COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NA CONSULTA DE ENFERMAGEM À IDOSOS HIPERTENSOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

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Transcrição:

COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NA CONSULTA DE ENFERMAGEM À IDOSOS HIPERTENSOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA Lucélia Malaquias Cordeiro 1 Raquel Rodrigues da Costa 2 Rayssa Cavalcante Fernandes 3 Rebeca Bandeira Barbosa 4 Ana Cristina Oliveira Barreto 5 Maria Célia de Freitas 6 EIXO II. EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE RESUMO O objetivo deste trabalho é relatar a colaboração de uma equipe multiprofissional na consulta de enfermagem a pacientes hipertensos. Durantes as consultas do referido estudo os profissionais interagiram mutuamente com interdependência no processo de trabalho, compartilhando o processo de tomada de decisão para alcançar uma melhora de saúde do idoso. Há a necessidade de um comprometimento de todos os profissionais envolvidos. Na vivência da Residência pode-se observar através das consultas compartilhadas a eficiência do cuidado, trazendo o olhar holístico ao paciente, muitas vezes perdido devido à mecanização do atendimento ou a complexidade dos pacientes. Percebeu-se que as pessoas atendidas passaram a ser vistas de forma mais integral, e a conquista por melhores condições de saúde foi um resultado na grande maioria dos casos. 1 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCLIS). Membro do Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade (GRUPEESS) na Linha de Pesquisa Cuidados Clínicos ao Idoso e Práticas Educativas. E-mail: luceliacordeiro@gmail.com. 2 Enfermeira da Estratégia Saúde da Família. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCLIS). Membro do Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cronicidades e Cuidados de Enfermagem (GRUPECCE). 3 Enfermeira. Especialista em Enfermagem Cardiovascular e Hemodinâmica. 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública (UFC). 5 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (UFC). 6 Enfermeira. Pós-Doutora em Enfermagem (UFRJ). Doutora em Enfermagem (USP). Mestre em Enfermagem (USP). Docente da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

INTRODUÇÃO De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas últimas décadas, a composição da população por grupo etário vem apresentando mudanças significativas como o estreitamento da base da pirâmide, aumento relativo da população de 25 a 29 anos e o notório alargamento do topo da pirâmide, indicando maior longevidade (BRASIL, 2011). O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo que causa diversas alterações no organismo, sejam elas de ordem morfológica, psicológica, funcional ou biológica, levando à diminuição da capacidade funcional e ao desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis (FERREIRA et al., 2008), sendo a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) a mais prevalente (TAVARES et al., 2011; MENDES; MORAES; GOMES, 2014). A HAS é um importante fator de risco cardiovascular modificável. Devido a sua alta prevalência e sua relação causal com todas as doenças cardiovasculares, a Hipertensão Arterial é o principal fator de risco para a mortalidade em todo o mundo, revelando-se como importante problema de saúde pública (WHO, 2009). Para o idoso hipertenso não-controlado, mais anos vividos podem significar anos de sofrimento, uma vez que se torna necessária a aceitação da doença e a mudança brusca no estilo de vida. Este período pode ser marcado por doenças, com sequelas, declínio funcional e dependência, perda da autonomia, isolamento social e depressão. Por outro lado, se o idoso consegue manter a autonomia e a independência, com boa saúde física, permanecendo ativo e desfrutando de senso de significado pessoal e social (NUNES, 2001). Com o aumento da sobrevida dos pacientes com doenças crônicas não-transmissíveis, a equipe de saúde, em especial o enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família, precisa traçar ações de atenção à saúde que visam à prevenção e tratamento eficaz, com o diagnóstico precoce e controle dos níveis pressóricos, afim de evitar suas complicações e manutenção da autonomia do idoso. A adoção de tratamento não-farmacológico é um importante e necessário recurso para controle da HAS.

