Efeito do armazenamento das mudas antes do plantio na produção de mandioquinha-salsa, com e sem amontoa Néstor A. Heredia Zárate; Diego Menani Heid; Maria do Carmo Vieira; João Dimas Graciano; Elissandra Pacito Torales; Ivan Arcanjo Mechi. UFGD- FCA, Caixa Postal 533. 79804-970 Dourados-MS. E-mail: nestorzarate@ufgd.edu.br; diegoheid@hotmail.com; mariavieira@ufgd.edu.br; joãograciano@ufgd.edu.br, ninapacito@hotmail.com; ivarmec@hotmail.com. RESUMO Os objetivos do trabalho foram o de cultivar mandioquinha-salsa Amarela de Carandaí propagada com mudas armazenadas por diferentes tempos antes do plantio e observar se há ou não vantagem de se fazer amontoa para obter maior produtividade de matérias frescas e/ou secas dos principais componentes botânicos da planta. Os fatores em estudo foram dias de armazenamento das mudas antes do plantio (12; 35 e 64 dias) e amontoa (sem e com amontoa aos 50 dias após o plantio). Os tratamentos foram provenientes do fatorial 3 x 2, arranjados no delineamento experimental de blocos casualizados, com quatro repetições. O plantio foi feito manualmente, deixando descobertos os ápices dos rebentos. A amontoa foi realizada aos 50 dias após o plantio mediante a movimentação da terra do meio de duas fileiras até a base das plantas. Aos 276 dias após o plantio efetuou-se a colheita. As maiores massas foram das plantas provenientes de mudas armazenadas por 64 dias, que superaram em 21,88% e 29,41%; 57,08% e 119,11% e 58,14% e 39,06% de rebentos, raízes comerciais e raízes não-comerciais, respectivamente, às plantas provenientes de mudas armazenadas por 12 e 35 dias antes do plantio. Apesar de não ter havido diferenças significativas na produção de folhas, rebentos, coroas e raízes comerciais observou-se que as plantas cultivadas com amontoa tiveram aumentos produtivos de 9,5%; 7,92% e 11,45% de folhas, coroas e raízes comerciais em relação às cultivadas sem amontoa. As maiores produtividades de massa seca de raízes comerciais e nãocomerciais, respectivamente, foram das plantas provenientes de mudas armazenadas por 64 dias antes do plantio, superando em 66,67% e 134,38% e 54,29% e 42,11%, em S1672
relação as provenientes de mudas armazenadas por 12 e 35 dias antes do plantio. Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, tratos culturais, produtividade. ABSTRACT Effect of storage of cuttings before planting on yield of Peruvian carrot, with or without hilling The aims of this work were to cultivate Amarela de Carandaí Peruvian carrot that were propagated with cuttings stored by different times before planting and to observe if there is or not advantage for doing hilling in order to obtain a greater yield of fresh and/or dried matter from main botanic compound of the plant. Studied factors were days of storage of cuttings before planting (12; 35 and 64 days) and hilling (with and without hilling on 50 days after planting). Treatments were from 3 x 2 factorial scheme arranged in randomized block experimental design, with four replications. Planting was done manually and the apices of shoots were left uncovered. Hilling was done on 50 days after planting by moving earth from the middle of two rows up to base of plants. On 276 days after planting harvest was done. The highest masses were plants from cuttings that were stored by 64 days, which were superior in 21.88% and 29.41%; 57.08% and 119.11% and 58.14% and 39.06 of shoots, commercial roots and non-commercial roots, respectively, that plants from cuttings that were stored by 12 and 35 days before planting. Although there were not significative differences for yield of leaves, shoots, crows and commercial roots, it was observed that plants cultivated with hilling had increases of yield of 9.5%; 7.92% and 11.45% of leaves, crows and commercial roots in relation to those cultivated without hilling. The highest yields of dried mass of commercial and non-commercial roots, respectively, were of plants from cuttings that were stored by 64 days before planting, which were superior in 66.67% and 134.38% and 54.29% and 42.11% in relation to those from cuttings that were stored by 12 and 35 days before planting. Keywords: Arracacia xanthorrhiza; culture treats, productivity. S1673
