A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO DE EMPRESA DECLARADA INIDÔNEA PARA LICITAR, QUE UTILIZA DE SOCIEDADE DISTINTA PARA BURLAR A SANÇÃO.

Documentos relacionados
São João del-rei, 26 de novembro de Processo: / Pregão Eletrônico: 029/2015 Assunto: Decisão Recurso Administrativo

PARECER. Assunto: Impugnação ao Edital Carta Convite 002/2015 Sescoop/PE (prazo de convocação)

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS (TJAM) COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO (CPL)

Resumo do Regulamento de Utilização do Cartão Business Travel Bradesco

ESTADO DE MATO GROSSO AUDITORIA GERAL DO ESTADO ORIENTAÇÃO TÉCNICA Nº. 054/2010

I mprobidade Administrativa

O exame de processos de outorga de concessão deve conter em sua introdução as informações básicas relativas ao tipo de processo.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. EDITAL DE CHAMAMENTO PÚBLICO Nº 01/2016 (retificado conforme publicação no DOU nº 75, de 20/04/2016, página 80)

Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Projeto de Lei nº 2.163, de Autor: Deputado Vicentinho. Relator: Deputado Assis Melo

Auditoria de Meio Ambiente da SAE/DS sobre CCSA

MATÉRIA: LEI Nº 8.429/92 PROFESSOR: EDGARD ANTONIO NÍVEL SUPERIOR

ATA DE ANALISE DE IMPUGNAÇÃO

O presente artigo tem como objetivo oferecer algumas impressões acerca de ambas as questões supracitadas.

ILMO (A). SENHOR (A) PREGOEIRO (A) DA FUNDAÇÃO LUÍS EDUARDO MAGALHÃES - FLEM

Sessão de 02 de fevereiro de 2016 RECURSO Nº ACÓRDÃO Nº REDATOR CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTE DE CONDUTA Nº 022/2009

CONSIDERANDO a transparência e segurança que resultará da implementação do novo modelo gerencial para a definição da política tarifária;

Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas. Novo Mercado de. Renda Fixa

ANÁLISE DOS CUSTOS DAS OBRAS PÚBLICAS André Mainardes Berezowski Controlador de Recursos Públicos

O CONGRESSO NACIONAL decreta: CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

IVA - REGIME ESPECIAL DE ISENÇÃO PREVISTO NO ARTIGO 53.º DO CÓDIGO DO IVA

Código: MINV-P-003 Versão: 03 Vigência: 03/2011 Última Atualização: 02/2016

- PARA CRIMES CUJA PENA MÁXIMA SEJA IGUAL OU SUPERIOR A QUATRO ANOS: PROCEDIMENTO ORDINÁRIO;

M.S PRESTADORA DE SERVIÇOS EM POÇOS ARTESIANOS

RECOMENDAÇÃO Nº 35/2013 MPF/RR

JULGAMENTO DE RECURSO ADMINISTRATIVO

Informe sobre a Cartilha para Contratação de Estrangeiros

RECOMENDAÇÃO nº 16/2016

Gabinete do Conselheiro Antônio Carlos Andrada

RECOMENDAÇÃO nº 03/2014

Sumário. Expostos os principais aspectos do tema, passa-se a abordar seus elementos.

PROJETO DE LEI Nº 8.242/16

PARECER Nº, DE Relator ad hoc: Senador WALTER PINHEIRO

ESTADO DE MATO GROSSO CONTROLADORIA-GERAL DO ESTADO - CGE/MT

Adotada Total / Parcial. Fundamento da não adoção. Recomendação. Não adotada. 1. Princípios Gerais

Dos Serviços de Obras, Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Sanitária.

Manual Mobuss Construção - Móvel

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL CREDITÁ S.A. Crédito, Financiamento e Investimento

Política de Responsabilidade Socioambiental - (PRSA) Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA).

