O impacto do PT no sistema partidário: alinhamentos, arranjos políticos e movimentação de elites em torno do eixo petista

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Transcrição:

O impacto do PT no sistema partidário: alinhamentos, arranjos políticos e movimentação de elites em torno do eixo petista Rachel Meneguello Universidade de Campinas Paper preparado para o Workshop The PT from Lula to Dilma: Explaining Change in the Brazilian Worker s Party Brazilian Studies Programme, University of Oxford, 27 de Janeiro de 2012 1

INTRODUÇÃO Não é necessário mencionar a importância do Partido dos Trabalhadores para a construção democrática brasileira. Como resultado da articulação de sujeitos políticos mobilizados no terreno dos movimentos sociais, o PT tornou-se uma dos principais protagonistas das mudanças da política nacional, foi decisivo para a transformações da concepção de esquerda, inserindo o conceito de socialismo democrático na esquerda brasileira, e sua atuação teve inquestionável impacto na correlação de forças na America Latina. Desde seu surgimento, seu desenvolvimento foi notável. De seu primeiro experimento eleitoral em 1982 às eleições gerais de 2010, a bancada de deputados federais cresceu de 8 a 88, de 13 deputados estaduais no país para 149, de 1 Senador eleito em 1990 para 13 Senadores. Ao nível local, seu crescimento foi ainda mais destacado: de 2 prefeituras conquistadas em 1982 o partido passou a governar 558 municípios em 2008, e de 118 cadeiras de vereadores no país, passou a 4.162 na última eleição local. Em 25 anos, o partido construiu bases organizativas capazes de apresentar à disputa eleitoral mais de 35 mil candidatos no país em eleições locais, e mais de 1.200 candidatos em eleições gerais. A trajetória exitosa constituída através ciclos de vida e fases de desenvolvimento, como a evolução do movimento social ao partido, o ingresso e a ocupação dos espaços do parlamento em distintos níveis, a conquista de cargos executivos e, em específico, a conquista do executivo nacional em 2002, trouxe conseqüências importantes para o partido, dentre as quais destaco a moderação ideológica. A mudança de postura frente à política de alianças já na campanha presidencial de 1994, ampliando o arco de forças para setores dissidentes das agremiações de centro e centro-esquerda, inseriu definitivamente o partido no campo da disputa. Os sucessivos testes eleitorais e as derrotas nas eleições presidenciais de 1994 e 1998 levaram o partido a mudar definitivamente sua rota inicial, transformando seu perfil originalmente sectário e sua estratégia política restritiva, em favor da ampliação das bases eleitorais, da inclusão no jogo político e da sua viabilização como força governante (MENEGUELLO e AMARAL, 2010). Até onde essa decisão comprometeu o perfil original do partido? Em que medida as decisões estratégicas e as mudanças de direção afetaram sua organização, aproximando-o das demais legendas do quadro partidário brasileiro? 2

Vários trabalhos têm analisado as mudanças do PT em âmbitos diversos. Apenas para mencionar os mais importantes trabalhos críticos recentes, Wendy Hunter (2010) chama a atenção para o processo de normalização do partido, a transformação da agenda de defesa do socialismo e a diminuição da ênfase na participação da sociedade como traços de sua desradicalização; Pedro Ribeiro (2010) aponta a guinada em direção à profissionalização eleitoral e à dependência do estado, transformando em definitivo o modelo de organização original. Em trabalho também recente, mas apontando em outra direção, Oswaldo Amaral (2010) analisa aspectos da organização interna partidária, focalizando notadamente as lideranças intermediárias, e conclui pela evolução híbrida, em que as mudanças advindas do ingresso no terreno da disputa política combinaram-se à manutenção dos vínculos societários, que marcam a diferença do partido desde seu início, assim como à preservação do desenho institucional inclusivo que ainda incentiva a atividade partidária extra-eleitoral. O partido, de fato, redefiniu a priorização de seus objetivos, abriu-se aos incentivos do sistema político brasileiro e transformou seu perfil original, adequando-se a um eleitorado de massa pouco ideológico. Nessa direção, mesmo as visões distintas sobre a evolução do PT consensualmente reconhecem os efeitos que as imposições que a conquista do poder executivo nacional em 2002 apresentou ao partido, colocando-o frente à lógica da composição, negociação e barganha política. Tais concessões, no entanto, compreendidas pelo PT já nos anos 1990, subsidiaram o partido a tornar-se um dos pólos de organização da política nacional. Desde a década de 1990 PT e PSDB encabeçam o cenário bipartidário que coordena a política nacional, quando os dois partidos passaram a conduzir as eleições presidenciais. A eleição presidencial é a disputa organizadora do sistema político no país, e o posicionamento dos partidos nela envolvidos confere sua condição de articuladores dos blocos políticos. Entre 1994 e 2010, as candidaturas dos dois blocos concentraram mais de 2/3 das votações em primeiro turno das eleições para presidente, conformando uma clivagem que veio tendo impacto crescente sobre as disputas estaduais. A organização da competição pelos blocos encabeçados pelo PT e PSDB ocorre com clareza nesse período para os cargos majoritários. Assim, em um cenário partidário composto por 28 partidos, apenas oito legendas _ as principais de cada um dos blocos da disputa presidencial_ encabeçaram as coligações vencedoras dos governos estaduais, na ultima eleição geral de 2010(Limongi e Cortez, 2010; Meneguello, 2011). 3

