não eram teólogos, mas juristas cooperadores em questões relacionadas à igreja. Isso favoreceu e muito os privilégios em cargos políticos bem como ao cargo de bispos, párocos sem recursos e com total despreparo. O clero monástico havia abandonado suas convicções e já não sustentava uma espiritualidade modelo. Os lolardos 1 abriram uma brecha para o anticlericalismo 2 e o neololardismo que serviram de base para a reforma do protestantismo na Inglaterra, almejando por uma autenticidade bíblica e eclesiástica. O humanismo 3 já estava em evidência na Inglaterra com a presença de João Coleto, deão da catedral de São Paulo em Londres. Em 1512, no seu sermão sobre o viver mundano e secular dos sacristãos e sacerdotes, estabeleceu as metas da reforma aos moldes Erasmiano. Esperanças de uma reforma urgiram na Taberna Cavalo Branco, apelidada de Pequena Alemanha, por volta de 1520. Para debater as novas doutrinas, um grupo de professores da universidade de Cambridge, como Tomás Bilney, João Frith, Guilherme Tyndale, dentre outros. Tyndale traduziu o novo testamento para a língua inglesa, o qual não obtendo apoio de seu projeto no bispado em Londres, foi até Lutero a fim de servir de base para novas publicações e uma compilação de sua tradução baseada na tradução da bíblia alemã de Lutero. A confluência dessa nova tradução da bíblia inglesa de Tyndale com o lolardianismo inglês e as classes de mercadores, surgindo assim, um novo conceito e de uma perspectiva mais coerente, ou seja, uma religião pautada na bíblia, o que não agradou os líderes da igreja inglesa, o que não afastou uma crescente popularização luterana e um protestantismo crescente. Com a ordenação de Tomás Wolsey como arcebispo 1 Seguidores de John Wycliffe 2 Anticlericalismo da reforma não se constituía numa crítica meramente ocasional e no esforço de acabar com vários abusos, e sim num ataque continuado e violento ao próprio estamento clerical que permeava a atmosfera social em sua totalidade. Tratava-se de uma luta contra o estamento clerical que pretendia, nas palavras de Goertz (1987, P.260), cortar for ao topo da pirâmide dos estamentos medievais. Dessa forma o anticlericalismo estava intimamente relacionado com questões sociais e com a estrutura da sociedade como tal. (Reformas na Europa Carter Lindberg Sinodal, 2001 pág.196) 3 Humanismo - Definido no século 19 por Jacob Burckhardt como sendo filosofia antropocêntrica voltada para a secularização e desenvolvimento do indivíduo, o humanismo encontrou adeptos quanto a sua designação com o humanismo bíblico Erasmiano por exemplo, no tocante ao seu envolvimento com outras ciências. Entendia Erasmo que enquanto Erasmo mói a farinha que Lutero transforma em pães, definiu-se uma releitura fundamentada num apreço de informações de aplicabilidade no estudo da bíblia, como a antropologia, o grego dentre outras, sendo um dos embates durante a reforma, por envolver o academicismo e a reforma, numa educação teológica cunhada no reavivamento espiritual, sendo esse o seu objetivo.

