SUSCETIBILIDADE DE GENÓTIPOS DE ALGODOEIRO AO ATAQUE DO BICUDO Anthonomus grandis BOH., 1843, EM CONDIÇÕES DE CAMPO Dalva Gabriel.Instituto Biológico (Instituto Biológico /.dalva@biologico.sp.gov.br), Flávio Martins Garcia Blanco (nstituto Biológico), Gilherme de Melo (Instituto Biológico), Bruno Raeder Roberg (UFSCar) RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar, em condições de campo, a não preferência do bicudo do algodoeiro, para a cultivar IAC-24 e linhagem IAC 04/227. A semeadura ocorreu em 13/12/04 e os dois genótipos, repetidos seis vezes, foram alocados, ao acaso, em três blocos. Cada parcela constou de quatro linhas com espaçamento de 0,90 m e comprimento de 5,0 m, onde as sementes foram distribuídas manualmente. Neste campo experimental não se procedeu ao controle de doenças e pragas e as plantas daninhas foram erradicadas através de capinas utilizando enxada. As amostragens foram feitas semanalmente, sendo examinados quinze botões florais por parcela, um botão por planta e, considerados os danos ocasionados pela alimentação e oviposição do bicudo. As amostragens foram feitas semanalmente, com início em 16/02/05 e finalizadas em 30/03/05 totalizando 7 levantamentos. Pelo modelo cúbico de regressão, a linhagem IAC 04/227 apresentou, em todas as avaliações, menor porcentual de botões florais perfurados pelo bicudo do que a cultivar IAC-24. A linhagem IAC 04/227 é resultado de transferência do gene de cor vermelha, do genótipo Texas Red, para as linhagens do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Palavras-chave: Anthonomus grandis, genótipos, suscetibilidade. SUSCEPTIBILITY OF COTTON GENOTYPES TO BOLL WEEVIL Anthonomus grandis BOH., 1843 UNDER FIELD CONDITIONS ABSTRACT - The non-preference of the boll weevil to IAC-24 and IAC 04/227 cotton genotypes was evaluated. The experimental field was conducted at Centro Experimental Central of Instituto Biológico in Campinas, São Paulo State, Brazil. The cotton was planted on 12/13/04. It was employed the randomized complete block design with six replications and two treatments. Experimental units of 3.6 m by 5.0 m long with 0.9 m between rows were used. Pesticides and fungicides were not used and the weeds were eradicated using hoe. The surveys were made weekly from 02/16 to 03/30/05 and fifteen squares were valued per plot and examined one square by plant. For a 3 nd grade regression, IAC 04/227 presented for all valuation date minor percentage of damaged squares than IAC-24. IAC 04/227 is a red plant color result of transference of red color gene from Texas Red genotype to IAC progenies. Key words: Anthonomus grandis, genotypes, susceptibility
INTRODUÇÃO A cultura do algodoeiro tornou-se uma das principais fontes de sustentação da economia em algumas regiões, ocupando parte das áreas mais férteis de outras culturas tradicionais como a soja e o milho. O estado de São Paulo registrou o maior crescimento no plantio de algodão do país na safra 2004/05 com a ampliação da área em 29,7%, atingindo 113.200 hectares. As pragas ocupam lugar de destaque entre os diversos problemas enfrentados pela cotonicultura, principalmente o bicudo por se tratar da praga chave e encontrar-se amplamente disseminado em todas as regiões produtoras. O uso de variedades resistentes para uma praga importante como o bicudo traria muitas vantagens como: proteção dos algodoais contra a sua praga mais importante, sem custos adicionais aos produtores, preservação do meio ambiente, não interferência no controle biológico natural de outras pragas, não interferência com insetos polinizadores, além de ser compatível com outras medidas de controle de pragas. Vários genótipos de algodão apresentam características de resistência ao bicudo, algumas das quais tem sido transferida para plantas com boas qualidades agronômicas, entretanto seu uso em larga escala dependerá de sua integração em programas de manejo de pragas do algodoeiro. O objetivo deste trabalho foi avaliar a não preferência do bicudo do algodoeiro, para a cultivar IAC-24 e linhagem IAC 04/227. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliadas a cultivar IAC-24 e a linhagem IAC 04/227 quanto à infestação pelo bicudo do algodoeiro, em condições de campo, no Centro Experimental Central do Instituto Biológico, em Campinas, SP, na safra 2004/05. A semeadura ocorreu em 13/12/04 e os dois genótipos, repetidos seis vezes, foram alocados, ao acaso, em três blocos, perfazendo doze parcelas. Cada parcela constou de quatro linhas com espaçamento de 0,90 m e comprimento de 5,0 m, onde as sementes, deslintadas quimicamente e tratadas com inseticida, foram distribuídas manualmente. Neste campo experimental não se procedeu ao controle de doenças e pragas e as plantas daninhas foram erradicadas através de capinas utilizando enxada. A infestação ocorreu após a liberação, em 01/02/05, na área experimental, de adultos provenientes de cultura infestada pelo