As condições são distintas para as eleições proporcionais, marcadas por forte fragmentação, mas de toda forma, como pólo da disputa, o PT veio exercendo o papel de articulador de candidaturas, organizando inicialmente o bloco político-partidário de centro-esquerda, mas também estendendo sua atuação para os terrenos ideológicos de centro e centro-direita. Assim, dois objetivos são desenvolvidos neste trabalho: conhecer aspectos da capacidade organizativa do PT como organizador da disputa, e avaliar em que medida as estratégias de articulação política estenderam as suas concessões ideológicas a limites mais amplos do pragmatismo que marca sua trajetória recente. 1. Alianças e coligações: da moderação ao esgarçamento ideológico O primeiro ponto abordado neste trabalho está voltado para compreender o alcance das concessões ideológicas do PT através do detalhamento das estratégias de alianças no período, para as várias eleições desde a década de 1990. Os dados mostram que o movimento para o centro resultou em um esgarçamento considerável das concessões ideológicas 1 iniciadas já nas eleições de 1998 e, no âmbito nacional, apenas não ultrapassou o limite óbvio que o cenário político bipartidário impõe aos dois principais partidos que encabeçam os blocos políticos _ PT e PSDB. A estratégia de ampliação de apoio pode ser observada em todo o período, mas será em 2010 que o salto numérico ficaria evidente. Dados gerais do TSE 2 mostram que entre 1998 e 2006, a maioria das coligações compostas pelo PT em eleições gerais (por volta de 60%), continham até 4 partidos, e as grandes coligações com mais de 8 partidos ocorriam para apenas aproximadamente 14% do total. Em 2010, mais de 42% de coligações em que partido participou continham mais de 8 partidos. Entre as eleições de 1998 e 2010, o PT foi o partido que mais realizou coligações para eleições majoritárias e proporcionais, superando o numero de coligações do PMDB, PSDB e DEM. Seus parceiros preferenciais foram o PCdoB e o PSB, mas o partido 1 Para definir as concessões ideológicas tomo parcialmente as informações do continuum ideológico de Power e Zucco (2009). O espectro adotado aqui e a organização dos dados utilizados considera os seguintes blocos: esquerda_ PSTU PCO PSOL PCB; centro-esquerda_ PCdoB PSB PT PDT; centro_ PV PPS PMDB PSDB; direita_ PTB PR PP DEM, além das pequenas legendas PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN; PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN. 2 Os dados de coligações utilizados são provenientes das bases de dados do TSE para as várias eleições. 4

aliou-se com o mais amplo conjunto de 29 legendas, apenas com as exceções dos pequenos partidos de esquerda, PCO, PSTU e PSOL. Vários pontos se destacam nos dados de coligações. A Tabela 1 mostra a porcentagem de coligações realizadas pelo PT com a presença de algum partido do bloco ideológico específico e o primeiro destaque é o distanciamento completo do partido das pequenas agremiações à esquerda a partir de 2006 para as eleições gerais majoritárias e legislativas. Cabe destacar que, até 2002, as coligações realizadas para eleições ao legislativo e ao governo referem-se apenas a alianças feitas com o pequeno PCB. Entre 1998 e 2002, o PT coligou-se 99 vezes com o partido, abrangendo todos os cargos, deputado estadual e federal, senado e governo, além do fato que o PCB esteve presente na aliança para a Presidência da República em 1998 e 2002. Não é demais lembrar que, à exceção do pequeno PCB, todo o conjunto partidário próximo à extrema esquerda tem origem em cisões e defecções do PT: PCO e PSTU são originados de cisões trotskistas internas do partido ocorridas nos anos 1990, e no caso do PSOL, a legenda constituiu-se a partir de parlamentares petistas dissidentes logo no inicio do primeiro governo Lula em 2003, motivados pelas ações de governo, sobretudo pela reforma da previdência. No entanto, esse campo, possui um tamanho político e eleitoral muito pequeno, apenas o PSOL obtém no período alguma representação parlamentar em nível estadual e federal. Apenas a título de ilustração, a soma de votos dos candidatos à presidência do PSOL, PCB, PCO e PSTU apresentados à eleição de 2010 chegou a 1,15% do total de votos do país (MENEGUELLO, 2011). Os dados de coligações deixam claro o papel do PT na articulação do bloco de centro-esquerda, e que responde inicialmente, em 1998 e 2002, à ampliação do arco de alianças definido pelo partido para conquista do governo federal; a partir de 2006, resulta também do alinhamento de forças pró-governo. Assim, a quase totalidade de coligações contraídas pelo PT para todos os cargos em 2002 tinha a presença de partidos desse bloco, uma situação praticamente repetida em 2006. Esse dado fica nítido na Tabela 2, que mostra a proporção de coligações comandadas pelo PT para cargos majoritários, em que há um expressivo domínio do partido nas coligações para governos estaduais e senado. O parceiro constante do PT nesse bloco é o PC do B, com quem o partido realizou o maior numero de coligações para todos os cargos em todo o período. 5

Tabela 1. Porcentagem de coligações com a presença do PT e a presença de partido(s) de cada um dos blocos ideológicos Centro- Cargo Esquerda Esquerda Centro Direita Deputado Estadual 37,0 59,3 33,3 29,6 1998 Deputado Federal 48,1 70,4 44,4 37,0 2002 2006 2010 Governador 51,9 81,5 48,1 44,4 Senador 52,0 84,0 52,0 48,0 Deputado Estadual 37,0 96,3 7,4 85,2 Deputado Federal 44,4 96,3 14,8 96,3 Governador 56,0 100,0 16,0 96,0 Senador 48,1 92,6 14,8 88,9 Deputado Estadual 0,0 74,1 14,8 74,1 Deputado Federal 0,0 96,3 25,9 81,5 Governador 0,0 100,0 32,0 84,0 Senador 0,0 96,0 32,0 80,0 Deputado Estadual 0,0 33,3 18,5 59,3 Deputado Federal 0,0 63,0 51,9 77,8 Governador 0,0 81,5 59,3 88,9 Senador 0,0 81,5 59,3 88,9 Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 2. Porcentagem de coligações comandadas pelo PT, com a presença de partido(s) de cada bloco ideológico Centro- Cargo Esquerda Centro Direita Esquerda 1998 2002 2006 2010 Governador 56,3 75,0 43,8 31,3 Senador 46,7 80,0 60,0 53,3 Governador 58,3 100,0 16,7 95,8 Senador 40,0 86,7 20,0 86,7 Governador 0,0 100,0 22,2 88,9 Senador 0,0 90,0 10,0 70,0 Governador 0,0 90,0 30,0 90,0 Senador 0,0 60,0 20,0 80,0 Elaboração a partir de dados do TSE 6

