A última quimera Ana Miranda
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- Danilo Duarte Borba
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1 A última quimera Ana Miranda - Ana Miranda nasceu em Fortaleza/CE, em Publicação de A última quimera - É característica da autora a reescrita da História com criatividade e linguagem elaborada por vezes didaticamente apresentando uma tendência representativa do gênero romanesco na literatura brasileira. Assim como em A majestade do Xingu, de Moacyr Scliar, as obras de Ana apresentam personagens históricas, muitas vezes convivendo com personagens fictícias. No caso de A última quimera, o principal personagem é o poeta paraibano Augusto dos Anjos ( ), um dos grandes nomes da Literatura Brasileira, associado pela crítica ao Pré-Modernismo, com características parnasianas e simbolistas. Estrutura da obra: A narrativa divide-se em cinco partes, intituladas "Rio de Janeiro (12/11/1914)", "A viagem", "Leopoldina, MG", "De volta para o Rio de Janeiro" e "Epílogo", respectivamente. Para cada uma das partes é feita uma subdivisão, com um subtítulo que se desdobra em vários capítulos. Ao final, temos uma narrativa distribuída em 151 pequenos capítulos, bem ao estilo da autora que, tendo sido roteirista, acaba produzindo-os como se fossem cenas, com frases e períodos curtos, numa linguagem dinâmica, que evidencia a influência do cinema e da TV na literatura do final do século XX. Três registros principais integram o discurso intertextual do romance: a poesia de Augusto dos Anjos (alguns trechos aparecem ao longo do livro), a correspondência do poeta com sua mãe e amigos íntimos através de cartas e as discussões críticas acerca de sua obra e da literatura da época. Características da narração: Narrador-personagem onisciente em 1ª pessoa. Considera-se amigo de Augusto de Anjos. Enredo: Em A última quimera, conta-se a trajetória do poeta Augusto dos Anjos, cuja vida, repleta de frustrações, fracassos só obteve reconhecimento do valor literário de sua poesia após sua morte. Quando ele publicou sua única obra, o livro intitulado Eu (1912), a crítica dividiu-se em opiniões favoráveis e desfavoráveis, mas ninguém chegou realmente a compreender o que ele escreveu. Para dar verossimilhança à sua narrativa, o narrador-personagem criado por Ana Miranda descreve com precisão os ambientes, sobretudo o Rio de Janeiro no início do Século, mencionando personagens e fatos históricos marcantes da época. Exemplos: - Campanha presidencial entre Rui Barbosa e Marechal Hermes da Fonseca - A invenção do automóvel - O governo de Hermes da Fonseca / A Revolta da Chibata Nas primeiras quatro partes, o narrador apresenta a vida do poeta até o momento de sua morte, incluindo o velório realizado em Leopoldina, Minas Gerais, e a volta dele ao Rio de Janeiro. Na quinta parte, o Epílogo, o narrador fixa os acontecimentos em 1928 (tempos após a morte de Augusto, ocorrida em 1914). Nessa
2 última parte, Augusto dos Anjos é enfim reconhecido pela crítica, ou seja, postumamente. A segunda tiragem de Eu e outras poesias é esgotada em quatro dias. Melancolicamente, o narrador conclui que Augusto enfim atingiu o sucesso, e que é inútil, uma vez que não estava mais vivo para desfrutá-lo. Pág. 314 Hoje abro o Jornal do Comércio e leio que o livro de Augusto foi reeditado e para surpresa de todos a tiragem de três mil exemplares esgotou-se em quatro dias. Trataram de imprimir mais três mil que foram comprados em um par de dias. Em pouco tempo o Eu chega a vender cinquenta mil exemplares. Torna-se o mais espantoso sucesso de livraria dos últimos tempos! Impossível não admirar certas composições! Um talento superior! A obra de um ourives louco! Médicos, advogados, tilbureiros, cantantes, coveiros, alunas dos cursos de declamação, putas, poetas, gente de diversas classes corre aos balcões para tentar compreender a poesia insondável de Augusto. Jogam sobre ele as lantejoulas efêmeras que brilham nas culminâncias das glórias, que ele disse desprezar. De nada mais adianta. Augusto venceu, mas não pode saber disso, é tarde demais. Personagens principais: Narrador: Amigo de infância de Augusto. Seu nome não é revelado. Assim como Augusto, migrou da Paraíba para o Rio de Janeiro, uma vez o estado natal não possuía oportunidades e o RJ era o centro cultural do país. Augusto dos Anjos: Personagem