MOBILIDADE URBANA DO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO EM FLORIANÓPOLIS: PANORAMA E ANÁLISE CRÍTICA.



Documentos relacionados
Plano de Mobilidade Urbana Sustentável

GRUPO DE TRABALHO DE INFRAESTRUTURA E MOBILIDADE URBANA

PLANO DIRETOR DE TRANSPORTE E MOBILIDADE DE BAURU - PLANMOB

História da Habitação em Florianópolis

Mobilidade no Campus Faixa Exclusiva de Ônibus e Ciclofaixa na CUASO

1 INTRODUÇÃO. 1.1 Motivação e Justificativa

Políticas de integração para mobilidade urbana em cidades coordenadas por diferente modais Wagner Colombini Martins 20/09/2013

Ministério Público do Estado de Mato Grosso 29ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística de Cuiabá

Plano de ações para segurança no corredor ferroviário

na região metropolitana do Rio de Janeiro

Urbanização Brasileira

Analisando viagens a pé e por bicicletas na integração com transporte de massa

Infraestrutura Turística. Magaeventos Esportivos e a Promoção da Imagem do Brasil no Exterior 16 e 17 de agosto Brasília.

abril/2013 CICLOVIA ZONA NORTE

QUAL O NÚMERO DE VEÍCULOS QUE CIRCULA EM SÃO PAULO?

Diretrizes para o Plano de Mobilidade Urbana 2015 da Cidade de São Paulo referentes à mobilidade a pé

PLANOS DE MOBILIDADE URBANA

Especificidades das mortes violentas no Brasil e suas lições. Maria Cecília de Souza Minayo

DRAFT. PROJETO DE MOBILIDADE URBANA DE MANAUS 6 de outubro de 2009

Metrópoles em Números. Crescimento da frota de automóveis e motocicletas nas metrópoles brasileiras 2001/2011. Observatório das Metrópoles

PESQUISA DE MOBILIDADE DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO PRINCIPAIS RESULTADOS PESQUISA DOMICILIAR DEZEMBRO DE 2013

ÍNDICE DE BEM-ESTAR URBANO DA REGIÃO METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

Foto: Por gelinh. Flickr Creative Commons. Programa Cidades Sustentáveis

SOROCABA - DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE ACIDENTES DE TRÂNSITO

Mobilidade Urbana. João Fortini Albano. Eng. Civil, Prof. Dr. Lastran/Ufrgs

MOBILIDADE URBANA. André Abe Patricia Stelzer

Prefeitura Municipal do Natal

CONSERVAÇÃO DOS PARQUES DA CIDADE DE CAMPINAS PEDRO HENRIQUE NALOTO & RAFAEL BRUNO MEIRELLES

Etapas para a Elaboração de Planos de Mobilidade Participativos. Nívea Oppermann Peixoto, Ms Coordenadora Desenvolvimento Urbano EMBARQ Brasil

Flávio Ahmed CAU-RJ

7ºano 2º período vespertino 25 de abril de 2014

Regiões Metropolitanas do Brasil

Engenharia de Segurança Viária

Pesquisa de Opinião Pública sobre Transportes Coletivos

ANEXO 2 - INDICADORES EDUCACIONAIS 1

PROJETO DE LEI Nº 70/2011. A CÂMARA MUNICIPAL DE IPATINGA aprova:

Mídias sociais como apoio aos negócios B2C

APRESENTAÇÃO. Foto 1: Imagem aérea da Ilha de Santa Catarina

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

AVALIAÇÃO DE VIAGENS POR BICICLETAS: PESQUISA SOBRE OS HÁBITOS DOS CICLISTAS

SEMINÁRIO MOBILIDADE URBANA NO PLANO

Laboratório de Políticas Públicas Municipais (LPPM) Nota Técnica n 02 ANÁLISE DO MUNICÍPIO DE CARUARU

5 km/h a mais, uma vida a menos

Mobilidade Urbana Urbana

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

Vestuário. Potencial de consumo do Norte catarinense. Relatório de Inteligência Analítico - dezembro 2012

PROBLEMAS ATUAIS DA LOGÍSTICA URBANA NA ENTREGA DE MATERIAIS HOSPITALARES UM ESTUDO INVESTIGATIVO

ser alcançada através de diferentes tecnologias, sendo as principais listadas abaixo: DSL (Digital Subscriber Line) Transmissão de dados no mesmo