de York e chanceler nomeado pelo rei Henrique VIII, assumiu poderes tanto na igreja como de estado. Com o casamento de Henique VIII com Catarina de Aragão, filha de Fernando e Isabel da Espanha, casamento este firmado apenas nominalmente tendo em vista o falecimento de seu irmão Artur, sendo autorizado por Júlio II em 1503. Esse casamento, embora com tom político, a pretensão de Henrique era divorciar-se de Catarina para casar-se novamente com Ana Bolena, irmã de Maria Bolena sua amante. Porém, o chanceler Wolsey, via com outros olhos, pois se esforçava para que Henrique VIII se casasse com uma princesa francesa, para achegar-se ao lado francês. Embora não obtivesse apoio do papa devido a vitória de Carlos V na guerra e sobrinho de Catarina, não permitiria que sua tia sofresse quaisquer repúdio por parte de Henrique VIII. Assim, Henrique VIII, a pedido de Tomás Cranmer, professor renomado da universidade de Cambridge, sugeriu que as principais universidades protestantes, dessem suas opiniões a respeito do assunto do divórcio com Catarina, porém, não obteve um apoio favorável. Passa agora a atacar o clero pela violação do estatuto de Praemunire de 1353 4, alegando ser o único e legítimo representante do Clero e da igreja na Inglaterra. Logo houve o rompimento pela casa real de não se permitir quaisquer pagamentos a Roma e submeter ao rei a legislação eclesiástica, bem como seus estatutos. Com isso, obteve o apoio de Clemente VII para a indicação de Tomás Cranmer para chanceler e assim, em 1533, casa-se com Ana Bolena, quando teve uma filha, a princesa Isabel. Acusado por Clemente VII de excomunhão, Henrique VIII promulga leis pelo parlamento de total rompimento com Roma, como quaisquer pagamentos e emolumentos, bem como, o controle de nomeações de bispos pelo próprio rei. Assim, em 1534, o parlamento aprova a Lei da Supremacia, onde Henrique e seus sucessores eram considerados a única cabeça suprema da terra e da igreja na terra, podendo inclusive, abolir heresias e abusos, sem concessão, porém, de direitos espirituais. Esta foi a gota d água para o total rompimento com Roma. Houveram repressões como no caso dos monges cartuxos que não quiseram aceitar esta lei e foram executados, bem como outros como Tomás More e o bispo João Fischer. Tomás Cromwell, ao assumir o secretariado real, vendeu terras pertencentes a mosteiros e várias freiras e monges desta forma desapareceram. Tal medida, não ofuscou a representatividade real, mas a morte de Catarina em 1536 e ainda não ter um herdeiro homem, deixava Henrique VIII, fez com que Cromwell declarasse seu casamento nulo e Ana Bolena foi decapitada em maio de 1536. Casou-se então com Jane Seymour, onde teve o filho esperado, Eduardo. Com a morte de Jane Seymour, cuja família era protestante, a cada dia as reformas de Cromwell e Cranmer promovidas na Inglaterra se espalhavam rapidamente, inclusive nas classes alta e média. Ainda relutante com as reformas protestantes, Henrique VIII, promulga os chamados dez artigos enfatizando os três sacramentos dos quais a bíblia, a penitência e o batismo, faziam parte; a rejeição de que o bispo pudesse livrar a alma do purgatório, perda do valor das imagens; a missa aos mortos e a justificação pela fé. Ainda nesta mesma ocasião, Cromwell com o auxílio de Cranmer, enfatizou a produção de bíblias em inglês, em 1535, tradução de Miles Coverdale, então do exílio, espalhando-a pelo exterior inclusive em Zurique, de onde foi levada para a Inglaterra. Em 1537, uma segunda versão foi produzida chamada de bíblia vernacular completa, de João Rogers, conhecida também como a Bíblia de Mateus, utilizada com seu pseudônimo, Tomás Mateus. Com a devida autorização do rei em 1537, onde Cromwell exigiu a leitura desta versão mais barata em todo o reino, inclusive entre os leigos. Porém em 1538, solicitou a Coverdale uma tradução mais completa e assim, em 1539 a famosa Bíblia Grande sendo publicada em 1540, de extrema importância para a reforma inglesa. Com a aprovação da Lei dos Seis Artigos, pelo parlamento inglês, instituída por Henrique VIII no 4 Ato de Provisão (1351) e o Estatuto Praemunire (1353) proíbem, respectivamente, a entrada em território britânico de qualquer bula ou sentença papais, e impedem a apelação a tribunais eclesiásticos estrangeiros, declarando ilegítimas todas as nomeações feitas pelos papas (Fonte: http://anglicanadr.com.br/index.php/anglicanismo)