principal do livro. Muito inteligente e reservado, não obtém sucesso no Rio de Janeiro, amargando cargos pouco expressivos, enquanto outros, nitidamente menos capazes, enchem-se de conquistas por terem contatos pessoais. Augusto tem poucos amigos e dificuldades para manter financeiramente sua casa. De saúde frágil, falece cedo, vítima de tuberculose, doença que matava muitas pessoas no início do século XX. Ao longo de toda a narrativa, a descrição de Augusto se encaixa à imagem do poeta sofredor e incompreendido, vivendo nas más condições daquele sobrado, cercado por uma sombra e voltado para seu passado em melancólicas peregrinações. Esther: esposa de Augusto. O narrador é apaixonado por ela, chegando ao ponto de escrever poemas em sua homenagem. Não chegam a ficar juntos: por mais que o narrador tente conquistá-la, acaba casando com um professor ginasial. Camila: amiga do narrador, com que mantém uma curiosa relação. Não são propriamente um casal, mas por têla abrigado certa vez, quando Camila passava dificuldades no Rio de Janeiro, permitiu que Camila fosse ficando e que entre eles se criasse uma certa dependência. Após um período separado, ao afinal da narrativa, o par está vivendo junto. Olavo Bilac: escritor brasileiro. Principal autor do Parnasianismo, Bilac era reverenciado pela crítica, possuindo muito mais prestígio do que Augusto. No livro, o narrador opõe a fama de um e o ostracismo do outro. No início da obra, Bilac revela desconhecer Augusto e faz pouco caso de sua morte. Mais adiante, corrige-se, desculpandose pelo engano e enaltecendo a beleza da obra de seu contemporâneo. Raul Pompéia: outro escritor brasileiro. O narrador conta as circunstâncias de sua morte trágica: cometeu suicídio após ser humilhado publicamente em duelo com Olavo Bilac.
3 Francisca: irmã de Augusto. Fornece algumas informações importantes sobre a vida de Augusto ao narrador, como por exemplo, cenas da infância do poeta. Questões de vestibular: 1) (UFPR 20013/2014) O romance A última Quimera, de Ana Miranda, publicado em 1995, elege como personagem principal o poeta Augusto dos Anjos ( ), inscrevendo-se na linha de ficcionalização da história literária, modalidade bastante frequentada na passagem do século XX para o XXI. A propósito dessa obra, assinale a alternativa correta. a) Os versos de Augusto dos Anjos que contêm a expressão do título do romance são registrados em epígrafe, de modo que o leitor estabeleça o diálogo entre os textos desde o início. b) A cena literária da capital brasileira à época constitui o pano de fundo em que transcorre a vida e acontece a morte do poeta que se celebrizou pela temática mórbida. c) Augusto dos Anjos e o narrador almejam compor poemas seguindo o modelo estético de Olavo Bilac, padrão da poética da época, figurando também como personagem do romance. d) O narrador, também poeta, é contemporâneo e conterrâneo de Augusto dos Anjos, situação que determina uma relação que, da parte do narrador, oscila entre a amizade terna e a disputa. e) O recurso narrativo empregado no romance é o simulacro do discurso biográfico, seguindo o percurso do poeta em linha cronológica, do nascimento à morte. 2) Sobre o narrador de A última quimera, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) Seu discurso é construído alternando passado e presente, numa relação de quebra temporal, situando-nos no contexto do narrado. ( ) Também escreve poesia, mas reconhece que sua produção tem qualidade inferior à de Augusto. ( ) O narrador é um grande defensor da poesia do amigo Augusto e faz críticas à produção do renomado Olavo Bilac. ( ) Privilegia o espaço dos acontecimentos, descrevendo com riqueza de detalhes o Rio de Janeiro da época. 3) (Unimontes 2011) Leia o fragmento do poema Versos Íntimos, retirado do livro Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos. Relacione-o com a obra A última Quimera, de Ana Miranda. Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável! (ANJOS, 2010, p. 103)
