ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA PEDAGOGIA ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO



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Transcrição:

0 ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA PEDAGOGIA ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES SERRA 2011

1 ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profª. Mestre Vânia Rosa Rodrigues SERRA 2011

2 ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Aprovada em 07 de Julho de 2011. COMISSÃO EXAMINADORA Profª Mestre Vânia Rosa Rodrigues Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Orientadora Profª Especialista Carina Sabadim Veloso Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 1 Profª Mestre Rosimar Macedo Alves Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 2

Dedicamos primeiramente a Deus, aos nossos familiares que sempre estiveram conosco durante toda essa árdua jornada, nos incentivando a cada minuto e não nos deixando desistir jamais. 3

A Profª. Vânia Rosa Rodrigues por toda orientação e carinho a nós dispensada. Obrigada por sempre acreditar em nós, e por todas as palavras animadoras. Aos nossos professores que de forma clara e concisa contribuíram para nossa formação acadêmica. Aos nossos entrevistados que de forma dispendiosa contribuíram para o enriquecimento desta pesquisa e principalmente nos abriram os olhos para uma educação mais humanizada e afetiva. 4

5 "Todos podem ver as táticas de minhas conquistas, mas ninguém consegue discernir a estratégia que gerou as vitórias". (Sun Tzu)

6 LISTA DE SIGLAS CNEFEI Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas SEESP Secretaria da Educação do Estado de São Paulo MEC Ministério da Educação e Cultura SED Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina ECA Estatuto da Criança e do Adolescente LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente PRONAICA Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente CNE Conselho Nacional de Educação CEB Câmara de Educação Básica PNHAH Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar

7 RESUMO A presente pesquisa vem apresentar a Pedagogia Hospitalar como uma modalidade de ensino, que busca legalmente proporcionar a criança e ao adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos, visando sua reintegração ao ambiente escolar e à sociedade. Utilizou-se para tanto, o emprego da pesquisa em caráter qualitativo e de natureza bibliográfica em que se utilizou como método o estudo de caso tendo como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas. Será abordado um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, os parâmetros legais referentes a esta modalidade de ensino, a estrutura curricular em ambiente hospitalar ainda como uma lacuna existente, a necessidade da formação específica dos profissionais atuantes em ambiente hospitalar, sendo esta tanto acadêmica/teórico como também o preparo emocional, a humanização e a afetividade como fundamentos necessários à prática pedagógica hospitalar. Será abordada a atuação do pedagogo em diferentes olhares dos sujeitos envolvidos no processo de reintegração e reinserção da criança e adolescente hospitalizado como: um Pedagogo da rede regular de ensino, um Pedagogo atuante em ambiente hospitalar, um médico pediatra e uma mãe de uma adolescente hospitalizada atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Comprovando assim, que o Pedagogo hospitalar vem contribuir com a família e com toda a equipe de saúde para a recuperação integral do educando hospitalizado. Auxiliando-o no autoconhecimento de sua patologia, elevando sua autoestima como também por muitas vezes o lidar com a possibilidade da morte. Palavras-Chaves: Modalidade de ensino, Currículo, Formação, Humanização, Afetividade.

8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...10 2 METODOLOGIA...13 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...14 3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR...14 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR...18 3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR...21 3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR...25 3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS ATUANTES EM AMBIENTE HOSPITALAR...28 3.6 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR...34 3.7 LIMITES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR...40 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS/ESTUDO DE CASO...43 4.1 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO...43 4.2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO HOSPITALAR...48 4.3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO MÉDICO PEDIATRA...55 4.4 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DE UMA MÃE...61 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...67 6 REFERÊNCIAS...68

9 APÊNDICES...71 APÊNDICE A QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO...72 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM PEDAGOGO HOSPITALAR...73 APENDICE C QUESTINÁRIO DE ENTREVISTA COM O MÉDICO PEDIATRA...74

10 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa aborda o tema da Pedagogia Hospitalar, pois, a atuação do pedagogo em ambientes extra-escolares vem se ampliando, não podendo mais se restringir somente à educação sistemática. Neste sentindo a prática pedagógica deve além de ensinar, resgata a autoestima de cada criança/adolescente hospitalizado, levando-o a aceitar naquele momento, a sua relação com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável. No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar. A Pedagogia Hospitalar nos dias atuais tem sido um recurso a mais dentro da área da educação para transmitir e levar conhecimento, não importando o espaço em que está sendo trabalhado, mas sim importando o aluno que necessite deste apoio fora do espaço escolar. Por esse motivo, torna-se fundamental uma formação específica de Pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, sendo necessário por parte deste profissional um comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente. Exercer a função fora da escola é um desafio que o professor como pedagogo tem superado a cada dia, promovendo um espaço lúdico, afetivo, com amor para a criança se sentir estimulada a dar continuidade a seus estudos. Podemos considerar a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar algo novo em nossa sociedade e pouco se fala e se escreve sobre o assunto. Por isso a presente pesquisa busca como objetivo conceituar o que é Pedagogia Hospitalar, quais seus parâmetros legais vigentes, a rotina do pedagogo neste ambiente, qual o profissional que atua junto com o pedagogo e a relação familiar dentro de todo este contexto.

