ESTILO DE VIDA DE ADOLESCENTES ATIVOS E SEDENTÁRIOS Martina Kieling Sebold Barros Rolim 1,2 Thiago Sousa Matias 2 Marcílio Lourenço da Cunha 2 Alexandro Andrade 2 Resumo O objetivo deste estudo foi comparar o estilo de vida de adolescentes ativos e sedentários. Trata-se de um estudo descritivo exploratório onde participaram 216 adolescentes de uma escola pública de ensino médio. Utilizou-se como instrumento o Questionário de Auto-avaliação do Estilo de Vida e Auto-eficácia e o Questionário de Atividades Físicas Habituais. Foi utilizada estatística descritiva e inferencial. Os resultados apontaram que os meninos são significativamente mais ativos que as meninas e que os adolescentes ativos apresentam melhor estilo de vida que os sedentários, tanto entre os meninos (ρ=0,006), quanto entre as meninas (ρ=0,016). Pode-se concluir que um estilo de vida mais positivo esteve relacionado a um maior nível habitual de atividade física. Palavras-chave: Adolescentes. Estilo de Vida. Atividade Física. Introdução Este trabalho tem como temática o estilo de vida de adolescentes ativos e sedentários. É baseado na idéia de que um estilo de vida saudável associado a hábitos de atividade física entre outros cuidados com a saúde parece estar relacionado à maior qualidade de vida geral, bem estar físico e mental e aumento da produtividade (ANDRADE, 2001). 2 Endereço para correspondência: Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício, Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos CEFID/UDESC. R: Pascoal Simone, 358 Coqueiros. CEP: 88088-350. Florianópolis - Santa Catarina Brasil. E-mail: martinarolim@hotmail.com
Trabalha com a idéia que o estilo de vida caracteriza-se pelas escolhas que o indivíduo faz no dia a dia, em sua vida, bem como as oportunidades sociais, é o conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida dos indivíduos (NAHAS, 2003). Nesta perspectiva observa-se na adolescência que muitos dos valores e atitudes são formados nesta época da vida, sobretudo em relação à adoção de hábitos saudáveis de vida e prática regular de atividade física (ROLIM, 2007). A literatura sobre a prática de atividades físicas ou esportivas mostra que independente do tipo da atividade e da quantidade praticada, são muitos os benefícios, tanto na saúde física como mental (BERGER et al., 1998, CDC, 2006). De uma forma geral, a atividade física na adolescência pode estimular o crescimento físico, aumentar a auto-estima, contribuir para o desenvolvimento social, além de propiciar uma série de benefícios para a saúde e bem-estar (VIEIRA, PRIORE e FISBERG, 2002). Assim, considerando que existem fatores positivos e negativos em nosso comportamento, em nosso estilo de vida, que podem manter, promover ou melhorar a saúde, como também prejudicá-la ou diminuí-la (ROLIM et al., 2007) e as argumentações relacionadas à atividade física e estilo de vida, este estudo tem por objetivo comparar o estilo de vida de adolescentes ativos e sedentários. Procedimentos metodológicos A população do estudo constitui-se de adolescentes de 13 a 19 anos, estudantes de um Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. Para a realização do estudo uma escola foi selecionada por conveniência. A constituição da amostra obedeceu à participação voluntária dos adolescentes. Participaram 316 adolescentes divididos por gênero e nível de atividade física (ativos, pouco ativos e sedentários), sendo que os adolescentes pouco ativos foram excluídos da amostra, permanecendo 216 adolescentes. Foi exigido aos