Preparação do país para a Copa do Mundo 2014 e a herança para

Desmistificando os morros: a evolução do cenário da bicicleta em Belo Horizonte

GABINETE DO PREFEITO

CICLOVIAS COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA A MOBILIDADE URBANA UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO BONITO - SP

A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. A Geografia Levada a Sério

PESQUISA DIA DAS CRIANÇAS - NATAL

INDUSTRIALIZAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP: UMA ANÁLISE DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO DISTRITO INDUSTRIAL DO CHÁCARAS REUNIDAS

Mobilidade Urbana: Esse Problema tem Solução? Ronaldo Balassiano Programa de Engenharia de Transportes PET/COPPE/UFRJ

País predominantemente urbano: cerca de 80% da população brasileira mora em cidades.

Florianópolis, 17 de agosto de 2011.

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO PLANO DE MOBILIDADE URBANA DE SÃO PAULO

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES DO PROJETO DE PESQUISA DO USO CICLOVIÁRIO EM JOINVILLE E EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO DO USO DA BICILCETA NO TRÂNSITO

Distribuição dos pacientes vítimas de Acidente de Trânsito, segundo faixa etária na ocasião do acidente 20,0 16,6 19,4 11,3

Mobilidade urbana: realidade e perspectivas

Número 1 Violência no trânsito: o goianiense e a Lei Seca. Rua 1.145, 56 Setor Marista Goiânia GO Fone:

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA

Administração. O estudante deve redigir texto dissertativo, abordando os seguintes tópicos:

Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito ( ONU ) Semana Nacional de Trânsito 2012 ( Denatran ) e Dia Mundial Sem Carro

MOBILIDADE DOS EMPREENDEDORES E VARIAÇÕES NOS RENDIMENTOS

INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROVIC PROGRAMA VOLUNTÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

SUGESTÕES PARA A REFORMULAÇÃO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE PÚBLICO DE PASSAGEIROS URBANOS E METROPOLITANO DE PORTO ALEGRE 1

Manual Prêmio Mobilidade

ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS ECONÔMICOS E SOCIAIS. IETS Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade

TEMAS SOCIAIS O UTUBRO DE 2000 CONJUNTURA ECONÔMICA 28

Planejamento da Mobilidade Urbana em Belo Horizonte

Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos - ANPTrilhos

ÍNDICE DE ACIDENTES NO PERÍMETRO URBANO DE CÁCERES

O Mercado de Trabalho nas Atividades Culturais no Brasil,

PROJETO DE PESQUISA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM COMO APOIO AO ENSINO SUPERIOR EM IES DO ESTADO DE SÃO PAULO

PlanMob-BH: Plano de mobilidade sustentável de Belo Horizonte. Ramon Victor Cesar BHTRANS, Prefeitura de Belo Horizonte

O uso do Crédito por consumidores que não possuem conta corrente Junho/2015

São Paulo Metodologia de para monitoramento do comportamento da Cidade de São Paulo por Indicadores e Metas

Introdução. Núcleo de Pesquisas

SÃO PAULO GANHA PROGRAMA DE PROTEÇÃO AO PEDESTRE PARA REDUZIR ATROPELAMENTOS

Mobilidade Urbana. Linhas gerais, resultados e desafios selecionados

Metodologia. MARGEM DE ERRO O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Santa Catarina. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado de Santa Catarina (1991, 2000 e 2010)

ANEXO X DIAGNÓSTICO GERAL

Pesquisa Mensal de Emprego - PME

PLANEJAMENTO URBANO E DE TRANSPORTES BASEADO EM CENÁRIO DE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL O CASO DE UBERLÂNDIA, MG, BRASIL

Mapa 09 Área Central de PiracicabaOcupação do Solo. Urbano

Plano de Logística Encontro da Frente Nacional de Prefeitos Pré-projeto Estrutura do documento 1. Introdução 2. Características do evento

PESQUISA DIA DAS CRIANÇAS - MOSSORÓ

MOBILIDADE URBANA EM PRESIDENTE PRUDENTE: O TRANSPORTE COLETIVO E SUAS POSSIBILIDADES

A SECRETARIA NACIONAL DE TRANSPORTE E DA MOBILIDADE URBANA (SEMOB)

Paulo Sergio Custodio Outubro 2013

Plano Intermunicipal de Mobilidade e Transportes (PIMT) da Região de Aveiro. PIMT Região de Aveiro 1 16

Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total responsabilidade de seu(s) autor(es).