11 Além desta introdução, a fundamentação teórica da pesquisa está organizada em 07 capítulos, análise dos dados coletados e considerações finais. No capítulo 1, abordamos a concepção da Pedagogia Hospitalar em que vem sendo descoberta por aqueles pacientes que se encontram internados dentro do ambiente hospitalar e que com a parceria das equipes multidisciplinares e a classe que é o local de atendimento realizam integração do aluno no meio social de forma a realizar uma ponte entre a escola e o aluno que necessita da continuidade de seus estudos. No segundo capítulo, abordamos um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, desde o seu surgimento em 1935, tendo como o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas, até a atualidade com o objetivo de proporcionar a criança e adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos. No terceiro capítulo, abordaremos os parâmetros legais destinados à Pedagogia Hospitalar viabilizando a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e domiciliar, assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa forma o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos. No quarto capítulo, será contextualizado o planejamento curricular no que diz respeito ao atendimento pedagógico no ambiente hospitalar sendo necessário, portanto que o professor atuante em ambiente hospitalar precisa estar ciente que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. No capítulo 5, será abordada a formação específica de Pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, sendo esta necessária para um atendimento de qualidade devido uma nova escuta do pedagogo e de quebra de paradigmas no que diz respeito à educação fora do ambiente escolar. No sexto capítulo, abordamos a humanização e a afetividade como vertentes necessárias à Pedagogia Hospitalar. Devido à necessidade do novo olhar do pedagogo quanto às necessidades especiais dos alunos hospitalizados, criando assim ambientes acolhedores que estimulem a capacidade da criança e adolescente hospitalizados a sonhar com o retorno de sua vida escolar, o sonho de uma nova vida.

12 No capítulo 7, abordamos os limites impostos pela doença a cada dia, em que há a necessidade do rompimento de barreiras por parte dos pedagogos com a produção de um projeto novo e espaços lúdicos tendo por finalidade elevar a autoestima da criança/adolescente amenizando seu sofrimento perante a doença e seu tratamento. No quarto tópico será descrito e analisado o estudo de caso realizado por meio de entrevistas com um pedagogo atuante em ambiente hospitalar, um profissional médico pediatra, um pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma adolescente hospitalizada diagnosticada com leucemia e que teve atendimento pedagógico durante sua permanência no ambiente hospitalar.

13 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo partindo do pressuposto da relação existente entre a realidade e o sujeito da pesquisa, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito (CHIZZOTTI, 1998, p. 79), em que há uma participação, compreensão e interpretação dos pesquisadores, de natureza bibliográfica não sendo esta a mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas propicia o exame do texto sob novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.183) e da utilização do método de estudo de caso, considerando a investigação mais profunda de um objeto específico, permitindo o aprofundamento no conhecimento. De acordo com Young (apud, GIL, 1991, p. 59) o estudo de caso pode ser definido como: [...] um conjunto de dados que descrevem uma fase ou totalidade do processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, que seja por essa unidade por pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação. Devido à impossibilidade do estudo de caso ser realizado dentro do ambiente hospitalar em decorrência da burocracia existente, não foi possível a observação da Pedagogia Hospitalar in loco, mas mesmo fora desse espaço ouviram-se como sujeitos de pesquisa nessa prática pedagógica no ambiente hospitalar. Utilizou-se assim, como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas com um pedagogo atuante em hospital público, um profissional médico pediatra com especialização em Infectologia também atuante em hospital público, com um pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma adolescente hospitalizada atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Foram utilizados nomes fictícios a fim de preservar a identidade dos sujeitos de pesquisa. A fim de maior compreensão e interpretação, os dados coletados por meio das entrevistas foram analisados por categorias temáticas.

14 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR As palavras pedagogia e hospitalar são termos que pelo dicionário Aurélio possuem definições indiferentes, a pedagogia por sua vez representa teoria e ciência da educação e do ensino já o termo hospitalar quer dizer relativo a hospital, onde se tratam doentes internados ou não. A junção destes dois termos se deu no momento em que se percebeu a necessidade em dar continuidade aos estudos daquelas crianças que estavam afastadas do meio escolar. Na busca pela História da educação no meio hospitalar foi possível perceber em revisões bibliográficas que o incentivo maior da implantação da assistência pedagógica dentro dos hospitais primeiramente para o cuidado infantil foi com a segunda guerra mundial. Mas o termo Pedagogia surgiu na Grécia Antiga, sendo esta a ciência da educação que a história demorou séculos para reconhecer a cientificidade do Pedagogo, somente no século XVIII na Europa Ocidental que concretizou o processo educativo. A Pedagogia Hospitalar é um novo conceito que vem ganhando espaço no âmbito da educação, pois a educação não pode ser mais vista somente ocorrendo no ambiente escolar, mas também fora da sala de aula e um desses ambientes é o hospital que passou a ser espaço do saber. Segundo Matos e Mugiatti (2007, p.37), a Pedagogia Hospitalar: É um processo alternativo de educação continuada que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o atendimento de necessidades especiais transitórias do educando, em ambiente hospitalar e/ou domiciliar. Para aquelas crianças que necessitam dar continuidade ao processo de ensino aprendizagem a Pedagogia Hospitalar é a ponte entre a escola e o aluno facilitando o seu desenvolvimento escolar e possibilitando com que a criança hospitalizada não perca seu ano letivo e o estímulo em dar continuidade aos seus estudos.

