As Reformas Religiosas na Europa Moderna

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Transcrição:

As Reformas Religiosas na Europa Moderna

Mudanças na Baixa Idade Média A partir de meados do século XI, transformações na sociedade europeia levaram a uma crise dos valores medievais. Renascimento: surgido na Península Itálica, pode ser caracterizado como um movimento de renovação no saber, nas artes, nas ciências e na política entre os séculos XIV e XVI. Humanismo: pensamento que valorizava a ação, a liberdade, o espírito crítico, o talento e a capacidade do ser humano de conduzir o seu próprio destino. Os humanistas queriam superar o pensamento medieval, retomando a cultura clássica, embora muitas de suas ideias fossem herdeiras da era medieval. A invenção da imprensa permitiu a difusão do pensamento humanista e renascentista pela Europa ocidental.

As características do Renascimento A partir do século XV, o Renascimento espalhou-se por várias regiões da Europa, onde apresentou as seguintes características: Classicismo: retomada dos valores da Antiguidade clássica. Hedonismo: valorização do corpo, dos prazeres terrenos e espirituais, culto à beleza e à perfeição. Naturalismo: interesse em retratar o ser humano, os animais e a natureza de maneira realista, por meio de estudos de anatomia. Racionalismo: busca da verdade pela pesquisa científica. Antropocentrismo: o ser humano no centro do universo. Os valores renascentistas entraram em choque com os princípios católicos, contribuindo para a eclosão de movimentos reformadores.

REPRODUÇÃO - CAPELA SISTINA, VATICANO A pintura renascentista O nascimento de Adão (detalhe), pintura de 1508-1512, de Michelangelo Buonarroti.

REPRODUÇÃO - MOSTEIRO DE SANTA MARIA DELLE GRAZIE, MILÃO A pintura renascentista A última ceia, 1495-1498, pintura de Leonardo da Vinci.

Os antecedentes A Igreja Católica sofreu muitas críticas ao longo da Baixa Idade Média, motivadas, principalmente, pelas seguintes práticas: Venda dos cargos eclesiásticos; Indulgências Simonia Despreparo dos clérigos para a vida religiosa; Vida luxuosa do clero. Movimentos heréticos na Baixa Idade Média: mistura de crítica religiosa e social. Nos séculos XIV e XV, intelectuais como John Wycliffe e Jan Huss criticavam a Igreja eles são considerados precursores da Reforma. A formação das monarquias nacionais, o movimento renascentista e o crescimento da burguesia ajudaram a enfraquecer o poder do papa.

- A ambição da nobreza feudal leiga pelas terras da Igreja, o que fez da Reforma uma alternativa para conquistá-las, na medida em que a mesma, enfraquecida, perderia a capacidade de evitar. - A necessidade da burguesia se libertar do controle econômico da Igreja, que, através da Lei da Usura (proibição de empréstimos a juros) e da Lei do Justo Preço (acréscimo ao preço final do produto apenas o valor do trabalho nele realizado, além dos custos de produção), dificultava a maior expansão das atividades burguesas. - A possibilidade vista pelos camponeses de se libertarem da exploração a que eram submetidos nos feudos eclesiásticos e de se apossarem das terras da Igreja, já que a crise feudal estava resultando na perda pelos mesmos do acesso à terra. - A corrupção e depravação presentes na Igreja Católica, demonstradas pela prática da Simonia (comércios de relíquias e coisas sagradas), pela venda de indulgências e de cargos eclesiásticos, pelo desrespeito a voto de castidade e pela vida desregrada do clero católico. - O confronto dentro da Igreja de dois sistemas teológicos: o Agostinianismo, que defendia a salvação pela fé, baseado no princípio da predestinação, e o Tomismo ou Escolástica, que introduziu o princípio do livre-arbítrio, passando a considerar apenas a fé insuficiente para a salvação, para a qual achava também indispensáveis as boas obras. - A revolução cultural representada pelo Renascimento, que, ao laicizar a cultura, possibilitou o questionamento dos dogmas da Igreja Católica.