Os dados das coligações à direita são notáveis. A partir de 2002, o avanço do partido para esse campo do espectro nas coligações majoritárias é crescente, e em 2010 o PT encabeça 90% das coligações com a presença de algum partido de direita. Não estamos certamente falando do DEM, que não consta em praticamente nenhuma coligação para eleições majoritárias ou proporcionais entre 1998 e 2010 (Tabela3), mas dos partidos grandes conservadores PTB, PP, e das várias pequenas legendas de direita que ocupam de forma crescente as coligações realizadas pelo PT (Tabela 4). No caso das pequenas legendas, a parceria com o PT já é significativa para todos os cargos desde 2002. Nesse caso, o PT realiza coligações com 18 dos 19 pequenos partidos de direita no período, um movimento que reflete em parte, estratégias eleitorais do PT para cargos proporcionais em contextos específicos, mas reflete também a fragilização do bloco de oposição ao governo. Cabe ainda o destaque ao PL/PR, que ocupou a candidatura à vice-presidência do governo petista em 2002 e 2006 (MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000). Tabela 3. Porcentagem de coligações com a presença do PT e determinado partido 1998 2002 2006 2010 Cargo PCdoB PSB PSDB PMDB DEM Deputado Estadual 59,3 40,7 3,7 0,0 0,0 Deputado Federal 70,4 55,6 7,4 0,0 0,0 Governador 81,5 59,3 7,4 3,7 0,0 Senador 84,0 64,0 8,0 4,0 0,0 Deputado Estadual 96,3 0,0 0,0 0,0 0,0 Deputado Federal 96,3 0,0 0,0 0,0 0,0 Governador 100,0 0,0 0,0 0,0 4,0 Senador 92,6 0,0 0,0 0,0 0,0 Deputado Estadual 74,1 25,9 0,0 11,1 0,0 Deputado Federal 96,3 55,6 0,0 18,5 0,0 Governador 100,0 56,0 0,0 24,0 0,0 Senador 96,0 56,0 0,0 20,0 0,0 Deputado Estadual 22,2 22,2 0,0 18,5 0,0 Deputado Federal 55,6 55,6 0,0 40,7 3,7 Governador 77,8 66,7 0,0 51,9 3,7 Senador 77,8 66,7 0,0 51,9 3,7 Elaboração a partir de dados do TSE 7

Finalmente, a parceria com os partidos de centro é tímida, comparado ao movimento que ocorre à direita, e contempla notadamente as parcerias eventuais com o PMDB em 2006, e o seu crescimento considerável em 2010, quando esse partido passa a ser parceiro da chapa presidencial. O limite das coligações com partidos desse bloco também deve-se à presença do PSDB que, embora tenha contraído algumas alianças com o PT em 1998, terá limites claros a partir de 2002 refletindo em parte, o impacto da presidencialização dos arranjos políticos. Tabela 4. Porcentagem de coligações feitas pelo PT com a presença de partido(s) grande(s) ou pequeno(s) de direita 1998 2002 2006 2010 Cargo Grandes Partidos de Direita* Deputado Estadual 0,0 29,6 Deputado Federal 7,4 37,0 Governador 7,4 44,4 Senador 8,0 48,0 Deputado Estadual 0,0 77,8 Deputado Federal 0,0 96,3 Governador 4,0 92,0 Senador 0,0 85,2 Deputado Estadual 25,9 63,0 Deputado Federal 29,6 74,1 Governador 32,0 80,0 Senador 28,0 80,0 Deputado Estadual 18,5 48,1 Deputado Federal 33,3 70,4 Governador 51,9 85,2 Senador 51,9 85,2 *GPD: PFL/DEM; PP; PTB Pequenos Partidos de Direita** **PPD: PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN; PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN Elaboração a partir de dados do TSE 8

No nível local os dados seguem a mesma tendência. A política local no país é altamente fragmentada para todos os cargos em disputa, responde a formas distintas e variadas de organização de elites, assim como responde a dinâmicas associadas aos processos de urbanização e ao porte dos municípios. Desde as primeiras eleições municipais do período democrático em 1988, o crescimento do número de prefeituras conquistadas por partidos de esquerda e centro-esquerda é uma tendência constante, e embora em 2008 este bloco ideológico tenha conquistado apenas 26% do total de 5.551 municípios do país, o salto em 20 anos foi muito significativo, dado que em 1988, o número de municípios governados por partidos de esquerda apenas ultrapassava pouco mais de 6% (LAMOUNIER e MARQUES, 1993; MENEGUELLO, 2008). É sob um cenário de prefeituras majoritariamente dominado pelos partidos de direita em todo o período que o PT procura ampliar seu desempenho eleitoral. Miguel e Machado(2007) apontam que entre 2000 e 2004, a estratégia de capilarização do partido resulta em uma ampliação significativa de sua exposição na disputa eleitoral, através da ampliação de candidaturas em coligações e do arco de partidos das alianças constituídas. Os dados de coligações mostram, no entanto que, ao nível local, o papel do PT na organização do bloco de centro-esquerda não tem o mesmo desempenho encontrado nas eleições gerais. Entre 2000 e 2004, quase não se altera a proporção de coligações em que o PT e partidos de centro-esquerda figuram juntos (em 2000, 43,2%; em 2004, 46,2%), indicando uma dinâmica de arranjos muito diferente do âmbito nacional, em que já desde as eleições de 2002 o partido torna-se um eixo de articulação do bloco. De fato, embora entre 2000 e 2008 o número de alianças de centroesquerda para prefeito encabeçadas pelo partido aumente, chega a apenas 40% das coligações no final do período. As coligações específicas com seus parceiros regulares PCdoB e PSB são também pouco numerosas, chegando em 2008 a 21,2% com o PCdoB e a quase 32% com o PSB. Os dados relativos ao bloco à esquerda merecem apenas o registro de que, também ao nível local, a relação do PT com essas organizações desde 2000 é mínima, e quase inexistente quando trata-se de coligações para prefeito tendo o PT no comando. Seguindo a tendência dos arranjos políticos para eleições gerais, os dados mostram já desde 2000, o avanço do PT para os campos do centro e da direita para a ampliação de sua capacidade eleitoral. O aumento da proporção de coligações com a presença de partidos à direita é muito significativo, e evolui de 36% em 2000 para 77% em 2008 (Tabela 5.1). Em todo o período, o comando do PT sobre coligações à direita é notável, 63,5% em 2000, 75,8% em 2004 e 76,2% em 2008 (Tabela 5.2). 9

No âmbito local, a parceria com partidos de direita grandes ou pequenos não se distingue para o PT como ocorre ao nível nacional: a evolução do número de coligações com os dois conjuntos de agremiações é semelhante, e o PT realiza em 2008 quase 55% de coligações em que constam as maiores agremiações de direita. De fato, desde 2002 as alianças com PP e PTB tornaram-se freqüentes para o partido em todos os níveis, e embora as limitações de alianças com o PFL/ DEM sejam bem definidas em todo o período ao nível nacional, no nível local as concessões crescem no decorrer das eleições, e em 2008, em 20% das coligações que incluíam o PT, o DEM também esteve presente. A tendência às concessões políticas atinge também o PSDB nas três eleições locais abordadas e, em 2008, em 23% das coligações que incluíam o PT, o PSDB também esteve presente. Tabela 5. Coligações para eleições locais (2000-2008) 5.1) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e a presença de partido(s) de cada um dos blocos ideológicos Centro- Esquerda Esquerda Centro Direita 2000 2,9 43,8 48,3 36,3 2004 2,2 46,2 59,1 62,3 2008 1,7 57,9 66,2 77,5 5.2) Porcentagem de coligações para Prefeito comandadas pelo PT, com a presença de partido(s) de cada bloco ideológico 2000 0,0 19,9 45,8 63,5 2004 0,3 30,3 53,2 75,8 2008 0,2 39,9 63,1 76,2 5.3) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e determinado partido PCdoB PSB PSDB PMDB DEM 2000 13,8 21,8 16,6 25,9 7,1 2004 16,2 21,5 19,4 33,2 14,5 2008 21,2 31,9 22,8 38,1 20,0 5.4) Porcentagem de coligações para Prefeito com a presença do PT e a presença de partido(s) grande(s) ou pequeno(s) de direita Grandes Partidos de Pequenos Partidos de Direita* Direita** 2000 20,2 21,8 2004 42,3 32,3 2008 54,6 50,0 *GPD: PFL/DEM; PP; PTB; **PPD: PAN; PGT; PHS; PMN; PRB; PRN; PRONA; PRP; PRTB; PSC; PSD; PSDC; PSL; PST; PTC; PTdoB; PTN Elaboração a partir de dados do TSE 10