CEBGAS Companhia Brasiliense de Gás

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

ESTADO DE SERGIPE PREFEITURA MUNICIPAL DE GARARU LEI N DE 05 DE MAIO DE 2016

CONTRATO N. 020/ DO OBJETO

Valéria Salgado Gerente de Projeto Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

1 Sobre os aspectos legais da abrangência da Lei de 29/07/2013

Faculdade Novos Horizontes EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ADMINISTRAÇÃO/CONTÁBEIS INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - IDPP TAÍS CRUZ HABIBE

Manual. Alambique. A Engenharia nos Empreendimentos. Anexo VIII

DF COSIT RFB. Coordenação Geral de Tributação

CONTRATAÇÕES PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS CURSO NOVO

PROCESSO Nº: APELAÇÃO APELANTE: CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE

: MIN. MARCO AURÉLIO DECISÃO

Supremo Tribunal Federal

SORRISO: A CAPITAL NACIONAL DO AGRONEGÓCIO

02. (FCC MPE-RN/2012). A receita extraorçamentária em , em reais, era: (A) ,00 (B) ,00 (C) ,00

Capítulo I. Seção I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E DAS PENALIDADES

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

JUSTIFICATIVA. O artigo 37, inciso XXI da Constituição Federal, impôs como regra a obrigatoriedade de licitar.

ANEXO II CARTA SOLICITAÇÃO DE CREDENCIAMENTO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

PROCESSO SELETIVO N PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOAL

Desafio da Paz Servidores Municipais

PROJETO DE CONVITE À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS

LEI Nº / de abril de Autoria: Poder Executivo Municipal

REGULAMENTO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL (SUPERVISIONADO)

DECISÃO COREN-MA Nº 09/2014

ÍNDICE VOLUME 1. Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos; emprego de tempos e modos dos verbos em português...

VOTO EM SEPARADO I RELATÓRIO. Vem ao exame desta Comissão o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 218, de 2010, cuja ementa está transcrita acima.

PROJETO DE LEI Nº, DE 2016

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DE SÃO PAULO CREA-SP ATO NORMATIVO Nº, DE DE DE.


Em atendimento à Audiência Pública supra citada, vimos pela presente apresentar nossas considerações sobre a minuta disponibilizada.

O Princípio do Non Bis In Idem no Âmbito do Processo Administrativo Sancionador

QUESTIONAMENTO ACERCA DO EDITAL DO PREGÃO ELETRÔNICO AA Nº 03/ BNDES

SEMINÁRIO MACRORREGIONAL SOBRE O CONTROLE SOCIAL REGIÃO METROPOLITANA. 31 de outubro de 2013 Auditório da Fetag Porto Alegre - RS

REGULAMENTAÇÃO DO PEDIDO DE CANCELAMENTO OU EXCLUSÃO DE BENEFICIÁRIOS DE PLANOS DE SAÚDE Principais Contribuições. Câmara Técnica 3ª reunião

Manual. Empresas de perfuração de poços tubulares para captação de água subterrânea. A Engenharia nos Empreendimentos. Anexo IV

SISTEMA ISS - CURITIBA LIVRO ELETRÔNICO

RESOLUÇÃO Nº 03, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2012.

REGULAMENTO PROMOÇÃO VIVO FIXO ILIMITADO COMPLETO

INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONSTITUIÇÃO DE GARANTIA DE PENHOR DE DIREITOS. Quadro Resumo

IMPETRANTE: SINDICATO DAS AGÊNCIAS DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA DO ESTADO DE SÃO PAULO-SINDAMAR

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO

Eliana Lúcia Ferreira Coordenadora do Curso.

PORTARIA Nº 72, DE 01 DE FEVEREIRO DE 2012

NORMA DE ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTOS NORMATIVOS - NOR 101

Normas de Utilização do Laboratório de Fisiologia e Aspectos Práticos e Éticos da Experimentação Animal Curso de Nutrição (UFV/CRP)

CAPÍTULO I DA NATUREZA E DOS OBJETIVOS

Como o Departamento Jurídico pode Auxiliar a Empresa em Tempos de Crise

RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA nº 005/2013

ASSOL Outubro 2013 Caderno de Encargos Ajuste Directo

Comportamento ético do Contador - Conciliando Interesses, Administrando pessoas, informações e recursos.