A Reforma nos principados alemães - As condições econômicas e políticas da Alemanha, à época o Sacro Império Romano-Germano favoreceram a eclosão da Reforma no país, haja vista que a sua característica principal era a descentralização política, pois o Império era formado por principados leigos e eclesiásticos independentes (grandes domínios territoriais), cujos senhores, denominados de príncipes, elegiam o imperador, pertencente à Dinastia dos Habsburgos, que era representada por Carlos V, imperador com fortes ligações com a Igreja Católica, pois havia cardeais entre os Eleitores do Sacro Império, já que inúmeros feudos eram controlados pelo clero, que lucrava bastante com o arrendamento dessas terras e, conseqüente, exploração dos camponeses. Além disso, a arrecadação do dízimo e a venda de indulgências também se constituíam em fontes de recursos para a Igreja, o que levava vários segmentos sociais a criticarem-na, criando um campo fértil para a proposta da reforma religiosa.

- Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano e professor na Universidade de Wittenberg, iniciou a Reforma ao afixar 95 Teses nas portas da Catedral de Wittenberg, no ano de 1517, nas quais radicalizava suas críticas à Igreja e ao Papa e retomava o princípio da predestinação de Santo Agostinho, afirmando a salvação pela fé e a inutilidade das boas ações, negando o dogma da transubstanciação, transformação do pão no corpo e do vinho no sangue de Cristo, durante o ritual da consagração na missa, defendendo a liberdade de culto e de consciência individual, ou seja, o livre-arbítrio, e condenando a venda de indulgências. A atitude de Lutero foi uma reação à bula do Papa Leão X, no mesmo ano de 1517, determinando a venda de indulgências na Europa numa proporção antes nunca vista, com o objetivo da construção da Catedral de São Pedro, em Roma. - Para agilizar e racionalizar a venda das indulgências, Leão X fez acordos com a França e a Inglaterra e também com os banqueiros alemães, dividindo com os mesmos os lucros arrecadados.

Nas 95 Teses, Lutero colocava em xeque a postura da Igreja e a autoridade do Papa: Tese 6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si. Se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro. Tese 22 Com efeito, ele não dispensa as almas do purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida. Tese 95 E, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

- A resposta do Papa foi a emissão de uma bula condenando Lutero e exigindo sua retratação, sob pena de excomunhão. Ao receber a intimação papal, Lutero a queimou, sendo então excomungado. - A nobreza leiga alemã, contrária ao projeto de centralização política do Imperador, apoiou, em sua maioria, a Reforma Luterana, colocando-se contra o papa. Diante disso, Carlos V convocou a Dieta de Worms, em 1521, (dieta era a assembléia imperial formada pelos príncipes leigos e eclesiásticos) para que Lutero fosse julgado. Como o julgamento foi favorável a Lutero, pois a maioria dos príncipes era contrária ao papa, Carlos V decretou seu banimento dos territórios imperiais, tendo sido acolhido por Frederico da Saxônia, em cuja propriedade passou dois anos, nos quais traduziu a Bíblia do latim para o alemão, utilizando-se do livre-arbítrio, e pregou as secularizações, a tomada das terras da Igreja pelos príncipes, que financiaram a divulgação das idéias luteranas por todo o Império. - Apesar da Reforma de Lutero estar voltada, claramente, para a cooptação dos príncipes, suas pregações despertaram segmentos sociais menos privilegiados, como os cavaleiros, pequena nobreza empobrecida sem terras e sem prestígio social, e as massas camponesas, que se reuniram em torno da seita dos anabatistas, que só admitia o batismo dos adultos, pois as crianças não teriam maturidade para escolher, e pregava a volta ao Cristianismo do tempo dos apóstolos, ou seja, à comunidade de bens, exigindo a distribuição das riquezas e das terras.

- No ano de 1530, Lutero, com a ajuda do teólogo Filipe Melanchton, redigiu um documento onde apresentava os princípios da sua doutrina, denominando-o de Confissão de Augsburgo, no qual defendia: A salvação pela fé, afirmando o agostinianismo e rejeitando o tomismo. A Bíblia como o único dogma absoluto da religião reformada. A livre interpretação da Bíblia e sua tradução para as línguas nacionais. A criação de uma Igreja Nacional, sem hierarquias religiosas como o papa e os bispos. A extinção do clero regular, do celibato clerical e dos ícones (imagens religiosas). A aceitação de apenas dois sacramentos: batismo e eucaristia (comunhão). A negação da transubstanciação e a aceitação da consubstanciação, ou seja, o pão e o vinho representam o corpo e o sangue de Cristo. A submissão da Igreja ao Estado. A substituição do latim pelo alemão nos cultos religiosos. A supressão da missa. - Com o objetivo de se reconciliar com o poder imperial, os príncipes alemães firmaram um acordo conhecido como a Paz de Augsburgo, que estabeleceu o princípio Cujus Regis ejus reeligio, segundo o qual cada príncipe escolheria a religião dos seus súditos, e a oficialização das secularizações, ou seja, que as terras tomadas da Igreja pelos nobres eram dos mesmos, embora proibisse novas secularizações. A Reforma na Alemanha contribuiu para fortalecer o feudalismo e, consequentemente, impedir a implantação do absolutismo monárquico.

