4.5 ARTIGO DE REVISÃO: LESÕES PRÉ- DESPORTIVAS NO JUDÔ Disciplina: Produção Acadêmica IV Curso: Educação Física Gênero: Artigo de revisão Aluno: Márcio Jonas Oliveira Vieira 1 Professora-orientadora: Ana Maria Messias Bernardelli RESUMO: O judô é uma arte marcial criada em 1882 por Jigoro Kano, é um esporte que une a técnica às bases filosóficas de seu país de origem. Pesquisas o apontam como um dos esportes que apresenta o maior número de lesões, tendo fatores como idade, tempo de prática, treinamento e descanso relacionados como principais causas das lesões. O conhecimento, por parte do atleta, da modalidade esportiva de judô das principais lesões desportivas, bem como a grande ocorrência nas competições e a profilaxia são importantes para antecipar-se à sua ocorrência ou, se pré-adquirida, atentar de forma eficaz para a uma recuperação definitiva. Este artigo de revisão bibliográfica e pesquisa de literatura científica especializada tem como objetivo a descrição as principais lesões desportivas do judô. Este esporte requer do atleta uma disciplina intensa de treinamento com dedicação total para aquisição da técnica e da tática, o que demanda horas intensas de treinamento. A computação do grande número de lesões deve-se à crescente prática e procura desse esporte. As lesões desportivas interferem no rendimento do atleta, do técnico e do clube, gerando prejuízos financeiros e interrupção de planilhas de treinamento. Foram identificadas que as lesões mais frequentes foram entorses, luxações e fraturas, acometendo as articulações do joelho, ombro e dedos de mãos e pés, sendo o fator idade na prática da modalidade determinante, pois gera experiência, minimizando a ocorrência, e os membros superiores mais acometidos, devido às pegadas, que é um fator determinante para finalizar a técnica no adversário buscando pontuar. Palavras-chave: Judô. Lesão. Rendimento. Performance. 1 INTRODUÇÃO A arte marcial esportiva judô foi criada no Japão em 1882 pelo professor de Educação Física Jigoro Kano, como forma de defesa e para desenvolver aspecto físico, espiritual e a mente do praticante, sendo de grande valor na formação do indivíduo. Chegou ao Brasil em 1922, no período da imigração japonesa, com seus mestres japoneses. O judô une as técnicas do jiu-jitsu com outras artes orientais. Esta 1 Acadêmico do curso de Educação Física da Faculdade Dom Bosco. 38
modalidade marcial tem se destacado no cenário esportivo mundial, como foi comprovado nas Olimpíadas de 2012, com participação importante do Brasil com sua equipe. A atuação do esporte paraolímpico também teve uma representação expressiva, que foi iniciado a partir dos Jogos Paraolímpicos de Atenas 2004. A divulgação pela mídia fez com que um maior número de pessoas com deficiência procurasse o esporte como forma de atividade física recreativa ou competitiva. Esses atletas também geraram um aumento no número de lesões esportivas, segundo (HAMER, 1999), conforme será apresentado a seguir. O judô é um esporte individual, porém a pontuação pode ser também computada por equipes, e segundo Carazzato (1995), para o técnico e o atleta. O prévio conhecimento das lesões mais frequentes e suas causas são importantes para o planejamento das atividades e para a prevenção das mesmas. As lesões são o resultado de uma complexa interação de fatores de risco contribuindo para o resultado e desempenho, pois quanto maior o nível do atleta, maior a possibilidade de sua ocorrência por fatores de risco intrínsecos, como a idade na prática do esporte, o sexo, a condição física, a alimentação. Também o desenvolvimento motor e os fatores psicológicos associados às lesões agudas estão mais relacionadas a fatores extrínsecos, decorrentes de overuse, lesão que ocorre devido a uma sobrecarga mecânica de baixa intensidade, atingindo determinada estrutura do aparelho locomotor. A associação dos dois fatores são estes: risco em potencial para as lesões, pelo esforço do atleta em busca de resultados, sem a observação da relação