A forte fragmentação da política local é apenas parte da explicação para a flexibilização ideológica do partido, levando-o a coligar-se com quase a totalidade das legendas. A análise dos dados para coligações para os cargos em disputa nas eleições gerais de 2006 e 2010 mostra que sob o marco de movimentação de forças políticas com a reeleição do partido à presidência em 2006, as estratégias de combinação se multiplicaram e perderam todo filtro ideológico. Fatores externos ao partido foram fundamentais para que o espaço a essa movimentação fosse aberto, especificamente o enfraquecimento eleitoral dos partidos de direita, notadamente o DEM, e a desorientação do PSDB em articular o eixo de oposição ao PT e ao governo federal. Essa estratégia geral do partido, por sua vez, esteve combinada ao aumento de sua capilaridade e condições organizacionais para sua exposição na disputa eleitoral. Uma forma de verificar a dimensão dessa capacidade é a análise da evolução do número de candidaturas apresentadas e da manutenção dos quadros políticos na estrutura partidária. Esse é o segundo ponto desse trabalho. 2. Capacidade organizativa: oferta política e retenção de quadros Sabemos que partidos políticos têm como uma de suas principais funções selecionar e lançar candidatos aos cargos públicos, atuando no processo de recrutamento das elites políticas; mas poucos estudos têm se dedicado a entender a dinâmica e a capacidade de recrutamento partidário, bem como o seu papel na organização da competição política de âmbito nacional e local. O estudo desses dados possibilita, por um lado, identificar os recursos políticos dos blocos ideológicos, na direção de compreender a sua consolidação; por outro, possibilita conhecer o nível de consolidação das próprias estruturas partidárias que mobilizam incentivos para os seus quadros. Entendemos que a manutenção de candidatos na estrutura partidária entre uma eleição e outra é um indicador da capacidade desses incentivos. Assim, o pertencimento partidário é um aspecto importante para os resultados eleitorais, um ponto que responde a condicionantes institucionais externos e internos ao partido. O sistema proporcional de lista aberta que rege as disputas proporcionais no Brasil leva a que a eleição de candidatos seja mais fácil para alguns partidos do que para outros, pois o mínimo de votos requerido para eleição varia por partido e por estado da federação. Nessa direção, o sistema eleitoral estimula a migração 11

de candidatos entre partidos, na busca de maiores chances eleitorais, e são os ambientes partidários que oferecem os incentivos da permanência de candidatos e quadros parlamentares. Aqui, destacamos três principais conjuntos de incentivos, que são o acesso a recursos políticos advindos da posição de partidos no governo; os incentivos ideológicos, próprios de estruturas mais organizadas, e as oportunidades eleitorais gerais das agremiações na disputa. Com relação aos condicionantes internos, a constituição de quadros políticos responde às formas de inclusão dos filiados e membros no processo de seleção de candidatos. Os estatutos partidários definem os critérios e regras para apresentação e aceitação de candidaturas, um processo em geral resolvido pelas convenções partidárias. Nessa direção, à exceção do PT, e tomando os demais quatro principais partidos PDMB, PSDB, DEM e PP, os estatutos não diferem de forma significativa sobre e escolha dos candidatos do partido, sendo a convenção partidária o lócus de homologação das candidaturas, estabelecidas sob um caráter inclusivo dos filiados na sua maioria. O PT, por sua vez, estabelece critérios fundamentais aos filiados que almejam tornar-se quadros de candidatos, estabelecidos a partir de envolvimento prévio no partido e do cumprimento de obrigações específicas, como a filiação prévia de 1 ano, a contribuição financeira obrigatória em dia com o partido e a adesão formal ao documento Compromisso do Candidato Petista (Estatuto do PT, art.128) 3. Essas condições, embora tenham como base procurar garantir alguma representatividade dos candidatos junto aos filiados, fazem do processo de seleção de candidatos do PT um dos mais excludentes do conjunto de partidos. Mas esse é também o traço que o distingue das demais agremiações em termos organizacionais. Em todo o período analisado de 1998-2010, as condições institucionais legais não são impeditivas da migração entre partidos, tanto para candidatos sem qualquer cargo prévio (embora os partidos definam algum requisito de tempo de permanência prévio à eleição para apresentação de candidatura), quanto para parlamentares em exercício. Para esse último caso, ao contrário, o Brasil tem uma das mais altas taxas de migração partidária no Legislativo, e apenas em 2011 a legislação partidária e eleitoral definiu a penalidade da perda de mandato de parlamentares quando ocorre a troca de partido sem justa causa 4. 3 Ver Braga(2008) sobre processo de seleção de candidatos e definição de listas dos partidos paulistas à Câmara Federal, e Perissinotto e Bolognesi (2009) sobre recrutamento do PFL e PT no Paraná. 4 A título de informação, o Tribunal Superior Eleitoral reinstituiu, em 2011, como exceção à perda de mandatos de parlamentares migrantes, a criação de partido. Isso possibilitou a criação de um 12

