COMO SER UM PROFESSOR AUTÔNOMO? DA TEORIA À PRÁTICA, REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE ALEMÃO COMO LE Vanessa Luana Schmitt (UNIOESTE)1 Elisangela Redel (Orientadora - UNIOESTE)2 Resumo: Com base na Atividade Prática como Componente Curricular (APCC), realizada na disciplina de Língua Alemã III, do Curso de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Candido de Rondon, este trabalho pretende trazer uma breve discussão sobre a produção de materiais de ensino para as aulas de Alemão como Língua Estrangeira, tratando, por exemplo, sobre o papel desempenhado pelo livro didático, e focalizar o uso da língua materna como aliado ao ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. As discussões feitas visam a refletir sobre a formação de professores autônomos, partindo dos pressupostos teóricos de Leffa (1988; 2007; 2012; 2016), Terra (2004), Schäfer; Stanke (2014), Buhonovsky (2009), Voerkel (2014) e Vilaça (2009) e da APCC mencionada, que permitiu não apenas a leitura de textos teóricos isolados, mas sua aplicação à realidade escolar observada e à prática docente. Palavras-chave: Língua Estrangeira (LE); Ensino-aprendizagem; Professor autônomo. Considerações iniciais Com base na Atividade Prática como Componente Curricular (APCC), realizada na disciplina de Língua Alemã III, este trabalho visa a refletir sobre a formação de professores autônomos de Língua Estrangeira, tratando dos seguintes aspectos: a produção de materiais para o ensino de Alemão, o papel desempenhado pelo livro didático e o uso da língua materna como aliado ao ensino-aprendizagem de línguas Estrangeiras. Um dos aspectos mais importantes na criação de uma aula está nos materiais que o professor utilizará em sua aula. Para tanto, é necessária conscientização profissional e recorrer a suportes teóricos que orientam a seleção e avaliação de materiais de ensino. Uma das questões que orientará esta escolha será o professor observar quem será o público que participará da aula de Língua Estrangeira, e quais são os interesses, motivações e objetivos dos alunos em relação ao idioma escolhido. Tais informações 1 Graduanda do terceiro ano do Curso Letras/ Alemão da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: vanessa.s96@hotmail.com. 2 Professora Colaboradora de Língua Alemã no Curso de Letras - Português Alemão/Inglês/Espanhol da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Cândido Rondon. Doutoranda em Letras (Língua e Literatura Alemã) pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: lizaredel@gmail.com 1
constituem o alicerce indispensável para o planejamento a curto, médio e longo prazo das aulas e, por extensão, auxiliam na pesquisa, avaliação, seleção e emprego de textos autênticos, que possibilitam ao aluno estabelecer relações de sentido com seu contexto e suas experiências, construindo, desta forma, o conhecimento almejado. Além disso, é preciso que o aluno seja sempre motivado a continuar aprendendo. Considerando a tarefa do professor como facilitador da aprendizagem, este deve atrair o interesse dos alunos e auxiliá-lo para que o aprendizado possa avançar também fora de sala de aula, visto que, hoje, vivencia-se um mundo globalizado e os novos recursos não apenas podem, mas devem estar presentes e serem utilizados a favor do ensino e do aprendizado dos alunos. No entanto, não raro muitos professores se acomodam ao trabalho com o livro didático. As discussões sobre isso serão apresentadas neste próximo tópico. O papel do livro didático no ensino de Língua Alemã O livro didático pode proporcionar ao professor muitas atividades e textos interessantes para trabalhar com seus alunos, porém, às vezes, é necessário que o professor busque outros materiais para que o ensino de determinado conteúdo se torne mais completo. Ou seja, o material didático deve servir como um recurso de apoio ao professor e não como um fim para o ensino da língua, conforme verificamos em Buhonovsky (2009, p.23). O grande problema, hoje, é que a maioria dos livros didáticos é produzida fora do país e não atende de forma adequada ao público (neste caso, brasileiro) e aos diversos interesses presentes. Outro problema, neste sentido, é que os livros didáticos podem, muitas vezes, vender determinada imagem sobre a cultura do povo dos países onde esta língua predomina. Os alunos, ao fazerem uso deste material, precisam ser conscientizados por meio da discussão com o professor, conforme abordam Schäfer; Stanke (2014). Os livros didáticos podem proporcionar grandes mudanças em sala de aula, quando é bem pensado durante a escolha do professor, visto que o orientam a mudar seus procedimentos de ensino, de acordo comas exigências do novo material (BOHUNOVSKY, p. 23). Um trabalho fazendo uso de livros didáticos pode levar os estudantes a conhecerem os aspectos culturais da língua, visto que o aprendizado de uma nova língua, muitas vezes, torna-se limitado à sala de aula. O livro didático deveria ser melhor tanto para o aprendizado dos estudantes, tanto para a didática do professor. Isto significa que o livro didático não deve 2