Transcrição:

MOBILIDADE URBANA DO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO EM FLORIANÓPOLIS: PANORAMA E ANÁLISE CRÍTICA. Felipe Eugenio Kich Gontijo (UDESC ) gontijo@udesc.br Rodolfo Guidi (UDESC ) rodolfoguidi@hotmail.com O trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico com respectiva análise crítica do cenário do transporte público coletivo rodoviário da cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Constitui-se um estudo da situação-problema da mobilidade urrbana na capital catarinense, cujas tabelas, gráficos e figuras de estudos locais aprimorados apresentam fortes deficiências e um vasto campo de melhorias a se implementar. Nesse estudo procura dar visibilidade aos padrões de comportamento da população da capital catarinense quanto ao deslocamento, suas finalidades, os modais de transporte envolvidos e as principais problemáticas decorridas, balizando-as através da exposição das políticas nacionais de mobilidade urbana que devem ser cumpridas e das definições dos termos abordados neste estudo conforme entendimento do Governo Federal. Por fim são discutidas as ações corretivas de curto prazo que podem gerar resultados positivos, amenizando em muito o transito caótico e congestionado da cidade. Palavras-chaves: Mobilidade urbana, Transporte público coletivo, Políticas públicas.

1. Introdução Assim como em outras cidades do Breasil, Florianópolis enfrenta hoje uma grave situação em termos de mobilidade urbana, e com perspectivas de se agravar ainda mais, dado o crescimento populacional, ocupação desorganizada, crescimento da frota de automóveis e pelo baixo índice da utilização do transporte coletivo. Esse último elemento é tido como fundamental para entender o problema e apontar a solução, seja em Florianópolis ou em outras cidades brasileiras. Existe uma discussão em torno desse assunto, em que se polariza a definição das causas. Existem opiniões em que se apontam um hábito cultural de não se utilizar o transporte coletivo, que remete a uma classificação social. Outros apontam a venda massissa de automóveis nos últimos anos, facilitada pelo governo federal como estratégia de garantir uma suposta estabilidade econômica, como a causa do êxodo de usuários do transporte coletivo. Também existe outra opinião, que converge para idéia de que o transporte coletivo como é oferecido hoje não se apresenta como solução para melhorar a mobilidade urbana. Para corroborar com essa afirmação, é proposto um estudo do cenário da mobilidade urbana em que a cidade de Florianópolis se encontra, sendo que os elementos que serão expostos fazem parte de uma crítica que tem como objetivo entender qual é o problema e e em qual sentido deve-se desenvolver uma ou várias soluções. 2. Metodologia A pesquisa que deu origem a esse artigo consiste em uma pesquisa bibliográfica em conjunto com uma observação participante, tendo como resultado uma análise crítica. É caracterizada como pesquisa a e descritiva. Segundo Malhotra (2010), a pesquisa exploratória, e, segundo o mesmo autor, a pesquisa descritiva é um. Essas definições se encaixam com o que foi realizado, que foi explorar e descrever o panorama e os problemas à respeito da modalidade urbana e dificuldades a cidade enfrenta. Também é definida como um estudo de caso, pois trata do estudo, descrição e análise da realidade específica da cidade de Florianópolis, e que portanto, não se pode extender para 2

