Oportunidades do uso múltiplo

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Transcrição:

Oportunidades do uso múltiplo Seminário Floresta As Oportunidades do Uso Múltiplo João Pinho FORESTIS Braga, 22 de Março de 2012

1. uso múltiplo introdução Uso múltiplo da floresta? «Somente a floresta, em consequência das suas caraterísticas biológicas, está apta a produzir enquanto conserva e a conservar enquanto produz» C.A.R. Bhadran, Director-Geral da FAO

1. uso múltiplo introdução /ha/ano Valor económico da floresta portuguesa Valuing Mediterranean Forests, Towards Total Economic Value Ed. Merlo & Coitoru (2005)

1. uso múltiplo introdução produtividade vegetal potencial produção primária líquida total estimada com C-fix (abril 1998 - março 1999) sabbe&veroustrate, 2000

1. uso múltiplo introdução Vegetação natural potencial (Capelo et al. [2007]) Carvalho-alvarinho (Quercus robur) Carvalho-negral (Quercus pyrenaica) Sobreiro (Quercus suber) Azinheira (Quercus rotundifolia) Carvalho-português (Quercus faginea) Pinheiro-bravo (Pinus pinaster), samouco e outros Zambujeiro (Olea europaea ssp. sylvestris) Espécies ribeirinhas (Alnus, Salix, Fraxinus, etc.) Vegetação de sapal Sobreiro e zimbros (Juniperus sp.) Carvalho-alvarinho e sobreiro Carvalho-português e sobreiro Carvalho-negral e sobreiro

funções principais produção proteção silvopastorícia, caça e pesca conservação da natureza recreio e paisagem

Estratégia Nacional para as Florestas Planos regionais de ordenamento florestal (PROF) Planos de gestão florestal (PGF, PUB)

função de produção contribuição dos espaços silvestres para o bem-estar material das sociedades rurais e urbanas. Produção de madeira Produção de cortiça Produção de biomassa para energia Produção de frutos e sementes Produção de outros materiais vegetais e orgânicos Produção de toros, rolaria, raízes, etc. Produção de cortiça Produção de lenha, carvão, biomassa para centrais energéticas, etc. Produção de pinhão, castanha, noz, medronho, alfarroba, etc. Produção de resinas, óleos essenciais, folhagens, vimes, cascas, árvores de Natal, cogumelos, plantas alimentares, aromáticas e medicinais, etc.

produção - fileira da castanha - 31 000 ha que produzem cerca de 20 000 ton/ano; - produtividade de 3 a 4 ton/ha/ano em novos povoamentos; - procura excede largamente a oferta; - 20 a 30 milhões de euros anuais em exportação de castanha; (70 a 80% da produção nacional); - 100 000 m3/ano de madeira para serração + cogumelos + pasto. custo de instalação: 2500/ha rendimento: 6000/ha/ano há território adequado para mais 12 000 ha ( 72 milhões/ano) souto em Vinhais (serra da Coroa)

função de protecção contribuição dos espaços silvestres para a manutenção das geocenoses e das infra-estruturas antrópicas Protecção da rede hidrográfica Protecção contra a erosão eólica Protecção contra a erosão hídrica e cheias Recuperação de solos degradados Protecção microclimática Protecção e segurança ambiental Protecção contra incêndios Protecção das margens, manutenção da qualidade da água, etc. Fixação das areias móveis Fixação de vertentes, correcção torrencial, amortecimento de cheias, etc. Protecção e produção de solo Compartimentação de campos agrícolas, intercepção de nevoeiros, etc. Filtragem de partículas e poluentes atmosféricos, fixação de CO 2 Faixas de gestão de combustível, faixas de alta densidade

função de protecção recarga dos aquíferos subterrâneos e das levadas através da intercepção de nevoeiros (Açores, Madeira, elevações costeiras do Continente)

trabalhos dos Serviços Florestais fixação de vertentes (1886-1972) função de protecção luta contra erosão e enxurradas na EN 308 EP 2010: 1 milhão Manteigas, 2007 (área ardida em 2005) fotografia de Hugo Saturnino - AFN

função de conservação contribuição dos espaços silvestres para a manutenção da diversidades biológica e genética e de geomonumentos. Conservação de habitats classificados Conservação de espécies da flora e da fauna protegida Conservação de geomonumentos Conservação de recursos genéticos Manutenção num estado favorável de conservação de habitats e espécies, classificados nos diversos diplomas de nível nacional e europeu Proteção de jazidas paleontológicas, etc. Manutenção da riqueza genética