intuito de oficializar a fé da igreja inglesa, que previa a transubstanciação, repúdio ao casamento do clero e a comunhão do pão e do vinho. Essa lei conhecida como Lei do chicote sangrento de seis tiras, vigorou a morte de Henrique VIII e na política, Cromwell argumentava o casamento de Henrique VIII e Ana de Chaves que ocorreu em 6 de janeiro de 1540. O braço direito de Henrique VIII foi condenado a morte em 10 de junho de 1540, por heresia e traição um dos mais proeminentes protagonistas do seu casamento com Ana de Cleves para fins políticos, inclusive diante do imperador Carlos V da Espanha. Seu casamento foi anulado e novamente casou-se me 1541 com Catarina Howard. A nova rainha foi decapitada em 1542 e casou-se outra vez com Catarina Parr, quando faleceu em 1547. Seu filho, com o nome de Eduardo VI, assumiu em seu lugar. Com a morte de Henrique VIII, evidências de um novo período de liberdade por parte do crescimento do protestantismo, inclusive por fortes influências de Zuínglio, Bucer e Calvino, sendo que até o final do reinado de Eduardo, a Inglaterra havia se tornado um país protestante. Com as abolições pelo conselho privado da Lei dos Seis Artigos promovida por Henrique VIII, ocorrendo até meados de 1549 importantes reformas como abolição de imagens, confisco de terras eclesiásticas para realizarem missas pelas almas dos seus fundadores, de igrejas e colegiados, bem como hospitais, e inclusive, se tornou legal o casamento de sacerdotes. O livro de oração comum, que vislumbrava a unificação de normas comuns na liturgia da fé inglesa, porém ainda com características do catolicismo antigo. Com a pretensa escolha pelo casamento de Eduardo com Maria Stuart da Escócia, a rainha dos escoceses, pelo líder do conselho privado, Somerset, impingindo-lhes aos escoceses uma dramática derrota em 10 de setembro de 1547, fazendo assim, com que apressassem o casamento de Maria Stuart com Francisco II da França. A investida de Somerset na Escócia, trouxe uma verdadeira compulsão camponesa, a chamada Revolta dos Camponeses, descontente com os gastos provocados com a guerra, sendo deposto de seu cargo em 1549. Warwick, que assumiu em seu lugar em 1551, era um protestante político, transformando o caráter religioso da Inglaterra em uma igreja reformada. Ações conjuntas pelos principais reformadores como Bucer, Bernardino Ochino, João Lasco, dentre outros, foram feitas para com o livro das orações, no intuito de rever os vários conceitos romanos que ainda continha. O Arcebispo Cranmer promoveu assim, um conselho composto de seis teólogos, onde dentre eles estavam João Knox, que proporcionaram a criação de quarenta e dois artigos em 1553, em substituição a segunda edição do Livro das Orações com características menos extremista pelo lado protestante, bem como menos tradicional pelo lado do catolicismo romano. Com uma trama impensada para se manter no poder, provocou uma guerra civil para que a sucessão do trono inglês recaísse sobre sua parentela, quando na verdade, era Maria Tudor que seria a legítima herdeira. Quando seu plano foi desmascarado, perdeu prestígio e foi decapitado em 1553, pouco depois da morte de Eduardo VI por tuberculose. Quando assumiu o poder, Maria restaurando a legislação eclesiástica de seu pai, Henrique VIII em seu último ano de mandado. Vários clérigos com tendências reformistas foram depostos e uma cautelosa reconciliação com Roma. Alguns desses clérigos reformistas se refugiaram em terras alemães e suíças, como Zurique, Frankfurt, Genebra, Estrasburgo, Basiléia, sendo treinados na concepção protestante reformada e assim, compuseram a chamada Bíblia de Genebra, em meados de 1560. Ainda se pensava na volta do catolicismo na Inglaterra com a posse de Reginaldo Pole, primo de Henrique VIII sob a dominação da rainha Maria Tudor, como representante papal, passando a valer as leis contra a heresia reformista tendo vários ex-bispos queimados na fogueira. O chanceler Gardiner e a rainha Maria Tudor estavam propensos ao extermínio dos reformistas protestantes. Quando Pole foi empossado arcebispo em lugar de Cranmer, este que defendera a autoridade papal como estabelecia a lei, e como sendo protestante, agiu conforme a mesma lei declarando-se publicamente que não era a favor da reforma