15 O primeiro hospital no Brasil segundo estudos já realizados foi o Hospital Municipal Jesus que fica localizado na cidade do Rio de Janeiro que deu inicio ao seu trabalho no ano de 1950 e que mantém seu funcionamento até os dias de hoje. No Brasil temos o Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial que no ano de 2002 publicou um documento que regulariza e fala como deve ser a classe hospitalar e o atendimento pedagógico domiciliar: Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o desenvolvimento e a construção dos conhecimentos para crianças, jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. (BRASIL, 2002, p. 15. 16) Por ser em um hospital a Pedagogia trabalha de forma Inter/Multi/Transdisciplinar abordando variados tipos de culturas, desta forma exige do profissional um atendimento diferenciado e na maioria das vezes individualizado no leito e classe hospitalar que existem nas instituições que possuem esta modalidade de ensino. Este Pedagogo trabalha não só com os alunos, mas com os familiares que acompanham seus filhos e equipes que compõe o trabalho interdisciplinar. Conforme Matos e Mugiatti (2007, p.116), a ação pedagógica, em ambientes e condições diferenciadas, como é o hospital, representa um universo de possibilidades para o desenvolvimento e ampliação da habilidade do Pedagogo/Educador, é preciso buscar a vivência de outros lugares para aperfeiçoar o conhecimento teórico. O seu principal objetivo é promover e integrar o aluno ao hospital o período que se fizer necessário sem que haja trauma para ele e seu familiar dentro do ambiente hospitalar onde desperta angústia e desespero quando a palavra é doença para estes que necessitam deste atendimento diferenciado, Matos e Mugiatti (2007, p. 92) afirmam que: Viver e conviver juntos de forma harmoniosa ainda é um desafio deste século. Pois, pensar em novas propostas, alargar horizontes, integrar saberes, pensar numa nova sociedade é pensar necessariamente em um novo reaculturamento social e educacional.

16 Sobre isto Cardoso (apud, MATOS; MUGIATTI, 2007, p.117) destaca que: Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Assim, a educação - além de transmitir e construir o saber sistematizado - assume um sentido terapêutico ao despertar no educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal. A continuidade dos estudos para estas crianças é de suma importância para a sua identidade critica e a não evasão escolar que existe nos dias de hoje, pois a doença se torna um obstáculo para os alunos/pacientes que precisam permanecer por um tempo determinado no ambiente hospitalar devido ao quadro que se apresenta por este motivo as crianças quando não são acompanhados pelo profissional da educação, sentem-se excluídos do grupo da escola por não conseguir acompanhar o conteúdo e acaba entrando na estatística de evasão escolar. Para Assis (2009, p.17), não é qualquer ensino que promove o desenvolvimento da pessoa enferma; é preciso uma mediação profícua para suscitar-lhe o desejo de superação e de participação no seu processo educativo dentro do contexto hospitalar. E essa promoção do desenvolvimento parte de uma ação em conjunto com a equipe da unidade hospitalar. A Pedagogia Hospitalar veio para intermediar estes alunos pacientes que necessitam dar continuidade aos estudos, este profissional que atende os alunos com necessidades de continuar seus estudos tem que possuir maneiras diferentes de dar sua aula e é preciso elaborar projetos que obtenham uma visão de um todo. Nesta ótica, Matos e Mugiatti (2007, p.117) dizem que a visão do educador, nesse contexto, deve abranger uma perspectiva integradora, uma concepção de prática pedagógica que visualize o conceito integral de educação que promova aperfeiçoamento humano. No entanto para o pedagogo que escolhe trabalhar na área, tem que está sujeito a novos desafios e principalmente a construção de novos saberes para auxiliar estas crianças e adolescentes, consideradas como portadoras de necessidades especiais, pois de acordo com Matos e Mugiatti:

17 Tal condição requer um fazer e um agir que não devem estar vinculados a processos estanques, deixando o educador livre para desenvolver e criticar a sua ação pedagógica, a fim de fazê-la reflexiva e transformadora da realidade que envolve o escolar atendido em contexto hospitalar. (2007, p.116) Essa assistência prestada na educação hospitalar requer do pedagogo um olhar e uma autonomia para tomar decisões de acordo com as necessidades de cada um dentro da área hospitalar, por isso é preciso manter um atendimento diferenciado e flexível que atenda a criança ou adolescente que necessita dar continuidade ao seu processo de formação educativa.