Luta contra as invasoras lenhosas: Pittosporum undulatum, Açores.

função de silvopastorícia, caça e pesca nas águas interiores contribuição dos espaços florestais para o desenvolvimento da caça, pesca e pastorícia Suporte à caça e conservação das espécies cinegéticas Suporte à silvopastorícia Suporte à apicultura Suporte à pesca em águas interiores Enquadramento da actividade cinegética, produção de carne, etc. Produção de carne, leite, lã, peles, etc. Produção de mel e outros produtos apícolas Enquadramento da actividade da pesca nas águas interiores

métodos de tratamento dos combustíveis 2. funções dos espaços silvestres função de silvopastorícia, caça e pesca nas águas interiores organização tradicional do espaço faixas de gestão de combustível silvopastoris fonte: cirpam (França)

função de apoio ao recreio, valorização da paisagem e enquadramento contribuição dos espaços silvestres para o bem-estar físico, psíquico, espiritual e social dos cidadãos e valorização do património Enquadramento de aglomerados urbanos e monumentos Enquadramento de equipamentos turísticos Recreio Conservação de paisagens notáveis Enquadramento de usos especiais e infraestruturas Enquadramento de sítios arqueológicos, monumentos, zonas urbanas, etc. Enquadramento de aldeamentos turísticos, campos de golfe, etc. Enquadramento de actividades de recreio, desporto e contemplação Composição de paisagens classificadas Enquadramento de instalações militares, estabelecimentos prisionais, zonas industriais, vias de comunicação, etc.

função de apoio ao recreio, de valorização da paisagem e de enquadramento Parque Florestal de Monsanto, 1938-2011

3. Uso múltiplo reflexões I Uso múltiplo da floresta a escala regional «A melhor forma de manter a biodiversidade parece ser por meio de uma combinação de áreas estritamente protegidas, áreas de uso-múltiplo, florestas naturais geridas extensivamente para obtenção de diversos produtos e plantações florestais conduzidas intensivamente para fornecer os produtos lenho-celulósicos necessários à sociedade» Diversidade de usos > maior leque de opções > diversidade de oportunidades para adaptação às mudanças cíclicas Jeffrey McNeely, IUCN

3. Uso múltiplo reflexões II Uso múltiplo da floresta a escala económica Uma opinião de Antonio Brunori - PEFC Itália: «Existem muitos casos de sucesso [ ], mas também centenas de casos de atividades ligadas aos produtos florestais não-lenhoso que, por várias razões, não conseguiram dar o último passo para o sucesso pequena dimensão das empresas, maiores custos com produtos selvagens face aos cultivados, pouco conhecimento dos mercados, falta de sensibilização do consumidor, domínio dos intermediários, falta de apoios públicos e privados.» «Baseado na minha experiência em Itália, acredito que a chave para o sucesso em qualquer iniciativa associada aos produtos florestais não-lenhosos reside nos diversos fatores ligados ao seu marketing e comercialização» «O serviços proporcionados pelas florestas (turismo e lazer, parques de recreio, etc., também assumem frequentemente importância, mas carecem de maior capacidade empresarial que muitas vezes os proprietários e gestores florestais não possuem»

3. Uso múltiplo reflexões III Estrutura e regime da propriedade florestal Pulverizada a norte e no litoral, de maior dimensão a sul e no interior; Em muitas regiões com uma significativa taxa de abandono de gestão; Esmagadoramente privada. Portugal EU-27 Espanha França Itália Grécia Irlanda Alemanha Roménia Polónia Finlândia Suécia China EUA Canadá Brasil Rússia Pública Privada e outra Terrenos públicos e comunitários gestão ICNF Fontes: J.H. Saraiva (dir.) 1983, AFN 0% 20% 40% 60% 80% 100% Fonte: FAO (Forest Resources Assessment 2010)

3. Uso múltiplo reflexões IV ZIF de Cansino (serra de Monchique) classes de área dos prédios rústicos 3903,5 ha de área total 2196 prédios 1,78 ha/prédio < 2 ha 2-10 ha 10-20 ha 20-50 ha > 50 ha fonte:afn

- A organização local dos proprietários e produtores florestais; - O planeamento e intervenção à escala da paisagem; - Uma estratégia de comercialização adequada; - Uma cooperação efetiva entre as entidades privadas e públicas; OBRIGADO! São FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NA VALORIZAÇÃO DO USO MÚLTIPLO FLORESTAL Seminário Uso Múltiplo Florestal FORESTIS, Braga, 22.03.2012