REFINARIA DE PASADENA DA PETROBRAS ALÉM DO NOTICIÁRIO 1. Introdução Como ex-executivo da Petrobras, têm me incomodado as críticas à Empresa por conta da compra da Refinaria de Pasadena, que, desde dezembro de 2012, segundo alguns órgãos de imprensa e mensagens vinculadas pela internet, teria arruinado a Petrobras (a chamada foi mais ou menos na linha Lula e Dilma levaram a nossa joia a Petrobras à falência ). A noticia foi requentada recentemente pelo jornal O Estado de São Paulo. No mesmo dia da publicação, o candidato da oposição à presidência da Republica faz um duro ataque ao governo e à Petrobras; isso reverberou em outros grandes órgãos da imprensa como a rede Globo de Televisão, a radio CBN e o jornal Folha de São Paulo. Resolvi investigar e também colocar os fatos que conheço a respeito. 2. A decisão de investir nos EUA Por volta do ano 2000 (veja, em pleno governo do Fernando Henrique Cardoso), tivemos um seminário (Desenvolvimento Gerencial Internacional) com a presença dos principais executivos de Refino da Petrobras, com vistas à internacionalização da empresa, já que a mesma estava caminhando a passos largos para ser uma das maiores companhias de petróleo do mundo, o que de fato veio a acontecer. De acordo com agencia o Estado, em 26/04/2011, a Petrobras já era a 8ª maior empresa de capital aberto do mundo e a 4ª maior petrolífera do mundo. Na ocasião desse seminário, eu fiz parte de um dos grupos de trabalho, justamente o qual recomendou a entrada da Petrobras no mercado americano, com base nos seguintes argumentos: O mercado americano é o maior mercado de combustíveis do mundo. Se a Petrobras ia competir com as gigantes do ramo petrolífero, teria que observar e aprender como elas operam no seu país de origem.
Lembro aos senhores que, àquela altura nem pensávamos na existência do pré-sal e a necessidade posterior dos altos investimentos que ele acarretaria. O mercado brasileiro estava praticamente estagnado, a autosuficiência brasileira em petróleo estava próxima, e o mercado de combustíveis nos EUA estava bombando. 3. Versão das Revistas Veja e Exame de dezembro/2012, corroborada por outros órgãos da imprensa em março de 2014 Segundo as revistas, a Petrobras pagou U$ 1,18 bilhão por uma refinaria que valeria U$ 42,5 milhões. As revistas e demais órgãos da imprensa dizem ainda que o valor superfaturado pode ter ido para o bolso dos dirigentes da Petrobras (dependendo da matiz ideológica do jornalista esse pode se transforma em deve ou até mesmo com certeza foi ). 4. A prisão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa No dia 20/03/2014, um dia após as denuncias requentadas, a Policia Federal prende o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A prisão preventiva é prorrogada em 25/03/2014 e até o momento ele permanece preso. A acusação pela qual o ex-diretor é preso é a de lavagem de dinheiro e suspeita de recebimento de propina com relação a obra da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco Brasil. Os órgãos de imprensa e os políticos de oposição dão grande destaque à prisão. Dois aspectos das notícias me chamaram a atenção: Entre os papeis aprendidos pode haver provas de recebimento de propina relativa à refinaria de Pasadena, diziam elas. A citação do ex-diretor Paulo Roberto Costa vinha sempre com o complemento do Abastecimento e Refino (o nome corporativo é Diretor de Abastecimento) da Petrobras. Ora, quem conhece a Petrobras sabe que os negócios internacionais da Companhia são conduzidos pela área Internacional, inclusive tudo o que se refere à Refinaria de Pasadena. O âmbito de ação da diretoria do
Abastecimento são as Refinarias situadas no Brasil. Em minha opinião, a confusão foi gerada de forma intencional. 5. Os dados reais Bem, o simples bom senso nos diz que é impossível uma refinaria que processa 100.000 barris de petróleo por dia (como referencia, a refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, que eu dirigi, um dos maiores complexos industriais do país, processa 170.000 barris/dia) valer apenas U$ 42,5 milhões. É total ignorância ou má fé. Qualquer executivo da área estimaria a ordem de grandeza na casa de várias centenas de milhões de dólares. A refinaria de Pasadena tem, além da capacidade de refinação, uma ótima localização, ao lado do terminal Kinder Morgem, que se conecta diretamente com as principais metrópoles daquele país. Para recebimento de petróleo tem também excelente logística, pois é suprida diretamente do golfo do México através de um canal específico para novos petroleiros. A Petrobras pagou U$ 360 milhões por 