Segurança Qualidade da Água e Saúde Pública Isabel Lança Isabel Lança Departamento de Saúde Pública e Planeamento da ARS Centro 1
A água e a saúde da população são duas coisas inseparáveis. A disponibilidade de água de qualidade é condição indispensável para a própria vida e, mais do que qualquer outro factor, a qualidade da água condiciona a qualidade da vida. (OPAS/OMS Água e Saúde, Washington, D.C., 1998). Água e Saúde Pública Isabel Lança 2
A evolução do conceito de Saúde e dos factores que a condicionam implicam contudo a análise exterior dos efeitos no ambiente resultantes das actividades naturais e antropogénicas. Entre os determinantes da saúde a OMS consigna os ambientais como sendo primordiais, em particular o AR, a ÁGUA, o RUÌDO... Água e Saúde Pública Isabel Lança 3
Está implícita a identificação e avaliação de factores de risco existentes ou potenciais para a saúde humana associados a um sistema de distribuição e à qualidade da água consumida. 4
A água microbiológicamente contaminada pode transmitir grande variedade de doenças infecciosas, de diversos modos: Directamente pela água ( Water-borne diseases): provocadas pela ingestão de água contaminada com urina ou fezes, humanas ou animais, contendo bactérias ou vírus patogénicos. Incluem cólera, febre tifóide, leptospirose, giardíase, hepatite infecciosa e diarreias agudas. Causadas pela falta de limpeza e de higiene com água (water( water- washed diseases): provocadas por má higiene pessoal ou contacto com água contaminada na pele ou nos olhos.. Incluem escabiose, pediculose (piolho), tracoma, conjuntivite bacteriana aguda, salmonelose, tricuríase, enterobiase, ancilostomiases, sacaridiase. Causadas por parasitas encontrados em organismos que vivem na água ou por insectos vectores com ciclo de vida na água (water- based and water-related related diseases). Incluem esquistossomoses, dengue, malária, febre amarela, filarioses e oncocercoses. Água e Saúde Pública Isabel Lança 5
Amebíase ou disenteria amebiana Doença Agente causador Forma de contágio Ascaridíase ou lombriga Ancilostomose Protozoário Entamoeba histolytica Nematóide Ascaris lumbricoides Ovo de Necator americanus e do Ancylostoma duodenale Ingestão de água ou alimentos contaminados por cistos Ingestão de agua ou alimentos contaminados por ovos A larva penetra na pele (pés descalços) ou ovos pelas mãos sujas em contato com a boca Cólera Bactéria Vibrio cholerae Ingestão de água contaminada Disenteria bacilar Esquistossomose Febre amarela Febre paratifóide Febre tifóide Hepatite A Malária Bactéria Shigellasp Asquelminto Schistossoma mansoni Vírus Flavivirussp Bactérias Salmonella paratyphi, S. schottmuelleri e S. hirshjedi Bactéria Salmonella typhi Vírus da Hepatite A Protozoário Plasmodium ssp Ingestão de água, leite e alimentos contaminados Ingestão de água contaminada, através da pele Picada do mosquito Aedes aegypti Ingestão de água e alimentos contaminados, e moscas também podem transmitir Ingestão de água e alimentos contaminados Ingestão de alimentos contaminados, contato fecal-oral Picada da fêmea do mosquito Anopheles sp Peste bubônica Bactéria Yersinia pestis Picada de pulgas Poliomielite Vírus Enterovirus Contato fecal-oral, falta de higiene Salmonelose Bactéria Salmonella sp Animais domésticos ou silvestres infectados Teníase ou solitária Platelminto Taenia solium e Taenia saginata Ingestão de carne de porco e gado infectados 6
A utilização e consumo da água existente no planeta constitui uma das condicionantes do desenvolvimento sustentável, tanto mais que a sua disponibilidade se encontra comprometida, e as reservas sofrem uma ameaça crescente. As Normas de Qualidade da Água de Consumo Humano da OMS, põe maior ênfase na gestão pró-activa de riscos do abastecimento de água. Complementando a monitorização do cumprimento de padrões de qualidade do produto final, foi elaborada a Carta de Bona cujo objectivo é o abastecimento seguro de água para consumo humano, fundamental para uma sociedade saudável e para o seu desenvolvimento económico. São estabelecidos aspectos fundamentais de gestão da água, ao longo do seu ciclo: Água e Saúde Pública Isabel Lança 7
gestão das reservas de água, incluindo, quando necessário, o seu aumento, e sustentabilidade face às alterações climáticas; Água e Saúde Pública Isabel Lança 8
gestão das interacções entre o território e a água Água e Saúde Pública Isabel Lança 9
ter em linha de conta as práticas agrícolas e o desenvolvimento urbano Água e Saúde Pública Isabel Lança 10
a recolha e o tratamento das águas residuais. Água e Saúde Pública Isabel Lança 11
Linhas de orientação da OMS para a Qualidade da Água de Consumo Quadro de referência para o estabelecimento de segurança da qualidade da água, assegurada por Planos de segurança da Água - PSA Objectivos baseados na protecção da Saúde Pública Contexto de Saúde Pública Planos de Segurança a da água para consumo humano Avaliação do sistema Monitorização Operacional Planos de Gestão Vigilância Independente 12
Ganhos para a saúde e Tecnologia Eficácia Técnica Impactes significativos na saúde Aceitação dos consumidores Efeito de escala 13
Nas redes prediais: Monitorização dos parâmetros de controlo essenciais (ph, Cloro residual, Temperatura, dureza); Aplicação do DL 306/2007 Água e Saúde Pública Isabel Lança 14