adolescentes o Consentimento Livre e Esclarecido e aos menores de 18 anos, o consentimento foi assinado pelos pais. Após submissão e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Universidade do Estado de Santa Catarina, aplicouse os instrumentos em sala e no horário de aula. Para avaliar o estilo de vida foi utilizado o Questionário de auto-avaliação do estilo de vida e auto-eficácia (Rolim, 2007) adaptado de Andrade (2001). Trata-se de um questionário misto, com questões abertas e fechadas, composto por seis partes e 48 questões. Para este trabalho foram utilizadas quatro partes: (A) - identificação e caracterização do participante, (B) indicadores de saúde, (C) ambiente de convívio (familiar, escolar e de trabalho) e (D) fé e espiritualidade. As dimensões que compõem o estilo de vida estão delimitadas aos indicadores de saúde (item B), ambientes de convívio (item C) e fé e espiritualidade (item D). Embora essas dimensões sejam com respostas do tipo Lickert, a soma destas respostas resultou em uma pontuação de nível intervalar, sendo que, quanto maior o valor desta pontuação, mais positivo é o estilo de vida. O nível de atividade física foi verificado através do Questionário de Atividades Físicas Habituais desenvolvido por PATE adaptado por NAHAS (2001) para adolescentes brasileiros. A pontuação obtida no questionário de atividades físicas habituais permite classificar os adolescentes em quatro grupos: de 0 a 5 pontos = inativo; de 6 a 11 pontos = pouco ativo; de 12 a 20 pontos = ativo e com 21 pontos ou mais = muito ativo. Para este estudo a classificação foi feita nomeando os indivíduos que pontuaram entre 0 e 5 pontos como sedentários e acima de 12 pontos de ativos e excluindo da amostra os adolescentes pouco ativos (entre 6 e 11 pontos). Foi utilizada estatística descritiva (média, freqüência e desvio padrão) e para comparar o estilo de vida dos adolescentes ativos e sedentários, foi utilizado o teste t de studant para amostras independentes, controlando a amostra por gênero, assumindo um p 0,05.
Base teórica de referência O estilo de vida é definido por Nahas (2003, p. 19, grifo do autor) como sendo um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas. O estilo de vida está associado aos diversos hábitos e opções que a pessoa realiza em seu dia a dia (FEDERATION INTERNATIONALE DE MÉDECINE SPORTIVE, 1997). Pesquisas em diversos países, incluindo o Brasil, têm mostrado que o estilo de vida passou a ser um dos indicadores determinantes da saúde (MATSUDO et al., 2002). Pressupõe-se, de acordo com as pesquisas atuais, que o indivíduo terá mais saúde e bem estar, quanto mais ele equilibrar seu estilo de vida: realização de atividade física regular, uma nutrição adequada com qualidade, controlar o estresse, manter relacionamentos positivos e estáveis e manter comportamentos preventivos como o não uso de drogas, evitar o tabagismo e fazer sexo com camisinha (NAHAS, 2003). Deste modo, uma vida saudável deve começar na infância e adolescência, com boa alimentação, atividades físicas variadas e regulares, cuidados médicos adequados e um ambiente familiar seguro e estimulante (NAHAS, 2003). Assim, o estilo de vida adotado na juventude pode afetar a vida adulta e a velhice, principalmente nos fatores relacionados á saúde, em particular quando nos referimos à atividade física. A maioria das pessoas desenvolve atividade física antes dos 12 anos e entre 12 e 16 anos, sendo que a interrupção da prática acontece, principalmente a partir dos 15 anos (TELAMA, NUPPONEN e PIERÓN, 2005). Neste contexto têm-se observado em adolescentes, comportamentos sedentários os quais estão vinculados diretamente à falta de atividade física e que representa uma causa importante de debilidade e diminuição da qualidade de vida do indivíduo (ANDRADE, 2001). Apresentação e discussão dos resultados
A média de idade dos adolescentes é de 16,2 anos (±1,1), sendo de 16,3 anos (±1,1) para os meninos e 16 anos (±1,1) para as meninas. A maioria da amostra (61,1%) é meninos e 58,3% dos adolescentes são ativos. Foi observado que os meninos são significativamente mais ativos que as meninas (ρ=0,001) (Gráfico 1). 