50% da refinaria, em novembro de 2005. Devido ao desentendimento entre Petrobras e o sócio, por conta principalmente de questões relativas a investimentos em Meio Ambiente e Segurança (claramente o sócio não concordava com os investimentos), o caso foi à arbitragem, como é praxe em contratos desse tipo. A arbitragem é feita por especialistas escolhidos por ambas as partes lá quando assinam o primeiro contrato. O valor dos 50% restantes foi então arbitrado em U$ 466 milhões, em abril de 2009. A Petrobrás recorreu na justiça comum. A Petrobras continuou por um longo tempo, para os padrões americanos, a briga judicial visando diminuir o preço arbitrado. Em junho de 2012, não tendo ganho na justiça, houve um acordo extra-judicial fechando em U$ 820 milhões o valor total pago pela Refinaria (ligeiramente menor do que o arbitrado, que seria 360 + 466 = U$ 826 milhões). A justiça, entretanto, nos EUA, é muito mais contundente que a nossa justiça. Ao perder a ação nas cortes superiores, a Petrobras foi condenada, pela Corte Federal de Houston, a pagar U$ 355 milhões, à titulo de multas,
juros e honorários. Digo que a justiça deles é diferente de nossa justiça porque aqui se recorre impunemente com o claro propósito (a maioria das vezes atingido) de se eternizarem os processos, sem pagamentos. Lá eles punem pesadamente a parte que recorre e não ganha. Porém, juros, multas e honorários não são ativos; são despesas e não podem entrar como valor aprovado para compra. A Petrobras simplesmente cumpriu a decisão judicial de última instancia. E assim, se chega ao valor divulgado pela imprensa, de: U$ 820 milhões + = U$ 355 milhões = U$ 1,175 bilhões (valor divulgado intensamente pela mídia arredondando para mais, é claro). Os 42,5 milhões que o sócio (Astra) teria pago pela refinaria, não incluem: Estoques de petróleo e derivados não se divulga publicamente a capacidade de estocagem de refinarias de petróleo por ser um dado de grande valor estratégico. As estimativas, entretanto, a que tive acesso, apontam para o valor de U$ 340 milhões. Quem é da área de petróleo sabe que o estoque de petróleo e derivados costuma alcançar altíssimos valores. Uma refinaria desse porte costuma ter, por baixo, uma capacidade de armazenamento da ordem de 1.000.000 m 2, ou 1.000.000.000 de litros. Multipliquem esse numero pelo valor médio de petróleo/derivados e pelo fator de utilização que chegarão facilmente aos U$ 340 milhões. A dívida que a Astra assumiu quando de sua compra (e depois teve que colocar o dinheiro correspondente) foi estimada em U$ 190 milhões. Assim, os U$ 360 milhões (arredondados para cima) pagos pela Petrobras por 50% da refinaria em 2005, podem ser compostos das seguintes parcelas: Refinaria = U$ 190 milhões Estoques = U$ 170 milhões (metade dos estoques)
Submeto, ainda, à inteligência dos leitores, a percepção de que a Astra comprou uma refinaria muito endividada e naquele momento cheia de passivos ambientais. Acho que todos podem como eu deduzir que o vendedor, nesse caso, tem muito menos poder de negociação que o comprador e tem a tendência de vender por praticamente qualquer valor, desde que se livre das dividas e do ativo, naquele momento problemático. 6. A posição dos demais membros do Conselho de Administração de Petrobras Fabio Barbosa, presidente do grupo Abril, membro do conselho da Petrobras à época da compra, declarou: A compra da Refinaria de Pasadena estava totalmente alinhada com o plano estratégico vigente. O valor da operação estava dentro dos valores de mercado, como atestou um grande banco americano (o Citibank). Jorge Gerdau Johannpeter, um dos empresários mais brilhantes do país, mas que não é bem visto pelo mercado por ter uma posição mais progressista, divulgou em nota: O negócio (a compra da Refinaria) foi decidido com base em avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e oportunidade do negócio. Essas declarações, bem como as de Claudio Luiz Haddad, também empresário e ex-membro do Conselho da Petrobras, ficaram, na prática, sem divulgação pelos meios citados. A crítica está centrada, é claro, na Presidente candidata. É ignorância ou má fé (em minha opinião é esta última) passar a ideia ao grande público que os membros do Conselho de uma mega-empresa do tipo da Petrobras teriam tempo de ler todas as minúcias das centenas de relatórios que são gerados para a ratificação de negócios da empresa. Os que trabalham ou trabalharam em grandes empresas sabem que as decisões são tomadas com base em um resumo escrito das condições e uma apresentação oral dos dados principais do negócio.
