Vida e Obra. O. Pedro II, um discurso republicano. Vicência ]aguaribe"'

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Estela Palma Domingues
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1 4a Parte Discursos

Vida e Obra No centenário de morte de Adolfo Caminha, Sânzio de Azevedo escreve livro em que se confunde vida e obra de um dos mais representativos ficcionistas cearenses Vicência ]aguaribe"' Mais

2 Vida e Obra No centenário de morte de Adolfo Caminha, Sânzio de Azevedo escreve livro em que se confunde vida e obra de um dos mais representativos ficcionistas cearenses Vicência ]aguaribe"' Mais uma vez Sânzio de Azevedo revela sua preocupação com a literatura cearense, entregando ao público o livro Adolfo Caminha, vida e obra. E justamente em 1997, momento em que se assinalam os 130 anos de nascimento e os 100 anos de morte do autor de A Normalista. Com esse trabalho realiza o historiador e crítico literário um antigo desejo: contar a história de Adolfo Caminha "em um livro no qual se confundissem vida e obra", segundo as palavras do autor. A obra compõe-se de 17 capítulos, aos quais se acrescentam uma iconografia e uma cronologia de Adolfo Caminha. Inicia-se com a noticia da morte do escritor, ocorrida a 1. de janeiro de 1897, na Rua Visconde de Itaúna, no Rio de Janeiro, de tuberculose pulmonar. Morreu numa rua humilde, visitado por poucos amigos, "sendo enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, numa cova que haveria de se perder". Perseguindo seu propósito, Sânzio de Azevedo, ao longo das 200 páginas de seu livro, vai apresentando ao leitor dados sobre a vida do escritor cearense, desde seu nascimento em Aracati, no dia 29 de maio de 1867, a par de informações e comentários sobre sua obra. Ficamos sabendo, então, que Caminha ingressou aos 16 anos na Escola de Marinha do Rio de Janeiro, chegando a segundo-tenente em dezembro de E em junho de 1885, quando ainda aluno da Escola, por ocasião das homenagens prestadas a Victor Hugo, proferiu, na presença do Imperador O. Pedro II, um discurso republicano. Vivência jaguaribe é professora da UECE e mestra em Literatura Brasileira pela UFC. 215

3 Outras informações sobre a vida do romancista, que está, segundo Sânzio, intimamente relacionada com sua obra de ficção, vão sendo desfiadas de maneira criteriosa, de modo que em momento algum acha-se o leitor diante de uma notícia que lhe soa gratuita. Assim acontece no capítulo 4, em que o autor nos conta do escândalo que abalou a Província do Ceará, quando Caminha resolveu assumir publicamente o romance com Isabel ]atai de Paula Barros, esposa de um oficial do Exército, o alferes Fausto Augusto de Paula Barros. Ora, esse episódio da vida do escritor vai repercutir em sua obra ficcional, pois, para muitos críticos, A Normalista é "um livro de vingança contra as conseqüências do escândalo em que o ficcionista estivera envolvido". Adolfo Caminha, conhecido e reconhecido nacionalmente como um dos mais representativos ficcionistas do nosso Realismo-Naturalismo, foi também poeta, embora um poeta menor, havendo publicado, em 1887, o livro de poemas Vôos Incertos, ainda de ressonâncias românticas. É também de 1887 a publicação de duas novelas românticas, Judite e Lágrimas de um Crente. Tinha o escritor temperamento impulsivo, o que lhe valeu algumas inimizades. Talvez a esse temperamento devamos imputar o tom polêmico do artigo que publicou em 1891, na Revista Moderna, criticando o livro de poemas Versos Diversos, de Antônio Sales. O artigo vai ser rebatido por José Carlos Júnior, prefaciador do livro de Sales. A tréplica de Caminha virá a 10 de abril de 1891, n'o Estado do Ceará, e provocará a resposta do próprio autor de Versos Diversos. Abre-se, assim, a polêmica entre Adolfo Caminha (n'o Estado do Ceará) e Antônio Sales (no Libertador), de 10 a 22 de abril de De grande proveito para o leitor interessado em conhecer os meandros da literatura cearense é o Capítulo 8, intitulado "A Padaria Espiritual e O Pão", que trata da participação do escritor nessa famosa sociedade literária que, como diz Sânzio de Azevedo, era um grêmio de letras e artes "porque nele não havia somente escritores(...), mas também um pintor, Luís Sá, e dois músicos, os irmâos Henrique Jorge e Carlos Vítor". Caminha, que foi um dos fundadores da agremiação, seria dela expulso em julho de fato ocorreu em decorrência do mal-estar gerado por um artigo de Magalhães 216

4 Lima, publicado no periódico português AMa/ada Europa, no qual, ao biografar Caminha, o autor do artigo refere-se à Padaria Espiritual como uma agremiação que entrara num período de decadência. O romancista Adolfo Caminha estréia, como se sabe, em 1893, com A Normalista, criada nos moldes do Realismo-Naturalismo, obra em que satiriza algumas figuras da vida real, como o Presidente do Ceará, na época, Antônio Caio da Silva Prado; o jornalista José Pereira, redator da Província; e o diretor da Escola Normal, professor José de Barcelos. Mas o ponto alto de sua ficção vai ser Bom Crioulo, publicado em 1895, "sem dúvida o livro de sua autoria que mais haveria de sofrer restrições e ataques, e não somente ao tempo de sua publicação". A obra, que a crítica julga revelar um certo ressentimento contra a Marinha, da qual o escritor foi levado a demitir-se em 1890, tem como tema o homossexualismo masculino, concretizado nas figuras de Amaro, um escravo fugido, e de Aleixo, um grumete louro de olhos azuis. O romance, segundo Sânzio de Azevedo, uma condenação ao homossexualismo, "se não é o único, é um dos raros romances brasileiros cujo personagem central é um negro, e não mulato ou caboclo". É ainda de Adolfo Caminha o romance Tentação, de publicação póstuma, escrito em Fora da área ficcional, Adolfo Caminha publicou No País dos Ianques, relato de viagem que saiu em capítulos no jornal O Norte, de Fortaleza, em 1890, e foi publicado em livro, no Rio de Janeiro, em Segundo Brito Broca, é um dos primeiros depoimentos de um escritor brasileiro sobre os Estados Unidos da América e uma das primeiras expressões de nossa literatura de viagem. Um livro que revela "mais uma vez, e naturalmente mais do que os outros livros, o espírito combativo de Caminha" vem a lume no mesmo ano da edição de Bom-Crioulo, 1895: são as Canas Literárias, reunião de artigos publicados na Gazeta de Notícias, do Rio, de novembro de 1893 a julho de 1894, acrescida de pelo menos dois trabalhos publicados na Revista Moderna, de Fortaleza, em Entre os 22 artigos que compõem a obra, podemos encontrar a defesa que Caminha faz de seu romance A Normalista; a eleição do Naturalismo como a estética ideal; o ataque aos simbolistas, embora 217

5 exalte Cruz e Sousa; e a crítica severa à coletânea Versos Diversos, de Antônio Sales, e ao romance A Fome, de Rodolfo Teófilo. Depois de 16 capítulos e uma conclusão, Sânzio de Azevedo fecha o texto de sua pesquisa, tecendo um comentário que revela não sua parcialidade, que invalidaria a opinião do crítico, mas seu reconhecimento aos méritos literários do autor de Bom-Crioulo: "O que importa afinal é que Adolfo Caminha conseguiu transfigurar seus sentimentos em arte, e por isso seu nome não passará". 218

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