Esse cenário torna os dados de movimentação de candidatos entre partidos 5 no período um valioso parâmetro para avaliar os incentivos partidários das agremiações, além de sua capacidade de constituírem recursos políticos para organizar a disputa em jogo. De fato, os dados de movimentação de candidatos entre partidos nas eleições gerais de 1998 e 2010 mostram a forte capacidade de manutenção dos quadros de candidaturas do PT no período. As Tabelas 6, 7 e 8 mostram que, entre 1998 e 2002, o partido reteve 93,4% de suas candidaturas no partido; em seguida, manteve uma proporção menor entre as eleições de 2002 e 2006, mas ainda assim, a maior entre os partidos analisados (78,8%), e novamente ultrapassou 90% das candidaturas mantidas entre 2006 e 2010. Levando-se o PT e o PSDB como pólos partidários que coordenam a política nacional no período, além de seu papel como pólos de atração, os dados sugerem que o governismo não é o mais forte fator que move os interesses dos candidatos entre uma eleição e outra. Entre 1998 e 2002, o PSDB, então ocupando o governo federal, manteve apenas 57% de suas candidaturas, perdendo quadros para 23 legendas, sobretudo o PTB e PMDB (Tabela 6). O DEM, igualmente na coligação de governo, manteve 61,7% de suas candidaturas, perdendo quadros para 24 partidos, sobretudo PTB e PMDB. Entre 2002 e 2006, o PT já no governo federal tem êxito em manter quase 80% de suas candidaturas. A perda de candidatos deveu-se, fundamentalmente, à formação do PSOL e a consequente saída de quadros do partido. Mesmo assim, é o partido que mais reteve candidatos, tanto comparado ao PSB, membro do mesmo bloco ideológico, quanto comparado aos partidos conservadores PP e PTB, todos com menos de 50% de candidaturas mantidas entre uma eleição e outra. Uma análise geral das perdas de candidaturas dos vários partidos entre essas duas eleições indica que uma das principais motivações do movimento esteve na construção de recursos políticos do PSDB, para onde migraram porcentagens significativas de candidatos do DEM, PP e PTB (Tabela7). Em 2010, o PT volta a recuperar sua capacidade notável de manutenção de quadros de candidatos quase 92%, e no caso dessa eleição, a única perda mais importante deu-se em direção ao PV, provavelmente através de quadros saídos do partido juntamente novo partido, o PSD, com a sua maioria formada por parlamentares saídos do DEM, além de deputados de 15 outras legendas, inclusive o PT. Em novembro de 2011 o PSD constituía a 4ª maior bancada da Câmara de Deputados. O sistema partidário possui atualmente 29 partidos registrados no TSE. 5 Os dados são oriundos da base de dados de nomes e partidos de candidatos registrados em cada eleição no TSE. A movimentação de candidatos resulta da identificação da origem e destino dos candidatos entre eleições. 13

com a ex-ministra do governo Lula, Marina Silva, candidata à presidência em 2010 pelo Partido Verde. As demais agremiações também recuperam em parte a capacidade de manter suas candidaturas, inclusive o PSDB, com 75% (Tabela 8). Cabe chamar a atenção para o pequeno movimento das candidaturas dos vários partidos em direção ao PT nas eleições gerais nesse período. A movimentação, quando ocorre, dá-se nos limites do bloco de centro-esquerda, com candidaturas vindas do PDT e PSB (embora haja migrações eventuais de outros partidos), mas em uma proporção que atinge pouco mais de 2%. Esse dado sugere, por um lado, a capacidade do partido em recrutar e produzir seus quadros, e igualmente, traduz os constrangimentos que as barreiras e condições colocadas pelo partido definem para constituir filiados e candidaturas. De toda forma, os dados de movimentação de candidatos, analisados ao lado dos dados de coligações, sugerem que os arranjos políticos constituídos pelo PT deram-se sobre recursos políticos sólidos. A alta taxa de manutenção de quadros candidatos entre as eleições gerais sugere a ação dos incentivos clássicos mencionados, mas também apontam para um grau importante de enraizamento partidário. Nas eleições de nível local, a movimentação de candidatos a prefeito entre partidos parece responder mais nitidamente ao quadro de domínio local de prefeituras. Os partidos que mais detêm prefeituras no período (PMDB, PSDB, PP, PFL/DEM) mantêm seus quadros de candidatos de forma significativa, por volta de 70%. Mesmo assim, o PT, que apenas chega a 558 prefeitos eleitos 2008, ou seja, por volta de 10% dos municípios do país, mostra uma capilaridade importante: em 2000 o partido reteve 88% de suas candidaturas de 1996; em 2004, manteve 95% das candidaturas lançadas em 2000, e em 2008 manteve 87% da eleição anterior. Nas eleições municipais, também a migração de candidatos ao PT é pequena, mas a partir de 2004 o movimento é mais flexível, e o partido recebe candidatos do DEM, PTB, PP, PMDB e PSDB, além dos parceiros de centro-esquerda PDT e PSB (Tabelas 9, 10 e 11). Tabela 6. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 1998 e 2002 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador, Governador) % 14

DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB DEM 61,7 2,6 3,1 4,9 1,0 3,2 0,0 3,6 PAN 0,2 0,7 0,8 1,1 0,0 0,0 0,0 1,8 PC do B 0,0 0,3 0,4 0,0 0,5 0,2 0,5 0,0 PDT 2,9 57,0 2,7 3,3 4,4 3,4 1,1 2,2 PGT 0,5 2,3 0,8 0,8 1,0 0,7 0,5 2,2 PHS 0,5 1,0 0,0 0,8 0,0 0,7 0,0 0,7 PL 3,6 1,6 3,9 4,1 0,5 3,6 0,0 6,5 PMDB 5,5 4,6 57,9 4,9 3,4 5,2 0,5 2,9 PMN 0,2 0,7 0,8 0,0 0,5 0,7 0,5 0,4 PP 4,3 2,3 3,3 55,7 1,0 3,9 0,3 4,3 PPS 1,2 2,6 5,2 2,2 4,9 4,1 0,0 2,9 PRONA 0,5 0,3 0,6 0,8 1,5 0,7 0,0 0,7 PRP 0,7 0,3 0,6 0,5 0,5 0,5 0,0 0,7 PRTB 1,2 0,3 0,0 1,1 0,5 1,1 0,0 1,8 PSB 1,2 7,2 2,5 2,7 62,6 3,4 0,8 3,2 PSC 0,7 1,0 0,2 1,9 1,5 1,1 0,0 0,7 PSD 1,4 2,3 1,6 1,9 0,5 1,1 0,0 1,1 PSDB 5,3 2,3 6,4 4,1 5,9 56,9 0,3 4,7 PSDC 1,2 0,3 0,4 0,5 0,0 0,5 0,0 2,2 PSL 1,0 0,7 0,2 0,0 1,0 1,4 0,0 1,8 PST 1,2 1,3 1,6 1,9 1,5 1,4 0,0 3,2 PSTU 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0 PT 0,2 2,3 0,8 0,5 2,0 0,7 93,4 0,7 PT do B 0,2 1,0 0,2 0,3 0,0 0,0 0,0 2,9 PTB 3,6 1,6 5,0 4,9 3,4 4,5 0,8 46,0 PTC 0,2 0,7 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 PTN 0,0 0,7 0,0 0,3 0,5 0,5 0,0 0,4 PV 0,5 2,3 1,0 0,8 1,5 0,7 0,8 2,2 Total 994 1035 1376 1066 737 1153 1081 840 Geral * *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 7. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 2002 e 2006 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador, Governador) % DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB DEM 54,1 2,4 4,3 8,1 3,0 3,1 0,4 7,7 PAN 0,3 2,0 0,5 1,1 2,0 0,0 0,0 0,0 PC do B 0,3 0,3 0,0 0,0 2,3 0,6 1,2 0,0 PCB 0,0 0,0 0,3 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 PCO 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 PDT 2,8 61,4 2,3 3,2 6,0 1,7 1,9 6,8 PHS 0,6 0,0 1,0 1,1 1,0 0,0 1,0 1,3 PL 5,4 2,7 2,3 1,4 1,3 2,5 0,6 4,3 PMDB 6,0 3,4 73,3 4,6 7,0 3,9 0,6 4,7 PMN 2,5 0,3 0,5 1,8 3,3 1,4 0,2 3,4 PP 2,5 0,3 0,8 48,8 1,7 2,5 0,0 1,3 PPS 3,2 2,0 1,5 2,5 4,0 2,8 1,2 3,8 PRB 0,0 0,7 0,0 0,4 0,7 0,3 0,0 0,4 PRONA 0,3 1,7 0,8 1,8 1,3 0,6 0,8 0,0 PRP 0,6 1,0 0,5 1,1 3,0 0,6 0,0 0,9 PRTB 0,3 0,7 0,5 0,7 0,7 0,0 0,0 1,7 PSB 2,5 4,1 1,0 2,1 44,7 3,3 2,9 0,4 PSC 1,9 3,4 1,8 3,9 4,0 1,9 0,4 1,7 PSDB 8,2 2,7 3,3 5,3 3,3 65,3 0,4 7,3 PSDC 0,3 1,0 0,3 1,1 0,7 0,8 0,2 0,9 PSL 0,9 0,3 0,5 0,7 0,3 0,3 0,0 0,9 PSOL 0,6 1,4 0,0 0,4 0,3 0,0 7,6 0,4 PT 0,0 1,4 0,3 0,0 1,0 0,6 78,8 1,7 PT do B 0,6 0,3 0,5 0,7 0,7 0,0 0,2 0,4 PTB 2,5 3,1 2,3 5,3 4,0 3,6 0,2 45,7 PTC 0,6 0,3 0,5 0,4 0,7 0,3 0,0 0,0 PTN 0,6 0,3 0,5 1,1 0,0 1,9 0,4 1,7 PV 1,9 2,7 0,8 2,8 2,6 2,2 1,2 2,6 Total 803 986 1114 805 1132 964 1504 859 Geral* *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 8. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições de 2006 e 2010 (Dep. Est, Dep. Fed., Senador, Governador) % DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB 15

DEM 64,5 2,5 0,7 2,2 1,2 1,6 0,0 1,4 PC DO B 0,0 2,9 0,0 1,1 1,2 0,3 0,8 0,5 PDT 3,3 60,7 1,2 1,1 2,9 1,6 0,3 1,9 PHS 1,0 0,7 0,2 0,0 1,2 0,0 0,3 1,0 PMDB 3,3 3,9 77,5 1,1 1,7 3,2 0,3 3,4 PMN 1,0 1,1 0,5 2,8 3,3 0,5 0,3 1,0 PP 1,3 1,1 1,4 78,3 1,2 2,4 0,5 3,4 PPS 1,0 1,1 0,7 0,0 1,2 1,3 0,3 1,4 PR 4,0 2,9 3,3 1,7 1,2 5,1 0,3 4,8 PRB 0,3 0,0 2,3 0,6 0,4 0,8 0,0 1,9 PRP 0,3 0,4 0,0 0,0 0,8 0,3 0,3 0,0 PRTB 0,7 0,7 0,7 1,1 0,8 0,0 0,3 1,4 PSB 3,3 1,8 1,4 0,6 68,6 1,3 1,0 2,9 PSC 2,3 1,8 2,6 2,8 2,9 1,1 0,3 1,9 PSDB 3,3 4,6 1,6 1,7 2,5 75,0 0,0 1,0 PSDC 0,3 0,0 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0 1,9 PSL 1,3 3,2 1,2 1,7 2,5 0,5 0,0 4,3 PSOL 0,0 0,4 0,2 0,0 2,1 0,0 0,8 0,0 PT 0,3 1,1 0,7 0,6 0,4 0,5 91,8 1,0 PT DO B 2,0 2,5 0,5 0,6 0,4 0,8 0,3 1,4 PTB 3,0 1,4 1,6 0,6 1,2 1,9 0,0 60,1 PTC 1,0 2,5 0,5 1,1 0,8 0,5 0,5 1,9 PTN 1,3 1,1 0,5 0,6 0,0 0,3 0,0 0,5 PV 1,0 1,8 0,7 0,0 0,4 0,8 2,3 1,0 Total Geral* 850 1190 1202 624 1039 1042 1154 807 *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 9. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 1996 e 2000 (%) DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB DEM 75,9 16,6 4,2 7,4 5,2 5,0 0,4 13,1 PAN 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 PC do B 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 PDT 0,7 46,2 1,0 1,6 2,3 0,9 1,2 1,5 PHS 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 PL 1,7 1,1 0,9 1,3 2,9 1,5 0,0 2,4 PMDB 5,2 5,9 79,0 4,7 16,9 4,5 0,8 7,8 PMN 0,2 0,2 0,2 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0 PP 2,7 4,4 2,1 66,7 3,5 2,8 0,0 1,7 PPS 1,1 3,2 1,5 2,1 5,2 3,0 2,0 0,7 PRN 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,7 PRP 0,0 0,2 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 PRTB 0,1 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,2 PSB 0,9 3,2 0,3 0,2 45,9 1,4 2,0 1,2 PSC 0,0 0,2 0,2 0,0 0,0 0,0 0,4 0,0 PSD 1,1 1,3 0,6 0,8 0,6 0,8 0,0 1,5 PSDB 6,0 9,0 6,2 10,3 12,2 76,6 2,9 4,1 PSDC 0,1 0,0 0,2 0,2 1,7 0,0 0,0 0,2 PSL 0,2 0,8 0,2 0,6 0,6 0,2 0,4 0,5 PST 0,0 0,2 0,1 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0 PSTU 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 0,0 PT 0,0 0,6 0,5 0,2 0,0 0,3 87,8 0,2 PT do B 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 PTB 3,5 6,3 2,6 3,1 1,7 2,1 1,2 63,3 PTN 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 PV 0,4 0,4 0,1 0,0 0,6 0,5 0,4 0,2 Total 2241 1222 3008 1594 491 2195 1076 1084 Geral* *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 10. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 2000 e 2004 (%) DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB DEM 68,8 3,1 2,3 5,2 5,0 2,9 0,3 9,8 PAN 0,1 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 16