INTRODUÇÃO No Brasil, a mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) é cultivada principalmente nas regiões Sudeste e Sul, em pequenas áreas, com pouco uso de insumos e bastante mão-de-obra familiar. A área de plantio de mandioquinha-salsa é de aproximadamente 16.000 ha, sendo o Paraná e Minas Gerais os principais Estados produtores, com 7.633 ha e 6.000 ha, respectivamente. Embora São Paulo contribua com apenas 750 ha, o maior volume de mandioquinha-salsa é comercializado no entreposto da CEAGESP (Bueno, 2004). Segundo Vieira et al. (2002), vários autores relatam que um dos fatores que tem limitado a expansão da cultura de mandioquinha-salsa, é a falta de material de plantio e, por isso, é recomendado o bom aproveitamento das mudas. A importância de se conhecer bem o tipo, o tamanho e a forma como a muda deve ser plantada está principalmente no fato do ciclo da cultura ser longo e, portanto, ser necessário estabelecer o mais rápido a população final desejada. O preparo correto das mudas de mandioquinha-salsa é fundamental para o enraizamento e a emergência uniforme das plantas no campo (Granate et al, 2007). Sobre a conservação das mudas, entre a colheita e o plantio, não foram encontradas referências sobre trabalhos científicos. Em relação à amontoa, Heredia Zárate e Vieira (2005) citam que as vantagens são, dentre outras, cobrir adubos colocados em cobertura; eliminar plantas infestantes; formação de sulco que permita a distribuição mais localizada e em profundidade da água; induzir o aumento do sistema radicular absorvente; aumento da resistência ao tombamento e/ou à quebra dos caules e evitar a insolação direta nas raízes e caules comestíveis de algumas plantas. Em função do exposto, os objetivos do trabalho foram o de cultivar a mandioquinhasalsa Amarela de Carandaí propagada por meio de mudas provenientes de diferentes tempos de armazenamento antes do plantio e observar se há ou não vantagem de se fazer amontoa para obter maior produtividade de matérias frescas e/ou secas dos principais componentes botânicos da planta. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho experimental foi conduzido no Horto de Plantas Medicinais da Faculdade de Ciências Agrárias-FCA, da Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD, em S1674
Dourados-MS. O solo da área de cultivo é do tipo Latossolo Vermelho Distroférrico de textura muito argilosa, com as seguintes características químicas: 5,9 de ph em H 2 O; 28,9 g dm -3 de M.O.; 38,0 mg dm -3 de P; 0,0; 3,5; 46,0; 22,0; 53,0; 71,5 e 124,5 mmol c dm -3 de Al +3, K, Ca, Mg, H+Al, SB e CTC, respectivamente e 57,0 % de saturação por bases. Na parte física, os resultados da análise granulométrica mostraram que o solo era composto por 8% de areia grossa, 13% de areia fina, 16% de silte e 63% de argila. Os fatores em estudo foram dias de armazenamento das mudas antes do plantio (12; 35 e 64 dias) e amontoa (sem e com amontoa aos 45 dias após a brotação). Os tratamentos foram provenientes do fatorial 3 x 2, arranjados no delineamento experimental de blocos casualizados, com quatro repetições. As parcelas tiveram área total de 3,0 m 2 (1,5 m de largura por 2,0 m de comprimento), sendo que a largura efetiva do canteiro foi de 1,0 m, contendo três fileiras espaçadas de 33,3 cm e de 25 cm entre plantas, perfazendo a densidade de 79.200 plantas ha -1. O experimento foi iniciado em 21 de março de 2009. O terreno foi preparado com aração, gradagem e levantamento de canteiros com rotoencanteirador. Não foi efetuada correção da fertilidade do solo nem da acidez, porque os resultados da análise do solo demonstraram que não existia essa necessidade. Para o plantio foram obtidos rebentos de plantas produzidas na área da FCA-UFGD. Os rebentos foram destacados da planta-mãe com antecedência de um dia e selecionados e classificados pela massa, para ter plantio uniforme em cada repetição. No dia do plantio, as mudas foram preparadas com o corte da parte aérea, deixando-se cerca de 2,0 cm de pecíolo, e com o corte da parte basal, transversalmente. O plantio foi feito manualmente, deixando descobertos os ápices dos rebentos (Heredia Zárate et al., 2009). A amontoa foi realizada aos 50 dias após o plantio mediante a movimentação da terra do meio de duas fileiras até a base das plantas. As irrigações foram feitas utilizando o sistema de aspersão, sendo que na fase inicial, até que as plantas apresentavam entre 15 a 20 cm de altura, os turnos de rega foram a cada dois dias, até os 180 dias, os turnos de rega foram a cada três a quatro dias e até os 276 dias, quando foi feita a colheita, as regas foram feitas uma vez por semana. Durante o ciclo da cultura fora feitas capinas com enxada entre os canteiros e manualmente dentro dos canteiros, quando as plantas infestantes se apresentavam com ± 5,0 cm de altura. Não houve ataques de pragas ou fitopatógenos. S1675