outras cidades sem um estudo prévio, mesmo que apresentem características semelhantes. Segundo Gil (2002) o estudo de caso f poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimen f. A principal vantagem de se realizar estudos de caso com coleta de dados a partir da observação participante, é a oportunidade de se perceber a realidade do ponto de vista de alguém que se encontra dentro do objeto estudado, fato este que permite obter um retrato acurado do fenômeno analisado.(yin, 2005). Essa observação participante é caracterizada pelo fato de um dos pesquisadores ser usuário rotineiro do transporte público coletivo e colaborador do F T Q B é governo e empresas. Boa parte dos dados primários da situação-problema da mobilidade urbana em Florianópolis foram obtidos com participação no Grupo de Discussão de Mobilidade Urbana da ACIF, Associação Comercial e Industrial de Florianópolis, com acesso a materiais de pesquisa. As referências encontradas nesse estudo foram ponto de partida para um aprofundamento na pesquisa online em websites do Ministério da Saúde, do DETRAN/SC e da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana. A pesquisa, cujo tema possui relevância e aplicabilidade em milhares de cidades brasileiras, mas limitou-se em estudar a situação da mobilidade urbana da cidade de Florianópolis e esse é o seu escopo. 3. Conceito de mobilidade urbana Segundo o Ministério das Cidades e o seu Estatuto, todas as cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes devem elaborar um plano de transportes e trânsito, batizado pela SEMOB - Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - de Plano Diretor de Mobilidade, ou na expressão simplificada PLAMOB. Não é só uma mudança de nome, mas uma reformulação de conteúdo: a mobilidade urbana é um atributo das cidades, relativo ao deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, utilizando para isso veículos, vias e toda a infraestrutura urbana. Este é um conceito bem mais abrangente do que a forma antiga de tratar os elementos que atuam na circulação de forma fragmentada ou estanque e de administrar a circulação de veículos e não de pessoas. 3

Segundo o é (2012) - f é. f f 4. Utilização do transporte público Em Florianópolis, 63% das pessoas nunca ou raramente utilizam. Fora da capital, os índices são ainda mais graves. Nas 10 maiores cidades de Santa Catarina, o percentual de indivíduos que utilizam o transporte público está na casa de 28%. As maiores proporções estão em Chapecó, Blumenau e Lages - em torno de 40%. A pesquisa realizada pelo Instituto MAPA em 2011, em Florianópolis, mostra as seguintes estatísticas: Meios de transportes mais utilizados Tabela 1 Estatística sobre mobilidade Urbana em Florianópolis em 2011 Atividade que move o maior n de pessoas Meios de transporte utilizados para trabalhar Carro: 41% Trabalho 58% 40% carro 52% o carro Movimentação dos estudantes da capital Ônibus: 34% Lazer: 11% 31% transporte público 21% transporte público À Pé: 11% Saúde: 9% 14% deslocam-se a pé 14% deslocam-se a pé Moto: 6% Estudo: 8% 9% motocicleta 9% motocicleta Bicicleta: 4% 6% bicicleta 2% bicicleta Fonte: MAPA (2012) Nessa tabela percebe-se uma preponderância na utilização de carros como modal principal, o que é uma tendência em outras cidades. Esses percentuais tendem a crescer ainda mais se for considerada a política de facilitação à financiamento para a aquisição de automóveis, sob o pretexto de ser uma ação para enfrentar crises econômicas e desemprego. Outro dado que chama a atenção é a utilização de carros por estudantes, sendo que esse é um setor da sociedade que tradicionalmente utiliza o transporte coletivo. Uma das justificativas recorrentes, além da falta de oferta de transporte, é o preço da tarifa, considerado alto, o que faz com que, dependendo do trajeto, o cidadão prefira o transporte em carro por apresentar menor custo. A tarifa de Florianópolis está entre as mais entre as capitais brasileiras: R$2,70. Desse valor, a prefeitura municipal em 2012 subsidiava a passagem em 15 centavos por passageiro. 4

5. Perspectivas da mobilidade urbana em Florianópolis e Florianópolis deve dobrar de tamanho por volta do ano de 2030, atingindo a marca de. Tal crescimento expressivo pode ser visualizado na imagem a seguir: Figura 1 Estimativa do crescimento da população de Florianópolis Fonte: IPUF (2008). Ainda que a capital lidere o crescimento populacional nas próximas décadas, deve-se levar em consideração toda a região metropolitana de Florianópolis. Os municípios da região contribuem fortemente para a circulação de veículos e passageiros do transporte público coletivo da capital. Na figura a serguir é mostrada a projeção do crescimento populacional da região metropolitana de Florianópolis, que no ano de 2030 se aproximará da casa de 1,4 milhões habitantes: Figura 2 - Estimativa do crescimento populacional da região metropolitana de Florianópolis 5