protestante na Inglaterra para fugir da execução. Porém, antes de sua morte declarou-se protestante convicto. Por uma linha de entendimento, conclui-se que a reforma inglesa passou pelo crivo das reformas litúrgicas e teológicas de Cromwell e Cranmer que deixaram um legado sob o reinado de Eduardo VI. Com a morte de Maria Tudor em 1558, totalmente desacreditada sucedendo-lhe Isabel I, protestante convicta mesmo quando tinha que se conformar ao ritual romano por causa de sua mãe Maria. Ao assumir o trono, Isabel teve apoio de Guilherme Cecil, brilhante estadista e Felipe II da Espanha, que a ajudou a ascender ao trono, como seu principal inimigo. Tratou de elaborar uma nova lei de supremacia que subtraía a autoridade do papa. Quanto à literatura, o Livro de Oração de 1552, fora modificado com alguns atenuantes com relação à ceia no que se refere a presença física de Cristo. Ainda sob os moldes da igreja anglicana que rechaçava algumas mudanças como a Rubrica dos Ornamentos de enfrentamento daqueles antigos marianos que retornavam para a Inglaterra, que se referiam às vestes dos sacerdotes por ocasião das ministrações, preservando o tradicionalismo à época de Eduardo VI. Assim, relacionando-se com a nova Lei de Uniformidade em substituição à Lei da Supremacia, Isabel implementou uma forma única litúrgica baseada em preceitos puritanos, levando ao anglicanismo posteriormente. Dos quarenta e dois artigos promovidos por Cranmer enquanto arcebispo, foram substituídos por trinta e nove, além da definição do credo implícito no Livro de Oração, que quando Mateus Parker assumiu em 1563 como novo arcebispo da Inglaterra com personalidade protestante, foram implementados. A reforma inglesa não possuiu nenhum nome específico como Zuinglio, Lutero, que enlevou o protestantismo de forma mais veemente, mas contudo, sobreveio de um reavivamento da sociedade como um todo coincidindo com o reinado de Isabel. A REFORMA ESCOCESA À época da reforma escocesa o que estava em questão era mais o aspecto político do que religioso. A questão do temor do domínio inglês pelas derrotas em três guerras Flodden (1513), Solway Moss (1542) e Pinkie (1547), aumentaram esse sentimento. A Escócia que se aliara a França, contava com seu apoio militar. Tanto a França como a Inglaterra, possuíam interesses em formar facções dentro da Escócia. Esta superioridade, contudo, resultou na união de duas famílias importantes: a dos Douglas e dos Hamilton, preocupando assim, após a morte de Isabel, rainha da Inglaterra, se o neto de Henrique VIII, Tiago VI e seu neto, se tornasse Tiago I da Inglaterra, casando-se com a filha de Francisco I da França e posteriormente com Maria de Lorena, onde nasceu Maria Stuart, a Rainha dos Escoceses. Nesse período surgiram alguns pregadores e suas manifestações protestantes, embora com certa privação. Dentre eles, Patrício Hamilton, Jorge Wishart, que foram queimados por volta de 1528 e 1546. Com o assassinato do Cardeal Beaton, os assassinos se refugiaram em seu castelo e reuniram-se com um dos convertidos de Wishart, que seria o ícone da reforma protestante escocesa: João Knox. Forçado a se render, foi levado para França e quando solto em 1549 após sofrer como escravo foi para a Inglaterra onde tornouse capelão no reinado protestante de Eduardo VI, refugiando-se novamente sob o reinado de Maria Tudor indo para Genebra, tornando-se discípulo de João Calvino ajudando-o na versão da Bíblia de Genebra, desenvolvendo sua forma de luta pela reforma, embora contrária em alguns pontos por Calvino. Sob o regime nacionalista contra o domínio francês e as manifestações protestantes, João Knox tornou-se um dos seus principais líderes. Com o casamento de Maria Stuart com o herdeiro da França, a Escócia parecia mais do que nunca província da França, caso nascesse um filho. Com o embate político na Inglaterra pela usurpação do trono entre Isabel e Maria Stuart, Kmox retorna para a Escócia e inicia sua luta pela reforma pregando em Perth. Em 2 de maio de 1559, sob intensa manifestação, monastérios são atacados