18 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR A Pedagogia Hospitalar surgiu devido à necessidade de a criança continuar seus estudos após a enfermidade que era acometida fosse ela física como as mutilações das guerras como também as doenças patológicas do tipo hanseníase e tuberculose, a escola teve que ir até estes alunos de forma conjunta com a saúde. Na perspectiva de Matos e Mugiatti: Se a ação pedagógica integrada é importante para toda pessoa também o será para a criança (ou adolescente) enferma, considerando que o seu processo de educação foi interrompido, gerando, entre outros impedimentos, o de frequentar a escola regular. (2007, p.46) Essa visão do espaço hospitalar iniciou-se em 1935, quando Henri Sellier inaugurou a primeira escola para crianças inadaptadas, nos arredores de Paris. A sua proposta se estendeu para a Alemanha, França, Europa e Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas. Como marco decisório das escolas em hospital é possível afirmar que foi a Segunda Guerra Mundial, apesar de um marco traumático principalmente para as crianças, fez com que a classe médica se engajasse na defensoria da escola no âmbito hospitalar para que as crianças e jovens daquela época não enlouquecessem dentro do hospital pelas mutilações sofridas. Em 1939, é criado o C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas localizado na cidade de Suresnes em França, tendo como objetivo a formação de professores para o trabalho em institutos especiais e hospitais. Ainda em 1939, é criado o cargo de professor hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. Este Centro Nacional de Estudos tem como missão ate os dias de hoje mostrar que a escola não é um espaço fechado, este promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas, a médicos de saúde escolar e a assistentes sociais. Desde então os C.N.E.F.E.I. têm formado professores para atendimento escolar hospitalar, a duração do curso é de dois anos e até hoje já formou mais de mil professores para as classes hospitalares.

19 No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, com a resolução n 41 de outubro de 1995, no item nove, o Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar. No ano de 2002 o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para atendimento nas classes hospitalares, assegurando o acesso à educação básica. Este documento diz que: O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, tendo em vista a necessidade de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a escola, resolveu elaborar um documento de estratégias e orientações que viessem promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos. (MEC, SEESP, 2002, p.07) Sendo esta publicação do MEC mais recente referente à classe hospitalar e ao atendimento pedagógico domiciliar onde tem direito ao atendimento escolar em ambulatórios de atenção integral à saúde ou em domicilio; alunos que estão impossibilitados de freqüentar a escola por razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas lar e residências terapêuticas. Em Santa Cantarina, a SED baixou a portaria que dispõe sobre a implantação de atendimento educacional na classe hospitalar para crianças e adolescentes matriculados na Pré-Escola e no Ensino Fundamental, internados em hospitais. (portaria nº. 30, SED, de 05/03/2001). Para toda criança e adolescente hospitalizado que frequenta a sala de aula hospitalar deve existir um cadastro de hospitalização e da escola da rede regular de ensino para que ao final de cada aula o professor realize os registros em uma ficha com os conteúdos trabalhados e outras informações que se fizer necessário. De acordo com a Constituição Federal de 1988, conforme artigo 205, Seção I Da Educação, da Cultura e do Desporto:

20 A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988) Configura-se legalmente, a educação um direito de todos e para todos. A área hospitalar não poderia deixar de ser mais um espaço em que seja possível educar, e levar a oportunidade para aqueles que no momento estão com alguma enfermidade, que impossibilita estar na sala de aula. As autoras Matos e Mugiatti em seu livro Pedagogia Hospitalar (2007, p. 65) afirmam que: [...] o que mais importa é que a criança ou adolescente hospitalizado venha receber, sempre e com o máximo empenho, o atendimento a que fazem jus, nessa tão importante fase de sua vida, da qual depende a sua futura estrutura, enquanto pessoa e cidadão. Essa visão afirma o propósito em que a Pedagogia Hospitalar vem proporcionar a estes alunos um suporte para continuação do ensino, amparado por leis que garantem a idoneidade e valida sua existência com a Constituição Federal, onde afirma que todos merecem o direito de estudar.