F B f 2010. O alto grau de concentração de serviços essenciais no eixo centro-universidade, somados ainda à população residente, geram alta movimentação de pessoas e veículos na localidade. Atualmente, de acordo com a tabela a seguir, os bairros do eixo supracitado concentram 30% da população da cidade. Tabela 2 - Concentração Populacional do Eixo Centro-Universidade em Florianópolis Ordem Centro-Universidade População 1 Agronômica 15.588 2 Centro 44.315 3 Córrego Grande 10.563 4 Itacorubi 15.665 5 Pantanal 5.496 6 Santa Mônica 1.658 7 Saco dos Limões 1.467 8 Trindade 18.812 Total do Eixo 126.767 Total da Cidade 421.240 Fonte: IBGE (2010). O grau de concentração nesse eixo é bastante alto, não permitindo que as pessoas circulem com agilidade, facilidade nem segurança. Os congestionamentos são freqüentes e cada vez aumentam mais. 6

Uma vez contextualizada a questão populacional da região e micro-localidades, é possível abordar os problemas de mobilidade urbana na cidade de Florianópolis em quatro categorias, a saber: Congestionamentos; Dispersão Urbana; Segurança no Trânsito; Acessibilidade. 5.1Congestionamentos Na capital catarinense, cerca de 59.000 pessoas dispendem mais de meia hora por dia em deslocamentos para o trabalho - basicamente, 33% da população do município. Os congestionamentos, além de comprometerm parte do tempo das pessoas, está relacionado ao consumo de derivados de petróleo e poluição de ar. Em comparação com a média do estado, conforme mostra a tabela a seguir, a cidade apresenta uma fatia de quase o dobro de pessoas com deslocamento superior a 30 minutos. Tabela 3 Tempo de deslocamento para o trabalho em Santa Catarina e Florianópolis Menos de meia hora (%) Mais de meia hora (%) Santa Catarina 81,12 18,88 Florianópolis 67,08 32,92 Fonte: IBGE (2010) Segundos dados do Detran/SC (2012) acerca da frota de veículos e do uso do transporte público na grande Florianópolis, é possível afirmar que a capacidade do atual das vias de acesso à ilha está ultrapassada em 04 vezes: Capacidade das Pontes Ponte Colombo Sales e Pedro Ivo Campos: 40 mil veículos por dia; Utilização em 2012: 176 mil veículos por dia. Durante 6 anos, entre 2005 e 2010, a frota de veículos em Florianópolis aumentou em 20%. O número de passageiros transportados aumentou bem menos: 2,79%. Ou seja, quase 7 vezes menor que o crescimento da frota de automóveis. 7

A seguir, pode-se verificar um horizonte mais amplo de crescimento da frota de veículos e conferir a inclinação da curva ascendente de novos carros nas vias da capital. Gráfico 1 - Evolução da Frota de Automóveis na Grande Florianópolis entre 1997 e 2011 Fonte: Silva (2011). Outra prova contundente de que a população está preferindo adquirir veículos próprios em vez de utilizar o transporte público é a crescente relação carro/motocicleta, carro/ônibus e motocicleta/ônibus. A tabela abaixo aponta um aumento na utilização de carros e principalmente de motocicletas: Tabela 4 Evolução da relação entre veículos na cidade de Florianópolis Relação entre veículos 2005 2010 2011 2012 Carro/Moto 6,21 5,25 5,08 5,06 Carro/Ônibus 108,6 112,5 113,53 112,11 Moto/Ônibus 17,49 21,45 22,33 22,16 8

Fonte: Detran SC (2012) Um índice negativo para a causa da mobilidade urbana sustentável na capital catarinense é o do número de habitantes para cada táxi. Florianópolis possui proporções exorbitantemente superiores a outras capitais. Conforme a tabela a seguir, a realidade de Florianópolis é pior, chegando a uma proporção sete vezes superior ao Rio de Janeiro, e quatro vezes e meia a Recife, por exemplo. Tabela 5 - Número de habitantes para cada táxi Capitais Brasileiras Florianópolis Brasília Curitiba Recife Rio de Janeiro N de Habitantes por táxi 1.114 764 700 251 150 Fonte: Secretaria Municipal de Transporte (2012) Um estudo encomendado pelo IPUF em 2006 mostrou que 42 vias da capital operam acima da sua capacidade em horários de pico. Nove delas apresentam congestionamento o ano todo - entre 30 de março a novembro e ainda durante o período de verão (temporada de turismo) férias - provocando espera nas filas que, em inúmeras vezes, ultrapassam os trinta minutos por trajeto. Na temporada os congestionamentos chegam a tempos de espera bem superiores, sendo essa uma das principais insatisfações dos turistas e dos cidadãos. O turismo de Florianópolis é focado nas praias, sendo que as rotas para a maioria dessas passa pelo eixo centrouniversidade Lagoa da Conceição, Canasvieiras, Jurerê, por exemplo. Considerando a vocação de cidade turística e a economia gerada por essa atividade, a questão do congestionamento passa a ser ainda mais crítica. A tabela à seguir apresenta os sentidos e a localização dos principais pontos de filas e intenso tráfego na Capital. Figura 3 - Sentido dos principais pontos de congestionamento 9