A atuação do Enfermeiro nas unidades básicas de saúde se faz, em especial, mediante a consulta de enfermagem que tornou-se privativa do enfermeiro pela promulgação da Lei 7.498, de 25 de junho de 1986, com a regulamentação do exercício da Enfermagem pelo Decreto nº 94.406/87 (BRASIL, 1986). Na consulta ocorre o acompanhamento sistemático e educação em saúde dos clientes com hipertensão arterial, o enfermeiro torna-se responsável pelas orientações quanto à importância do controle da pressão arterial, acerca da continuidade do tratamento e na prevenção de sequelas decorrentes dessa doença (MOREIRA, ARAÚJO, PAGLIUCA, 2001). Percebendo a complexidade da terapêutica para os portadores de HAS, principalmente relacionado à mudança no estilo de vida, é preconizada a intervenção interdisciplinar, exigindo diferentes abordagens em uma ação conjunta e integrada, podendo proporcionar maior número de informações que por sua vez propiciam atitudes mais efetivas no controle da doença (ARAÚJO; GARCIA, 2006). Dentro deste contexto, percebe-se a importância de uma intervenção interprofissional no tratamento de idosos portadores de HAS no contexto da Atenção Primária à Saúde. O objetivo deste trabalho é relatar a colaboração de uma equipe multiprofissional na consulta de enfermagem a pacientes hipertensos. METODOLOGIA Estudo descritivo, do tipo relato de experiência construído a partir da prática profissional vivenciada por uma equipe multiprofissional, a saber, enfermeira, assistente social, nutricionista e psicólogo, atuando como residentes em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde promovido pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Realizou-se o estudo em uma unidade básica de saúde em um município do interior do Estado do Ceará, no período de março de 2015 até o fevereiro de 2017. A interprofissionalidade era estimulada na Residência desde o inicio da vivência, o assunto era debatido nas aulas teóricas e vivenciado na prática profissional.

A equipe de referência do programa de residência, que era constituído no caso do estudo, por enfermeiras selecionavam os casos mais complexos, como por exemplo, mais resistentes a mudanças no estilo de vida, ineficiência na manutenção dos níveis pressóricos, entre outros, para a atuação interprofissional. Foi percebido que a clientela mais resistente a mudanças no estilo de vida eram os idosos, por isso estes foram os de maior assistência interprofissional. As consultas compartilhadas eram agendadas pelos enfermeiros juntamente com os usuários. Esta atuação se constituía em consultas compartilhadas entre enfermeiros, nutricionistas, em alguns casos a assistente social, principalmente quando os idosos possuíam algum problema no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e por isso não tinham condições financeiras de arcar com alguns medicamentos anti-hipertensivos, comprometendo a sua saúde. A atuação do psicólogo era necessária nos casos de idosos que por conta do isolamento social dentre outros motivos, não se viam motivados a aderir ao tratamento. O nutricionista realizava a prescrição de um plano alimentar individual para cada indivíduo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Atenção Primária em Saúde (APS), o enfermeiro tem a oportunidade de acompanhar seus usuários com maior vínculo e interação. Na ocasião da consulta de enfermagem com pacientes idosos com doenças crônicas como os portadores de HAS, esse profissional tem a capacidade de ir além do enfoque biomédico e atuar sobre as condições que influenciam no adoecimento dessa população. A referida experiência profissional mostra que se deve fugir de ações que somente contemplem a prescrição e transcrição de medicamentos, sendo necessário ir além desses preceitos para atuar em favor de uma melhora na condição de saúde desse público, levando em conta suas experiências, suas necessidades, desejos e disponibilidade. Os idosos, mesmo portadores de patologias, tem que serem vistos conforme sua subjetividade, fato esse que é bem melhor explorado na consulta de enfermagem do que em grandes grupos.