21 3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR Dentro da pesquisa desenvolvida a primeira referência legal encontrada no Brasil sobre Educação Hospitalar foi no Decreto Lei n. 1044, de 24.10.1969 que diz no seu art. 1º: São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agonizantes, caracterizados por: a) incapacidade física relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes; b) ocorrência isolada ou esporádica; c) duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a continuidade pedagógica de aprendizado, atendendo a que tais características se verificam, entre outros, em casos de síndromes hemorrágicos (tais como hemofilia), asma, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, etc. Em 17/04/75 foi promulgada a Lei 6.202, que atribui à estudante em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares instituído pela lei 1044/69. Que diz no seu artigo 1º: A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto 1044, 21 de outubro de 1969. Parágrafo único. O início e o fim do período em que é permitido o afastamento serão determinados por atestado médico a ser apresentado à direção da escola. Em 1988 com a instituição a Constituição Federal, que em seu art.205 relata: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. E no art. 214 que afirma que as ações do poder público devem conduzir à universalização do atendimento escolar, porém poucas ações efetivas foram consolidadas no ambiente hospitalar. Em 24.10.1989, artigo 2º, inciso I, alínea d, O oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar, em unidades hospitalares e

22 congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a um ano, educandos portadores de deficiência. O ano de 1990 pode ser referendado com um marco para a justiça e para a educação, quando foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na lei 8.069 no seu art. 3º, menciona que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Com o ECA, vários outros órgãos se engajaram em uma luta com vistas à sua implantação. Entre eles, sobressaem o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), o Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA), o Conselho da Comunidade Solidária e os Conselhos Tutelares. O Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da criança e do Adolescente (CONANDA) foi fundado em 1995 e com ele foi possível a elaboração e aprovação da resolução n. 41/95 de 13.10.1995, esta resolução delibera no seu item 9, A criança e o adolescente tem o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar. Em 1996, a legislação em vigor recebe o expressivo reforço da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 20.12.1996, que, no artigo V, prevê que: O atendimento educacional será efetivado em escolas, classes ou serviços especializados, sempre que em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Decreto n. 3.298, de 20.12.1999, artigo 24, inciso V, que estabelece o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por prazo igual ou superior a um ano. Em 2001 temos a Resolução CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Básica) n. 2 no seu artigo 13, parágrafos 1º e 2º, Os sistemas de

23 ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. 1º As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular. 2º Nos casos de que trata este artigo, a certificação de frequência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo professor especializado que atende o aluno. Resolução n. 1 CNE/CP de 18.02.2002 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica. Na exigência da legitimidade desse direito o prof. Amaury César Moraes (2008) salienta: Apenas como nota reclamo que haveria necessidade urgente de uma verdadeira consolidação das Leis da Educação ou um Código de Educação, capaz de dar uniformidade à legislação educacional e, sobretudo, passá-la pelo crivo de juristas com profundo conhecimento em ambos os campos Direito e Educação -, pois o que se percebe muitas vezes é dispositivos legais descambarem para a digressão ou auto interpretação, ultrapassando o seu caráter normativo, restringindo a competência e autonomia de quem aplica e interpreta a lei. Por vezes, por conta de Pareceres e Diretrizes nada sobra para que os sujeitos reais, objeto da legislação, tenham sua concretude reconhecida, isto é, suas vidas são desde já vividas antecipadamente pela legislação. O documento intitulado Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: Estratégias e Orientações, editado pelo MEC, em 2002 estabelece que: O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria Especial, tendo em vista a necessidade de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a escola, resolveu elaborar um documento de estratégias e orientações que viessem promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos. (2002, p. 07)

24 O objetivo principal do documento Classe Hospitalar é criar estratégias e orientações que viabilizem a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e domiciliar, assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa forma o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos. Segundo Mattos e Mugiatti (2007, p.13), a pedagogia hospitalar pretende oferecer à criança e ao adolescente a valorização dos seus direitos à educação e a saúde, como também ao espaço que lhe é devido enquanto cidadão. Nesta ótica, Assis considera que: Tratar do atendimento pedagógico-educacional em instituições hospitalares é considerar a inter-relação de duas importantes áreas- educação e saúdeque devem atuar com a finalidade de promover o desenvolvimento integral da pessoa que está sob tratamento de saúde, visando aos seus direitos e à sua qualidade de vida. A qualidade de vida- o bem estar. O estar bemimplica condições físicas, psicológicas e sociais que favoreçam a pessoa a desfrutar uma vida equilibrada, isto é, a possibilidade de realização pessoal, profissional e afetiva. (2009, p.81) Muitos documentos e leis foram criados, mas poucos entraram em ação verdadeiramente para transformar a condição da criança brasileira. Leis e Decretos são necessários, mas não suficientes para reverter o quadro existente. São necessárias verbas, especialização do profissional da área da educação e da saúde, divulgação e informação de tudo que acontece nos hospitais e atendimentos domiciliares. A efetivação destas leis depende também do engajamento das organizações, dos professores e do corpo clínico para garantir os direitos a todos os estudantes que se encontram hospitalizados.