e igrejas destruídas, sendo, contudo, ideias contrárias de Knox. Com a ascensão de Francisco II ao trono da França, a Escócia é reforçada no aspecto militar. Em 6 de julho de 1560 é assinado um tratado entre a Escócia e a Inglaterra, retirando-se os soldados ingleses da Escócia. Em agosto do mesmo ano adotou-se um credo de fé calvinista, cunhado por Knox, sendo assim, abolidas as missas da bula papal, com forte apoio da população. O rei não interveria nessa situação, pois a forte posição nacional o apoiara. Em dezembro de 1560, Knox e seus companheiros promoveram a primeira Assembleia Geral, na qual propuseram a organização do novo sistema conhecido no Primeiro Livro da Disciplina, elaborado por João Calvino para organizar as paróquias com ministros e anciãos, compondo assim a junta disciplinar ou sessão, como ficou conhecida mais tarde, e nas cidades maiores, surgiriam os presbitérios compostos por juntas maiores. Surgiriam os Sínodos sobre os grupos de ministros e congregações. Haveriam superintendentes nos locais onde não houvesse ministros com poderes administrativos para supervisionar as paróquias e recomendar os candidatos ao ministério. A ideia de Knox era uma manutenção por parte da igreja daqueles que não tinham condições de subsistência e educação, encontrando certa resistência por parte do parlamento. A grande questão era que a igreja possuía terras chamadas eclesiásticas sob o domínio dos nobres, tornando a igreja escocesa uma das mais pobres. Essa característica, porém, serviu de base para as reformas democráticas. O Livro Comum adotado por Knox, introduziu a liturgia nos cultos, chamado de Liturgia de Knox, na regência das orações, dissertações dos cultos, tidas como modelos, porém seu uso exato não era obrigatório. Quando Francisco II da França, falecera em dezembro de 1560, Maria Stuart, agora viúva, tentou influenciar Knox sobre acordos entre a protestantismo e o catolicismo obscuro de Maria, que o apoiara, porém com certas restrições. A nobreza preocupava-se de um novo casamento sob o domínio católico, caso houvesse, sendo Filipe II da Espanha, um dos pretendentes. Maria, porém, casou-se com seu primo, Danrley Stuart. Esta união fortaleceu o partido católico na Escócia e preocupou Isabel no lado inglês. Os desencontros de Maria no seu casamento e se secretário estrangeiro, o italiano David Riccio, culminaram no seu posterior assassinado por uma trama da própria Maria. Mais tarde envolve-se com o conde Bothwell, que trama a morte de Darnley, seu esposo. Quando este vivia seus últimos momentos com Maria, Bothwell, ao que dizia a opinião pública, esquematiza o assassinato de Darnley fazendo a casa onde se recuperava de varíola explodir. Diante de tantos problemas e envolvimentos, o reinado de Maria criou não simpatizantes ao trono, juntando forças tanto o lado católico como protestantes. Seu filho, Tiago VI é nomeado regente sem seu lugar com apenas um ano, renunciando ao trono sob a regência de Moray, da corte. Com a queda de Maria e seu exílio no castelo de Lochleven em maio de 1568, até sua execução por razões contrárias a rainha Isabel. O protestantismo triunfou na Escócia e e Knox seu principal agente, que influenciou não só a religião, mas também toda a nação. Morreu em 24 de novembro de 1572 sendo substituído por André Melville, que difundiu o presbiterianismo na Escócia. CONCLUSÃO Vimos que tanto nas reformas inglesa e escocesa, predominou a política, sobremodo nas nomeações a cargos eclesiásticos a tensões nacionalistas. Esta tendência, provinha de atitudes por parte da nobreza que queria se manter no poder e pela intervenção de domínio estatal por maiores prestígios de dominação imperial. Nos últimos três séculos, nossa atenção dirigiu-se especialmente para as igrejas que nasceram da Reforma. Pouco depois da Reforma apareceram três grupos diferentes na igreja inglesa: 1) Os elementos romanistas que procuravam fazer amizade e nova união com Roma;

2) O anglicanismo, que estava satisfeito com as reformas moderadas estabelecidas nos reinados de Henrique VIII; e 3) O grupo protestante radical que desejava uma igreja igual às que se estabeleceram em Genebra e Escócia. Este último grupo ficou conhecido, cerca do ano de 1654, como os puritanos, e opunhase de modo firme ao sistema anglicano no governo de Elisabete, e por essa razão muitos de seus dirigentes foram exilados. A CONTRA-REFORMA Logo após haver-se iniciado o movimento da Reforma, um poderoso esforço foi também iniciado pela igreja católica romana no sentido de recuperar o terreno perdido, para destruir a fé protestante e para enviar missões a países estrangeiros. Esse movimento foi chamado Contra- Reforma. Tentou-se fazer a reforma dentro da própria igreja por via do Concílio de Trento, convocado no ano de 1545 pelo papa Paulo III, principalmente com o objetivo