MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA - 2ª REGIÃO NÚCLEO CRIMINAL DE COMBATE À CORRUPÇÃO

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Transcrição:

EXMO. SR. RELATOR DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPÍRITO SANTO PROCESSO Nº 2016.00.00.100707-4 CNJ Nº 0100707-22.2016.4.02.0000 AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ASSISTENTE: PETROBRÁS PETRÓLEO BRASILEIRO S/A RÉUS: EDUARDO CONSENTINO DA CUNHA E SOLANGE PEREIRA DE ALMEIDA O Ministério Público Federal, por meio da Procuradora Regional da República adiante assinada, vem à presença de V. Exa., com fulcro na nova redação do artigo 544 do Código de Processo Civil, conferida pela Lei nº 12.322/2010, apresentar suas contrarrazões ao agravo regimental interposto em favor de Eduardo Consentino da Cunha, nos termos da fundamentação a seguir. 1

I. Os fatos. Trata-se de agravo regimental interposto contra a decisão de fls. 4.128-4.130, a qual indeferiu o pedido de reconsideração formulado pela defesa do acusado Eduardo Consentino da Cunha e, em consequência, manteve a decisão prolatada inicialmente no sentido do declínio da competência desta ação penal ajuizada em seu desfavor para a 13ª Vara Federal de Curitiba (fls. 3.926-3.928). Alega, em síntese, nos termos do artigo 82 do Código de Processo Penal, que o fato de já ter sido prolatada a sentença nos autos da ação penal nº 5083838-59.2014.4.04.7000 1 reputada como conexa com a presente, constitui óbice ao declínio em questão. Desta forma, sustenta que esta ação penal deveria ser distribuída a uma das varas da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, por ser o local da suposta consumação dos delitos imputados. O Exmo. Desembargador relator, às fls. 4.128-4.130, indeferiu o pedido de reconsideração formulado pelo acusado e manteve a decisão de declínio, sob o fundamento de que, embora tenha sido sentenciado o feito, acima referido, pelo Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba em relação aos corréus dos aqui acusados, isto não seria suficiente para afastar o declínio de competência determinado em favor do mencionado juízo. Isso porque há um conjunto probatório que requer apreciação por um único juízo, no caso, o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, prevento exatamente por deter a anterioridade de conhecimento acerca dos fatos em 1 Em trâmite perante a 13ª Vara Federal de Curitiba. 2

apreciação nesta ação penal, os quais são idênticos aos julgados pelo mencionado juízo 2. Assim, vieram os autos a este órgão do Ministério Público Federal para apresentação de contrarrazões. Entretanto, não devem prosperar as alegações expendidas no recurso, conforme se passa a expor. II. Contrarrazões. Em conformidade com os fundamentos utilizados pelo relator na decisão, ora impugnada, importante destacar a prevenção do Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba para o processo e julgamento dos fatos, objeto desta ação penal, por ser o Juízo que antecedeu aos outros no tocante à adoção de medidas anteriores à sua instauração. Quanto ao assunto, saliente-se que, no caso sob exame, ainda em 2014, houve compartilhamento das provas angariadas perante o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba com o egrégio Supremo Tribunal Federal, em relação aos fatos em apreciação nesta ação penal 3. Ainda acerca da competência do Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgamento deste processo destaca-se ter sido esta reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal na Petição nº 5245 4 ao efetuar cisão processual 2 Consoante foi consignado pelo Exmo. Procurador-Geral da República ao oferecer denúncia em desfavor do acusado Eduardo Consentino Cunha perante o Supremo Tribunal Federal. 3 Fls. 57-58 do Volume 1. 4 Fls. 580 e seguintes do Volume 3. 3

com o consequente desmembramento em relação aos acusados Eduardo Consentino Cunha e Solange Pereira de Almeida, em razão do foro por prerrogativa de função por eles ostentado na época e, em consequência, a remessa ao citado Juízo do feito desmembrado para fins de processamento dos demais corréus. Desta forma, não há dúvida de que o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba é o juízo natural para o julgamento deste feito. Além disso, importante esclarecer que, na realidade, a conexão reconhecida não foi apontada apenas nesse momento processual, como se pudesse ser aplicada ao caso ipsis literis a regra prevista no artigo 82 do Código de Processo Penal. Ao contrário. Dispõe o artigo 82 do Código de Processo Penal: Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas. Em relação aos requisitos previstos no mencionado dispositivo para reunião de feitos, de plano, a par das considerações acima, é possível afirmar a ausência deles, isto é, concorrência entre juízos. O Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba não concorre com nenhum outro. O fato de o processo em relação aos acusados Eduardo Consentino da Cunha e Solange Pereira da 4

Silva ter sido instaurado perante o Supremo Tribunal Federal decorre apenas de prerrogativa constitucional conferida ao cargo por eles então ocupado. Não se verifica tampouco a presença do outro requisito previsto no mencionado dispositivo. Isso porque a identidade entre os fatos em apuração nos feitos desmembrados já foi reconhecida há bastante tempo, isto é, desde 2014, época anterior ao ajuizamento desta ação penal, conforme consignado acima. No entanto, não foi possível a sua apuração e processamento em conjunto em razão do foro por prerrogativa de função então ostentado pelos acusados. Em razão da situação peculiar dos acusados detentores, à época, de foro por prerrogativa de função houve o deslocamento da competência do juízo natural, ou seja, da 13ª Vara Federal de Curitiba, para o egrégio Supremo Tribunal Federal para fins de análise dos autos e decisão acerca de eventual desmembramento, cujo órgão de cúpula do Poder Judiciário na ocasião decidiu conforme acima consignado. Do ponto de vista processual, os procedimentos apuratórios instaurados em face dos acusados Eduardo Consentino Cunha e Solange Pereira de Almeida apenas tramitaram no âmbito do egrégio Supremo Tribunal Federal e não da 13ª Vara Federal de Curitiba apenas em razão da situação processual particular destacada. Em outras palavras, a duplicidade de ajuizamento de ações decorreu da prerrogativa inerente aos cargos por eles ocupados, pois, caso contrário, haveria unidade de ação. 5

Com base nesta assertiva é possível afastar a alegação expendida pela defesa de que a prolação de sentença constitui óbice ao declínio pretendido. Mesmo que não seja possível a reunião dos feitos em razão de diferença entre as fases processuais que um e outro se encontra, esta circunstância não afasta a prevenção do Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba para o processamento e julgamento dos fatos objeto desta ação penal, por ser o Juízo que antecedeu aos outros no tocante à adoção de medidas anteriores à sua instauração. Diante destas considerações, é possível afastar alegação de que a competência para análise do processo seria da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, como alega o acusado Eduardo Consentino Cunha apenas por ser o local dos fatos. Desta forma, a pretensão deste órgão ministerial é apenas o retorno do feito desmembrado em razão das circunstâncias descritas, frise-se ao seu juízo natural e não o deslocamento de competência para julgamento conjunto com um feito conexo em razão de evidente conexão probatória o que nem seria possível nas atuais circunstâncias. Não bastasse essas considerações, o objetivo da reunião dos feitos não é apenas o julgamento conjunto, mas também facilitar a instrução criminal. 6

III. Conclusão: Por todo o exposto, o Ministério Público Federal requer o desprovimento do presente agravo regimental. Rio de Janeiro, 16 de março de 2017. NEIDE M. C. CARDOSO DE OLIVEIRA PROCURADORA REGIONAL DA REPÚBLICA 7