As Reformas calvinista e anglicana Teologia calvinista Princípio da predestinação; valorização do trabalho e da poupança, vida ascética. Sua teologia agradou a burguesia, trazendo conforto espiritual para suas atividades. As ideias calvinistas se espalharam pela Europa ocidental e deram origem a várias igrejas reformistas.

O Calvinismo foi a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvolvidos Países Baixos, Inglaterra e França as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII. Por isso, para ele nos voltamos em primeiro lugar. Naquela época, e, de modo geral, mesmo hoje, a doutrina da predestinação era considerada seu dogma mais característico. Essas afirmações feitas por Max Weber, na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, indicam a estreita relação que o Calvinismo manteve com o Capitalismo, já que seus princípios justificavam e legitimavam as práticas burguesas. João Calvino (1509-1564), embora tenha sido precedido por Ulrich Zwinglio como reformador na Suíça, foi o grande reformador do país, onde a reforma representou, antes de mais nada, uma necessidade burguesa, pois a Suíça encontrava-se dividida em cidades-repúblicas comerciais, como Zurique, Basiléia, Genebra e Berna, cujos governos estavam nas mãos da burguesia mercantil e cujos negócios encontravam nas barreiras impostas pela Igreja Católica limites a sua expansão.

Calvino, obrigado a fugir da França por ter se convertido ao Luteranismo, chegou a Genebra em 1536, publicando na cidade a obra que contém os princípios da sua doutrina, intitulada Instituição da Religião Cristã, na qual reafirmava as doutrinas luteranas da salvação pela fé e levava a Teoria da Predestinação às últimas conseqüências. (...) Ele não cria a todos em uma mesma condição e estado; mas ordena uns a vida eterna e a outros a perpétua condenação. Portanto, segundo o fim a que o homem é criado, dizemos que está predestinado ou à vida ou à morte (...) (CALVINO. Instituição da religião cristã. Apud. ARTOLA, Miguel. Textos fundamentales para la Historia. Madri, Alianza, 1995.)

O Calvinismo justificou as práticas burguesas defendendo princípios, como a valorização moral do trabalho, considerado como a única fonte da salvação, o estímulo à poupança, com o conseqüente não desperdício de tempo e de dinheiro, a justificação da acumulação da riqueza, considerando que os ricos foram predestinados por Deus a enriquecer e a usar seu dinheiro para criar mais oportunidades de trabalho para que mais pessoas pudessem obter a salvação, a defesa da vida frugal, isto é, simples como forma de evitar o desperdício. Em 1541, Calvino assumiu o governo da cidade de Genebra, implantando uma ditadura teocrática, exercida pelo Consistório (assembléia presidida por Calvino), que colocou em vigor As Ordenações Eclesiásticas, conjunto de normas que visava controlar o cotidiano da população genebrina e obrigá-la a participar dos cultos e da comunhão. Segundo o historiador Edward Burns: Não somente o assassinato e a traição classificavam-se como crimes capitais, mas também o adultério, a feitiçaria, a blasfêmia e a heresia, sendo esta última, em especial, suscetível de ampla interpretação. Durante os quatro primeiros anos de governo calvinista em Genebra houve nada menos de cinqüenta e oito execuções numa população total que não ia além de 16.000 habitantes. No entanto, os bons efeitos de toda essa severidade parecem ter sido mínimos. (...) Houve mais casos de vícios em Genebra do que antes. (BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental. Rio de Janeiro, Globo, 1975.)

Reforma Anglicana Na Inglaterra, o rei Henrique VIII teve apoio dos súditos para romper com Roma e criar a Igreja Anglicana em 1531. Com o Ato de Supremacia (1534), o rei tornou-se chefe supremo da Igreja na Inglaterra.

