ANÁLISE SINÓTICA DOS DISTÚRBIOS DE LESTE SOBRE ALAGOAS ENTRE OS DIAS 05 E 06 DE MARÇO DE 2012

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Transcrição:

ANÁLISE SINÓTICA DOS DISTÚRBIOS DE LESTE SOBRE ALAGOAS ENTRE OS DIAS 05 E 06 DE MARÇO DE 2012 Totais pluviométricos anômalos foram registrados em Alagoas entre os dias 05 e 06 de março de 2012. O tempo severo e inundações foram causados por pulsos associados a Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL). Embora não sejam muito frequentes nesta época do ano, esses distúrbios intensificaram a convecção próxima à costa o que provocou acumulados de precipitação acima de 100 mm na capital e estiveram entre 50 e 100 mm em outros diversos municípios. Para o estudo do evento, utilizaram-se dados de Análise do modelo GFS, imagens realçadas do Satélite GOES-12, dados de acumulados diários de precipitação da Diretoria de Meteorologia do Estado de Alagoas (DMET-AL/SEMARH) e análises das cartas sinóticas do Grupo de Previsão de Tempo (GPT) do CPTEC/INPE. Verificam-se na Tabela 1, a seguir os acumulados diários de precipitação para alguns municípios de Maceió-AL, para os dias 05 e 06 de março. Nota-se que algumas estações registraram acumulados significativos apenas no dia 05, enquanto outras apenas no dia 06 e outras em ambos os dias. No dia 05 o maior acumulado registrado foi 73 mm, na Usina Seresta da Fazenda Santa Tereza. Já para o dia 06 os maiores acumulados foram registrados em Porto de Pedras (121 mm) e em Maceió (110,5 mm). Na Usina Roçadinho da Fazenda Patrício e na Usina Santo Antônio os acumulados somados dos dois dias atingiram 130 e 124 mm, respectivamente. Tabela 1. Acumulados diários da precipitação para os dias 05 e 06 de março de 2012 no Estado de Alagoas. Fonte: DMET-AL/SEMARH Estação/Município Precipitação Acumulada 05/mar 06/mar CINAL (Marechal Deodoro) 63,6 0 Usina Cachoeira (Maceió) 56 27 Usina Caeté (São M. Campos) 51,6 27,6 Usina Roçadinho -Fz. Sta. Tereza (S. M. dos Campos) 58 18 Usina Seresta - Fz. Prado (Teotônio Vilela) 73 10 Usina Seresta - Fz. Risco (Teotônio Vilela) 53 20,8 Usina Terra Nova - Imburi (Pilar) 64 32 Usina Terra Nova - Prt Madeira (Marechal Deodoro) 55 22 Maceió (Tabuleiro - IMET) 14,3 85,8 Maceió (UFAL - INMET) 0,3 110,5 Maceió (Jacarecica - Semarh) 29,7 52,3 Porto de Pedras (INMET) 8,2 121 Usina Coruripe (Coruripe) 24 56,3 Usina Coruripe (Faz. Progresso) 24,4 85 Usina Roçadinho -Fz. Olho D'água (Jequiá da Praia) 30 55 Usina Roçadinho -Fz. P. Paraíba (Jequiá da Praia) 32 70 Usina Utinga Leão - Fz. Esperança(Messias) 30 55 Usina Santo Antônio (São Luiz do Quitunde) 62 62 Usina Roçadinho -Fz. Patrício (Roteiro) 60 70

A Figura 1 mostra o campo de variáveis meteorológicas das análises do modelo GFS, utilizado pelo Grupo de Previsão de Tempo (GPT/CPTEC). As áreas em verde representam a umidade relativa acima de 60 % na camada 850/700 hpa, áreas em azul representam umidade relativa acima de 90% nesta mesma camada. As linhas vermelhas contínuas representam o índice K>30, já as linhas contínuas em azul representam áreas de levantamento no nível de 850 hpa (Omega<0). As linhas de corrente, contínuas em laranja, representam a circulação do escoamento no nível de 850 hpa. As áreas vermelhas pontilhadas representam uma combinação da água precipitável acima de 40 mm, com os índices de instabilidade: K>30, Total Totals (TT)>40 e Lifted (LI)<-2. Observa-se no dia 04 de março às 06Z (Figura 1a) um cavado invertido com eixo sobre o Atlântico, entre os meridianos de 30W/20W. Ao longo deste cavado nota-se uma área com umidade relativa acima de 70%, K>30 e Omega<-3. Na figura seguinte, referente ao dia 04 às 18Z (Figura 1b), nota-se que esse distúrbio se deslocou para leste ao longo do cavado. No dia 05 de março às 06Z (Figura 1c), o distúrbio continuou se deslocando e se intensificou a medida que se aproximou da costa. Inclusive é possível visualizar os índices de instabilidade K>30, TT>40, LI<-2 sobre um pulso que se desprendeu do pulso principal e atuou próximo à costa. Nota-se que o distúrbio principal acompanhou o deslocamento do cavado continente adentro nos dias 05 às 18Z (Figura 1d) e contribuí para instabilizar localmente o interior de Pernambuco e Alagoas. Já no dia 06 às 06Z (Figura 1e) nota-se que um distúrbio secundário atingiu o litoral de AL, com valores de Omega<-5, que contribuíram para o desenvolvimento de forte convecção local. No dia 06 às 18Z (Figura 1f) observa-se que o Omega se desintensificou sobre a costa. Além disso, outro distúrbio se organizou sobre o Atlântico, a leste do litoral de AL, na retaguarda do segundo pulso. Embora este sistema também tenha contribuído para o desenvolvimento de nebulosidade convectiva sobre a costa, os acumulados durante a madrugada foram muito menores. (a) (b)

