EDUCAÇÃO: TRAJETÓRIA E OS DESAFIOS DE UMA JOVEM INDÍGENA 1

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Transcrição:

EDUCAÇÃO: TRAJETÓRIA E OS DESAFIOS DE UMA JOVEM INDÍGENA 1 Sandreane Rocha da Silva Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Geografia UFMA Campus Grajaú Otaisa Silva Oliveira Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Geografia UFMA Campus Grajaú Ramon Luís de Santana Alcântara Orientador - Prof. Adjunto I, curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Geografia UFMA-Campus Grajaú. Resumo: Esta pesquisa tem como proposta a análise da trajetória educacional e história de vida de uma jovem indígena pertencente à etnia Tentehar/Guajajara. Objetiva refletir como se deu o processo de aprendizagem da jovem nas escolas regulares da educação básica; trajetória e desafios no ensino superior; suas relações interétnicas na cidade; as relações entre sua trajetória na educação formal e seu processo identitário. Utilizam-se como procedimentos metodológicos de coleta um questionário com perguntas discursivas e como metodologia de análise se baseia nos pressupostos da história de vida. Para referendar as análises, trabalha-se com a perspectiva pós-colonial para a compreensão das relações de poder interétnicas, tal como em Alcântara (2015) e Coelho (2002). Conclui-se que apesar de todo marco legal dos direitos iguais, ainda persiste em Grajaú-MA muito preconceito e discriminação. Essa realidade atravessa o processo de construção de identidade e a vida educacional da jovem pesquisada, como uma manifestação da colonialidade. Palavras-Chave: Educação. Povos indígenas. História de vida. INTRODUÇÃO O presente trabalho trata acerca da trajetória educacional de uma jovem índia pertencente à etnia Tentehar/Guajajara, da Terra Indígena Bacurizinho, localizada no município de Grajaú, Maranhão. Os objetivos desse trabalho é analisar sobre como se deu o processo de aprendizagem da jovem pesquisa, enfatizando a educação como fator principal, a fim de compreender quais as influências das relações educacionais interétnicas em seu processo identitário e suas implicações interculturais, buscando diminuir a invisibilidade dos povos indígenas, para que os seus valores culturais sejam respeitados. Cabe destacar as principais dificuldades encontradas e apontadas pela jovem durante sua vida desde educação básica até o ensino superior. 1 Trabalho oriundo de pesquisa de iniciação científica

O município de Grajaú - MA está situada na parte centro-sul do Maranhão com uma população de 62.093 habitantes, segundo IBGE (2010). Destes, uma parcela indígena, os Tentehar/Guajajara residem em uma reserva indígena demarcada e protegida pela Fundação Nacional do índio (FUNAI). Os Tentehar, como sugere Coelho (2002, p. 319), tem sua identidade territorializada, portanto o espaço físico é fundamental ao seu processo de identificação. As terras indígenas demarcadas são fruto das disputas pela conformação das fronteiras nacionais (COELHO, 2002 p. 312), e em Grajaú esse histórico de disputa e conflitos é algo muito forte na região, toda essa relação contribuiu para a fundamentação do preconceito na região. Atualmente o município conta com várias Instituições de Ensino Superior, sendo 02 (duas) universidades públicas, a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), além de instituições privadas como a Anhanguera Educacional entre outras. No entanto ingresso/permanência de indígenas nas universidades é ainda pequena. No período em que foi desenvolvida a pesquisa foram identificadas a presença de apenas uma jovem que se declara indígena pertencente aos povos Tentehar nos cursos regulares da UFMA. Esse é um fato relevante para explicar porque embora os indígenas tenham conquistado seu espaço através das lutas empenhadas pelos movimentos sociais e dos próprios povos originários, é persistente a invisibilidade e o preconceito contra os indígenas na cidade, isso reflete na educação e na mínima representação dos mesmos na universidade. De maneira sucinta, podemos afirmar que uns dos principais problemas esta relacionado à deficiência na educação básica desses jovens, no sentido de que a realidade encontrada por eles nas escolas e universidades é bastante diferente da oferecida nas escolas dentro das Terras Indígenas. Outrossim, esta relacionado a dificuldade em falar o português correto, sendo este, um dos principais problemas e motivos de evasão de alguns indígenas da escola. Além disso, muitos deixam suas casas e pela primeira vez vão morar na cidade e enfrentam desafios diferentes do que estavam acostumados em seu cotidiano. Diante de todas essas dificuldades, as ações afirmativas se tornam, mais que necessárias, para que o acesso à educação pelos indígenas possa ser sólido e palpável, de forma que seja efetivamente utilizado por eles.