Nessa perspectiva, o profissional tem saber proporcionar um ambiente estimulante, livre de julgamentos, que gere confiança e favoreça uma consulta de qualidade. Nesse contexto, deve-se ver o usuário não apenas como um ser hipertenso, mas ampliar o olhar para ele enquanto indivíduo, compreendendo que ele está inserido em um contexto social, cultural, e possui suas subjetividades. Deve-se, portanto, respeitar suas crenças, costumes e percepções, não apenas no que se refere a patologia, mas na alteração do seu cotidiano devido a essa doença e seu regime de tratamento (PEREIRA, 2015). É necessária uma atenção especializada ao idoso, pois o processo de envelhecimento é dinâmico e progressivo e causa diversas alterações no organismo (MENDES; MORAES; GOMES, 2014). Há o desenvolvimento do processo aterosclerótico que acomete artérias e arteríolas, diminuindo a elasticidade das mesmas. Com isso ocorre rigidez da parede dos vasos que tende a aumentar a pressão arterial (PA), principalmente a sistólica (LONGO; MARTELLI; ZIMMERMANN, 2011; GAZONI, 2009). Consequentemente, com a instalação da HAS, há aumento do risco de comorbidades como infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal crônica e acidente vascular encefálico (MENDES; MORAES; GOMES, 2014). Dessa maneira, a consulta de enfermagem deve enfocar nas medidas não farmacológicas de controle da HAS, e também na realidade dos idosos, esse profissional deve buscar a adequação da alimentação e a realização de atividades físicas regulares, sempre respeitando seus limites e peculiaridades. Portanto, essa atividade como fora supracitada é um momento propício para as ações de educação em saúde, que também objetivam promover a construção de vínculo, escuta qualificada, dando atenção especial para o que é específico daquele usuário (ACIOLI et al., 2014). Contudo, o modelo predominante de educação e desenvolvimentos dos trabalhadores da saúde é uniprofissional (COSTA et al., 2014) e tem como desdobramento a fragmentação do cuidado e a fragmentação de saberes e práticas. Porém com o aumento das doenças crônicas, é necessário um novo perfil profissional, preparado para abordar as múltiplas dimensões das necessidades de saúde dos usuários, mediante a colaboração interprofissional (FEUERWERKER, 2012; MENDES, 2011).

A interprofisionalidade é uma ferramenta que facilita a integralidade do cuidado, melhorando os resultados em saúde. Segundo Mendes (2011) a interdisciplinaridade é compreendida como a interação dinâmica entre os saberes e como ponto auxiliar do processo de trabalho e a efetividade do cuidado, na medida em que diferentes conceitos podem interagir. Nessa pespectiva, a interdisciplinaridade na Residência Multiprofissional é um dos eixos estruturantes. A residência favorece uma possibilidade de qualificação profissional não apenas para os residentes, mas também para o serviço que os recebe, incentivando a reflexão sobre a prática desenvolvida e as possibilidades e limites para transformá-la (NASCIMENTO, OLIVEIRA, 2007). Durantes as consultas do referido estudo os profissionais interagiram mutuamente com interdependência no processo de trabalho, compartilhando o processo de tomada de decisão para alcançar uma melhora de saúde do idoso. Há a necessidade de um comprometimento de todos os profissionais envolvidos. Além das consultas compartilhadas, para os casos mais complexos foi realizado o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e o ecomapa. Foi percebido um cuidado mais efetivo na saúde do idoso, e as ações para esta clientela devem ser voltadas para a manutenção da autonomia para viabilizar uma vida com qualidade. Claramente estas ações não são tão efetivas se forem realizadas de modo uniprofissional, pois as demandas singulares do indivíduo ultrapassam os cuidados de enfermagem. Na vivência da Residência pode-se observar através das consultas compartilhadas a eficiência do cuidado, trazendo o olhar holístico ao paciente, muitas vezes perdido devido à mecanização do atendimento ou a complexidade dos pacientes. Cada profissional contribuiu com os conhecimentos específicos advindo de sua área de formação para compreensão das situações e traçar condutas necessárias. Porém é equivocado pensar que o problema é a completude da complexidade, pois no cenário da Residência pode-se constatar que o grande entrave é a incompletude do conhecimento. CONCLUSÃO