PC do B 0,0 0,3 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 PDT 1,5 57,0 1,6 0,8 3,8 2,3 0,8 2,3 PHS 0,2 0,0 0,0 0,0 0,6 0,5 0,0 0,8 PL 4,3 3,4 3,5 5,6 8,8 3,1 0,6 5,3 PMDB 5,5 10,9 75,7 3,0 6,3 4,9 0,0 4,0 PMN 0,5 0,3 0,2 0,2 0,6 0,4 0,0 0,5 PP 1,8 2,5 1,1 69,3 1,9 2,9 0,3 4,8 PPS 2,9 3,9 2,3 1,8 5,6 3,9 0,3 3,0 PRONA 0,1 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,3 PRP 0,3 0,3 0,2 0,2 0,0 0,4 0,0 1,5 PRTB 0,2 0,0 0,1 0,2 0,6 0,1 0,3 1,0 PSB 1,5 1,7 1,5 1,8 42,5 1,6 0,8 1,3 PSC 0,3 1,1 0,1 0,0 0,6 0,3 0,0 0,8 PSDB 6,7 6,4 6,3 6,2 10,0 68,2 0,8 7,3 PSDC 0,1 0,3 0,1 0,4 0,0 0,0 0,0 0,3 PSL 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,4 0,0 1,3 PT 0,7 3,1 0,8 0,8 7,5 1,0 95,3 0,5 PT do B 0,0 0,6 0,0 0,0 1,3 0,3 0,0 1,3 PTB 3,4 3,6 3,2 3,6 3,8 4,8 0,6 52,3 PTC 0,2 0,0 0,3 0,4 0,0 0,4 0,0 0,8 PTN 0,1 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,3 PV 0,7 1,4 0,5 0,0 1,3 1,6 0,0 0,8 Total 2319 904 2853 1427 492 2087 1317 1078 Geral* *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Tabela 11. Destino dos candidatos dos principais partidos entre as eleições para Prefeito de 2004 e 2008 (%) DEM PDT PMDB PP PSB PSDB PT PTB DEM 56,2 3,1 0,8 1,7 0,5 1,5 0,5 3,0 PC do B 0,3 0,0 0,4 0,4 0,0 0,4 0,3 0,0 PDT 3,4 64,6 1,5 2,5 4,7 2,2 1,3 2,5 PHS 0,2 0,0 0,1 0,2 0,0 0,0 0,0 0,3 PMDB 9,3 11,0 83,4 7,7 10,5 6,2 3,0 10,9 PMN 0,5 0,7 0,2 0,0 0,5 0,3 0,2 0,8 PP 2,6 3,1 1,2 72,0 4,2 2,9 0,8 1,8 PPS 0,2 0,3 0,5 0,2 1,1 1,4 1,0 1,8 PR 6,7 3,1 2,1 3,7 1,6 2,9 0,5 4,8 PRB 1,1 1,4 0,9 0,2 1,1 0,6 0,2 0,8 PRP 0,2 0,0 0,1 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0 PRTB 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0 PSB 4,7 4,1 2,1 3,5 66,8 2,0 1,3 3,8 PSC 0,9 0,7 0,4 0,0 1,6 0,3 0,2 0,5 PSDB 4,8 3,8 2,7 3,7 1,1 73,2 1,4 6,1 PSDC 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0 PSL 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 PSOL 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0 PT 2,0 0,7 0,8 0,6 1,6 1,1 86,8 2,0 PT do B 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,3 PTB 5,5 2,7 2,2 2,7 2,1 2,8 1,4 59,6 PTC 0,0 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,2 0,3 PTN 0,2 0,0 0,0 0,0 1,1 0,3 0,2 0,0 PV 0,8 0,3 0,2 0,6 1,1 1,1 0,5 0,8 Total 1765 853 2485 1273 620 1927 1961 1095 Geral* *inclui novos candidatos Elaboração a partir de dados do TSE Em uma análise geral, os dados sobre a capilaridade do PT e seu papel na construção da oferta política do bloco de centro-esquerda ficam nítidos quando se analisa a quantidade de candidaturas apresentadas segundo blocos ideológicos. O volume total de candidatos mobilizados nas eleições brasileiras é muito significativo. Nas eleições para deputado estadual e federal, senadores e governadores, a 17

soma de candidatos apresentados pelos partidos foi de 14.420 candidatos em 1998, 16.800 em 2002, 18.039 em 2006 e 18.614 em 2010. Para as eleições municipais, os dados são ainda mais volumosos: 288.565 em 1996, 374.246 candidatos em 2000, 377.902 em 2004 e 380.150 candidatos em 2008. Agrupados segundo blocos ideológicos, o bloco de esquerda apresenta ao longo do período, em média, 25% do total das candidaturas aos vários cargos nacionais e estaduais 6. No nível local, a oferta de candidatos desse bloco tem uma evolução significativa de 20% em 1996, para 25% em 2008 (Gráficos 1 e 2). Nesse contexto, a participação do PT no conjunto de candidaturas do bloco no nível local é a mais importante: em 2004, o PT apresentou 43,5% das candidaturas a prefeito do bloco de esquerda; em 2008, apresentou 37,5%, ou seja, por volta de 10% do total de candidatos de nível local no país em ambas as eleições (Gráfico 3). Em eleições gerais, a oferta do PT é menor, não chega a 25% em 2006 e não chega a 30% em 2010 do bloco de esquerda, mas a diminuição dessa parcela no conjunto de candidaturas sugere a consolidação de preferências e votações em um quadro partidário altamente fragmentado. As condições de fragmentação devem ser levadas em conta para dimensionar a taxa de sucesso do partido nesses cargos. Assim, mesmo o partido tendo tido apenas por volta de 20% de candidatos eleitos do total de candidaturas apresentadas à Camara Federal em 2006 e 2010, o partido obteve respectivamente a segunda e primeira bancadas da Câmara, com 71 (16,2%) e 88 (17,2%) deputados. Para as Assembléias Estaduais, o PT obteve apenas 17% de deputados eleitos do total de candidaturas apresentadas em 2006 e em 2010, mas isso lhe confere a terceira maior soma de deputados estaduais eleitos no país em 2006 e a primeira maior soma em 2010. O bloco de esquerda nessas duas eleições sobe de 25% a 30% da participação no total das Assembléias dos estados. No nível local o sucesso do bloco de esquerda e do PT não ocorre. Apesar da oferta política, que resulta de uma capilarização crescente do partido, como já vimos anteriormente o nível local responde a uma dinâmica de difícil avanço para o PT. Entre 2000 e 2008 há um crescimento significativo de seu sucesso, de 15% de candidatos eleitos sobre o total de candidaturas apresentadas em 2000, quando elegeu 200 prefeitos, para 33,5% em 2008, quando elegeu 558 prefeituras. Mesmo assim, devemos buscar explicações nos dados de coligações para prefeito (Tabela 5). Aqueles dados indicam que o crescimento local do partido deve-se substantivamente à estratégia de ampliação ideológica de apoio e 6 Para os dados de candidaturas os partidos de esquerda e centro-esquerda foram agrupados. A soma de candidaturas do PCO, PCB, PSTU e PSOL( este último apenas em 2008) para eleições locais não chega a 1% em 1996 e 2000, chega a 3% em 2004 e 4,5% em 2008. Nas eleições gerais, a soma é 8% em 1998 e 2002, e com a presença do PSOL em 2006 e 2010 é aproximadamente 12% (dados do TSE) 18