ENTRE INVISIBILIDADE E PRECONCEITO Para a escolha do tema foi levado em consideração à problemática falta de indígenas nas universidades do município de Grajaú-MA, e o preconceito que ainda é notório como uma representação colonial se reproduz nos meios sociais no município. Portanto buscou-se refletir acerca da trajetória educacional e história de vida de uma jovem índia Tentehar, estudante do curso de Ciências Humanas na UFMA. Nesse sentido para realização da pesquisa baseia-se nos pressupostos de história de vida relatos de vivencias através de questionário discursivo, por meio de entrevista, estabelecendo um diálogo com autores como Santos e Silva (2002) que nos auxiliam a entender como método da história de vida permite entender a realidade pesquisada, para ele objetivo do método da história de vida é ter acesso a uma realidade que ultrapassa o narrador por meio da historia de vida contada, da maneira que é própria do sujeito, tentamos compreender o universo do qual ele faz parte. As contribuições do autor dão subsídio para entender a relação entre os relatos da jovem indígena entrevistada e novos elementos analíticos para entender esse tipo de método, portanto a importância desse tipo analise é uma aproximação entre a realidade dos sujeitos e o universo da qual ele esta inserido. A jovem indígena começou sua trajetória educacional na escola indígena na aldeia, alfabetizada em tupi pelo seu pai, aos cinco anos de idade iniciou a alfabetização nas escolas do município e se deparou com diversos problemas entre eles a dificuldade de falar e escrever o português, como ela relata: Eu que vim de cultura diferente, tudo era novidade para mim, sentia medo, com o tempo fui me adaptando, aprendendo e compreendendo o português e os conteúdos passados pela professora. No ensino médio já estava fluente no português facilitando a compreensão dos conteúdos. No entanto raramente conseguia expor meus conhecimentos devido ao medo que sentia de falar algum português errado [...] (JOVEM INDÍGENA TENTEHAR). Para Santos (2010, p. 31), a desigualdade dos diferentes enquanto humana é a forma mais radical de produção das desigualdades. E quando o indígena passa a ser um estudante das escolas do estado, sofrem discriminação por não falarem o português fluente, passando por tratamentos e olhares de reprovação e julgamentos preconceituosos de até mesmo alguns professores. Toda essa problemática remete às questões sociais e um histórico violento contra os Tentehar em Grajaú, e a generalização do preconceito existente, até a língua materna acaba sendo evitada conforme relatou a jovem entrevistada, ela falava a língua materna tupi, mas a partir do

contato com a escola passou a falar o português em determinados ambientes principalmente na escola e universidade, e a língua materna apenas na aldeia. Essa realidade é visível entre alguns indígenas que não se declaram descendentes ou pertencentes a alguma etnia por vergonha e/ou medo de preconceito. Como apontado em pesquisa em Grajaú, ouvi relatos de alguns professores da rede sobre casos de jovens Tentehar que estavam solicitando que não fosse mencionado o sobrenome indígena na hora da chamada (ALCÂNTARA, 2015, p. 122). Apesar dos problemas enfrentados pela jovem na educação básica e os desafios, ela não desistiu do sonho de concluir o ensino médio e entrar na universidade para crescer intelectualmente e profissionalmente, ajudar a família e o seu povo indígena. Tinha como meta defender e preserva sua cultura a partir de conhecimentos adquiridos no ensino superior e foi incentivada pelos seus pais e irmãos que ela iniciou a graduação. Questionada sobre como foi seu primeiro contato com a universidade, destaca que no iniciou foi difícil, tudo novo, ela se sentia insegura, teve que se redescobrir em um ambiente diferente do que estava acostumada. Por que embora a universidade seja um espaço para a formação critica e luta pela transformação social, a reprodução da colonialidade do ser ainda é reproduzida de forma subjetiva e sobre isso ela relata: na universidade um lugar que deveria ser de criticismo, de reflexão o preconceito ainda persiste e passei tudo isso [...] (JOVEM INDIA TENTEHAR). Além dessas dificuldades apresentadas, quando o indígena passa a ser um estudante universitário, acaba passando por diversos problemas, como a desvalorização e adaptação, o deslocamento da aldeia até universidade, os gasto financeiros, que não são levados em consideração, mas se faz necessário para permanência na graduação, para a jovem foi um desafio, além de problemas sociais como falta de incentivo e oportunidades através de bolsas para os estudantes indígenas, falta transporte na universidade, a desigualdades entre outros problemas encontrados por ela. Alcântara (2015) enfatiza a invisibilidade e sobre como os estudantes Tentehar são percebidos dentro da universidade: [...] sobre a situação como os alunos e professores concebem os Tentehar, nos cursos de Ciências Naturais e Humanas, alguns sujeitos apresentaram uma percepção dessa situação de invisibilização e preconceito contra os Tentehar, mas analisaram que, atualmente, as relações estão mais amistosas e que os Tentehar vêm conquistando uma valorização frente à sociedade Grajauense (ALCÂNTARA, 2015, p. 122). Em relação aos indígenas na universidade, essa realidade ela reconhece que precisa ser mudada e tudo isso depende de governos e de politicas públicas e ações afirmativas voltadas para