100 75 41,7% 58,3% 52,2 29,4 meninas meninos % 50 70,6 25 47,8 0 sedentário NHAF ativo Gráfico 1. Nível habitual de atividade física de meninos e meninas O número de adolescentes ativos neste estudo é positivo e pode estar relacionado às características das cidades que os adolescentes provêm. A cidade onde está localizada a escola investigada tem como principal atividade econômica o comércio e a indústria, as cidades vizinhas têm como principal atividade à agricultura, a pesca e o turismo. Sendo assim, a maioria destas cidades não tem perfil de grandes centros urbanos e são mínimos os problemas de ocupação desordenada e falta de espaço para o lazer. Este resultado está de acordo também com os resultados de outras pesquisas brasileiras, como de Matsudo et al. (2002) que registraram 49,5% de sedentários; de Oehlschlaeger et al. (2004) que observaram prevalência de 39% de sedentários; de Souza e Duarte (2005) que encontraram 40,5% de sedentarismo em adolescentes. Proporção também semelhante a um estudo com adolescentes europeus (31,9% de sedentários), mas discrepante de um estudo canadense de Koezuka et al. (2006), com 58,9% de sedentários e de americanos (National Centers for Desease Control and Prevention CDC, 2006) com 64,2% de sedentários.
Observa-se também que a proporção do número de meninos ativos em relação às meninas ativas é um fenômeno comum encontrado na literatura (SOUZA e DUARTE, 2005). Esse fenômeno pode ser justificado pelas diferenças no âmbito sócio-cultural e comportamental dos adolescentes. Gambardella (1995) coloca, por exemplo, que desde a infância os meninos são estimulados às práticas esportivas e às atividades físicas como subir em árvores, andar de bicicleta, e, principalmente jogar bola, enquanto as meninas são mais encorajadas ao desenvolvimento de atividades tipicamente sedentárias. Outros estudos referem-se à busca da identidade sexual nas meninas (SEABRA et al., 2004), à percepção de baixa auto-eficácia para a prática esportiva (BIDDLE, 2006), ao desconforto provocado por dores e sudoreses e à aversão a competições (GRIESER et al., 2006), como alguns empecilhos. Entretanto, algumas diferenças encontradas entre os estudos explicam-se mais pela dificuldade de padronização dos processos metodológicos e na aferição desta variável do que diferenças comportamentais. Os adolescentes ativos apresentam melhor estilo de vida que os sedentários, tanto entre os meninos (ρ=0,006), quanto entre as meninas (ρ=0,016) (gráfico 2). 4 sedentário ativo Estilo de Vida 3 2 1 2,6* 2,8* 2,7** 2,9** 0 meninos meninas *p<0,001; **p<0,05 Gráfico 2. Estilo de vida dos adolescentes ativos e sedentários Em relação ao estilo de vida dos adolescentes, o nível habitual de atividade física parece influenciar esta variável, uma vez que os adolescentes ativos, tanto meninos quanto meninas, apresentam melhor estilo de vida que os
sedentários. O estilo de vida e o nível habitual de atividade física de adolescentes têm sido positivamente correlacionados pela literatura (NAHAS, 2003). Pressupõe-se, de acordo com as pesquisas, que o indivíduo terá mais saúde e bem-estar, quanto mais ele equilibrar seu estilo de vida: realizar atividade física regular, alimentar-se adequadamente e com qualidade, controlar o estresse, manter relacionamentos positivos e estáveis e comportamentos preventivos como o não uso de drogas, evitar o tabagismo e fazer sexo com camisinha (NAHAS, 2003). Embora os meninos sejam mais ativos que as meninas e o nível habitual de atividade física esteja relacionado com o estilo de vida, não se observou diferença entre o estilo de vida dos meninos em relação às meninas. Provavelmente deva-se às meninas terem pontuado mais do que os meninos em algumas dimensões do estilo de vida, cabendo assim a discussão sobre quais aspectos do estilo de vida o nível habitual de atividade física e o gênero parecem se diferenciar mais. Considerações finais Apesar de esta faixa-etária estar relacionada a um decréscimo do nível habitual de atividade física devido ao aumento de compromissos estudantis e profissionais, pode-se observar nesta população números otimistas em relação ao nível habitual de atividade física, indicando, de maneira geral, situação e contexto favorável à prática de atividade física para estes adolescentes. Observou-se também a influência da atividade física para um estilo de vida mais positivo, tanto entre os meninos quanto entre as meninas ativas apresentaram melhores indicadores para uma vida mais saudável e equilibrada. Portanto, a Educação Física escolar, os clubes e outros programas que promovam a atividade física entre os jovens devem incentivar a atividade física nesta faixa-etária, para que este hábito se consolide e permaneça posteriormente.