25 3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR A questão da elaboração curricular para o aluno hospitalizado é muito peculiar e específica, pois cada criança/adolescente deve ter o seu currículo adaptado individualmente, para dar condições a ela que aprenda e desenvolva as atividades levando em consideração suas limitações momentâneas ou não. O documento Classe Hospitalar MEC afirma que: [...] um currículo flexibilizado e/ou adaptado, favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar correspondente, como parte do direito de atenção integral. (2002, p. 13) O MEC sugere articular o programa de atendimento em dois momentos. No primeiro, o docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que tem por base os parâmetros curriculares nacionais. No segundo a equipe do hospital adapta o trabalho pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes lançando mão de uma avaliação inicial. A aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno à escola regular, não é defendida pelo MEC. O ideal, para o órgão é que a equipe pedagógica estude os materiais enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico. A esse respeito é conferido pelo MEC em relação à organização e competências para viabilização da Pedagogia Hospitalar que: A definição e implementação de procedimento de coordenação, avaliação e controle educacional devem ocorrer na perspectiva do aprimoramento da qualidade do processo pedagógico. Compete às secretarias estaduais e municipais de educação e do Distrito Federal, o acompanhamento das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar. O acompanhamento deve considerar o cumprimento da legislação educacional, a execução da proposta pedagógica, o processo de melhoria da qualidade dos serviços prestados, as ações previstas na proposta pedagógica, a qualidade dos espaços físicos, instalações, os equipamentos e a adequação às suas finalidades, a articulação da educação com a família e a comunidade. (Classe Hospitalar, 2002, p. 19) Observando essas finalidades e especificidades das condições das crianças atendidas o ambiente da classe hospitalar necessita ser diferenciado, deve ser acolhedor, com estimulações visuais, brinquedos, jogos, sendo assim um ambiente alegre e aconchegante. É necessário, portanto que as atividades realizadas com essas crianças e adolescentes tenham começo, meio e fim e o professor precisa

26 estar ciente que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. O professor deve conhecer a realidade com qual o aluno esteja apto a aprender e realizar as atividades que o professor venha a propor. A atuação conjunta dos professores dentro do hospital e a elaboração do projeto pedagógico permitem agregar harmoniosamente as propostas dos diferentes profissionais. Em geral, o atendimento ao estudante hospitalizado é personalizado, pois cada um está num nível distinto de ensino e precisa ser atendido em suas especificidades, mas esta particularização não autoriza os educadores a improvisar o atendimento. O professor deve ter conhecimento teórico e metodológico para dar condições ao seu aluno de aprender, pois de acordo com Ceccim e Fonseca: [...] abre-se, com este estudo, a necessidade de formular propostas e aprofundar conhecimentos teóricos e metodológicos, visando em atingir o objetivo de dar continuidade aos processos de desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças e jovens hospitalizados. (1999, p. 117) Essa exigência de formação técnica e profissional para atuar na pedagogia hospitalar demonstra que a escolarização durante a hospitalização garante não só a continuidade do processo de educação formal quanto promove o bem-estar da criança que se sente mais íntegra, ativa cognitivamente, com autoestima elevada e por consequência com melhor suporte ao processo de tratamento e hospitalização. Conforme Travassos: As crianças em diferentes idades possuem necessidades diferentes, respondem a diferentes formas de informação cultural e assimilam conteúdos com diferentes estruturas motivacionais e cognitivas, logo os tipos de regimes educacionais planejados pelos educadores precisam levar em conta esses fatores desenvolvidos. Os tipos de modelos educacionais que são oferecidos às crianças podem demonstrar a direção que elas poderão tomar, podendo ser encorajadas ou não para a perícia, criatividade, etc. Em nossa sociedade pode haver modelos contrastantes sobre o uso do talento e as maneiras pelas quais ele pode ser desenvolvido. (2001, p.32) Pode-se analisar que a grande diversidade na estrutura e funcionamento do atendimento escolar hospitalar levou alguns escritores a esboçar uma distinção entre duas linhas pedagógicas para o atendimento educacional em hospitais: A Pedagógico-educacional e a lúdico-terapêutica. Essa distinção é esboçada por

27 Ceccim e Fonseca (1999) e posteriormente detalhada por Fontes (2004), que adota os termos correntes pedagógicas. A corrente Pedagógico-educacional está mais focada no ensino formal, buscando dar continuidade ao currículo regular. O professor é um agente de escolarização nos moldes da escola regular. Já a corrente lúdico-terapêutica busca trabalhos diversos e sugere à construção de uma prática pedagógica com características próprias do contexto hospitalar, buscando seus conhecimentos, não necessariamente nos moldes curriculares, visando o bem estar físico e emocional dos pacientes. A utilização de uma corrente ou outra não se dá de uma forma explícita, quando se institui uma classe hospitalar. Ela vai se construindo a partir dos profissionais envolvidos e das condições humanas e materiais existentes em cada hospital. Na visão de Assis, a profissão docente impõe que: [...] o professor nunca deixe de estudar, de aprender, já que a prática educativa exige ressignificação de saberes e adaptação a novas situações; por conseguinte, pressupõe um processo constante de aprendizagem pessoal e profissional e aquisição de competências técnicas tanto no campo teórico como no prático. (2009, p. 102) Essa perspectiva em construção do professor é fundamental, tanto no desenvolvimento técnico como pedagógico. O trabalho pedagógico no espaço hospitalar nos mostra que não existe modelo pronto, mas o desafio de construir uma ação pedagógica que contemple esta diversidade e especificidade. A Pedagogia não pode ser nada mais que a prática de um profissional guiada por uma ética profissional e que confronta a cada dia com situações e desafios sem formulas para resolução. O profissional do ensino deve buscar a construção do seu próprio espaço pedagógico, em que só ele pode assumir e resolver conflitos cotidianos, apoiado na sua visão de mundo, de homem e sociedade.