parcerias; o partido realiza um volume considerável de coligações com os partidos de centro-esquerda, centro e direita nas três eleições abordadas, destacando-se as coligações à direita, com mais de 60% em 2004 e mais de 76% de coligações em 2008. No âmbito do legislativo local, o sucesso é bastante menor: o PT mobiliza mais de 24.800 candidatos a vereador em 2000 e elege apenas 8%, e em 2008, lança mais de 30.400 candidatos e elege 14%, ou 4.168 parlamentares (não temos dados de coligações para vereador), não chegando a 10% do total de vereadores do país (51.908). Gráfico1. Total de candidatos apresentados às eleições gerais, segundo blocos ideológicos, Brasil 2010 4.980 4.111 9.309 2006 4.795 4.044 9.200 2002 4.206 3.557 9.037 1998 3.291 3.310 7.819 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% candidatos esquerda candidatos centro candidatos direita Gráfico 2. Total de candidatos apresentados às eleições locais, segundo blocos ideológicos, Brasil 2008 94.661 110.280 175.209 2004 88.850 111.169 177.883 2000 68.971 117.768 187.507 1996 58.672 96.511 133.382. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% candidatos esquerda candidatos centro candidatos direita Gráfico 3. Distribuição de candidaturas apresentadas no país às eleições gerais e locais, segundo blocos ideológicos, Brasil (%) 19

60 50 40 30 20 10 0 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 candidatos esquerda 20,3 22,8 18,4 25 23,5 26,6 25 27,9 candidatos centro 33,5 23 31,5 21,2 29,4 22,4 29 22,1 candidatos direita 46,2 54,2 50,1 53,8 47,1 51 46 50 Gráfico 4. Porcentagem de candidaturas do bloco de esquerda e de candidaturas apresentadas pelo PT no bloco de esquerda nas eleições gerais (1998-2010) e locais (1996-2008) 34 33 38 35,8 43,5 24,5 37,4 28,2 20,3 22,8 18,4 25 23,5 26,6 25 27,9 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 %candidatos bloco esquerda % PT no bloco esquerda 3. Notas (preliminares) finais O objetivo deste artigo foi apresentar informações mais detalhadas sobre o processo de adaptação do PT no âmbito da disputa eleitoral e apreender a dimensão das concessões ideológicas empreendidas pelo partido ao longo de sua trajetória. As transformações do partido ocorreram em arenas distintas e em intensidades variadas. Em sua trajetória de 30 anos, o PT teve três pontos de inflexão. O primeiro e distante, foi em 1985, quando o partido decidiu ingressar na nova lógica eleitoral da primeira eleição do período democrático para escolha de prefeitos das capitais 20

estaduais, adequou-se à dinâmica do marketing político e, com isso, fez a primeira revisão de seus compromissos ideológicos e programáticos. O segundo ocorreu em 1989, quando o partido percebeu o potencial para chegar ao poder, assumiu seu papel como eixo articulador da oposição e abriu-se aos incentivos eleitorais do sistema; e o terceiro, em 2002 com a chegada ao governo federal. Para essa vitória e em função dela, o partido empreendeu estratégias claras para adequar-se às imposições do sistema político, sobretudo respondendo aos constrangimentos apresentados pelas relações entre os poderes executivo e legislativo, bem como para garantir a implantação e permanência de seu projeto nacional, o que levou ao forte pragmatismo e ampliação ainda maior de suas concessões ideológicas. Seu movimento para o centro, e o claro avanço dos limites ideológicos à direita, traduzindo uma estratégia de construção ampla de bases eleitorais, conduziram o partido aos moldes do partido catch-all. Como partido no governo aberto aos incentivos do sistema, o PT tornou-se pólo de atração e articulação de legendas variadas, localizadas sempre à sua direita. Desde 1989, o PT encabeçava o pólo de organização da esquerda partidária moderada; desde 2002, o afastamento do partido das pequenas agremiações da esquerda radical é notório, assim como é também a partir daquela eleição o movimento de aproximação dos partidos à sua direita. Ao mesmo tempo, o partido combina sua adaptação ideológica à manutenção de um perfil institucional fortemente organizado, estabelecido sobre regras de organização e uma estrutura burocrática que conduzem seu crescimento e continuam a ter influência sobre seu funcionamento. Os dados de movimentação de candidatos apontam uma notável combinação da ampliação dos arranjos políticos petistas no extenso terreno partidário, às restrições para o ingresso, participação e seleção de quadros de candidatos no partido. A movimentação de elites ocorre no seu entorno, e não em seu interior, para onde praticamente não há migração de candidatos de legendas variadas, e onde os êxodos ocorridos em sua trajetória deveram-se a cisões de grupos baseadas em tendências ideológicas sólidas. O perfil que caracteriza o partido neste atual ciclo de vida adequa-se a um molde híbrido de dinâmicas paralelas; por um lado, uma ampliada concessão ideológica, que responde às imposições da competição política nos seus vários níveis, e por outro, o fortalecimento institucional, que resulta das determinações burocráticas características da forte organização interna, mantidas ao longo de sua trajetória. Referências Bibliográficas 21

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