restringir a atuação deste em sala de aula, mas valorizar seu trabalho autônomo (BOHUNOVSKY, 2009, p. 29). Mas a teoria nem sempre condiz à prática e grande parte dos professores de LE encontram dificuldades em buscar materiais além do livro didático, sendo que este deveria ser um roteiro e que permite espaço para modificações no âmbito em que é usado. Existem livros didáticos que fazem uso da língua materna para auxiliar os alunos no aprendizado da língua estrangeira. Este aspecto será discutido mais profundamente no próximo tópico. O uso da língua materna como aliada do ensino-aprendizado de língua estrangeira A língua materna pode ser grande aliada do aprendizado de um novo idioma quando proporciona ao indivíduo pontes do objeto em estudo com a sua realidade, facilitando, desta forma, a compreensão de textos e o aumento do vocabulário, conforme se aprende em Leffa (2016, p.205). Encontram-se muitos professores que a usam em sala de aula, como forma dos estudantes compreenderem melhor a língua em estudo, evitando, desta forma, a desistência em aprender, por considerar o idioma difícil, como no caso da Língua Alemã. O grande problema configura-se quando o estudante se acomoda na língua materna e evita interagir em língua estrangeira devido ao medo do erro. Este problema persiste há muito tempo no ensino de uma nova língua, como se perceberá através da apresentação breve dos métodos que foram aplicados no decorrer da história, como se vê em Leffa (1988): a) método de Tradução e gramática, o método direto, neste a língua estrangeira deve ser aprendida pela própria língua estrangeira e a língua materna jamais deve ser utilizada em sala; b) o método audiolingual, neste método era dada ênfase à comunicação da LE, sendo esta uma reedição do Método direto; c) a abordagem comunicativa, esta preencherá as lacunas deixadas na metodologia do método audiolingual, tratando o uso da linguagem como eventos comunicativos. Através do estudo dos diversos métodos apresentados até então, pode-se perceber que ora a língua materna ganha muita relevância no ensino de um novo idioma, ora esta se encontra totalmente banida, como no método direto. Enquanto que a língua materna é aprendida para a sobrevivência, a língua estrangeira é estudada e internalizada pelos estudantes por razões socioculturais. Sendo o aprendizado de uma nova língua mediada 3
pela língua materna, como pode-se perceber em Terra (2004, p.103): as palavras de nossa língua materna teriam ligação direta ao mundo dos objetos, enquanto palavras de línguas estrangeiras estariam ligadas ao mundo dos objetos apenas através de palavras de nossa língua materna. Logo, acrescenta Terra (2004, p.103): o êxito no aprendizado de uma língua estrangeira depende de certo grau de maturidade na língua materna, a criança pode transferir para a nova língua o sistema de significados que já possui de sua própria. Concluindo, desta forma, que a língua materna seria a porta de entrada para a língua estrangeira. Com grande maturidade de conhecimento de mundo em língua materna, o estudante será capaz, sem precisar traduzir palavra por palavra, compreender o sentido das ideias expressas num texto de LE. Considerando isso, a língua materna deve ser valorizada e considerada no ensino de uma nova língua, podendo o professor, desta forma, produzir um aprendizado significativo a seus alunos. Ao professor, que não sabe realmente quando usar a língua materna como forma de auxílio para o engajamento social, poderá cada vez que a utilizar em suas aulas, perder uma oportunidade de exposição da LE ao aprendiz. A abordagem comunicativa defenderá o uso de textos autênticos para o ensino de língua estrangeira, mas o ensino só se revolucionou com a entrada do pós-método, em que o professor ganha autonomia para decidir quais técnicas de ensino utilizará em sua aula. Portanto, para exercer a sua autonomia de forma satisfatória é necessário que o professor tenha: o domínio da língua e de suas respectivas culturas, que ensina e também utilize metodologia(s) adequada(s), sabendo motivar os alunos e fazer a escolha de materiais adequados, tendo domínio de classe, e certa personalidade para auxiliar os alunos, conforme se aprende com Leffa (2016, p.72), e esteja sempre atualizado sobre o que há de novo na área que atua. Neste sentido, para ser um professor autônomo, é necessário saber sobre o que se ensina e estar sempre se informando dos novos recursos que podem servir de auxílio para o ensino, e para o aprendizado dos alunos, recorrendo sempre à teoria para criar suas aulas. Considerações Finais Conforme as discussões realizadas até aqui, pode-se compreender a importância do professor ter autonomia, o que passou a ser um direito garantido com a entrada do pós- método, que possibilitou a ele fazer escolha de que método empregar. 4
Referências II COLÓQUIO DE PRÁTICAS DOCENTES BOHUNOVSKY, R. A escolha de um livro didático internacional para o contexto brasileiro: estabelecer e adaptar os critérios de avaliação. R E V I S T A X, Paraná, n. 2, p.22-38, 2009. LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de línguas. In BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tópicos em lingüística aplicada: O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988. p. 211-236.. Língua Estrangeira: Ensino e aprendizagem. Pelotas. Educat.2016. Ensino de línguas: passado, presente e futuro. Revista de Estudos Linguísticos, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p.389-411, 2012. MOURA, M. (Org.) ; SALIÉS, T. M. G. (Org.) ; BOLACCIO, E. (Org.) ; STANKE, R. S. (Org.). Ensino-aprendizagem de alemão como língua estrangeira: teoria e práxis. 1a. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2014. v. 1. 206p. TERRA, M. R. Língua materna (LM): Um recurso mediacional importante na sala de aula de aprendizagem de língua estrangeira. Trab. de linguística aplicada, Campinas, p.97-113, 2004. VILAÇA, M. L. C. O material didático no ensino de língua estrangeira: definições, modalidades e papéis. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, Rio Grande do Norte, v. 8, n. 30, p.1-14, 2009. 5