Bárbara da Silva Literatura Pré-modernismo
O pré-modernismo não é propriamente uma escola literária, mas um período em que alguns autores decidiram produzir uma literatura que refletia as questões políticas e sociais que abalavam o Brasil. Sem fundamentos estéticos e temáticos pré-estabelecidos.
O Brasil do início do século XX mantém, basicamente, a mesma mentalidade do final do século XIX, pós-republicana, positivista e liberal. Há a ascensão de uma burguesia industrial, com ideias progressistas, e que começa a confrontar as oligarquias rurais que ainda mantinham o tradicionalismo no Brasil.
Período marcado por grande agitação: 1896-7 Guerra de Canudos, na Bahia. 1903 Revolta da vacina, Rio de Janeiro. 1910 Revolta da Chibata, Rio de Janeiro. 1912-6 Guerra do contestado, Santa Catarina. 1917 São Paulo é palco de inúmeras greves operárias.
O Pré-modernismo compreende o período de transição entre a produção literária do início do século XIX, até sua ruptura radical, em 1922, com a semana de arte moderna. Os autores que marcam este período anunciam a modernidade, mas de uma maneira disforme, cada qual com suas particularidades.
Augusto dos Anjos (1884 1914) O paraibano, embora fosse formado em advocacia, lecionou literatura a vida inteira. Mudou-se da Paraíba aos 24 anos, por causa da crise da lavoura açucareira que se abateu sobre o nordeste no início da República. Publicou seu único livro, Eu, em 1912.
O público e a crítica da época, acostumados à elegância parnasiana, consideraram seu livro grosseiro e de mau gosto. O vocabulário e os temas do autor causam estranheza pelo cientificismo, pessimismo e escatologia. Por produzir uma expressão única, Augusto dos Anjos é considerado um poeta inclassificável.
Versos íntimos Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão esta pantera Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
Outros autores A poesia produzida no período fica a encargo apenas de Augusto dos Anjos, mas destacamos alguns autores que marcaram a produção da prosa neste período.
- Euclides da Cunha (1866 1909) O autor carioca teve uma formação determinista e positivista, era engenheiro civil, mas sempre gostou de escrever, tornando-se jornalista. Foi enviado para o sertão da Bahia para cobrir a Campanha de canudos, onde presenciou um massacre do exército contra os sertanejos.
A constatação de que haviam dois Brasis, um da elite e um dos pobres, levou-o a escrever Os sertões (1902). A obra denuncia as contradições nacionais que protegiam os ricos e matavam os pobres, o que ainda não foi superado pelo país. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras pelo livro.
- Lima Barreto (1881 1922) O autor carioca buscou retratar, com simplicidade e ironia, a vida da pequena burguesia que se formava no Rio de Janeiro. Foi bastante criticado por utilizar uma linguagem despretensiosa. Escreveu, dentre outros títulos, O triste fim de Policarpo Quaresma (1915).
- Monteiro Lobato (1882 1948) Nascido em Taubaté, o autor sempre teve contato com a vida rural, mesmo após mudar-se pra São Paulo, onde cursou Direito. Cuidava das pequenas propriedades da família e de lá tirou a inspiração para suas obras, como Urupês (1918), em que deu vida ao personagem Jeca Tatu.