eliminar ou mesmo amenizar o sofrimento daqueles que buscam uma graduação. Apesar de todas as dificuldades para ela é importante ter acesso à educação, principalmente à educação superior, para adquirir formas de empoderamento e poder usufruir dos seus conhecimentos, poder assumir poder e ter a possibilidade de ajudar seu povo na construção de saberes e manter sua identidade e sua cultura. Diante dessas análises, percebe-se que o grande dilema enfrentado pela jovem indígena é reproduzido de forma comum entre os povos indígenas que procuram uma educação no município, isso remete as visões errôneas que a sociedade Grajauense tem no que se refere à cultura indígena, é uma sociedade muito preconceituosa, como descreve Alcântara (2015): Esses relatos se somam a outros tantos que pude ouvir dos alunos, dos professores da rede e da sociedade Grajauense em geral, todos marcados pelo preconceito contra o modo de ser dos Tentehar. Apelidos que desvalorizam a cultura indígena são usados frequentemente contra as crianças e jovens Tentehar (ALCÂNTARA, 2015, p. 128). A função da escola é mostrar novas realidades para seus alunos, é função da universidade construir novos caminhos e oportunidades e com isso demonstrar que mais ações sociais devem ser pensadas, debatidas e construídas para e pelos indígenas. Uma vez que esses ao buscarem seus direitos e uma educação melhor, encontram muitas cobranças desde a mudança na dinâmica de aprendizagem que é diferente das encontradas nas escolas indígenas, até os problemas sociais existentes e quando chegam ao ensino superior enfrentam inúmeras barreiras, dificultando a permanência na universidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com este trabalho percebemos que muito se tem avançado, mais ainda tem muito que melhorar em relação à educação e ao respeito pela cultura dos povos indígenas. É necessária uma educação e ações afirmativas voltadas a essas populações, que não são oferecidas de bom grado pelos governos, e em Grajaú a produção e reprodução da colonialidade é um prisma para retratar todo o preconceito existente. Ao apresentar as dificuldades vividas pela jovem indígena buscamos demonstrar a importância da educação independente de etnia, todos têm direito a ter um ensino de qualidade e igualdade, para manter a sua identidade e preservar a cultura. Observamos que apesar de todo marco legal dos direitos iguais, o espaço garantido por meios de lutas sociais a esses povos, a reprodução dos preconceitos como uma manifestação da

colonialidade nacional é presente em todo o aspecto em Grajaú pelo o discurso colonial que busca inviabilizar os povos indígenas. Pensar formas de amenizar a desigualdade e discriminação contra esses povos faz se necessário principalmente em um cenário marcado por conflitos entre índios e não índios. Além de ações afirmativas e sociais no contexto educacional e na universidade, é preciso discussões a ser pensadas e debatidas sobre essas problemáticas. Como um meio de dar oportunidade a outros jovens indígenas, assim como a jovem pesquisada, que objetiva seguir estudando aprimorando seus conhecimentos buscando seu espaço, interligando sua trajetória formal ao seu processo identitário, sendo protagonistas de sua própria história, buscando ser atendidas em suas especificidades, pela necessidade de defender e preservar sua cultura e seu povo. Uma vez que é direito dos povos indígenas ser inseridos na educação e ter um ensino de qualidade, como o acesso às universidades, ganhando mais visibilidade. REFERÊNCIAS ALCANTARA, Ramon Luís de Santana. Formação para diversidade? Desafios de professores em Grajaú - MA. Tese de doutorado. Universidade Federal do Maranhão. Programa de Politicas Publicas. São Luiz, 2015. COELHO, Elizabeth Maria B. Territórios em confronto: a dinâmica da disputa pela terra entre índios e bancos no Maranhão. São Paulo: Hucitec, 2002. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. BARROS, V. A.; SILVA, L. R. A pesquisa em História de Vida. In: GOULART, I. B. (org.) Psicologia Organizacional e do Trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.