28 3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS PARA ATUAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR Começa a surgir um novo perfil de pedagogo exigindo uma profunda reflexão e mudança em sua prática educativa a partir de novas perspectivas e anseios da sociedade, para isso torna-se necessária uma formação específica e continuada a fim de desenvolver novas habilidades para enfrentar tal demanda no que consiste a internação para tratamento hospitalar. De acordo com Matos e Mugiatti, a questão de formação desse profissional: [...] constitui-se num desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que as mudanças sociais aceleradas estão a exigir uma premente e avançada abertura de seus parâmetros, com vistas a oferecer os necessários fundamentos teórico-práticos, para o alcance de atendimentos diferenciados emergentes no cenário educacional. (2007, p. 13) Por esse motivo, torna-se necessário uma formação específica de pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, como afirma Warnock, que os professores de classes hospitalares tenham acesso aos treinamentos em serviços e outros cursos de capacitação. (apud MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 47), é necessário um comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente. Em referência à necessidade e a preocupação com formação específica do profissional da educação atuante no ambiente hospitalar Caiado (apud, ASSIS, 2009, p. 103), afirma que: [...] justifica-se pela rápida ampliação da oferta desse atendimento ocorrida no final da década de 1990 no país e pela particularidade desse serviço, pois historicamente os cursos de formação de professores discutem o cotidiano da escola e os cursos de formação de profissionais de saúde não consideram o professor como participante da equipe hospitalar. Com esta afirmação, devemos perceber o quanto se faz necessário uma formação específica do profissional da educação para o atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar, devidos suas especificidades e necessidades.

29 Estudos indicam que para que a atuação do profissional da educação em ambiente hospitalar seja adequada, é necessário que o professor: [...] esteja capacitado para lidar com as referências subjetivas das crianças e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas abertos, móveis, mutantes, constantemente reorientados pela situação especial e individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar. (FONSECA, apud, ASSIS, 2009, p.42.43) Certamente, o professor que deseja atuar no ambiente hospitalar, deverá ter uma formação específica a fim de promover o desenvolvimento de habilidades necessárias para o trabalho neste novo ambiente educacional. Esta formação deverá também propiciar ao professor uma maior compreensão e formação emocional para lidar com possíveis conflitos de ideias, posições e principalmente com um novo conceito de aluno. Aluno este, acometido por doenças e limitações físicas, emocionais, sociais, etc. Portanto, torna-se necessário uma reorientação e reformulação dos cursos formadores de profissionais de educação, para que possa assim propiciar uma melhoria na qualidade do atendimento oferecido a este novo conceito de aluno, o aluno/paciente. Noffs e Rachman afirmam que: [...] faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospitalar, considerando as diferentes demandas dos diversos alunos pacientes. (apud, ASSIS, 2009, p.89) Os cursos de formação específica para esse educador hospitalar devem levar em conta que além dos conhecimentos pedagógicos inerentes à sua profissão deve segundo Assis (2009, p. 106): estar aberto ao diálogo, à incorporação de outras práticas e às mudanças; dominar conhecimentos das várias séries da educação básica; ter competência para transitar bem entre os campos da saúde e da educação; estabelecer vínculos de afeto; ser mediador de conhecimentos e de relações interpessoais;

30 ter maturidade emocional para lidar com as intercorrências do entorno hospitalar; saber interpretar as necessidades educativas de seus alunos, que podem requerer modificação no currículo e/ou alguma tecnologia assistida. A prática pedagógica em ambientes hospitalares requer dos profissionais maior flexibilidade, com conteúdos, procedimentos e recursos individualizados, levando em consideração cada criança/adolescente envolvido no processo de aprendizagem, sempre com atenção para o momento do tratamento, para a condição atual do paciente. Pois, o pedagogo que atua em ambiente hospitalar deverá visualizar o conceito integral de educação, deverá promover o aperfeiçoamento humano, promovendo tanto a educação quanto a saúde. Quanto à função e prática pedagógica do professor atuante na classe hospitalar Ceccim (apud MATOS; TORRES, 2010, p.60), afirma: Não é apenas ocupar criativamente o tempo da criança para que ela possa expressar e elaborar os sentimentos trazidos pelo adoecimento e pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais, como também não apenas abrir espaços lúdicos com ênfase no lazer pedagógico para que a criança esqueça por alguns momentos que está doente ou em um hospital. O professor deve estar no hospital para operar com processos afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças. O contato com o professor e com uma escola no hospital funciona, de modo importante, como uma oportunidade de ligação com os padrões de vida cotidiana do comum das crianças, como ligação com a vida em casa e na escola. Neste intuito as atividades deverão ser elaboradas de forma a dar continuidade ao trabalho já desenvolvido no ambiente escolar de origem da criança/adolescente que se encontra em classe hospitalar. Pois, de acordo com Matos e Mugiatti (2007, p. 13) a Pedagogia Hospitalar vem ter como objetivo contribuir para o retorno do mesmo a sua escola de origem ao obter alta, sem prejuízo ao seu processo de escolaridade com isso pretende-se, assim, oferecer à criança e ao adolescente hospitalizado, ou em longo tratamento hospitalar, a valorização de seus direitos à educação e à saúde, como também ao espaço que lhe é devido enquanto cidadã. O pedagogo que atua em ambiente hospitalar deve acompanhar e intervir no processo de ensino aprendizagem por meio de atividades lúdicas como, o ato de contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatizações, musicalização, desenhos e