Fonte: Floripa Te Quero Bem, 2012. Segundo análise dos investimentos na expansão viária feitos nos últimos 11 anos na grande Florianópolis, 39% do montante aplicado foram destinados para uma via que não transita nenhum tipo de veículo, muito menos pedestres. Dos R$544 milhões investidos ao longo desse tempo, R$214 milhões foram para a recuperação da Ponte Hercílio Luz. A tabela a seguir indica os investimentos em expansão viária em Florianópolis nos últimos 12 anos : Figura 4 - Projetos executados no aglomerado urbano de Florianópolis entre 2000 e 2011 Fonte: Floripa Te Quero Bem (2012). 5.2 Dispersão Urbana O grande grau de dispersão urbana que Florianópolis possui gera a necessidade de deslocamentos por parte da população, conforme demonstra a figura a seguir, que relaciona o crescimento anual da população com o índice de dispersão urbana de algumas cidades brasileiras. Figura 5 - Dispersão Urbana 10

Fonte: Revista Exame (2012). A maior parte das pessoas está morando em bairros periféricos ou fora da cidade, mas utiliza os serviços essenciais no eixo centro-universidade - que também tem população residente. O motivo que justifica o congestionamento na cidade em função da dispersão urbana são os grandes polos de tráfego existentes no eixo centro-universidade (30% da população local): 03 Shoppings Centers; 03 Universidades/Instituto de grande porte; 13 Hospitais e maternidades; Instituições financeiras; Faculdades, escolas públicas, particulares e creches; Serviços públicos em geral; Comércio local de produtos e serviços de vários portes; 11

Clínicas médicas de várias especialidades; Hotéis; Terminal urbano; Zona residencial predial ampla. Esse tipo de urbanização dispersa tem vantagens para os moradores, mas pode aumentar o custo social do investimento público, já que para diluir os serviços e a infraestrutura em áreas pouco densas é preciso gastar mais. Nesses locais, é preciso investir em obras viárias. O impacto ambiental também aumenta com o crescimento da demanda por transporte automotivo, geralmente optado pela modalidade individual em vez da coletiva. Na figura seguinte, é possível acompanhar a significante diferença entre os custos dos transportes coletivo e individual (veículo próprio). Figura 5 - Custos individuais e sociais da mobilidade em 2009 Fonte: Floripa Te Quero Bem, 2012. 5.3 Segurança no trânsito O trânsito brasileiro mata 2,5 vezes mais do que nos Estados Unidos e 3,7 vezes mais do que na União Europeia. Para agravar ainda mais a situação, Santa Catarina tem a maior taxa média de morte por 100 mil habitantes do país, conforme a tabela abaixo: Tabela 6 - Taxa média de morte no trânsito por 100 mil habitantes 12

Brasil EUA Santa Catarina Taxa média por 100 mil habitantes 30,1 12,5 33,1 Fonte: Portal do Transito (2012) Vale lembrar que, segundo o Portal do Transito (2012), f é triplo da frota. Essa problemática está centrada, principalmente, em dois grandes aspectos: Hábito de dirigir alcoolizado; Poucas ciclovias nas rodovias e avenidas. 5.3.1 Hábito de dirigir alcolizado Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que o brasileiro não abandonou o hábito de dirigir alcoolizado: T - Médias Geral Homens Mulheres Capitais e DF 4,6% 9,8% 1,4% Florianópolis 9,6% 16,5% 3,3% F é (2012). 5.3.2 Poucas ciclovias nas rodovias e avenidas Faltam nas rodovias espaços para os pedestres e ciclistas, tanto para pessoas com deficiência bem como para as pessoas sem deficiência. A rodovia mais perigosa de Santa Catarina para quem anda de bicicleta é a SC-401, em Florianópolis. Nos seus 20 quilômetros de extensão não há espaço exclusivo para os ciclistas circularem. Com 15 atropelamentos em 2012, até o mês de junho, a mais perigosa rodovia do Estado para pedestres é a SC-405, em Florianópolis. Nos seus 2,5 quilômetros, 18 pessoas ficaram feridas e uma morreu neste ano. (PORTAL DO TRÂNSITO, 2012). Em Florianópolis, conforme o Censo de 2010 do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano de 2012, 25.785 pessoas não conseguem ou tem dificuldade de se locomover. Ou seja, 6,12% da população. Mesmo as pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência não tem um acesso 100% seguro nas calçadas de Florianópolis. Tais agravantes se devem a duas causas principais: 13