VIVER INCORPORADORA E CONSTRUTORA S.A. 4ª EMISSÃO DE DEBÊNTURES RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO EXERCÍCIO DE 2015

Regulamento Interno Férias Desportivas Verão 15

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PREFEITURA MUNICIPAL DE SANT ANA DO LIVRAMENTO Palácio Moisés Viana Unidade Central de Controle Interno

LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997

CLÁUSULA PRIMEIRA DO OBJETO

Transcrição:

A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO DE EMPRESA DECLARADA INIDÔNEA PARA LICITAR, QUE UTILIZA DE SOCIEDADE DISTINTA PARA BURLAR A SANÇÃO. Maikon Jhonata EUGENIO 1 RESUMO: É comum no país empresas serem punidas pelo Poder Público por não cumprirem os contratos celebrados. O presente artigo busca apresentar a responsabilidade dos sócios de empresas punidas que se utilizam de outra sociedade para contratar com o Poder Público burlando a sanção. Palavras-chave: Lei 8666/93. Declaração de inidoneidade. licitações. 1 Analista de Licitações Empresa: Vexer Industria e Comercio de Equipamentos Ltda. Graduando em Direito Faculdades Santa Cruz de Curitiba Email: maikon.j@gmail.com Formatado: Inglês (Estados Unidos)

O artigo 87 da Lei 8.666/93 contempla um rol taxativo das penalidades que serão aplicadas àquelas empresas que não cumprem com as obrigações assumidas nos certames licitatórios. Especificamente, o inciso IV do artigo citado, do referido diploma, dispõe que, pelo descumprimento do contrato, poderá a Administração Pública declarar determinada empresa inidônea o que lhe impedirá de participar de licitações enquanto perdurar os efeitos da sanção. Importante não olvidar que a declaração de inidoneidade aplicada por um ente administrativo de alguma das esferas estatais, subsiste aos outros, ou seja, se a sanção fora aplicada por órgão municipal, tal punição deverá ser observada pelos entes federais e estaduais. É o que se extrai da respeitável decisão do STJ no Acórdão do RECURSO ESPECIAL Nº174.274 -SP (198/03475-3), vejamos: O entendimento do Tribunal a quo, no sentido de que a suspensão imposta por um órgão administrativo ou um ente federado não se estende aos demais, não se harmoniza com o objetivo da Lei n. 8.666/93, de tornar o processo licitatório transparente e evitar prejuízos e fraudes ao erário, inclusive impondo sanções àqueles que adotarem comportamento impróprio ao contrato firmado ou mesmo ao procedimento de escolha de propostas. Há, portanto, que se interpretar os dispositivos legais estendendo a força da punição a toda a Administração, e não restringindo as sanções aos órgãos ou entes que as aplicarem. De outra maneira, permitir-se-ia que uma empresa, que já se comportara de maneira inadequada, outrora, pudesse contratar novamente com a Administração durante o período em que estivesse suspensa, tornando esta suspensão desprovida de sentido. Nesta toada, nos termos do entendimento do Egrégio STJ, a punição exarada por determinado órgão, deve se estender aos demais para o fim de garantir efetividade à Sanção. A contratação de uma empresa considerada inidônea por determinado órgão, frente ao descumprimento de determinada obrigação, afrontaria irreparavelmente o principio da moralidade administrativa e o principio da prevenção. Ora, não faria sentido, determinada empresa punida em uma das esferas, que pudesse contratar com as demais. Parte-se do pressuposto que se, não fora cumprida a obrigação com um dos entes, o que garantirá a execução de obrigações assumidas com outros entes? Tal contratação seria temerária, e colocaria em risco a indisponibilidade do interesse público e a continuidade dos serviços públicos.