31 pinturas, atividades estas realizadas nas classes hospitalares ou por diversas vezes no próprio leito a criança/adolescente hospitalizado, quando o mesmo estiver impossibilitado de frequentar a classe hospitalar. Portanto, para que o pedagogo hospitalar possa realizar um trabalho eficaz é necessário um espaço físico adequado, recursos humanos para poder atender a todas as crianças hospitalizadas, e materiais didáticos adequados como, por exemplo, revistas, lousa mágica, quebra-cabeças, alfabetos móveis, ou seja, tudo aquilo que possa ser deslocado da classe hospitalar, até o leito do paciente. Atividades estas que auxiliarão na adaptação, na motivação, na auto-estima e na recuperação do paciente. Podemos dividir a Pedagogia Hospitalar em três modalidades, nas quais ocorre atuação do Pedagogo Hospitalar. A classe hospitalar que consiste no espaço físico que se realiza o atendimento à criança hospitalizada. A classe hospitalar torna-se a escola durante a permanência dos mesmos, contribuindo para o seu retorno à escola de origem. A brinquedoteca em que consiste no espaço físico que possibilita o desenvolvimento de novas competências, socializando o brinquedo, resgatando brincadeiras tradicionais, assegurando à criança o seu direito de brincar. A recreação hospitalar, em que através do brincar, o contato com brinquedos possibilita a prática de atividades lúdicas, contribuindo com o desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo da criança/adolescente hospitalizado. Portanto, devido a importância da recreação, o pedagogo deve ter a visibilidade, contribuindo para que a criança e adolescente hospitalizado e acamado participe dentro de suas possibilidades desta modalidade. Sendo assim a prática pedagógica deve além de ensinar, resgatar cada criança/adolescente hospitalizado a gostar de si mesmo, relacionando-se consigo próprio, com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável. Deve-se considerar que a fase de escolarização do educando será transitória e se dará de acordo com a permanência do educando no ambiente hospitalar. Portanto,

32 durante a fase de hospitalização, é necessário haver um permanente estímulo às relações com a escola de origem, por meio de intercâmbio de informações e de manutenção de interesses. (MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 124) O pedagogo hospitalar em sua prática exerce papel fundamental, pois contribui com a equipe de saúde, favorecendo na integração da criança/adolescente hospitalizado, suas famílias e os profissionais de saúde. Integração esta indispensável tanto para a permanência da mesma no hospital quanto para o seu desenvolvimento cognitivo e psíquico, ou seja, na sua totalidade. O pedagogo em ambiente hospitalar tem como função ser um agente facilitador e não um ditador que imponha normas de instrução às crianças/adolescentes hospitalizados que em virtude de sua doença e estadia no hospital, se vê impossibilitados de frequentar uma escola regular. Sobre a necessidade de continuidade, Matos afirma que: [...] a necessidade de continuidade, exigida pelo processo de escolarização, é algo tão notório que salta à vista dos pais, professores e mesmo das próprias crianças e adolescentes e a atitude estimulante dos pais ou responsáveis, representam uma significativa contribuição, em termos psicológicos, para a estruturação da personalidade da criança/adolescente hospitalizada. (2007, p. 68. 125) Para que todo o trabalho desenvolvido seja eficiente torna- se necessário uma parceria construída com os familiares para que possa incentivar à criança/adolescente hospitalizado a participação, vislumbrando um próximo retorno ao meio extra-hospitalar. Contudo podemos verificar que existem dois tipos de familiares, os estimulantes, que contribuem inspirando segurança, confiança, fazendo com que as crianças/adolescentes hospitalizados tenham condições de progredir, contribuindo assim de forma ativa no processo de cura em sua totalidade. Existem ainda os familiares não estimulantes, que superprotegem seus filhos, não permitindo a participação, não valorizando o processo de ensino aprendizagem no ambiente hospitalar. Deve-se levar em consideração o papel fundamental que exerce a afetividade no período da escolarização hospitalar, seja por parte dos familiares, seja por parte do