Referências bibliográficas ANDRADE, A. Ocorrência e controle subjetivo do stress na percepção de bancários ativos e sedentários: a importância do sujeito na relação "atividade física e saúde". 2001. 2v. 305 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. BERGER, B. G.; et al. Relationships between expectancy of psychological benefits and mood alteration in joggers. International Journal of Sport Psychology, v. 29, p. 1 16. 1998. BIDDLE, S. J. H. et al. Increasing Demand for Sport and Physical Activity by Girls. Sportscotland. Disponível em: < www.sportscotland.org.uk>. Acesso em: 05 maio 2006. CENTER OF DESEASE CONTROL (CDC).Physical activity and health: a report of the surgeon general. U.S. Department of Health and Human Services, Atlanta, 2006. FEDERATION INTERNATIONALE DE MEDICINE SPORTIVE. O exercício físico: um fator importante para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 3, n. 3, jul. /set. 1997. GAMBARDELLA, A. M. Adolescentes estudantes de período noturno: como se alimentam e como gastam suas energias. 1995. 88 p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. GRIESER, M. et. al. Physical activity attitudes, preferences, and pratices in african american, hispanic, and caucasian girls. Healt Education e Behavior, v. 33, n. 1, 2006, p. 40-51. KOEZUCA, N. et al. The Relationship between Sedentary Activities and Physical Inactivity among Adolescents: Results from the Canadian Community Health Survey. Journal of Adolescent Health, v. 39, n. 4, p. 515 522. 2006. MATSUDO, S. et al. Nível de atividade física da população do estado de São Paulo: análise de acordo com o gênero, idade, nível sócio-econômico, distribuição geográfica e de conhecimento. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 10, n. 4, p. 41-50, out. 2002. NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001. 238 p. NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3ª ed. Londrina: Midiograf, 2003. 278 p. OEHLSCHLAEGER, M. H. K. et al. Prevalência e fatores associados ao sedentarismo em adolescentes de área urbana. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 175-163, abr. 2004. ROLIM, M. K. S. B. Auto-eficácia, estilo de vida e desempenho cognitivo de adolescentes ativos e sedentários. 2006. 131 p. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
ROLIM, M. K. S. B.; MATIAS, T. S. SEGATO, L. ANDRADE, A. Saúde percebida de adolescentes ativos e sedentários. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 18, p. 367-370, maio 2007. SEABRA, A. F. T. et al. Influência de determinantes demográfico-biológicos e sócio-culturais nos níveis de atividade física de crianças e jovens. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 6, n. 2, p 62-72. 2004. SOUZA, G. S.; DUARTE, M. F. S. Estágios de mudança de comportamento relacionados à atividade física em adolescentes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, n. 2, mar./abr. 2005. TELAMA, R.; NUPPONEN, H.; PIÉRON, M. Physical activity among young people in the context of lifestyle. European Physical Education Review, v.11, n. 2, p.115 137. 2005. VIEIRA, V. C. R.; PRIORE, S. E.; FISBERG, M. A atividade física na adolescência. Adolescência Latinoamericana, Porto Alegre, v. 3, n. 1, ago. 2002. 1 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA UNISUL 2 CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E DESPORTOS UDESC.