1. Baixo investimento em infraestrutura de apoio; 2. Crescimento da população idosa. Segundo o IBGE (2012), a população idosa em Florianópolis em 2012 é de 48 mil habitantes. Essa população carece de uma infraestrutura básica para se movimentar e conviver na cidade. Mas as ruas de Florianópolis não são próprias para essa população, pois: 36% não tem calçadas; 20% não tem meio fio; 92% não tem rampas para cadeirantes; 11% não são asfaltadas. Os pobres números supra mencionados chamam ainda mais atenção quando se trata do crescimento da população idosa, que o IBGE (2012) projeta para 160 mil em 2030. 6. Conclusão A cidade de Florianópolis está vivenciando problemas de mobilidade que, na sua maioria, só as cidades grandes vivenciam - fato este que demonstrou claramente que mobilidade urbana não foi prioridade nos últimos anos nessa região. O que se vê claramente na mídia são ações públicas de incentivo ao consumo de automóveis cuja economia encontra-se sob o interesse de montadoras internacionais que empregam milhares de trabalhadores no Brasil. Esse quadro acaba por sobrecarregar as vias públicas com carros guiados, na maioria dos casos por apenas um condutor, o que gera mais filas e congestionamentos, sendo esses consequentes inibidores do crescimento sustentável da sociedade brasileira. Os erros do passado recente só mostram que está se perdendo inúmeras oportunidades, pois segue-se com a cultura e a visão social de que o transporte público é alternativa para aqueles que não possuem alternativas e condições financeiras de se locomover de uma maneira mais digna. Então nesse momento é preciso repensar a forma de como se deslocar dentro da cidade de Florianópolis. Ações debatidas em pautas públicas tratam de horizontes de implementação na casa de décadas, tais como o metrô de superfície, os órgãos metropolitanos de transporte, túneis de ligação ilha-continente, entre outros. 14

O que fica no esquecimento, tanto da parte do poder público como da mídia e dos cidadãos (inconformados ou não) são que as ações corretivas de curto prazo e baixo investimento financeiro no transporte coletivo podem amenizar em muito o transito congestionado e caótico, e por isso se fazem urgentes. REFERÊNCIAS DETRAN-SC Disponível em: < http://www.detran.sc.gov.br/>. Acesso em: 12 set. 2012. FLORIAPA TE QUERO BEM, 2012. Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/pdf/13842223.pdf>. Acesso em: 5 set. 2012 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 175 p. B f 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 3 out. 2012. F F. F. Leitura Integrada da.. F. F, 2008. MALHOTRA, Naresh K. et al. Introdução à pesquisa de marketing. São Paulo: Prentice Hall do Brasil, 2005. 428 p. MAPA Instituto MAPA: Pesquisas e Informações Estratégicas. Disponível em: http://www.mapa.com.br/#. Acesso em 4 de out. de 2012. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br>. Acesso em: 3 out. 2012. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2012. PORTAL DO TRANSITO - Mapeamento das Mortes por Acidentes de Trânsito no Brasil. Disponível em: <http://portaldotransito.com.br>. Acesso em: 3 out. 2012. REVISTA EXAME, edição de 28/12/2011. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revistaexame/edicoes/1007/>. Acesso em: 3 out. 2012. SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTE. Disponível em: <http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/transportes/>. Acesso em: 3 out. 2012... F f T 15

. F. F, 2011. YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Trad. Daniel Grassi 03ª edição. Porto Alegre: Editora Bookman, 2005. 16