(c) (d) (e) (f) Figura 1 - Análises do modelo GFS para março de 2012. Área verde: umidade relativa > 60 % na camada 850/700 hpa. Áreas em azul: umidade relativa acima de 90% na camada 850/700 hpa. Linhas vermelhas contínuas: índice K>30; Linha contínua azul: áreas de levantamento no nível de 850 hpa (Omega<0). Linhas contínuas laranja: Linhas de corrente em 850 hpa. Áreas vermelhas pontilhadas: Combinação da água precipitável>40 mm, com os índices de instabilidade: K>30, Total Totals (TT) >40 e Lifted (LI) <-2. (a) 04 às 06Z, (b) 04 às 18Z, (c) 05 às 06Z, (d) 05 às 18Z, (e) 06 às 06Z e (f) 06 às 12Z.

Observa-se no dia 05 de março às 10:30Z (Figura 2a) a presença de nebulosidade convectiva sobre o Atlântico, próxima à costa de Alagoas. Na retaguarda desta nebulosidade é possível visualizar um segundo pulso mais a leste. O primeiro pulso se intensificou e atingiu a costa nas horas seguintes (Figura 2b). Nesta imagem são verificadas nuvens convectivas com topos entre -30 e -60 C ao longo de AL e no sudeste de PE. Na imagem seguinte (Figura 2c), referente às 20:15Z do dia 05 de março, visualiza-se a nebulosidade convectiva no interior de PE, com topo entre -60 e -70 C. Outros aglomerados convectivos também podem ser vistos no litoral sul de AL. Além disso, observa-se a aproximação do segundo pulso sobre o Atlântico. Nota-se que o segundo pulso atingiu o litoral norte de AL, aproximadamente, às 06:30Z do dia 06 (Figura 2d). Em seguida, verifica-se que este pulso atingiu a capital às 12 (Figura 2e) e se intensificou às 14:30Z (Figura 2f). (a) (b)

(c) (d) (e) (f) Figura 2 - Imagens realçadas do satélite GOES 12 para março de 2012. (a) 05 às 10:30Z, (b) 05 às 15:15Z, (c) 05 às 20:15Z, (d) 06 às 06:30Z, (e) 06 às 06:12Z e (f) 06 às 14:30Z.

De acordo com o jornal Gazeta de Alagoas, chuvas muito fortes provocaram transtornos no dia 5 de março em Penedo, no sul de Alagoas, às margens do rio São Francisco. De acordo com o Corpo de Bombeiros local, várias ruas e avenidas da cidade ficaram completamente alagadas. Casas e estabelecimentos comerciais também ficaram alagados. Figura 3 - Imagens do jornal Gazeta de Alagoas dos transtornos causados pela chuva do dia 05 de março.

De acordo com o jornal Tudo na Hora, as fortes chuvas que caíram na madrugada e início da manhã da terça-feira, dia 6 de março, deixaram várias ruas alagadas em Maceió. Como consequência, o trânsito esteve congestionado em diversos bairros da capital. Na Avenida Amélia Rosa, na Jatiúca, por exemplo, houveram vários trechos tomados pela água. Alguns carros quebraram devido à grande quantidade de água nas ruas. Os bairros de Cruz das Almas, Mangabeiras e Vergel do Lago foram os mais atingidos. Na Avenida Pilar, em Cruz das Almas, o nível da água subiu e provocou a interdição do logradouro. Figura 3 - Imagens do jornal Tudo na Hora dos transtornos causados pela chuva do dia 06 de março. Em síntese os Distúrbios de Leste ocorreram devido a perturbação no escoamento no nível de 850 hpa. As perturbações foram intensificadas próximas à costa devido à instabilidade atmosférica e convecção localmente forte. O GPT emitiu avisos meteorológicos para as chuvas fortes em PE e AL com 48 horas de antecedência. Elaborado pelo Meteorologista Caetano Mancini do Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC/INPE.