de investigar os motivos e pôr fim aos abusos que deram causa à Reforma. O Concílio era composto de todos os bispos e abades da igreja, e durou quase vinte anos, durante os governos de quatro papas, de 1545 a 1563. Todos esperavam que a separação entre católicos e protestantes teria fim, e que a igreja ficaria outra vez unida. Contudo, tal coisa não sucedeu. Fizeram-se, porém, muitas reformas na igreja católica e as doutrinas foram definitivamente estabelecidas. Os próprios protestantes admitem que depois do Concílio de Trento os papas se conduziram com mais acerto do que os que governaram antes do Concílio. O resultado dessa reunião pode ser considerado como uma reforma conservadora dentro da igreja católica romana. De ainda maior influência na Contra-Reforma foi a Ordem dos Jesuítas, fundada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola. Era uma ordem monástica caracterizada pela combinação da mais severa disciplina, intensa lealdade à igreja e à Ordem, profunda devoção religiosa, e um marcado esforço para arrebanhar prosélitos. Seu principal objetivo era combater o movimento protestante, tanto com métodos conhecidos como com formas secretas. Tornou-se tão poderosa a Ordem dos Jesuítas, que teve contra ela a oposição mais severa, até mesmo nos países católicos; foi suprimida em quase todos os países da Europa, e por decreto do papa Clemente XIV, no ano de 1773, a Ordem dos Jesuítas foi proibida de funcionar dentro da igreja. Apesar desse fato, ela continuou a funcionar, secretamente durante algum tempo, mais tarde abertamente, e foi reconhecida pelo papa em 1814. Hoje é uma das forças mais ativas para divulgar e fortalecer a igreja católica romana em todo o mundo. A perseguição ativa foi outra arma poderosa usada para impedir o crescente espírito da Reforma. É certo que os protestantes também perseguiram, e até mataram, porém geralmente isso aconteceu por sentimentos políticos e não religiosos. Entretanto, no continente europeu, todos os governos católicos preocupavam-se em extirpar a fé protestante, usando para isso a espada. Na Espanha estabeleceu-se a Inquisição, por meio da qual inumerável multidão sofreu torturas e muitas pessoas foram queimadas vivas. Nos Países-Baixos o governo espanhol determinou matar todos aqueles que fossem suspeitos de heresias. Na França o espírito de perseguição alcançou o climax, na matança da noite de São Bartolomeu, 24 de agosto de 1572, e que se prolongou por várias semanas. Segundo o cálculo de alguns historiadores, morreram de vinte a setenta mil pessoas. Essas

perseguições nos países em que o governo não era protestante não só retardavam a marcha da Reforma, mas, em alguns países, principalmente na Boêmia e na Espanha, a extinguiram. Os esforços missionários da igreja católica romana devem ser reconhecidos, também, como uma das forças da Contra-Reforma. Esses esforços eram dirigidos em sua maioria pelos jesuítas, e tiveram como resultado a conversão das raças nativas da América do Sul, do México e de grande parte do Canadá. Na Índia e países circunvizinhos estabeleceram-se missões por intermédio de Francisco Xavier, um dos fundadores da sociedade dos jesuítas. As missões católicas, nos países pagãos, iniciaram-se séculos antes das missões protestantes e conquistaram grande número de membros e bem assim poder para a respectiva igreja. Como resultado inevitável de interesses e propósitos contrários dos estados da Reforma e católicos na Alemanha, iniciou-se então uma guerra no ano de 1618, isto é, um século depois da Reforma. Essa guerra envolveu quase todas as nações européias. Na história ela é conhecida como a Guerra dos Trinta Anos. As rivalidades políticas e religiosas estavam ligadas a essa guerra. Ás vezes estados que professavam a mesma fé, apoiavam partidos contrários. A luta estendeu-se durante quase. uma geração, e toda a Alemanha sofreu ou seus efeitos terríveis. Finalmente, em 1648, a guerra terminou, com a assinatura do tratado de paz de Westfália, que fixou os limites dos estados católicos e protestantes, que duram até hoje. O período da Reforma pode ser considerado terminado nesse ponto. BIBLIOGRAFIA BÁSICA WILISTON, WALKER, História da Igreja. 3ª Edição. São Paulo: Aste, 2006. KNIGHT, A. E.; ANGLIN, W. História do Cristianismo. 11ª EDIÇÃO. Rio de Janeiro: CPAD,2001 Universidade da Bíblia www.universidadedabiblia.com.br www.universidadedabiblia.net