Pensando nisso, o legislador ordinário tipificou no art. 97 da lei 8.666/93 como crime a prática de contratação de empresa inidônea, bem como, a participação de empresas punidas em certames licitatórios nos seguintes termos: Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado inidôneo: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a Administração. Tal tipificação visa o atendimento ao princípio da prevenção, segundo o qual o administrador público deve repelir dos certames licitatórios empresas que se demonstrem inidôneas para contratar com a Administração Pública 2. Outrossim, é tipificado como crime também a participação de empresas declaradas inidôneas que participem de certames licitatórios nessa condição. Doutras bandas, vencidas as análises das particularidades do mundo do "Dever Ser", observa-se que na prática deparamo-nos diariamente com empresas enquadradas nos artigos acima, declaradas inidôneas participando livremente de certames licitatórios e contratando com a Administração Pública. Outra prática muito comum observada é quando o sócio de uma empresa declarada inidônea, para burlar tal sanção, acaba por abrir um novo CNPJ e volta a participar de licitações normalmente, até que seja novamente punido, repetindo o procedimento, e tornando um circulo vicioso, que acaba por prejudicar a administração pública. Ocorre que tal fato já é de conhecimento do TCU que enfrenta a situação em recente acórdão, no qual deliberou o seguinte: Não raro, integrantes de comissões de licitação verificam que sociedades empresárias afastadas das licitações públicas, em razão de suspensão do direito de licitar e de declaração de inidoneidade, retornam aos certames promovidos pela Administração valendo-se de sociedade empresária distinta, mas constituída com os mesmos sócios e com objeto social similar. Por força dos princípios da moralidade pública, prevenção, precaução e indisponibilidade do interesse público, o administrador público está obrigado 2 As consultas de empresas impedidas de contratar com a administração pública podem ser realizadas no portal HTTP: www.portaldatransparencia.com.br

a impedir a contratação dessas entidades, sob pena de se tornarem inócuas as sanções aplicadas pela Administração. O instituto que permite a extensão das penas administrativas à entidade distinta é a desconsideração da personalidade jurídica. Sempre que a Administração verificar que pessoa jurídica apresenta-se a licitação com objetivo de fraudar a lei ou cometer abuso de direito, cabe a ela promover a desconsideração da pessoa jurídica para lhe estender a sanção aplicada. Desse modo, não estará a Administração aplicando nova penalidade, mas dando efetividade à sanção anteriormente aplicada pela própria Administração. (Decisão nº 2.218/2011 Primeira Câmara Relator José Múcio Monteiro, Data 19/04/2011 TCU) Na trilha do julgado exposto pelo TCU observa-se que tal prática vem tornando-se comum no âmbito das licitações, em que empresas punidas se utilizam de artifícios astuciosos para burlar a sanção e voltar a contratar com a Administração Pública. Com efeito, o julgado colacionado deixa claro que o administrador público está obrigado a impedir a contratação de tal empresa. Ou seja, para atendimento aos princípios licitatórios de regência, e os princípios de direito administrativo, entende o egrégio TCU não ser uma faculdade do Administrador repelir empresas que vem sendo utilizadas para burlar a lei, mais sim, uma obrigação, inclusive sendo possível a desconsideração da pessoa jurídica para que se conceda efetividade à sanção anteriormente aplicada. Diante disso, não restam dúvidas que a Administração pública deve velar pelos princípios regentes de modo a garantir os pilares do direito administrativo, que repousam sobre a supremacia do interesse público, continuidade do serviço público, e indisponibilidade do interesse coletivo. Um dos meios para isso é agir em estrita conformidade aos princípios da moralidade e legalidade, de modo a conservar a segurança jurídica no âmbito administrativo e utilizar de maneira justa o seu poder-dever de tutelar os direitos e garantias fundamentais, sempre com a observância do interesse público. Destarte, conclui-se que sócios de empresas declaradas inidôneas não podem se valer de outras sociedades para burlar a sanção de inidoneidade para licitar aplicada pela administração pública, sob pena de ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica como ainda, responder o sócio

administrativamente e criminalmente pela fraude. Empresas sancionadas devem abster-se da participação em certames licitatórios, bem como, se faz dever do administrador repelir aqueles que insistem na participação ou utilizamse do outro meio para burlar a sanção e de toda forma tentam contratar com o poder público. REFERENCIAS BRASIL, Lei 8.666/93, de 21 de junho de 1993 Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF. P. 8269 de 22/06/1993. STJ - RECURSO ESPECIAL Nº174.274 -SP (198/03475-3) TCU - Decisão nº 2.218/2011 Primeira Câmara Relator José Múcio Monteiro, Data 19/04/2011 TCU