Aos 276 dias após o plantio efetuou-se a colheita quando foram determinadas as massas frescas e secas de folhas, rebentos, coroas, raízes comercializáveis (peso acima de 30 g) e não comercializáveis (peso abaixo de 30 g, doentes e rachadas). Os dados foram submetidos à análise de variância e quando se detectaram diferenças pelo teste F, as médias para dias de armazenamento das mudas antes do plantio foram testadas por Tukey, a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO As massas frescas de rebentos e de raízes comerciais e não-comerciais foram influenciadas significativamente pelos dias de armazenamento das mudas antes do plantio (Tabela 1). As maiores massas foram das plantas provenientes de mudas armazenadas por 64 dias, que superaram em 21,88% e 29,41%; 57,08% e 119,11% e 58,14% e 39,06% de rebentos, raízes comerciais e raízes não-comerciais, respectivamente, às plantas provenientes de mudas armazenadas por 12 e 35 dias antes do plantio. Em relação à amontoa, observou-se aumento significativo de 35,20% (0,63 t ha -1 ) das raízes não-comerciais de plantas cultivadas sem amontoa em relação às com amontoa. Apesar de não ter havido diferenças significativas na produção de folhas, rebentos, coroas e raízes comerciais observou-se que as plantas cultivadas com amontoa tiveram aumentos produtivos de 9,5%; 7,92% e 11,45% de folhas, coroas e raízes comerciais em relação às cultivadas sem amontoa. As produtividades de massa seca de folhas, rebentos e coroas não foram influenciadas pelos dias mas, as massas secas de raízes comerciais e não-comerciais foram influenciadas significativamente pelos dias de armazenamento das mudas antes do plantio (Tabela 2). Esses resultados concordam com Sediyama & Casali (1997), quando relatam que, no crescimento e desenvolvimento das plantas de mandioquinha-salsa, há crescimento inicial apenas da parte foliar e depois das estruturas caulinares (rebentos e coroas), até iniciar-se a transformação das raízes principais nos principais órgãos armazenadores e drenos desses assimilados. As maiores produtividades de massa seca de raízes comerciais e não-comerciais, respectivamente, foram das plantas provenientes de mudas armazenadas por 64 dias antes do plantio, superando em 66,67% e 134,38% e 54,29% e 42,11%, em relação as provenientes de mudas armazenadas por 12 e 35 dias antes do plantio. Quanto à S1676
amontoa, as respostas produtivas seguiram a mesma tendência que o observado para massa fresca (Tabela 1). Nas condições em que foi desenvolvido o experimento concluiu-se que para a propagação da mandioquinha salsa deve-se utilizar mudas armazenadas por 64 dias antes do plantio e que pode utilizar-se amontoa. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, pela bolsa de Iniciação Científica concedida e à Fundect-MS, pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BUENO SCS. 2004. Produção de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza B.) utilizando diferentes tipos de propágulos. 93 f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal). Universidade de São Paulo. Piracicaba GRANATE MJ; SEDIYAMA MAN; PUIATTI M. 2007. Batata-baroa ou mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Banc.). In: PAULA JÚNIOR, TJ; VENZON M (Coord.). 101 culturas: manual de tecnologias agrícolas. Belo Horizonte: EPAMIG, p. 137 142. HEREDIA ZÁRATE, NA; VIEIRA MC. 2005. Produção da araruta Comum proveniente de três tipos de propágulos. Ciência e Agrotecnologia 29: 995-1000. HEREDIA ZÁRATE NA; VIEIRA MC. 2005. Hortas: conhecimento básicos. Dourados: UFMS. 61 p. VIEIRA MC; HEREDIA ZÁRATE NA; GOMES HE. 2002. Produção de mandioquinha-salsa em função da desinfecção de mudas e da cobertura do solo com cama de frango semidecomposta. Ciência e Agrotecnologia, Edição Especial:1465-1470. S1677
Tabela 1. Massas frescas de folhas, rebentos, coroas e raízes comerciais e não comerciais (Table 1. Fresh masses of leaves, shoots, crows and commercial and noncommercial roots). UFGD, Dourados, 2009-2010 Fator em Massa fresca (t ha -1 ) estudo Folhas Rebentos Coroas Raiz Comercial Não Comercial Dias antes do plantio 64 2,30 a 4,40 a 2,86 a 3,44 a 2,67 a 35 1,98 a 3,40 b 2,87 a 1,57 b 1,92 b 12 2,00 a 3,61 b 3,10 a 2,19 b 1,72 b Amontoa Sem 2,00 a 3,66 a 2,85 a 2,27 a 2,42 a Com 2,19 a 3,95 a 3,04 a 2,53 a 1,79 b C.V. 15,61 15,66 13,37 33,66 16,81 Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey, para dias antes do plantio e pelo teste F, para amontoa, a 5% de probabilidade (Average followed by same letters, in columns, did not differ among each other by Tukey test, for days before planting and by F test, for hilling, at 5% of probability.). Tabela 2. Massas secas de folhas, rebentos, coroas e raízes comerciais e não comerciais (Table 2. Dried masses of leaves, shoots, crows and commercial and non-commercial roots.). UFGD, Dourados, 2009-2010 Fator em Massa seca (t ha -1 ) estudo Folhas Rebentos Coroas Raiz Comercial Não Comercial Dias antes do plantio 64 0,35 a 0,77 a 0,56 a 0,75 a 0,54 a 35 0,30 a 0,50 a 0,56 a 0,32 b 0,38 b 12 0,31 a 0,65 a 0,61 a 0,45 b 0,35 b Amontoa Sem 0,31 a 0,66 a 0,56 a 0,46 a 0,48 a Com 0,33 a 0,68 a 0,59 a 0,56 a 0,37 b C.V. 12,76 27,11 15,42 37,38 15,06 Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey, para dias antes do plantio e pelo teste F, para amontoa, a 5% de probabilidade (Average followed by same letters, in columns, did not differ among each other by Tukey test, for days before planting and by F test, for hilling, at 5% of probability.). S1678