esforço-pausa e podem desgastar o aparelho locomotor, sendo o peso, fator de risco potencial das lesões, e o autor cita essa modalidade esportiva juntamente com o voleibol como a que mais causa lesões. As lesões geram para o atleta, prejuízos físicos e psíquicos e ocasionam prejuízos financeiros para o clube, para os dirigentes esportivos e impossibilitam o técnico de manter sua prescrição e treinamento (AMORIM et. al., 1989). O objetivo deste artigo de revisão bibliográfica é a nomeação e a descrição das principais lesões decorrentes da pratica da modalidade esportiva de judô, os fatores principais de suas causas e os prejuízos decorrentes para o atleta, para o técnico, para o clube e para os dirigentes esportivos. 2 CARACTERÍSTICAS DO JUDÔ O judô é uma arte marcial com a característica que une a técnica e as bases filosóficas, e segundo estudos é a arte marcial que mais apresenta a ocorrência de lesões. A adesão à prática da arte ocorre principalmente nas idades púberes e pré-púberes, sendo a mídia fator impulssionante da divulgação e as conquistas olímpicas de Aurélio Miguel e Rogério Sampaio nas participações internacionais, segundo Fraga (2002). Para a prática do judô é necessário um conhecimento técnico significativo em termos de performance. O judoca necessita de automatização do movimento, que, segundo Santos et al. (2001), ocorre somente após um treinamento sistemático de vários anos consecutivos, englobando vários fatores, que incluem a preparação física, técnica e tática, e a preparação psicológica, dentre outras. Segundo Caine et al. (1996), citados por Franchini 39
e Del Vecchio (2008), lesão desportiva é toda a condição ou sintoma que implicou empelo menos uma das seguintes consequências e que tenha ocorrido como resultado da participação da atividade desportiva. Tenha sido motivo direto para interromper a atividade desportiva (treinos e competições) durante pelo menos 24 horas; se a condição ou sintoma não motivou a interrupção total da atividade desportiva, mas foi determinante para alterar a sua atividade quer em termos quantitativos (menor número de horas de prática, menor intensidade dos exercícios/ esforços físicos) quer em termos qualitativos (alteração dos exercícios ou movimentos realizados). O que é certo, para técnicos, treinadores e atletas, é que as lesões desportivas são variáveis de relevância ímpar no processo de treinamento desportivo. Quando já existentes, influenciam os métodos e meios de treinamento, assim como a seleção de exercícios e a dinâmica empregada na intensidade dos estímulos, e quando adquiridas na situação prática ocasionam limitações físicas e psicológicas. Por outro lado, quando adquiridas na situação prática, ocasionam limitações físicas e psicológicas em curto, médio e longo prazo. (DEL VECHIO, 2006, p. 166-171). Franchini e Del Vechio (2008) citam que na modalidade de judô é elevado o número de atletas de alto nível que se lesiona, e esse fato ocorre sempre após eventos como campeonatos mundiais e olímpicos, culminando com cirurgias para agravos pré-existentes. As lesões podem ocorrer nas fases de treinamento e competição, sendo mais agravada no período competitivo. Esses atletas geralmente já treinam e competem lesionados, mesmo com limitações na amplitude de movimento e força, prejudicando o desempenho competitivo, segundo SOUZA et al. (2006) citado por Franchini e Del Vechio (2008). Um elevado percentual de gordura corporal, perda de força de membros superiores reduzida e baixa flexibilidade aumentam os riscos dos atletas de se lesionarem, segundo Domingues et al. (2005), citados por Franchini e Del Vechio (2008). Estudos de Lima e Nogueira (1998), citados por Santos et al. (2001), diagnosticaram que a maior incidência de lesões é entre judocas iniciantes, entre um até dois anos de prática. Uma lesão específica do judô com grande ocorrência é a verificada nos movimentos de rotações exagerados sobre um dos pés e com as paradas bruscas, gerando, nesse sentido, lesões nas articulações dos