Os principais itens a ponderar quando da avaliação dos factores de risco são: Presença de Legionella na água, concentração em que se apresenta e espécie envolvida; Presença de bactérias heterotróficas, protozoários e algas e presença de biofilmes; Presença de nutrientes, associado a uma má higienização da rede; Presença de produtos de corrosão e de incrustação; Falta de um programa de manutenção e operação correcto para a rede predial e equipamentos associados; - Falta de um plano de prevenção e controlo face à ocorrência da Legionella na água ; - Falta de procedimentos de comunicação do risco; - Má qualidade da água da rede pública, tendencialmente corrosiva ou incrustante, presença de sólidos suspensos dissolvidos, sólidos suspensos totais, ausência de cloro, dureza elevada, sais de ferro etc.... 15
Recursos hídricos e origem da água Tratamento Sistema público de distribuição Instalação Predial Tarefas e responsabilidades Planos de Segurança da Qualidade da Água de Consumo PSA Verificação da qualidade da água de consumo Partilha de conhecimento OBJECTIVO Água de consumo segura e de boa qualidade 16
Decreto-Lei nº n 306/2007 Qualidade da água para o consumo humano, na perspectiva da protecção da saúde humana. Artº 10º ponto 2 - A verificação dos valores paramétricos a) No caso da água fornecida a partir de uma rede de distribuição, no ponto em que, no interior de uma instalação ou estabelecimento, sai das torneiras normalmente usadas para consumo humano; c) No caso da água fornecida por entidades gestoras em alta, nos pontos de amostragem dos pontos de entrega aos respectivos utilizadores, Água e Saúde Pública Isabel Lança 17
http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/wsp0506/en/index.html
http://www.who.int/water_sanitation_health/publication_9789241562638/en/index.html
http://www.who.int/water_sanitation_health/publications/wsp_qa_tool/en/index.html
A escassez de água ocorre mesmo nas áreas onde há uma abundância de precipitação ou de água potável. O modo como a água é conservada, usada e distribuída nas comunidades, e a qualidade da água disponível, determina se há disponibilidade para os consumos ( doméstico, agrícola, industrial e ambiental).
A escassez da água afecta um em cada três povos, em cada continente do globo. A situação vai-se agravando à medida que aumenta o consumo, com o crescimento da população e os consumos associados.
Quase um quinto da população mundial (quase 1.2 mil milhões de pessoas) vive em zonas em que a água é físicamente escassa. Um quarto da população mundial também vive em países em vias de desenvolvimento, que enfrentam problemas de disponibilidade devido à ausência de infraestruturas e redes de distribuição a partir das captações.
A escassez de água força as pessoas a utilizarem água para consumo a partir de fontes não seguras. Isto traduz-se igualmente em incapacidade de limpeza e desinfecção doméstica.
A má qualidade da água aumenta o risco de doenças diarreicas como a cólera, a febre tifóide, entre outras. A escassez de água pode causar doenças como tracoma, ( infecção ocular que provoca a cegueira), a peste e o tifo.
A escassez de água induz as pessoas a fazerem a armazenagem doméstica de água, o que aumenta o risco de contaminação e fornece meios de crescimento para populações de mosquitos (transmissores de dengue, malária, e outras doenças).
A escassez de água compromete a gestão da água. Uma boa gestão reduz os locais de desenvolvimento de insectos, como os mosquitos, transmissores de doenças, como a quistossomiase.
A falta de água conduz à utilização de águas residuais na actividade agrícola em populações rurais mais pobres. Mais de 10% da população mundial consume alimentos irrigados com águas residuais contendo produtos químicos ou agentes patogénicos.
Um dos 10 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, o 7º, tem como meta para 2015, a redução em 10 vezes o nº de pessoas sem acesso sustentável a água de consumo e saneamento. A escassez de água compromete sériamente esse objectivo.
A água é um recurso essencial à vida. Enquanto governos e organizações tornam prioritário o abastecimento de água com qualidade às populações, as pessoas podem ajudar aprendendo a conservar e proteger diáriamente esse recurso fundamental.
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Conclusão Elaboração de documentos de apoio à gestão das redes prediais no que concerne a procedimentos de manutenção e desinfecção deve ser uma perspectiva a considerar no âmbito dos regulamentos municipais; Inclusão de procedimentos adequados de controlo e desinfecção da armazenagem, (particularmente em depósitos de redes prediais); A A vigilância de redes em edificações degradadas, com elaboração de medidas de intervenção, e sempre que possível, a articulação com os serviços de saúde, para estabelecimento de programas de vigilância epidemiológica; Informação aos utilizadores de equipamentos sobre prevenção de riscos Água e Saúde Pública Isabel Lança 34
A água enquanto recurso deve ser preservada, devendo sempre que possível implementar medidas a longo prazo. Essa é uma necessidade premente face às alterações climáticas e ás previsíveis alterações do ecossistema, com graves repercussões na saúde. O recurso a medidas complementares de armazenamento de água face a alterações do regime de pluviosidade, a implementação de procedimentos de desinfecção e monitorização, e eliminação de perdas na rede e a sensibilização das populações são fundamentais para a gestão correcta da água e a salvaguarda da saúde. Água e Saúde Pública Isabel Lança 35