bicudo. As avaliações foram feitas semanalmente, sendo examinados quinze botões florais por parcela, um botão floral por planta e, considerados os danos ocasionados pela alimentação e oviposição do bicudo. Os levantamentos tiveram início em 16/02/05, aos 59 dias após a emergência (DAE) e foram finalizadas em 30/03/05, aos 101 DAE, totalizando 7 levantamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Para cada genótipo foi realizada uma análise da variância e regressão (Tabela 1), obtendo assim, um modelo matemático polinomial cúbico, que explicasse a correlação entre genótipos e a porcentagem de botões florais perfurados pelo bicudo (Fig. 1). Em cada época avaliada e pelos modelos, verifica-se que a cultivar IAC-24 apresentou maior porcentual de botões florais perfurados, do que a linhagem IAC 04/227. Pelo modelo ajustado, para a cultivar IAC-24, aos 59 dias após emergência (DAE) este porcentual foi bastante elevado (76,9%) e, embora sem qualquer controle, diminuiu até aos 73,2 DAE. Esta queda no porcentual de botões florais danificados, muito provavelmente, foi devida às condições climáticas. A partir deste período, a porcentagem de botões perfurados voltou a crescer até 101 DAE. A linhagem IAC 04/227, apesar de apresentar porcentual relativamente menor que a IAC 24, monstrou comportamento semelhante, no que se refere ao modelo matemático, ao decréscimo no porcentual, verificado desde 59 DAE (35,31%) até 72 DAE (9,58%) (Fig. 1). Na fase de formação de estruturas, de acordo com Cruz, 1991, o nível de controle para o bicudo é de 10% de botões florais perfurados. Nas condições do experimento, nesta fase de desenvolvimento da cultura, foi verificado pelo modelo, que a linhagem IAC 04/227 apresentou, dos 70,2 aos 73,7 DAE porcentagem de botões danificados abaixo do nível de controle enquanto que para a cultivar IAC-24, o modelo demonstra que a porcentagem de botões perfurados foi sempre superior a 10%. Desta forma conclui-se que em condições normais de cultivo, a linhagem IAC 04/227 teria como vantagens sobre a IAC-24, aplicação mais tardia de inseticidas visando ao controle do bicudo e, também, menor número de pulverizações, com ganhos econômicos e ambientais. A linhagem IAC 04/227 apresenta coloração vermelha que confere resistência ao bicudo do tipo não-preferência e que está associada à percepção das cores pelo inseto. A cultivar IAC-24 apresenta coloração verde normal. Isely (1928) verificou em uma variedade de algodão de folha vermelha, 1,5 a 3 vezes menos botões florais danificados pelo bicudo do que uma variedade de coloração verde normal. Pesquisas conduzidas por Jones e citadas por Hunter e Pierce (1912), demonstraram que a luz de coloração verde clara era quase duas vezes mais eficiente em atrair os bicudos que a luz de coloração vermelha (JONES et al., 1986). Ao avaliarem 10 genótipos de algodão, para a não preferência do bicudo do algodoeiro, DeGrande et al. 2002, concluíram que o menor índice de ataque foi para maçãs e botões do genótipo CD 401, entretanto, não mencionaram os caracteres genéticos envolvidos com a não preferência, e afirmaram que este resultado poderia estar relacionado a assincronia fenológica ou evasão hospedeira, uma vez que o genótipo CD 401 é mais precoce do que os demais estudados. A cultivar IAC-24 e a linhagem IAC 04/227 apresentam ciclo vegetativo muito semelhante.
100 90 80 % de botões perfurados 70 60 50 40 30 20 R2 = 0,98 R2 = 0,95 10 0 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 DAE IAC-24 observado IAC 04/227 observado Figura 1. Porcentagem de botões florais perfurados pelo bicudo A. grandis para genótipos de algodoeiro Gossypium hirsutum. Tabela 1. Resumo da análise da variância para os modelos em cada genótipo. IAC - 24 IAC 04/227 Regressão (F) 24,65** 11,98** Resíduo (QM) 26,22 0,01 ** significativo a 1% de probabilidade para o erro
CONCLUSÕES 1. A linhagem IAC 04/227 é menos preferida para a alimentação e oviposição do bicudo do que a cultivar IAC-24 quando cultivadas na mesma área; 2 O modelo cúbico explica de forma satisfatória a correlação estudada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUZ, V. R. DA. Recomendações e experiência de controle do bicudo no Estado de São Paulo. In: DEGRANDE, P (Ed.). Bicudo do Algodoeiro: Manejo Integrado. UFMS-EMBRAPA UEPAE de Dourados. 1991. 141 p. DEGRANDE, P. E., SOUZA, L. C. F., OLIVEIRA, M. A.; BARROS, R., FERNANDES, M. G. Suscetibilidade de genótipos de algodoeiro ao bicudo. Arq. Inst. Biol., v. 69, p. 83-86, 2002. HUNTER, W. D.; PIERCE, W. D. The Mexican cotton boll weevil.s.l., US Dep.Agric., 1912. (US Entomol. Bur., 114). ISELY, D. The relation of leaf color and leaf size to boll weevil infestation. J. Econ. Entomol., v. 21, p. 553-559, 1928. JONES, J. E., WEAVER, J. B., SHUSTER, M. F. Plantas resistentes ao bicudo. In: BARBOSA, S., LUKEFAHR, M. J., BRAGA SOBRINHO, R. (Eds). O bicudo do algodoeiro. EMBRAPA-DDT. Doc. 4. 1986. 314 p.