O trabalho interdisciplinar é um grande desafio a ser conquistado. Algo que precisa ser viabilizado desde a formação acadêmica através de projetos como esse ou de disciplinas que contemplem tais práticas. Percebeu-se que as pessoas atendidas passaram a ser vistas de forma mais integral, e a conquista por melhores condições de saúde foi um resultado na grande maioria dos casos. Os profissionais de saúde devem atuar de modo interprofissional para postergar ao máximo as complicações da hipertensão, promovendo ao idoso um envelhecimento ativo e saudável. REFERÊNCIAS ACIOLI, Sonia; et al. Práticas de cuidado: o papel do enfermeiro na atenção básica. Rev enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2014 set/out; 22(5):637-42. ARAÚJO, G. B. S.; GARCIA, T. R. Adesão ao tratamento antihipertensivo: uma análise conceitual. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 02, p. 259 272, 2006. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Características da população e dos domicílios: Resultados do universo. Rio de janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2011. 270p. BRASIL. Lei nº 7.498, 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 1986. Seção 1: 9273-5. COSTA M.V. A educação interprofissional como abordagem para a reorientação da formação profissional em saúde [Tese]. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2014. FEUERWERKER, L. Educação permanente em saúde: uma mudança de paradigmas. Olho mágico, v. 12, n. 3, p. 13-20, 2012. FERREIRA, O.G.L. et al. Envelhecimento ativo e sua relação com a independência funcional. Texto Contexto Enfermagem, Santa Catarina, v. 21, n. 3, p. 513-518, 2012. GAZONI, F.M. et al. Hipertensão sistólica no idoso. Rev Bras Hipertens., v. 16, n. 1, p. 34-37, 2009. LONGO, M.A.T.; MARTELLI, A.; ZIMMERMANN, A. Hipertensão arterial sistêmica: aspectos clínicos e análise farmacológica no tratamento dos pacientes de um setor de psicogeriatria do Instituto Bairral de Psiquiatria, no município de Itapira, SP. Rev Bras Geriatr Gerontol, v. 14, n. 2, p. 271-284, 2011.

MENDES, E.V. As redes de atenção à saúde. 2 ed. Organização Pan- Americana de Saúde: Brasília, 2011. MENDES, Gisele Soares; MORAES, Clayton Franco; GOMES, Lucy. Prevalência de hipertensão arterial sistêmica em idosos no Brasil entre 2006 e 2010. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Rio de Janeiro, v. 9, n. 32, p.273-278, setembro, 2014. MOREIRA, T.M.M.; ARAUJO, T.L.; PAGLIUCA, L.M.F. Alcance da teoria de King junto a famílias de pessoas portadoras de hipertensão arterial sistêmica. Rev Gaúcha Enferm, v. 1, n. 22, p. 74-89, 2001. NASCIMENTO, D.D.G; OLIVEIRA, M.A.C. A política de formação de profissionais da saúde para o sus: considerações sobre a residência multiprofissional em saúde da família. Rev Mineira de Enf. v.10, n.4, p. 1-5. 2007 NUNES, M.I. Quality of Life in the Elderly Hypertensive. Eur J Prev Cardiol, v. 8, n. 5, p. 265-9, 2001. PEREIRA, Ivana Maria Onofri. Proposta De Intervenção Interdisciplinar Para A Adesão Dos Pacientes Ao Tratamento Da Hipertensão Arterial Sistêmica. Liph Science, v. 2, n. 2, p. 21-40, abr./jun., 2015. TAVARES, D.M.S. et al. Qualidade de vida de idosos com e sem hipertensão arterial. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.13, n. 2, p. 211-218, 2011. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global health risks: mortality and burden of disease attributable to selected major risks. Geneva, 2009. GAZONI, F.M. et al. Hipertensão sistólica no idoso. Rev Bras Hipertens., v. 16, n. 1, p. 34-37, 2009. LONGO, M.A.T.; MARTELLI, A.; ZIMMERMANN, A. Hipertensão arterial sistêmica: aspectos clínicos e análise farmacológica no tratamento dos pacientes de um setor de psicogeriatria do Instituto Bairral de Psiquiatria, no município de Itapira, SP. Rev Bras Geriatr Gerontol, v. 14, n. 2, p. 271-284, 2011.