4 Assinale a alternativa INCORRETA. a) A imagem da quimera demonstra o estado interior do eu poético, que se sente um ser disforme, desajustado e incompreendido. b) A morte é um dos temas de grande parte dos poemas de Augusto dos Anjos e também é um dos fios condutores da narrativa do romance de Ana Miranda. c) Nesse poema e no romance, o eu lírico revela a capacidade de vencer os problemas existenciais, enterrando a ingratidão alheia. d) Os versos de Augusto dos Anjos e a trama narrativa de A última Quimera deixam transparecer o sentimento de injustiça e ingratidão que marcou a vida do escritor Augusto dos Anjos. 4) (Universidade Positivo 2015) Considere o fragmento abaixo, extraído do romance A última quimera, de Ana Miranda, publicado em 1995: Você sabe como é Augusto. Só pensa em Haeckel, Spencer, Darwin. Devia ter se dedicado às ciências. De que lhe vale ser bacharel, ou poeta? A Academia Brasileira de Letras ignorou completamente o livro de meu irmão. Mas a Academia de Medicina o incentiva, o que não anula os efeitos perniciosos de outra corrente, de conspiração manifesta e quase agressiva contra ele; mas são intelectuais irremediavelmente nulos, como ele mesmo disse. (MIRANDA, Ana. A última quimera. São Paulo: Companhia das Letras, p. 46.) Assinale a alternativa correta. a) A discussão sobre as teorias evolucionistas é assunto central de A última quimera, o que permite afirmar que a ficção brasileira contemporânea sofre influência das tendências artísticas da época em que Augusto dos Anjos viveu. b) Da leitura do romance depreende-se que o livro de poemas de Augusto dos Anjos foi ignorado pela Academia Brasileira de Letras devido ao excesso de sentimentalismo com que o poeta abordou os temas científicos. c) O narrador do romance considerava os versos de Augusto dos Anjos desprezíveis; apesar de terem sido amigos de infância, eles divergiam constantemente no plano das ideias. d)a última quimera pode ser caracterizado como romance histórico, entre outros motivos, por tra- çar um quadro detalhado dos círculos de convivência intelectual existentes no período em que Augusto dos Anjos viveu. e) A leitura de A última quimera reforça a percepção, frequente na cultura brasileira, de que os cientistas e os médicos merecem mais reconhecimento do que os bacharéis e os poetas. 5. Sobre o livro A última quimera, de Ana Miranda, circule as alternativas corretas:
5 I. A reconstituição dos fatos históricos do período em que o poeta viveu é extremamente fiel. Ainda, os tempos misturam-se na narrativa; o passado é atualizado no presente e o tempo psicológico ressalta a presença do narrador no texto. II. Os versos de Augusto dos Anjos que contêm a expressão do título do romance são registrados em epígrafe, de modo que o leitor estabeleça o diálogo entre os textos desde o início. Também, o recurso narrativo empregado no romance é o simulacro do discurso biográfico, seguindo o percurso do poeta em linha cronológica, do nascimento à morte. III. A presença do fenômeno da intertextualidade e a metaficção perpassam todo o romance e podem ser observados e comprovados em várias passagens do enredo. O entrecruzamento de vários discursos encontra-se marcado pela presença das cartas que são assimiladas e transformadas em diálogo e também pelos textos de autoria de Augusto dos Anjos que são incorporados à matéria narrada. IV. Assim como Augusto dos Anjos que sempre fora infeliz e Olavo Bilac que no fim da vida, tornou-se recluso o narrador não tem um final feliz, também solitário e esquecido. V. O narrador, também poeta, é contemporâneo e conterrâneo de Augusto dos Anjos, situação que determina uma relação que, da parte do narrador, oscila entre a amizade terna e a disputa. Ficamos sabendo que ele é apaixonado por Esther, é amigo de infância de Augusto dos Anjos, têm vários encontros com Olavo Bilac e possui uma chácara em Botafogo, na qual vive com Camila, uma doente tuberculosa e quase adolescente. VI. Outro personagem que se destaca nesse romance é Olavo Bilac. O narrador acaba estabelecendo um contraponto entre os dois poetas e entre as escolas que os dois representam: Simbolismo e Parnasianismo, respectivamente. Se Augusto não é capaz de se adaptar à realidade que o cerca, ficando sempre à margem, inconformado, mas impotente diante das injustiças que se sucedem em sua vida, Olavo Bilac é o seu oposto. VII. O contexto histórico abordado na narrativa envolve: as disputas políticas do período republicano do país, a Revolta da Chibata e a modernização do Rio de Janeiro, sendo abordados, estes aspectos, como importantes devido à influência que exerceram sobre a produção literária de Augusto dos Anjos. GABARITO: 1- d 2- V- V F - V 3- c 4- d 5- I / III / V / VI
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