A reforma na Inglaterra assumiu um significado essencialmente político, na medida em que resultou dos choques entre a autoridade real e eclesiástica, sendo a primeira representada pela Dinastia Tudor, que lutava para fortalecer o poder monárquico. Esse contexto favoreceu a disseminação das idéias reformistas no país, além do que a realeza e a nobrezas inglesas ambicionavam se apossar das grandes extensões de terras possuídas pela Igreja na Inglaterra, onde também as idéias dos humanistas e pensadores do Renascimento corroíam a autoridade tradicional, permitindo que os princípios luteranos e calvinistas penetrassem na sociedade inglesa e, principalmente, na gentry, pequena nobreza ligada a atividades mercantis. A eclosão da reforma na Inglaterra está relacionada a uma questão pessoal do rei Henrique VIII, que, no ano de 1527, solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão, por ela não ter lhe dado um filho, para que pudesse se casar com Ana Bolena. Como Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, do Sacro Império Romano- Germano, aliado da Igreja no Combate aos luteranos, o papa se negou a intervir, levando o rei a colocar em vigor o Ato de Supremacia, em 1534, pelo qual se declarava chefe supremo do Estado e da Igreja na Inglaterra, dando início ao Cisma Inglês. Desse modo, a partir de 1536, muitos mosteiros deixaram de existir, sendo suas terras e outros feudos eclesiásticos confiscadas e vendidas a nobres, comerciantes e fazendeiros, que se tornaram a base social da Igreja Anglicana, cuja consolidação ocorreu no reinado de Elisabeth I, que promulgou o Ato dos 39 Artigos, através do qual organizou administrativa a nova igreja. A preservação de muitos dos elementos do catolicismo na igreja reformada da Inglaterra levou à dissidência dos puritanos, calvinistas ingleses que passaram a exigir a purificação do protestantismo inglês, tornando-se por isso alvos das perseguições do Estado absolutista.

A Reforma Católica A Reforma Católica foi uma reação da Igreja de Roma aos movimentos protestantes e uma tentativa de disciplinar o clero católico. O papa Paulo III convocou o Concílio de Trento (1545-1563), que tomou as seguintes resoluções: Reafirmação dos dogmas católicos e dos sete sacramentos. Confirmação da transubstanciação, da hierarquia do clero e do celibato clerical. Criação do Index de livros proibidos aos católicos. A Reforma Católica também promoveu a reorganização do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), visando combater as práticas judaizantes e as igrejas reformadas. O movimento católico também foi reforçado com a criação da Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola, em 1540, importante na evangelização dos ameríndios.

Entre as medidas tomadas pela Igreja na Contra-Reforma estão: A reorganização do Tribunal do Santo Ofício ou da Santa Inquisição, que passou a punir àqueles que difundiam práticas religiosas discordantes com as católicas. A publicação do Index Librorum Proibitorum, lista de livros cuja leitura era proibia aos católicos e na qual constavam obras renascentistas, traduções protestantes de textos sagrados, textos de Calvino e Lutero sobre heresias e cismas, etc... A organização ou reorganização de ordens religiosas, destinadas a propagar a fé católica pelas áreas conquistas na Expansão Ultramarina, permitindo à Igreja recuperar os fiéis perdidos na Europa para as religiões reformadas. Exemplo de ordem criada na Contra-Reforma foi a Companhia de Jesus, em 1534, por Ignácio de Loyola e reconhecida oficialmente em 1540, pelo Papa Paulo III. A realização do Concílio de Trento (1545-1563), com o objetivo de reafirmar os dogmas católicos e reorganizar a Igreja, e cujas principais medidas foram: - a reafirmação dos dogmas católicos; - o reconhecimento da validade dos sete sacramentos; - a confirmação da transubstanciação; - a ratificação do celibato clerical e da hierarquia do clero; - a necessidade das boas ações, além da fé, para a salvação; - a proibição da venda das indulgências e da prática da simonia; - a criação de seminários para a formação dos sacerdotes; - a elaboração de catecismos para o ensino da religião; - o reconhecimento da Vulgata, tradução da Bíblia feita por São Jerônimo, no século V, como a única válida para a leitura dos católicos; - a reafirmação do uso do latim nos rituais religiosos.

REPRODUÇÃO MUSÉE DES BEAUX ARTS LAUSANNE, LAUSANNE O massacre de São Bartolomeu A Noite de São Bartolomeu, de François Dubois, do século XVI. A pintura de Dubois representa o massacre de 3 mil calvinistas franceses, os huguenotes, por ordem da família real católica da França, ocorrido na noite de 24 de agosto de 1572.