joelhos, segundo Oka e Raschka C. (1999), mas podem ocorrer também no tornozelo e no cotovelo, denominada de osteodistrofia de cotovelos (deformações dos ossos) e junção de dedos. O judô é um esporte de contato, e devido ao uso frequente dos membros superiores por meio da pegada os mecanismos que sofrem a lesão localizados no plano osteoarticular (ossos envolvidos com as articulações e seus compostos: cartilagem hialina, cápsula articular, ligamentos tendões e outros tecidos que fazem parte da articulação), gerando torções e trauma direto durante a prática são os polegares, sofrendo as subluxações e nas articulações metacarpofalângeas, ocorrem as hiperabduções, sendo a baixa flexibilidade o fator de risco, conforme Bahri (2001), citado por Franchini e Del Vechio (2008). 40
De acordo com Almeida (1991), citado por Santos et al. (2001), são dois os fatores de risco para a ocorrência de lesões. Os fatores intrínsecos, que são aqueles relacionados à idade do praticante, sexo, condição física, desenvolvimento motor, alimentação e fatores psicológicos. Os fatores extrínsecos são os relacionados à especificidade técnica da modalidade, ao tipo de equipamento usado, à organização do treino e da competição, a cargas do treino e da competição e às condições climáticas, que são fatores em potencial para as lesões. Neste fator, as lesões agudas como entorses, luxações e fraturas são causadas por traumas repetitivos, sendo consideradas as mais comuns no esporte. Podem, segundo a gravidade, atingir os planos dérmicos, que são os mais superficiais da pele, o ósseo e o articular. Segundo Birrer (1996), citado por Franchini e Del Vechio (2008), a falta de uso de equipamentos de proteção, as atividades não supervisionadas e o contato excessivo são elementos determinantes nas lesões, bem como a escassez de conhecimentos de primeiros socorros para intervenção imediata. Segundo Caine (1996); Moreira (2003); Requa (1996), citados por Daniel et al. (2005), as lesões se classificam para etiologia e diagnósticos em (a) leve: são as que não afastam o judoca do treinamento; (b) moderado: as que resultam em um afastamento de treino ou competição e (c) grave: a que resulta em afastamento maior que um dia de treino ou competição. Meneses (1993), citado por Santos et al. (2001), classifica no judô as lesões em típicas e atípicas. Lesões típicas representam aquelas mais frequentes na prática esportiva, ou seja, as mais comuns em cada modalidade esportiva, incidindo de forma muito superior em relação às atípicas, ocorrendo tanto na fase de treinamento quanto na fase de competição. Já as lesões atípicas são acidentais, isto é, não são comuns a determinada modalidade esportiva, ocorrendo de forma rara no esporte. A relação de ocorrências de lesões específicas por horas de atividades na prática do judô colocam o desporto como pertencente ao grupo de alto risco com ocorrência de 18,3 lesões por 1000 horas de atividades segundo Parkkari et al. (2004). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo de revisão bibliográfica e de artigos científicos on-line demonstrou que a iniciação da prática do judô por parte de jovens e adolescentes é crescente e os meios de comunicação impulsionam essa procura, porém este esporte figura como um grande provocador de lesões, sendo apontado como um provocador de alto índice dessa ocorrência. O conhecimento das técnicas e táticas empregadas, a preparação física e o desenvolvimento motor garantem a performance e o rendimento esportivo, porém o grande número de competições forçam o atleta a atuar muitas vezes já lesionado, agravando o quadro e interrompendo o programa de treinamento, gerando prejuízos para o atleta e clube. O conhecimento prévio das lesões mais comuns como os entorses, as luxações e as fraturas, o tempo de reação para a antecipação a ação motora que as causa, a observação da relação esforço-pausa e a alimentação são fatores que atuam para evitar a ocorrência das lesões. 41
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