7. Conclusão Com os dados apresentados, verifica-se que na verdade, o máximo que se pode dizer é que a Refinaria custou, com estoques e a dívida paga pela Astra um mínimo de U$ 402,5 milhões (42,5+170+190) e a Petrobras pagou U$ 820 milhões, mais as multas e custo do processo, através do qual tentou reverter para menor o valor arbitrado. Deve-se considerar também que na formação do preço pago, havia as seguintes expectativas de ganhos, quando da compra: Um aumento do valor da própria refinaria (o que parece não ter acontecido ainda). Melhores condições futuras para compra de petróleo e venda de derivados (que se confirmou; hoje essa refinaria vem apresentando lucros consistentes). Experiência no enorme mercado americano (essa visão mudou, por conta da descoberta posterior do pré-sal, com a necessidade de um brutal investimento no mercado interno). Analisando com os dados que temos hoje, que incluem: A descoberta do pré-sal faz com que os investimentos no Brasil sejam bem mais rentáveis e necessários do que uma refinaria nos EUA. O plano estratégico da Petrobras redirecionou seus investimentos para essa nova realidade. A legislação ambiental no estado do Texas é surpreendentemente mais leniente do que a legislação de todos os estados brasileiros. Exemplificando: lá o estado não tem o direito de verificar como está a contaminação do solo, como aqui. A empresa pode, de propósito, não descobrir que seu solo está contaminado e tudo se passa legalmente como não houvesse contaminação. É o caso, infelizmente, da refinaria em questão. Verificamos hoje, que realmente não foi o melhor negócio para a Petrobras. Mas veja, dizer hoje, com as informações atuais é ser profeta do já acontecido, ou juiz de vídeo tape ou matador de onça morta.
Foi um mau negócio, mas nem de longe um desastre total que colocaria em risco toda a Petrobras, que com todo o noticiário desfavorável e a má vontade do mercado, apurou um valor acionário da ordem de U$ 92 bilhões em dezembro de 2012. E o seu patrimônio é estimado na ordem de U$ 170 bilhões. Mau negocio, mas muito longe da versão dos U$ 42,5 milhões x U$ 1,18 bilhões que esse pessoal martela nos nossos ouvidos diariamente. O problema real que este governo atual está infligindo à Petrobras é o preço artificial dos derivados, para baixo transformando-a em instrumento de controle da inflação, na minha opinião equivocadamente. Este é o verdadeiro motivo das dificuldades financeiras e de valor de mercado que a Petrobras atravessa. Porém, acusar o governo de baratear gasolina e óleo diesel, largamente utilizados em nosso dia a dia não renderia a mesma quantidade de votos que um escândalo pode render. Daí a insistência no tema Refinaria de Pasadena. Luiz Alberto Verri Mestre em Qualidade Ex-Gerente Geral da Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão Março/2014